Mais que uma questão técnica, a Profissionalização das FA traduz uma nova relação do cidadão com o Estado e consubstancia uma reforma estrutural da sociedade portuguesa há muito anunciada, necessariamente perspectivada na óptica interdepartamental da Defesa Nacional, a qual deverá estar concluída em Novembro de 2004. Tal equivale a dizer que não há parcela da Comunidade Nacional a que o assunto não diga respeito. Trata-se, sem margem para dúvidas, de uma responsabilidade transversal a todos os sectores do Estado e da Nação: dos Órgãos de Soberania aos Dirigentes Políticos e aos Chefes Militares; dos Directores, Comandantes e Chefes às bases subordinadas das Unidades, Órgãos e Estabelecimentos; da Administração Pública Central, Regional e Local às empresas públicas e privadas; enfim, das demais Instituições Democráticas do Estado de Direito ao cidadão anónimo, - a ninguém assiste o direito de se furtar ás suas obrigações numa questão que deriva da Segurança e Defesa de um presente que se tem e de um futuro que se deseja em comum.
Ao nível do enquadramento legal, as intenções do legislador são as melhores, com vista a mobilizar a juventude portuguesa para este novo desafio da Defesa Nacional, composto por três etapas fundamentais: recrutar os jovens, mantê-los nas fileiras e devolvê-los condignamente à sociedade civil. Todavia, ainda não se cuidou da operacionalização prática do Sistema de incentivos ao Regime de Contrato, sobretudo no capítulo da devolução à vida civil dos militares que atingem o termo dos seus contratos, aos quais é reconhecida protecção legal de carácter diversificado.
Na Instituição Militar, ao partilharem estas novas responsabilidades, Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis deverão pugnar, até ao limite das suas competências, pelo integral cumprimento, de parte a parte, das obrigações constantes da letra e do espírito da Lei. Ao fazê-lo, estarão a contribuir para a construção de um pais definitivamente orientado segundo critérios de qualidade, assentes numa cultura de responsabilização, de exigência, de rigor e de dinamismo, contrária a quaisquer laxismos ou mecanismos de dilação.
Se assim não acontecer é natural que a argúcia do Padre António Vieira continue a fazer o sentido de outrora, quando ironizava: “Se servistes a Pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, e ela o que costuma”.