Os Exércitos não se improvisam –Um estudo sobre o Exército Português e o Novo Exército Anglo-Português em 1808
No final da Guerra Peninsular, 1814, tínhamos a combater em França um eficaz Exército Luso-Britânico (ou Anglo-Luso ou Anglo-Português) tanto em efectivos como na moral, debaixo do comando unificado de Wellington, Infelizmente, o papel dos portugueses, que totalizava cerca de metade desta força, naquele que foi o mais famoso Exército das campanhas peninsulares ficou um pouco esquecido.
Portugal, com uma população de 2 800 000 habitantes levantou vários Exércitos totalizando mais de 150 000 soldados: além do Exército de primeira linha dispúnhamos das significativas forças de Milícias e Ordenanças, da Legião Portuguesa (que combateu ao lado de Napoleão Bonaparte) e das forças destacadas nos territórios ultramarinos, como no Brasil e em Moçambique, com efectivos significativos e que não incluímos neste total.
De facto, em 1808, este não era o Exército Português de que falamos no final da campanha. Nesse ano, praticamente nada existia ou o pouco que tínhamos tinha sido mandado para França (Legião Portuguesa) ou para o Brasil e o que sobrava era de facto muito pouco e de pouca qualidade.
Como se pode explicar a transformação, em poucos anos, de este Exército para um eficaz e respeitado Exército? Foi um milagre?... Não o creio.
Quem lida com a coisa militar sabe que não é possível improvisar Exércitos de um momento para o outro, “que não se fazem omeletes sem ovos” e que não pode ter sido um milagre o criar num período de apenas cinco anos vários magníficos corpos combatentes.
Tanto no Brasil como em Portugal, em Espanha como em França ou junto a Napoleão Bonaparte, os Exércitos portugueses mostraram que sabiam combater, que tinham bons comandantes. A partir de um país destruído, durante duas décadas permanentemente ameaçado e com as suas Forças Armadas completamente destroçadas, Portugal soube, sozinho ou com os seus aliados, levantar corpos militares que provaram o seu valor e em número muito superior ao que parecia ser razoável assumir.
No ano de 1808 Portugal estava mais uma vez numa situação de grande dificuldade e, como tantas vezes na sua história, teve de recomeçar praticamente do nada com os aliados de sempre. A história e a participação do Exército Português em campanhas expedicionárias é uma permanente constante desde a nossa fundação no século XII. Como uma constante também, tem sido a falta de meios humanos e materiais com que nos deparamos no início de cada campanha. Constante foi, da mesma forma, esse conceito de “nação em armas”, que nos permitiu sempre rearmar e, com mais ou menos estrangeiros, ressurgir nas alturas decisivas e honrar os nossos compromissos.