O artigo pretende responder à questão que está subjacente no título, concluindo que esse choque não existe actualmente, mas que existe o risco de vir a existir no futuro, se não vier a ter lugar uma nova atitude de cada uma das partes, mais orientada para a conciliação do que para a confrontação, desde que isso não afecte os valores essenciais das duas civilizações mencionadas.
Numa tentativa de melhor compreensão do problema procurou traçar-se um esboço do quadro onde se gerou o Islão, e onde as correspondentes problemáticas se têm desenvolvido, para justificar as divergências actuais. Grande parte das posições actuais no mundo Islâmico, das divergências e das reivindicações de várias naturezas entroncam neste quadro.
Descreve-se sinteticamente a evolução das mudanças ocorridas nos países do Médio Oriente, relativamente ao processo religioso, ou melhor, às questões estratégicas justificadas pela religião, que se manifestaram com contornos diferentes, para se concluir que paralelamente ocorreu um processo de consolidação nacional segundo trâmites e influências diferentes, embora com a questão religiosa sempre presente, de forma mais ou menos intensa, consoante os casos.
Conclui-se que as questões fundamentais se resumem a equilíbrios de poder num plano interno (até que ponto é que as forças radicais conseguirão fazer alterar os regimes seculares a seu favor, levando-os à manifestação de hostilidade frontal ao Ocidente, considerando-se que esse equilíbrio pende actualmente para o lado moderado), e no plano externo (admitindo, por hipótese, uma mudança nos regimes políticos, até que ponto é que a questão nacional admite a liderança de um país sobre os outros, até que ponto as soberanias se esbatem, para dar lugar a um outro poder soberano, ou até que ponto será possível constituir alianças sólidas, no pressuposto da concordância quanto à existência de uma ameaça aos seus valores).
Como pano de fundo destas questões existe a noção de modernidade assumida como valor quase absoluto pelo lado do Ocidente, e como afronta aos valores tradicionais pelo lado do Islão.