Da Formação à Eficácia em Contexto Militar. Estudo exploratório sobre um modelo de desenvolvimento para o exercício da liderança. (2ª Parte)
A análise da liderança em contexto organizacional remete-nos para a liderança enquanto processo, onde os vários actores interagem e se condicionam mutuamente com vista à realização de objectivos de interesse comum. A perspectiva que elegemos para a investigação funda-se na natureza da liderança em contexto militar, na eficácia do seu exercício em situações padrão diferenciadas (situação de paz, situação de guerra e operações de apoio à paz) e na necessidade de projectar e/ou consolidar um modelo adequado de formação/desenvolvimento para o oficial do Exército oriundo da Academia Militar (AM).
Num momento em que a organização militar vê substancialmente alargado o seu espectro de actuação, designadamente a nível internacional, importava reflectir, objectivamente, sobre as novas solicitações e exigências do exercício da liderança e sobre as suas consequências ao nível do desenvolvimento e do desempenho, equacionando a eventual criação e/ou mobilização de novas competências para o comandante/chefe militar.
Por constrangimento de espaço, o texto que de seguida se apresenta reporta-se, sobretudo, ao trabalho de campo realizado, embora se aborde, sumariamente, a revisão conceptual e empírica, de forma a procurar estabelecer um “pano de fundo” particular que suporte a pesquisa de campo e que facilite a compreensão dos resultados empíricos a que chegámos.
O trabalho de campo baseia-se na aplicação de um inquérito por questionário, onde foram integradas perguntas fechadas, abertas e mistas. Supletivamente, foram conduzidas algumas entrevistas, semi-estruturadas, as quais, juntamente com as perguntas abertas do questionário, corporizam um estudo qualitativo sobre a aprendizagem e o desenvolvimento do exercício da liderança pelos comandantes/chefes militares. As amostras são consideradas formalmente não representativas - amostras de ocasião e proximidade - embora se admita que as suas características as aproximam da representatividade.
Para recolha e tratamento da informação foi elaborado um modelo de análise que integra duas hipóteses gerais de investigação, testadas a partir de três dimensões distintas para avaliar a qualidade da liderança - selecção, desenvolvimento e desempenho - cuja concretização foi conseguida a partir da leitura e análise de vários indicadores previamente seleccionados. A discussão dos resultados incidiu directamente sobre várias hipóteses operacionais, avaliadas a partir dos dados obtidos no questionário, as quais se pretendia que pormenorizassem as hipóteses gerais de investigação e dessem resposta à questão central e às questões derivadas.
Para análise da informação recolhida a partir das perguntas fechadas (questionário) foi utilizado o Statistical Package for Social Sciences (SPSS), enquanto a informação recolhida a partir das entrevistas e das perguntas abertas (questionário) foi objecto de análise de conteúdo, tendo sido utilizadas, de forma complementar, duas técnicas principais (Bardin, 2000): “análise categorial” (1ª fase) e “análise das relações” (2ª fase).
Os principais resultados explicitam, entre outros, os seguintes tópicos: (1) o grau de diferenciação das exigências e solicitações de liderança consoante os contextos de actuação; (2) as atitudes e os comportamentos de liderança mais valorizados em contexto militar e as principais práticas de sucesso; (3) os perfis situacionais de liderança eficaz para as três situações-tipo pré-definidas versus um perfil eficaz transversal (do tipo banda larga); (4) a avaliação da qualidade do exercício da liderança dos oficiais do Exército Português e a identificação dos factores potenciadores e inibidores da eficácia dos comandantes/chefes militares; (5) a validação do actual modelo de formação/desenvolvimento do oficial do Exército oriundo da AM para o exercício da liderança em contexto militar e a análise de alterações a introduzir.