A Invasão de Junot e o Levantamento em Armas dos Camponeses de Portugal. A Especificidade Transmontana.
O tema «Invasões Francesas» faz parte do imaginário grandiloquente da historiografia política e militar portuguesa. Quando abordamos o assunto, surge nos na memória os nomes dos comandantes invasores, Junot, Soult e Massena, dos generais britânicos Wellesley e Beresford e dos portugueses Francisco da Silveira, Bernardim Freire de Andrade e Manuel Sepúlveda. Depois, arrolamos as batalhas vitoriosas do exército Luso Britânico na Roliça, Vimeiro e Buçaco, sem esquecer, claro, a defesa das Linhas de Torres Vedras.
Sendo verdade, a descrição não está completa, representa a moldura de um quadro que encontra no povo português a verdadeira obra de arte. Uma tela com muito para contar, porque a Guerra Peninsular foi sobretudo popular, constituindo a resistência do campesinato português o verdadeiro tormento da presença francesa na «Lusitânia».
Acompanhando a Invasão de Junot em Portugal, é perceptível que a ocupação encontrou em cada localidade uma especificidade própria relativamente à amplitude da oposição: localidades houve que ergueram a voz mas não almejaram dar continuidade aos seus anseios por excesso de receio; outras resistiram paulatinamente e puderam fluir num quotidiano amargo; outras ainda aquietaram se, porque demasiado próximas do centro do poder francês ou porque o fervor populacional se resumiu à intrepidez de uns quantos irredutíveis; algumas localidades sofreram as agruras de uma luta sem quartel, tornando se mártires da causa.
Em Bragança foi diferente; terra agreste, de gente raçuda e afastada da longínqua «Lisboa de Junot», a presença jacobina pouco se sentiu, não espantando o brado de alma que afastou a ocupação para longe de Trás os Montes. Bragança foi, efectivamente, o catalisador da resistência à ocupação francesa, a primeira localidade que pegou em armas e não retrocedeu ou paralisou no ânimo restaurador.
Assim, este texto centra se na especificidade da designada 1ª Invasão Francesa, na ocupação política proclamada por Junot, nos levantamentos populares contra a intrusão e a contusão, no modus operandi repressivo dos franceses e na retirada do aparelho político e militar dos «napoleónicos» de terras lusitanas. O marco comemorativo destes acontecimentos centra se na resistência transmontana, com especial destaque para a operada em Bragança.