O presente artigo é o capitulo Nº 5 da tese de Doutoramento em Antropologia Cultural e Social que o autor defendeu na Universidade de Coimbra (2008), com o título Os Bazombo e o futuro (Nzil´a Bazombo) Os Bazombo na Tradição, na Colónia e na Independência.
Segundo o que até agora está apurado, o estudo científico do povo Bazombo, (subgrupo étnico Kongo situado na fronteira Norte de Angola com o Sul da República Democrática do Congo) não terá sido objecto de qualquer estudo aturado. Trata-se do núcleo geo-histórico da UPA, (União das Populações de Angola). O assunto teve como fundamento, inúmeras observações e reflexões pessoais, feitas ao longo de 50 anos de vivência na maior possessão portuguesa em África, em estreito contacto com a história, cultura e sobretudo com a língua de um dos seus mais representativos grupos étnicos, e, naturalmente, com a “situação colonial” a que se encontrava submetido. A dissertação mereceu a aprovação especialmente pelo valor dos documentos apresentados e pela iconografia. O tema foi dividido em três partes, respectivamente:
1º O período do poder tradicional, embora a guerra inter étnica estivesse sempre latente, o quadro concebido era o do enquadramento no sistema político-religioso do grupo étnico que permitia à família extensa viver com “normalidade” os conflitos sociais locais.
2º O período da Administração Colonial Portuguesa efectiva que conseguiu, muito à custa da alteração política, a submissão das autoridades tradicionais e do seu regime tradicional Bantú, uma paz que, apesar dos paradoxos da colonização, permitiu às populações nativas adaptarem-se à modernidade, com relativa tranquilidade.
3º A Independência e o infeliz flagelo de quarenta anos de guerra. É corrente dizer-se que tudo se desmoronou. Porém, as famílias a troco dum atroz sofrimento, foram conseguindo sobreviver e, especialmente, a pouco e pouco, reerguer as estruturas da sua filosofia de vida.
As técnicas adoptadas pelas famílias, para chegarem vivas aos primeiros anos do século vinte e um, estão bem patentes na dissertação. Quanto custou àqueles Zombo, que hoje são homens e mulheres de 30/50 anos, reagrupar as suas famílias? Essas adaptações foram analisadas nos capítulos sete e oito. Como vêm criando e educando os seus filhos? Esse problema foi sendo resolvido com “a vida vivida”. Exactamente como as famílias portuguesas forçadas a “retornar” a Portugal, tiveram que suportar e “reinventar” os esquemas de sobrevivência face ao profundo conflito armado vivido.
Palavras-chave: Angola, Congo, reino do Kongo, independência, comércio internacional, diplomacia, poder religioso, comércio local, elite mercantil, contrabando, clãs, colonização, magia e religião.