Os Zombo na Tradição, na Colónia e na Independência (II Parte). Os “Últimos Filhos do Império Colonial” entre os Zombo
O presente artigo inclui a parte final do capítulo 5 e a totalidade do capítulo 6, incluídos na tese de Doutoramento em Antropologia Cultural e Social que o autor defendeu na Universidade de Coimbra (2008), com o título Os Bazombo e o futuro (Nzil´a Bazombo) Os Bazombo na Tradição, na Colónia e na Independência.
Segundo o que até agora está apurado, o estudo científico do povo Bazombo, (subgrupo étnico Kongo situado na fronteira Norte de Angola com o Sul da República Democrática do Congo) não terá sido objecto de qualquer estudo aturado. Trata-se do núcleo geo-histórico da UPA, (União das Populações de Angola). O assunto teve como fundamento, inúmeras observações e reflexões pessoais, feitas ao longo de 50 anos de vivência na maior possessão portuguesa em África, em estreito contacto com a história, cultura e sobretudo com a língua de um dos seus mais representativos grupos étnicos, e, naturalmente, com a “situação colonial” a que se encontrava submetido. A dissertação mereceu a aprovação especialmente pelo valor dos documentos apresentados e pela iconografia.
O título escolhido para o capítulo 6 não pretende mais do que dar continuidade a uma série de títulos sobre o “Império”, entre os quais podemos destacar a obra Alta Cultura Colonial do Ministério das Colónias, de 1936, com o artigo “A Tradição Colonial e Política do Império”, redigido por Agostinho de Campos (1936: 25-46). Há ainda que mencionar os seguintes autores e obras - José Freire Antunes e a obra O Império Com Pés de Barro (1980) e Gervase Clarence-Smith com a obra O Terceiro Império Português (1825/1975), edição de 1985. No entanto, provavelmente, a ninguém terá ocorrido ainda que, os impérios coloniais modernos tivessem forçosamente de terminar com os “Últimos Filhos”. Baseados neste fio condutor, suficientemente forte, escolhemos então o supracitado título.
Embora o nosso estudo tenha por base os zombo, pareceu-nos pertinente esta introdução, uma vez que a sua abrangência nos permite enquadrar também o outro autor supracitado - Gervase Clarence-Smith (1985:202):
“(…) Uma das ironias da historiografia do terceiro império, é que os que consideravam a sua criação como um rotundo fracasso económico, achavam que Portugal era incapaz de descolonizar dada a sua dependência económica das colónias (…).”
A grande maioria dos homens e pouquíssimas mulheres, que demandavam estas paragens, ia já contratada, desde a metrópole, (até finais da década de 50) sendo obrigatória a célebre ‘carta de chamada’; era um documento onde um residente na colónia se responsabilizava perante as autoridades coloniais pelo emprego do novo imigrante. Este documento, no fundo, era um forte entrave à imigração para Angola. Também se dava o caso de uma larga maioria de colonos neófitos fazerem a sua aprendizagem nas lojas dos muceques de Luanda e, então, já com a cartilha lida serem contratados para o vasto norte de Angola. Os imigrantes não faziam ideia nenhuma das difíceis condições laborais que iam encontrar, em especial o isolamento que os esperava. A casa de pau a pique, de cerca de oito metros de comprimento por três de largura, era um barraco muitas vezes coberto de capim, de chão térreo e interiormente sem portas, um pequeno quintal onde podiam crescer árvores frutícolas como mangueiras, bananeiras, goiabeiras e mamoeiros. Olhando o horizonte, visto pela frente da porta, era o mato sem fim, porque, de uma forma geral, a casa do europeu não se implantava dentro da senzala.