Os Zombo na Tradição, na Colónia e na Independência (IV Parte). Os Zombo na Independência e o "Tempo Escasso do Paraíso".
A publicação dos capítulos 5º, 6º, 7º e 8º da minha tese de doutoramento “Os Zombo e o Futuro (Nzil’a Bazombo) na Tradição, na Colónia e na Independência” veio, graças à Revista Militar, revelar o muito pouco conhecido povo Zombo, localizado ao Norte da República de Angola e enquadrado no grupo étnico Kongo (génese do então movimento político FNLA). Ao longo dos capítulos pudemos acompanhar as suas seculares relações sócio-culturais, especialmente com os Portugueses. Coube-me a difícil tarefa de conseguir transpor para o saber cientifico o ângulo de visão dos Zombo sobre os factos e documentos factuais, Geográfico, Histórico-Sociológicos, Económicos e Religiosos que se desenrolaram e em especial os pessoais: as pessoas que intervieram, como intervieram e quem as “puxou”...
O capítulo 8º trata, na óptica do povo Zombo, da “Panza” corruptela do termo francês Indépendance, a sublime “liberdade sem trabalho” daí o termo Paraíso. Assisti à independência do Zaire em 1960 onde também se deu o mesmo fenómeno que, aliás, não é só africano, diz o povo com razão “água o trouxe água o levou”… Neste capitulo aborda-se o problema dos “retornados”…Os Zombo, conhecedores do fenómeno “Retornados” em Portugal reivindicaram perante o Estado Angolano estatuto idêntico…As organizações internacionais, como por exemplo a ACNUR e a UNICEF, fizeram no terreno o que puderam, ajudando-os a reorganizar a vida, ou seja, a reintegrá-los. Esta questão, muito complexa, levará largos anos a resolver. A situação dos refugiados e deslocados causados pelas longas guerras foi alterando a estrutura étnica e sóciocultural dos Zombo consequentemente provocou e ainda provoca novos conflitos (o mesmo se dá com todos os grupos da fronteira política de Angola). O repovoamento veio despertar uma tensão associada a questões relacionadas com a propriedade.
Considero que neste contexto, as questões étnicas e sociais fracturantes são factores mais de mobilização do que motivações genuínas para algum conflito, já que a ambição principal dos Zombo sempre foi de ordem económica, muito atentos à flutuação dos interesses entre o Estado Angolano e o vizinho Estado Congolês. Nesta perspectiva, a estabilidade dos Zombo está profundamente ligada à política de exportação/importação de bens entre dois Estados no eixo viário, Kinshasa/Luanda.
Outra questão muito sensível e que tem sido frequentemente detectada é a cooperação civil-militar. Esta mistura de funções militares, económicas e políticas tem provocado uma confusão de papéis. A falta de segurança é evidente em muitas províncias dada a fragmentação do país.
Finalmente, sugere-se que deverá ser encarada como prioritária, a tarefa do constante ataque à velha deficiência do ensino da língua portuguesa na iniciação escolar. Sem o ensino básico do português, as dificuldades escolares dos jovens Zombo serão, no desenvolvimento das suas apetências profissionais e intelectuais, muito maiores. Um ensino predominantemente técnico profissionalizante, poderia corresponder suficientemente às suas necessidades reais, preparando-os para encarar com optimismo um próximo futuro.