I - “Terras do Fim do Mundo “Missionários de Sempre”
Naquele tempo, “o vento soprava de feição” para as correrias dos portugueses por esses mares adentro. Depois de Gil Eanes dobrar o Cabo Não, à décima quinta tentativa (1434), muitas foram as venturas e desventuras próprias de quem vai ao mar. E foi esse dobrar do Cabo Não que levou as “Gentes das Caravelas” a confrontar povos e culturas africanas, como, por exemplo, o povo cuanhama ou kwanyama (sub-grupo da etnia Ovambo de Angola), dos finais do século XIX ao primeiro quartel do século XX. Os cuanhama eram, e continuam a ser solidamente constituídos e de fisionomia insinuante, com um invulgar espírito de vivacidade, vigorosos, orgulhosos e altivos. Como caçadores tinham desprezo pelo trabalho, em especial pela agricultura (diziam que lavrar a terra era trabalho de mulher).
O presente artigo debruça-se sobre a época da ocupação efectiva das terras dos cuanhama e três figuras portuguesas ressaltam incontestavelmente. O pequeno comerciante do mato e o xicoronho, (uma espécie de bandeirantes de Angola), formavam no seu conjunto o primeiro pilar da trilogia da colonização efectiva. Logo de seguida, ou ao mesmo tempo, (já com Diogo Cão assim acontecia) tiveram os missionários religiosos ocasião de investigar a gente do sertão cuanhama, sendo assim o segundo pilar e velando pela sua segurança deparamo-nos com as forças expedicionárias como terceiro pilar. Finalmente, o remate da quadratura cabe naturalmente aos cuanhama.
Por esta época gozavam do maior prestigio entre os povos vizinhos e descendentes da rainha mãe Nda Kioly, elegiam os seus lenga (capitães) com a melhor “folha de serviços prestados”. A nobreza real disputava os mais destemidos, especialmente aqueles que já tivessem combatido os indesejáveis brancos.