Autarquias em 2011. Análise do Mapa Autárquico. Uma Proposta de Reestruturação.
Em Portugal, a organização territorial remonta à Idade Média, quando os monarcas regularam a vida colectiva das povoações através de forais, documentos com força jurídica que definiam a administração, limites e privilégios. D. Manuel I mandou proceder à sua revisão, atribuindo “forais novos” a cerca de 600 concelhos, já com preocupações de carácter tributário.
O Marquês de Pombal iniciou os estudos para uma reforma de base moderna, continuados por D. Maria I (fim do Séc. XVIII), visando a unificação da justiça com a administração do território.
Os critérios então considerados para definir uma quadrícula racional e equilibrada - distância, extensão, centralidade das sedes autárquicas, acessibilidades, população e recursos - ainda hoje se mantêm válidos nos trabalhos que visam o ordenamento do território.
Mas foi com o liberalismo - Mouzinho da Silveira (1832), Passos Manuel (1836) e a publicação do novo Código Administrativo (1842) - que a organização do território ficou estruturada em freguesias, concelhos e distritos, um sistema que chegou ao Séc. XXI.
Dos 828 concelhos existentes no advento do regime liberal (1834), passou-se para 415 em 1842 (já subdivididos em freguesias, então criadas) e para as actuais autarquias, 308 concelhos e 4.260 freguesias.
Todas essas reformas visaram sempre o bem-estar das populações através de serviços cada vez mais próximos do utilizador, o que se traduziu no aumento das células administrativas e redução do seu raio de acção, com fragmentação dos recursos disponíveis.
Com a modernização das comunicações e dos transportes, a melhoria da rede de estradas e a crescente automatização dos serviços, a regra da proximidade - que impunha a sua lei de forma quase absoluta - passou a ser posta em causa, dando lugar a sucessivos apelos à concentração, visando melhor rendimento e economias de escala.
Mas sempre faltou coragem política para levar por diante a reforma que se vem impondo com mais premência à medida que o tempo passa. Sobretudo pela oposição de interesses instalados, pessoas ligadas a cargos ameaçados de extinção e das próprias comunidades locais, a que as autarquias dão personalidade e autonomia.
Recentemente, o meio político e social foi agitado por um estudo que propõe a redução, de 53 para 24, do número de freguesias do concelho de Lisboa. Proposta que antecipou, em poucos meses, o acordado com a “troika” no sentido de reorganizar e reduzir significativamente o número de autarquias.
A simples comparação entre duas freguesias situadas nos extremos opostos em termos de população será suficiente para compreendermos a importância e urgência desta reforma: Algueirão/Mem Martins, 66 mil habitantes, bem próximo de Lisboa; e Soutelo Mourisco, com 31 (!) residentes, isolados nas serranias transmontanas do concelho de Macedo de Cavaleiros.
Daí este trabalho, cujas propostas visam corrigir, normalizar, aproximar, fazer justiça a casos díspares, através da sensata abordagem dos problemas (necessariamente de forma diferente para o Continente e as Regiões Autónomas), por forma a obter-se um mapa autárquico mais adequado, na justa proporção da proximidade geográfica com a utilização dos meios tecnológicos existentes e dos recursos disponíveis, sem que daí possam advir outros aumentos de encargos, de forma expressa ou encapotada.
Com ele se pretende dar contributo, que se deseja válido, para o debate que inevitavelmente irá ser levado a efeito a nível nacional.