A construção do empreendimento de Cabora-Bassa constituiu um desafio singular, de que a História Militar não é fértil: a realização de uma das maiores obras de engenharia, e não só, do continente africano, numa região árida, inicialmente desprovida de comunicações, distante cerca de 600 Km de um núcleo de civilização aceitável (Beira), numa região que era palco de um conflito subversivo, e com condicionamentos vários, que incluíam limitações à simples presença de forças militares.
A decisão sobre a execução do empreendimento não foi precedida de qualquer estudo consistente sobre as potenciais consequências resultantes para a guerra já há vários anos em curso em Moçambique. Esta circunstância constitui um exemplo paradigmático do frequente divórcio entre a Política e a Estratégia.
Pelas funções que desempenhou no QG do Comando-Chefe de Moçambique o autor foi um intérprete e um observador privilegiado de toda a problemática relacionada com a segurança das várias dimensões do empreendimento e que viveu intensamente. Com as lacunas e a imprecisões inerentes ao facto de se apoiar exclusivamente na memória que guarda de acontecimentos e situações ocorridos há 40 anos, o autor procura dar um testemunho sobre o contexto militar em que a segurança do empreendimento se desenvolveu e sobre as soluções aplicadas, estudadas ou previstas, sobre as dificuldades encontradas, sobre os sucessos obtidos e sobre os insucessos verificados, relativamente aos quatro problemas securitários fundamentais: o da construção da barragem; o do transporte da Beira até Cabora Bassa, dos equipamentos concebidos e fabricados especificamente para o empreendimento; o da linha de transporte de energia; e o da vigilância e controlo da futura albufeira.