A Revista Militar, em ligação com a Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial, lançou o encontro anual, os ‘VI Encontros da Revista Militar’, subordinado ao Tema do empenhamento militar nacional em Angola e em Moçambique, dedicando igualmente um número temático à participação dos militares portugueses, do Exército e da Marinha naqueles Teatros.
Esse número temático da Revista Militar teve o seu lançamento após a apresentação das Conclusões e encerramento do Colóquio relativo aos VI Encontros, estando a sua distribuição a cargo, quer da Direção da Revista quer da Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial.
As origens da Primeira Guerra Mundial continuam a gerar interessantes debates entre historiadores e especialistas em história diplomática, designadamente no que concerne à intervenção da Alemanha, tendo em conta os diversos fatores que contribuíram para desestabilizar o equilíbrio de poderes europeus, entre o momento da unificação da Alemanha (1871) e o início da campanha europeia (1914), e de que se destacam o imperialismo adotado pelos países europeus, designadamente em África, a ascensão do poderio alemão que fomentou o desenvolvimento de alianças entre Estados e o incremento e expansão dos movimentos nacionalistas. [...]
O tema do painel onde esta comunicação foi originalmente apresentada, no colóquio I Guerra Mundial – Portugal em África (Junho de 2014)*, referia-se, muito apropriadamente, às “contradições da neutralidade portuguesa” e foi com essa ideia em mente que procurámos organizar o presente artigo, o qual terá como principal foco a interacção entre Portugal e Grã-Bretanha nas vésperas e no decurso do primeiro conflito mundial. Dois países que, como é bem sabido, não obstante se congratularem frequentemente pela antiguidade da sua aliança, estavam afinal longe de apresentar um registo muito harmonioso no seu relacionamento recente – algo que em boa parte se explica pelos atritos que se foram sucedendo em torno de questões suscitadas pela projecção imperial de ambos, desde a abolição do tráfico de escravos transatlântico à competição comercial e geopolítica na África Austral em finais de oitocentos.
O Século XX iniciou-se sob o espectro do confronto entre o Império Britânico e o Império Alemão, pela hegemonia mundial.
Numa tentativa para acalmar os ímpetos germânicos, a Grã-Bretanha negociara a divisão do Império Ultramarino Português, caso Portugal não conseguisse pagar os empréstimos concedidos pela banca internacional, e que a instabilidade política nacional fazia prever.
Mas estes factos não foram suficientes para que os sucessivos governos portugueses (da Monarquia e da República) pusessem em execução, apesar das muitas propostas elaboradas, um programa de reequipamento naval que dotasse o país de uma força naval compatível com os seus extensos e dispersos domínios ultramarinos.
É neste contexto que se inicia, em Agosto de 1914, o primeiro grande conflito mundial.
O ano de 1415 marca o início da aventura ultramarina de Portugal, é o ano da conquista de Ceuta. O ano de 1975 (560 anos depois!) marca o fim da aventura, com o «regresso definitivo das caravelas». A discussão sobre a expansão, a conquista, os mitos e a questão colonial prossegue e alarga-se.
Depois do Império do Índico ou do Oriente, vieram os domínios americanos, o imenso Brasil. Quando o Brasil se tornou independente, em 1822, ficou a África e os problemas que lhe eram inerentes.
O terceiro império, em África, só se “construiu” depois da Conferência de Berlim, em 1884-85, no contexto europeu da corrida para África e da sua partilha.
E o que fez a Conferência de Berlim em relação a Portugal?
Em boa hora a Revista Militar decidiu realizar o Colóquio “I Guerra Mundial – Portugal em África (1914-1918). Das contradições da «neutralidade» de Portugal ao «esforço de guerra» português”, integrando, numa sessão realizada no passado dia 19 de junho de 2014, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, um conjunto de especialistas que convergiram, quase que instintivamente, ao analisarem a beligerância portuguesa no espaço continental africano ultramarino, numa homenagem a todos quantos combateram na I Grande Guerra, e especialmente aqueles que perderam a sua vida nos teatros africanos na defesa da Pátria neste período da nossa história.
[...] que estamos numa competição direta por matérias-primas e por recursos e, portanto, que as matérias-primas e os recursos das possessões ultramarinas portuguesas ou, pelo menos, daquelas que Portugal reivindicava como suas, são disputados, e daí os acordos secretos entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. Falou-se aqui de 1898, de 1913. Veja-se o caso dos paralelismos que podemos estabelecer entre o projeto português do “mapa cor-de-rosa” e o projeto alemão da Mittelafrica. O projeto alemão da Mittelafrica é muito mais grandioso, mas teve materialização em três espaços, porque existiam recursos e existia uma dinâmica para o poder fazer e nós não tínhamos esses recursos. [...]
[...] O lançamento de mais um número da Revista Militar. Exemplar tarefa da instituição militar na contribuição para o conhecimento da história dos portugueses e de Portugal. Esta Revista é um sólido marco na investigação da História Militar. É fundamental. Nela se agregam várias perspectivas, das quais destaco a importante contribuição para a problematização e para a abertura de novos caminhos de investigação; a sistematização da informação disponível e a manutenção, através de gerações de militares muito competentes, de um processo de construção historiográfico. Este novo número trouxe à Faculdade de Letras a possibilidade de se poder associar à celebração de um momento muito importante na história da sociedade portuguesa, o das comemorações sobre a I Guerra Mundial. [...]
[...] Evocar o sacrifício dos combatentes, mas também do Povo português de onde saíram e a quem chegaram; muitos com mazelas e traumas permanentes; muitos, cerca de 8000, só com a recordação da sua existência. Mas evocar, sempre de forma verdadeira, autêntica, descomplexada, com a vontade firme de querer contribuir para uma memória coletiva que se afirme como de todos; [...]
A edição do Jornal de Letras, de 20 de Agosto de 2014, dedica oito páginas ao tema «A I Guerra Mundial na cultura portuguesa».
Considerando o acontecimento histórico como o “início de uma nova Era que mudou a geopolítica internacional e teve um enorme impacto em todos os países envolvidos no conflito”, o Jornal de Letras “em ano de centenário, recorda a sua presença na cultura portuguesa: na literatura, jornalismo, artes plásticas e música”, com a publicação de um “dossier” coordenado pela Prof. Doutora Maria Fernanda Rollo, historiadora, professora universitária, responsável pelo portal “Portugal 1914-18” (www.portugal1914.org) e diretora do Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHC/FCSH/UNL). [...]