O Coronel de Artilharia Fernando Ferreira Valença nasceu em Lisboa, em 9 de Abril de 1916, e faleceu em Carnaxide, em 8 de Agosto de 2015. Era Sócio Efetivo da Revista Militar, desde 1959, com o nº 181. (...)
A questão dos migrantes, como tem sido referida, o fluxo de imigrantes/refugiados provenientes da bacia sul do Mediterrâneo e do Sahel, mas também do Afeganistão, fugindo da guerra, das limpezas étnicas e do radicalismo político e religioso, tem ocupado os “media” escritos e de imagem, e essa realidade coloca à Europa um desafio novo, onde se misturam ética, princípios, medidas para lhe dar resposta e o desejo de articular posições nacionais, que apontam sobre este problema soluções muito diversas.(...)
Tivemos conhecimento, com tristeza, do falecimento do Sócio Efetivo mais antigo da Revista Militar, Coronel Fernando Ferreira Valença, que ocorreu no dia 8 de agosto. (...)
O autor interpreta o mundo de hoje como fruto da globalização e crescentemente interdependente, em que as revoluções dos transportes e das tecnologias de informação o tornaram mais pequeno em termos de tempo e de espaço; um mundo que já não é unipolar e cuja centralidade está manifestamente a deslocar-se para o Oriente, para a Ásia-Pacífico; em que se esbateram os riscos ligados às conceções mais clássicas sobre a Guerra e a Paz; em que a moderna sociedade do conhecimento é identicamente a moderna sociedade do risco, mas em que se entende melhor que a Paz radica na Justiça.
Num mundo mais aberto, mais exigente, mais imprevisível e mais instável e que, ao mesmo tempo, tem novos atores, novas proximidades, novos interesses, novas perspetivas e novas oportunidades, a Europa atravessa um período de grande crise.
Mas, a Europa não se pode dispensar do Mundo, nem o Mundo e os seus problemas podem dispensar a Europa.
Apesar de tudo isto, considera que Portugal, neste contexto, tem futuro, precisando de definir os caminhos do seu próprio futuro, fazendo valer as suas vantagens.
Não limitando a sua visão sobre a globalização apenas sobre o o prisma do sistema económico global emergente, a sua história, estrutura e supostos benefícios e falhas, o autor propõe estudá-la como um conjunto multidimensional de processos sociais simultâneos e não uniformes, que atuam a vários níveis e em várias dimensões, não podendo ser confinados a uma única moldura temática: a dimensão económica; a dimensão política; a dimensão militar; a dimensão cultural; a dimensão ecológica.
A globalização também opera numa dimensão ideológica, plena de normas, exigências, crenças e narrativas sobre o fenómeno em si mesmo, procurando imbuir a sociedade com as suas normas e valores, fornecendo aos cidadãos uma agenda de coisas a discutir, de exigências a fazer e de questões a colocar. O autor considera a globalização como um processo de longa duração que, durante muitos séculos, atravessou patamares qualitativos distintos e que, no seu âmago, trata da mudança de forma dos contactos humanos e caracteriza-se por um movimento para uma maior interdependência e integração.
No ano em Portugal comemora os trinta anos da assinatura de Tratado de Adesão à Comunidade Económica Europeia e dos 600 anos da tomada de Ceuta, o autor propõe um ensaio sobre o estado da nação, questionando se existirá, hoje, um desígnio nacional que nos projete para um futuro de prosperidade e segurança.
Aborda o assunto numa perspetiva, porventura, mais estratégica, considerando os três momentos mais marcantes na perenidade da nação portuguesa: o passado, até 1974; desde a opção europeia – após um período de transição para a democracia –, até aos nossos dias; e os quatro desafios que se lançam a Portugal para o futuro: o europeu, o económico, o organizacional e o cultural.
Vivendo-se tempos de mudança acelerada, conclui que os paradigmas se alteraram e o país tem que saber reencontrar-se a si próprio.
Do ponto de vista do autor, a abordagem atual em relação à China deverá ser, ao invés de questionar se aquele país será a próxima superpotência, procurar saber que tipo de hegemonia poderá vir a constituir a China para o mundo.
A era da unipolaridade norte-americana cede gradualmente lugar a uma variedade de atores emergentes – estados e não estados – entre os quais o Império do Meio.
A China, apesar de recusar oficialmente a hegemonia mundial, apresenta à humanidade um projeto de ascensão e desenvolvimento coletivos, sentindo que a sua célere ascensão económica confere uma visibilidade e consequente responsabilidade maiores a nível internacional.
No entanto, quer no que diz respeito ao soft power quer no que concerne ao hard power, a China ainda está longe de poder rivalizar com os norte-americanos, ou, se quisermos, de ameaçar a hegemonia dos Estados Unidos, pois ainda enfrenta numerosos desafios e obstáculos internos, tornando-a, assim, demasiado frágil para ameaçar seja quem for, exceto a si própria.
As relações de Portugal com aquele grande país deverão começar por aproveitar e explorar as nossas qualidades e trunfos. Não sendo Portugal um território com grandes recursos naturais, passíveis de atrair a atenção dos chineses, despertar-lhes o gosto – primeiro –, e preservar – depois –, poderão ser as chaves para o sucesso das nossas indústrias alimentares, do sector da cultura e do turismo.
Para esse desígnio, poderá ter um papel importante o Instituto Camões, na promoção da identidade, da cultura e da língua portuguesa, e a Fundação para a Ciência e Tecnologia, através das bolsas de investigação para parceiras e intercâmbios.
Aproveitando os preceitos e a filosofia da Nova Rota da Seda chinesa, poderá constituir um projeto em que ambos os países tenham a ganhar.
Na evocação do Centenário da I Guerra Mundial, o artigo procura focar a questão das nacionalidades nos territórios mais importantes, aquando do despoletar do conflito. O movimento das nacionalidades, particularmente na Europa Ocidental, toma expressão e marca todo o século XIX, inspirado na Revolução Francesa e no Romantismo. A sua relação com as vertentes económica e política induz, de forma dissimulada, os sentimentos das populações ao expansionismo em nome do nacionalismo.
A Alemanha considera-se herdeira do Sacro Império Romano-Germânico e o nacionalismo ganha muita força, projetando-se numa política imperialista, rivalizando por uma posição de hegemonia industrial com a Grã-Bretanha, fundamentando a responsabilidade que lhe é atribuída no eclodir da Guerra.
Em Itália, após a unificação, a afirmação nacionalista justifica o desejo de expansão territorial em África. Na altura, a questão do movimento das nacionalidades era mais fortemente sentido nos territórios dos Impérios Austríaco, Otomano e Russo, por serem aqueles onde a diversidade de povos e interesses que os habitavam mais desejava a autonomia política.
Portugal era uma jovem República que, em termos externos, mas também internos, precisava afirmar-se. Possuía os seus territórios em África, mas revelava fragilidade face aos imperialismos, aos anseios da partilha de África entre os grandes, e que na Conferência de Berlim impõem a ocupação efetiva dos territórios e definem os requisitos de dominação com base em interesses, em particular na África Central. Por isso, na estratégia portuguesa caberia a defesa dos territórios africanos e, no palco europeu, a afirmação da nossa soberania, com um lugar entre as nações.
Estudo coordenado pelo tenente-coronel Abílio Pires Lousada e elaborado, em coautoria, com o tenente-coronel António José Oliveira e o major Carlos Dias Afonso.
Recensão elaborada pelo Major-general Adelino de Matos Coelho