O presente número da Revista Militar reúne a maior parte das comunicações apresentadas no Colóquio Internacional “Gomes Freire de Andrade: o homem e o seu tempo”, integrado no programa da Evocação do II Centenário da Morte do General Gomes Freire de Andrade (1757-1817), levado a cabo pela Universidade de Lisboa, através do seu Centro de História, e pelo Exército, através da Direção de História e Cultura Militar, que contou com o apoio da Academia Militar e da Banda Sinfónica do Exército, entre 29 de setembro e 12 de outubro de 2017 (ver programas nesta edição, pp. 132-136). (...)
A Maçonaria Portuguesa assinalava regularmente o aniversário da morte de Gomes Freire de Andrade, executado em 1817. A responsabilidade desse crime era atribuída aos ingleses e em particular ao marechal Beresford, o que até alimentou um certo sentimento antibritânico potenciado pelo Ultimato de 1890. (...)
Recordar a vida militar de um “general sem medo” é sempre um trabalho difícil, pois esta figura, pela sua singularidade, é por princípio sempre polémica e vítima das paixões e dos ódios que a motivaram. Mas como “felizmente há memória” a história pode recordar a carreira de um militar que foi realmente extraordinário e singular no quadro dos militares portugueses do seu tempo, principalmente pela experiência que viveu como combatente nos principais conflitos internacionais que marcaram a mudança para a idade contemporânea (...)
O processo de Gomes Freire de Andrade, de Maio a Outubro de 1817, teve vários decisores: políticos, oficiosos, judiciais e policiais/militares. Indivíduos, figuras históricas dotadas de personalidade, de percursos escolares/académicos, institucionais e político-ideológicos. Muitos deles notabilizaram-se, desde o início das Invasões Francesas até pelo menos a convenção de Évora-Monte, isto é, num período longo de mais de um quarto de século (1807-1834). (...)
Throughout the 18th century, both Spain and Portugal decided to join the two great powers of the moment: France and England, respectively, in order to maintain their overseas empires. The defense of these territories depended on the threat of the dominant maritime power of the moment: England; therefore, these two States were forced to choose one of the two options. As we already know, the alignments of France with Spain and, on the other hand, of England with Portugal, would lead them to be in opposing positions throughout the eighteenth century. (...)
O propósito desta comunicação é acompanhar, em brevíssima viagem, o que alguns escreveram sobre Gomes Freire, quase sempre no contexto de uma certa apropriação da sua figura e morte trágica, procurando legitimar e dar voz a ideologias e práticas políticas. (...)
O processo de Gomes Freire de Andrade, de Maio a Outubro de 1817, teve vários decisores: políticos, oficiosos, judiciais e policiais/militares. Indivíduos, figuras históricas dotadas de personalidade, de percursos escolares/académicos, institucionais e político-ideológicos. Muitos deles notabilizaram-se, desde o início das Invasões Francesas até pelo menos a convenção de Évora-Monte, isto é, num período longo de mais de um quarto de século (1807-1834). (...)
Gomes Freire de Andrade e Castro nasceu em Viena, a 27 de Janeiro de 1757, vindo a falecer em Oeiras, a 18 de Outubro de 1817, vítima de trágicos acontecimentos pelos quais passou nesta fase terminal da sua vida tão intensa e interessante. (...)
Gomes Freire de Andrade nasceu e viveu os primeiros 23 anos de vida em Viena de Áustria onde, no decurso da sua formação académica e cultural, teve a oportunidade de contactar com os pensadores das principais correntes humanistas e iluministas da época. (...)
As guerras napoleónicas estão entre os conflitos mais estudados da história militar e Napoleão partilha um lugar similar na vertente dedicada ao estudo dos líderes militares e respectivas campanhas. (...)
Na esteira das comemorações do bicentenário da morte do General Gomes Freire de Andrade (1757-1817), surgiu-nos a proposta do Prof. Doutor António Ventura e do Director do Arquivo Histórico e Museu Militar de Lisboa, Coronel Silva Freire, a propósito da recolha e do tratamento da documentação do Processo Militar de Gomes Freire de Andrade, à guarda da referida Instituição. (...)
Ainda que o tenente-general Gomes Freire de Andrade [1757-1817] tenha editado alguns opúsculos, não se conhece nenhum contributo da sua autoria para a efervescente imprensa periódica contemporânea, tanto nacional como estrangeira. Contudo, atendendo à prática do anonimato, é-nos admissível que tenha assinado trabalhos jornalísticos dispostos algures, mas que não se encontram assinalados em nenhum registo biobibliográfico. Ainda assim, poderemos presumir que fosse um leitor atento e assíduo da imprensa periódica portuguesa e europeia. (...)
Não existe, ao longo dos muitos anos, em que a Revista Militar nos vêm proporcionando um conjunto de leituras e de análises de elevado valor histórico, uma personagem da nossa história militar recente que tenha sido tão entusiasticamente citada nos mais de dois mil números da Revista Militar, editados desde 1849. De facto, numa análise quantitativa proporcionada pelo recente motor de busca associado à Biblioteca do Exército, permite-nos constatar que existem on-line mais de uma centena de artigos publicados, directa ou indirectamente, em torno da figura do general Gomes Freire de Andrade. (...)
Numa lógica dialéctica, o conceito de “recepção”, objecto de teorização literária por Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss, entre outros, coloca desde logo a questão das formas não literárias de recepção, como aquela que, pessoalmente, mais nos motiva: a histórico-cultural. De todo o modo, acreditamos não dever encarar a recepção, literária ou outra, como um processo unidireccional, mais ou menos passivo, visto viabilizar, em teoria e na prática, revis(itaç)ões, recuperações, reinterpretações e recriações que adicionam à matéria original dimensões, relevâncias e significados simbólicos (quando não míticos), transportando os homens, os factos e os feitos para além dos seus espaços, tempos e contextos históricos. (...)
Começo por apresentar algo que se parece com uma declaração de interesses. Como bom brandoniano, para a elaboração deste trabalho, tomei como base a obra de Raul Brandão Vida e Morte de Gomes Freire, o seu processo individual militar e a documentação relativa à sua condenação. Embora publicado um século depois dos acontecimentos, considero o livro de Raul Brandão absolutamente inultrapassável, na profundidade da análise dos acontecimentos e das personalidades dos intervenientes e que deve ser considerado como a mais completa e profunda investigação jamais realizada sobre este tema. É pouco provável, mas, se surgir algum documento que não tenha sido analisado por Raul Brandão, ele nunca poderá produzir grandes alterações relativamente à visão dos factos que nos deu. Para além daquela obra, consultei outros documentos, nomeadamente a Memória sobre a Conspiração de 1817 […] Escripta e Publicada por hum Português, Amigo da Justiça e da Verdade e atribuída por Raul Brandão a Joaquim Ferreira de Freitas, (o padre Amado). (...)
Gomes Pereira Freire de Andrade, de nome completo Gomes José Joaquim António Francisco Xavier João Nepomuceno, nasceu em 27.01.1757, em Viena de Áustria, era filho do agente diplomático de Portugal junto da Corte de Viena, Ambrósio Freire Pereira de Andrade e Castro e da condessa austríaca Maria Anna Elisabeth von Schaffgotsch. (...)
Gomes Freire de Andrade, ou apenas, Gomes Freire, nasceu no dia 27 de janeiro de 1757, em Viena de Áustria. Filho de Ambrósio Freire de Andrade e Castro, embaixador de Portugal em Viena, e da Condessa austríaca Elisabeth de Schafgoch. Passou toda a sua infância e juventude nesta cidade, onde teve uma educação condicente com o seu nascimento e posição. Órfão de pai, aos 13 anos de idade, continuou a residir na capital austríaca com a mãe e irmã, por imposição dos credores, enfrentando a família graves dificuldades económicas. No ano de 1780, a rainha D. Maria I concedeu-lhe uma comenda para pagar as dívidas do progenitor. No ano seguinte, viria para Portugal devido à influência do 2.º Duque de Lafões, que tendo estado exilado na referida cidade tinha regressado, em 1779, ao nosso país e à corte. (...)
A criação de forças militares, tendo em conta a origem dos seus integrantes, com o objetivo de criar lealdades político-ideológicas que servissem o propósito dos seus organizadores e financiadores, não é uma inovação do séc. XIX, no entanto, a crise política do período 1789-1815, foi fortuita nesta eventualidade. A Legião Portuguesa, que serviu Napoleão na Europa Continental, tal como a Loyal Lusitanian Legion, criada para servir as monarquias britânica e portuguesa, são assim excelentes exemplos neste contexto. (...)
Este trabalho tentará apresentar o consulado português em Cádis, na última década do século XVIII, como um exemplo da actividade consular na época do General Gomes Freire de Andrade, tentando, simultaneamente, identificar a sua influência nas relações peninsulares e a sua capacidade de informar sobre as actividades políticas, militares e comerciais na correspondente região de influência. (...)
No início do Século XIX, a Armada Real Portuguesa atingira uma força considerável no panorama naval europeu e o seu controlo, era disputado pelas Grandes Potências Europeias: Grã-Bretanha e França. (...)
António José de Lima Leitão, cirurgião militar, médico, político, professor e escritor, nasceu na cidade de Lagos, no Algarve, a 17 de Novembro de 1787, e era filho de José de Lima Leitão e de Paulina Roza de Faro. Terá iniciado os estudos elementares naquela cidade e adquirido a prática de curativo no hospital onde seu pai exercia as funções de cirurgião. (...)
D. Pedro Almeida Portugal, ainda antes da morte do rei D. José, assentou praça como cadete no Regimento de Cavalaria do Cais, mesmo sendo mais novo três anos do que o regulamento permitia. A cavalaria era a arma a que tinham pertencido os seus ascendentes e da qual o seu avô tinha sido general, desde 1735. (...)