O autor, Manuel de Campos Almeida, é um cidadão apaixonado pela sua terra e amante do seu Portugal, que também é Major-general da Força Aérea na situação de reforma e membro da direção da Revista Militar.
“Sezures Revisitado”, editado pela “Edições Esgotadas”, em novembro de 2016, é uma obra de excelente qualidade gráfica, que dispõe de textos escritos com uma linguagem simples, cuidada e rigorosa, enquadrados por maravilhosas imagens da região. Narra eventos com interesse para a história de Sezures e da região circundante, nos quais destacamos os de cariz militar envoltos numa metodologia de análise claramente holística.
Manuel de Campos Almeida, nascido em Sezures, a 28 de janeiro de 1947, é licenciado em ciências militares, em história e em direito, e fez um longo e cuidado trabalho de pesquisa, desde o alvor da nacionalidade aos nossos dias, reconhecido pela Câmara Municipal de Penalva do Castelo e pela Junta de Freguesia de Sezures (cujos presidentes assinam o Prefácio), que assim passam a dispor de um acervo histórico particularmente rico. Para a escrita deste legado de 291 páginas (com 890 notas de rodapé), Campos Almeida teve o apoio de vários familiares e amigos a quem agradece penhoradamente nas primeiras páginas o contributo para o seu “tesouro da vida humana”.
Esta obra, que também é de história de Portugal, apesar de centrada num espaço regional, está organizada do seguinte modo: o princípio das coisas; Sezures, geografia das minhas origens; a grande noite dos tempos; Sezures microcosmos paroquial; Sezures revisitado; nota final; fontes, bibliografia e entrevistas.
O “Sezures Militar” é trabalhado por Campos Almeida com especial acuidade para as ordenanças e milícias (p. 96), a 3ª invasão francesa (p. 108) e a Grande Guerra (p. 145), tendo por base uma pesquisa mais cuidada feita essencialmente no Arquivo Histórico Militar.
Segundo Campos Almeida, em 1708, o concelho de Penalva chegou a ter um Capitão-Mor com quatro companhias de ordenanças, sistema que vigoraria em Portugal entre 1570 e 1834 (seriam substituídas pela Guarda Nacional, depois da vitória liberal na guerra civil de 1828-1834, p. 101). Retrata em pormenor a organização, os sucessivos comandantes e as dificuldades sentidas pela população da região ao longo da “espuma do tempo”.
Os relatos sobre a 3ª invasão francesa de Massena na região são pormenorizados e constituem motivo de orgulho de um Almeida que lembra as inscrições da batalha (a queda da praça dar-se-ia a 28 de agosto de 1810, com perdas do lado português de 500 mortos e grande número de feridos) com o mesmo nome no Arco do Triunfo em Paris. O autor segue as forças de Massena entre Almeida, Viseu, Tondela, Mortágua e Buçaco (onde teria lugar a batalha com as forças anglo-lusas a 27 de setembro) com base em excelentes fontes primárias, destacando o quanto foram poupadas as populações da sua Sezures em comparação com os vizinhos de “Fornos de Algores, Vila Cova de Tavares, Chãs de Tavares, Outeiros, Matados, Freixiosa, Mangualde e Fagilde, onde passaram e estacionaram as forças do 6º Corpo de Exército do marechal Ney”.
Relativamente à Grande Guerra (1914-1918), Campos Almeida descreve sumariamente as razões da participação portuguesa, e o empenhamento das forças portuguesas em Angola, Moçambique e na Flandres. Destaca depois as forças da região que foram empenhadas na Grande Guerra, com especial destaque para o Regimento de Infantaria 14 (RI14) e para o Regimento de Artilharia 7 (RA7), ambos de Viseu, que sofreram pesadas baixas, quer em África quer na Frandres (RI14 com 108 mortos em Angola e 390 na Flandres; RA7 com 75 mortos em Angola; p. 154). Campos Almeida dedica ainda um espaço de memória aos cidadãos naturais do município de Penalva do Castelo que perderam a vida na Grande Guerra (GNR, RA7, RI24 e RI34), com descrição pormenorizada dos militares (inclusivamente dos combatentes de Sezures, p. 173) e dos combates em que deram a vida pela Pátria, tendo por base as fontes do Arquivo Histórico Militar.
Campos Almeida cita o Padre António Vieira nas suas páginas finais, referindo que “a quem não tem bens, ninguém lhe quer mal”, numa alusão clara à riqueza da sua terra e do seu país, referindo ainda a importância da manutenção do sonho como base da construção do futuro.
Ao cidadão e ao camarada de armas Campos Almeida, os nossos sinceros parabéns por esta obra, escrita com a convicção de um militar, com o coração de uma amante da sua terra e com a razão de um historiador que é também jurista e sócio da Revista Militar.
Vogal da Direção da Revista Militar. Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar.