Nº 2601 - Outubro de 2018
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
A Balança da Europa

A Balança da Europa

Carlos Gaspar

 

A Balança da Europa, é um livro da autoria de Carlos Gaspar, publicado por Alêtheia Editores, no qual o autor, em quatro capítulos (“o fim da Europa”, “a reconstrução da Europa”, “a reinvenção da Europa” e “o declínio da Europa”) sintetiza, de forma genérica, mas num texto cronologicamente rigoroso e de agradável leitura, as diversas tentativas da «construção de uma unidade europeia», a partir da segunda década do século passado.

O autor recorda como a frágil solução das crises da Grande Guerra (1914-1918) deu origem à II Guerra Mundial (1939-1945) e como, posteriormente, na procura de uma solução robusta para “um novo sistema internacional em que a Europa deixa de ser o centro da política internacional para se tornar o centro da competição estratégica entre as duas superpotências”, se chegou ao cenário de bipolarização que originou a Guerra Fia, o conflito de ordem política, militar, tecnológica, económica, social e ideológica entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS ou União Soviética) e que envolveu igualmente as respetivas zonas de influência estratégica, o qual terminou com a dissolução da União Soviética (31 de dezembro de 1991).

De salientar o aparente contraste entre a capa desta obra, que nos remete para um poster, da autoria do artista alemão Reyn Dirksen (1924-1999), no âmbito da propagado ao EPR – European Recovery Programme” (plano Marshall – 1947), representando um navio, batizado EUROPA, num mar agitado, em que as velas enfunadas representam as bandeiras das nações europeias (no original observa-se inscrição All our colours to the mast), e a preocupação sobre o estado atual da “reconstituição da balança europeia, “assente num ‘equilíbrio de desequilíbrios’ nas relações entre a Alemanha, a França e a Grã-Bretanha, institucionalizadas na NATO e na União Europeia, em que a estabilidade da ordem europeia está posta em causa pelas crises do Euro e dos refugiados e pelo declínio dos partidos europeístas; a segurança europeia está posta em causa pelo regresso da Rússia, pela guerra na Siria e pela escalada do terrorismo islâmico; e a continuidade da União Europeia e da NATO estão postas em causa pelo Brexit, pelo retraimento estratégico dos Estados Unidos e pela divisão entre as potências europeias”, que se lê na contra capa.

Mas, Carlos Gaspar não deixa de partilhar, a par de outros autores, uma ideia de esperança (sob condições): “O declínio da Europa é real, mas não é irreversível se for possível assegurar o empenho dos cidadãos na defesa dos valores ocidentais em que assenta a sociedade dos Estados e a continuidade da balança europeia. As lições da história mostram que “a balança do poder só dura enquanto alguém estiver preparado para correr riscos para a manter, e que a ordem internacional só pode ser assegurada pelos que estão preparados para fazer sacrifícios para a construir e a impor.”

Na oportunidade da recente decisão governamental, precedida de discussão na Assembleia da República, sobre a participação portuguesa na Cooperação Estruturada Permanente (CEP, em língua inglesa PESCO – Permanent Structured Cooperation), salienta-se o contributo memorial das páginas 71 a 75 em que o autor recorda a visão estratégica da época, que levou França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países-Baixos e Luxemburgo que, em abril de 1951, haviam assinado o Tratado que institui a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Tratado CECA), à iniciativa da construção da Comunidade Europeia de Defesa (maio de 1952, há quase 66 anos), com a “possibilidade da criação de um «exército europeu» que integraria as forças armadas daqueles seis Estados, sob tutela política de um Ministro da Defesa europeu e subordinado ao comando operacional do Supreme Allied Commander Europe (SACEUR)”, cujo comandante, por inerência é um general norte-americano.

Este cenário, que era apoiado claramente pelos EUA, “como uma forma de mobilizar as capacidades coletivas dos europeus, que poderiam contrabalançar a União Soviética e tornar possível a retirada norte-americana”, prejudicava a fórmula pretendida para a “integração europeia”.

A Revista Militar felicita o autor e a Alêtheia Editores, pela publicação deste livro e agradece o volume que foi ofertado para a Biblioteca.

 

Major-general Adelino de Matos Coelho

Diretor-gerente da Revista Militar

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Adelino de Matos Coelho

Habilitado com os Cursos de Infantaria, da Academia Militar, Geral de Comando e Estado-Maior e Superior de Comando e Direção, do Instituto de Altos Estudos Militares; possui outros Cursos de que se destacam o de Oficial de Informação Pública do Comando Aliado da Europa da OTAN (Bélgica), o Curso Militar de Direito Internacional dos Conflitos Armados, do Instituto de Direito Humanitário de Sanremo (Itália) e o Diploma de Pós-Graduação em Estudos Europeus da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Ao longo da sua carreira, prestou serviço em várias Unidades e Órgãos do Exército, nomeadamente, no Regimento de Infantaria de nº 3, em Beja, que comandou, e no Estado-Maior do Exército, onde desempenhou o cargo de Chefe da Divisão de Pessoal. Além disso, também desempenhou carg

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