Nº 2614 - Novembro de 2019
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Estratégias de Comunicação para reduzir a incerteza em situações complexas de decisão

 

O nosso camarada e amigo Coronel António Pena, Sócio Efetivo da Revista Militar, desde 10 de Dezembro de 1993, e da qual foi Diretor-Gerente, de 1 de Janeiro de 2001 a 31 de Dezembro de 2008, constitui, para quem o conhece bem, um relevante exemplo de inabalável vontade, tenaz iniciativa, entusiasta disponibilidade, exigente humanidade e de perseverante capacidade. Estes traços definidores da sua postura nos diversos ambientes em que serviu, com indiscutível profissionalismo, estão bem patentes, como militar, na sua “folha de serviços” e como professor no Grupo Lusófona, certamente, também, na memória dos muitos estudantes com quem partilhou o seu saber.

É, pois, com natural e merecido apreço, que a Revista Militar recebe no seu acervo documental o livro de que é autor e que intitulou “Estratégias de Comunicação para reduzir a incerteza em situações complexas de decisão”.

O livro de António Pena, Coronel Técnico de Manutenção de Transmissões do Exército e Doutor em Ciências da Comunicação, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desdobra-se por quatro capítulos para se objectivar na conclusão final com que fecha o percurso realizado ao longo de cento e noventa e quatro páginas do livro. Nesta, em excurso, descortina-se, a sua preocupação primeira – a ética – cuja importância, quando olhada nas perspectivas da justiça e da sociedade, é, no “modelo de mediação” que nos propõe, sublimada como um contributo inestimável no desenvolvimento da acção política.

Ao longo do primeiro capítulo que ocupa mais de metade da obra, António Pena apresenta-nos o conjunto de conhecimentos e práticas que, desde o início do Século XX, preenchem os âmbitos das ciências de comunicação, da teoria da cultura e da mediação. É deste enquadramento conceptual que o Autor parte para a construção do modelo comunicacional para, teorizando a cultura e a técnica, concluir sobre a teoria do conhecimento e o conceito de mediação.

No segundo capítulo, é-nos apresentada a problemática dos riscos decorrentes das novas lógicas institucionais determinadas pela sociedade da informação e comunicação. Ao percorrer o amplo espectro das turbulências, procura o Autor demonstrar a “necessidade dos domínios teórico e prático da técnica e da forma de comunicar para minimizar riscos”. A teorização desenvolvida neste capítulo constitui a ponte entre a praxis dos modelos, culturas e mediações estudadas, divulgadas e praticadas ao longo dos últimos anos – que, como é verificável, não evitaram a repercussão excessiva das turbulências económica, política, militar e religiosa – e o novo processo de mediação que nos é proposto.

É no Capítulo terceiro, o “coração” da sua tese, que o Autor procura fornecer pistas para melhorar a comunicação discriminando-a segundo um “novo modelo de comunicação” que considera ser construído “a partir de contributos da teoria da argumentação, pragmática, técnica, modelos valorizantes da relação sistema/meio e de critérios epistémicos caracterizadores de racionalidade”. Apresenta-nos, então, em imagem, o “novo modelo” que propõe, um esquema, fulcro da tese e do livro, que apresenta: cinco círculos interligados (os cinco paradigmas, teoria da argumentação, técnica e modelos comunicacionais valorizantes da relação sistema/meio), formando um espaço de comunicação comum para obter conhecimentos e competências através de informação/comunicação; uma “coroa circular lembrando a relevância dada aos conceitos e respectivas práticas, verdade, aprendizagem, coerência, eficiência e partilha, esta, de poderes, saberes e economias” completa o esquema.

No quarto e último Capítulo, é-nos exemplificada a possibilidade de aplicação, aos “mais diversos âmbitos quando se pretende obter mudanças”, do processo comunicacional assente no “novo modelo”.

As recomendações que o Autor faz, como fecho das “Conclusões” objectivam-se em mitigar os inconvenientes decorrentes da excessiva “fixação dos construtores da realidade social num modelo de comunicação redutor, servindo-se apenas de um/dois ou três paradigmas, interligados ou não, ignorando o conjunto de saberes e posturas contido no total da doutrina” (os cinco paradigmas). Uma primeira recomendação consiste em considerar como instrumento fundamental de uma informação/comunicação correta a parte esférica do esquema que propõe, na qual se salienta o espaço comunicacional comum, cuja construção pessoal é largamente compensada nos mais diversos campos de atividade. A segunda recomendação consiste em aceitar a coroa circular do esquema (a envolvente de valores) como instrumento decisivo para a obtenção do êxito a alcançar segundo o “novo modelo de mediação” que o Autor propõe. A terceira e última recomendação é a exteriorização do seu desejo de que a tese que o livro comporta se projete
no entendimento multidisciplinar que deverá enformar as tomadas de decisão a todos os níveis “desde a direcção política ao mais reduzido grau de execução”.

Obrigado meu Coronel pelo contributo que a sua tese certamente presta ao aprofundamento do saber, particularmente numa conjuntura de riscos e imprevisibilidade agravados pela descontrolada utilização do ciber espaço, onde um vasto leque de ciber agressões, entre as quais avultam a desinformação, as “fake news” e a “dark Web”, configura ameaças graves ao normal funcionamento das instituições.

 

Tenente-general João Carlos Geraldes

Vogal da Direção da Revista Militar

Tenente-general
João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes
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