Em jeito de aditamento a “Uma Cronologia da História do Ensino Superior Militar em Portugal”, que publicámos, em conjunto com o Capitão-Tenente Costa Canas, no número de Maio de 2005 da Revista Militar, dedicado ao Ensino Superior Militar, gostaríamos que os nossos leitores juntassem à Bibliografia então citada, a leitura obrigatória de alguns textos recentemente publicados pelo General Themudo Barata.
Apesar de não alterarem a cronologia propriamente dita, os dois artigos publicados pelo General Themudo Barata no volume 3 da Nova História de Portugal de que foi também Director de Colecção (em parceria com o Prof. Doutor Nuno Severiano Teixeira), sustentam claramente os dados ali citados, com uma visão da evolução do Ensino Militar em Portugal, feita a par da evolução das ciências militares em Portugal e no Mundo.
Quer em “Manuel Themudo Barata, Ensino Militar: Primeiros Passos, in Nova História Militar de Portugal, Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir), vol 3, Circulo de Leitores, pp. 412-421”, quer depois em “Manuel Themudo Barata, Ensino Militar: Passos definitivos em Portugal e no Brasil”, in Nova História Militar de Portugal, Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir), vol 3, Circulo de Leitores, pp. 422-429", o saudoso General Themudo Barata dá-nos a imagem do quanto foi estruturante (e inovador) para as Forças Armadas em Portugal, o Ensino Superior Militar. Estes dois artigos tiveram por base um trabalho que o General publicara em 1999, mas de âmbito menos global: “O exército e o ensino superior em Portugal (séculos XVII e XVIII)”, in Fraternidade e abnegação, vol. II, Lisboa, Academia Portuguesa de História.
Para o General Themudo Barata, “a primeira Escola de Ensino Militar”, foi criada em Vila Viçosa em 1525 (“por D. Teodósio, futuro 5º Duque de Bragança, ainda em tempo de seu pai, D. Jaime”), numa perspectiva e com critérios associados à evolução do fenómeno da guerra, e da ciência militar em Portugal (critérios muito próximos dos que utilizámos no nosso artigo). Considera, também, que o verdadeiro Ensino Superior Militar tem início em 1641, com a criação por D. João IV da “Aula de Artilharia e Esquadria”. Destaca ainda, a criação da Academia Real de Fortificação Artilharia e Desenho (ARFAD, 1790) como um “passo inovador no mundo daquele tempo”, pois nada de paralelo existia, “quer em Espanha, quer pela restante Europa, e somente em 1796 surgiu na Suécia uma Academia de Ciências Militares que lhe era comparável” (p.422). Para o General Themudo Barata, a Escola Militar de Paris (fundada em 17 de Julho de 1777), “não tinha ainda o carácter obrigatório de frequência para acesso na carreira que a nossa possuía”.
O General Themudo Barata salienta ainda como foram criadas as várias escolas militares no Brasil e como a “Academia Militar das Agulhas Negras” tem como referência histórica a “Academia Real Militar”, fundada pelos portugueses a 4 de Dezembro de 1810. É então fácil perceber dos textos (mas também de conversas em que tivemos o privilégio de aprender) como, por razões mais políticas do que científicas, Portugal perdeu 47 anos de História (a Academia Militar, na hierarquia das antiguidades é mais moderna que a maioria das Academias europeias e mesmo do que a Academia de Agulhas Negras!). O General Themudo Barata termina a sua abordagem do Ensino Militar com uma figura ilustre também na área do ensino, Fontes Pereira de Melo (já na segunda metade do século XIX).
No quarto volume da colecção, o Ensino Superior Militar está diluído cronologicamente ao longo dos vários textos, sendo abordado por diversos autores, mas sem as análises tão profundas e rigorosas como o General Themudo Barata nos habituou nos seus trabalhos em geral e no volume 3 da sua colecção da “Nova História Militar de Portugal” em particular.
Tenente-Coronel João José Vieira Borges
Sócio Efectivo da Revista Militar.
Assessor de estudos no IDN e professor na Academia Militar.