Nº 2447 - Dezembro de 2005
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
A Revista Militar (1850 1910): Difusão de Ciência e Técnica em Portugal
Sargento-ajudante
José Luís Assis
A Revista Militar: O rosto humano nas vivências técnicas e científicas no Portugal de oitocentos
 
 
Introdução
 
Com este trabalho pretende-se apresentar as potencialidades de uma categoria de fontes específicas para a divulgação da Ciência e da Técnica em Portugal - a Revista Militar - no âmbito do estudo das publicações científicas e culturais especializadas que acompanharam a transição do conhecimento científico da Filosofia Natural para o da Ciência e da Técnica ao longo da segunda metade de oitocentos. Partindo de uma abordagem já consolidada da Revista Militar como veículo de difusão de Ciência e Técnica aplicadas à sociedade portuguesa, 1849-1910, apresentamos, nas páginas que se seguem, uma síntese do perfil dos seus Fundadores, Redactores e Colabora­dores.
 
A Revista Militar é um periódico que se insere claramente nos periódicos técnicos e científicos cujos artigos confirmam a sua inclusão naquele Universo.
O Universo das publicações num país periférico da Europa, como é o caso de Portugal no período setecentista e oitocentista, permite-nos observar a evolução de uma comunidade científica desde o signo das Luzes até ao signo do Positivismo, ou seja, da Escola Politécnica e da profissionalização da Ciência no Portugal de oitocentos.
 
A abordagem das temáticas permite-nos desvendar vários campos de intervenção daquela comunidade científica que colaborava nesta publicação que, fundada em 1848, ainda hoje se mantém activa. É partindo de uma matriz Histórico-Sociológica da Revista Militar que pretendemos desvendar o perfil e o rosto humano de quem deu vida a esta publicação.
 
 
1.  Fundadores
 
1.1 Naturalidade
 
Um grande número de Fundadores 11 (42,30%) é natural da cidade de Lisboa. Naturais de Cidades de Província, temos: 4 Fundadores (15,38%) nascidos em Elvas; 2 (7,69%) em Abrantes e Chaves; 1 (3,84%) em Faro, Viana do Minho e Leiria, e ainda 1 (3,84%) nascido em Campo Maior Piauy no Brasil. Nascidos em países e cidades estrangeiras, Estados da Alemanha, Varsóvia e Montevideo temos 1 Fundador (3,84%) por cada uma delas. Significativo é a maior parte dos Fundadores ser natural das cidades de província e cidades e países estrangeiros com 15 naturalidades (57,69%). Dos 26 Fundadores, 11 nasceram nas diferentes cidades de Província e foram durante a sua infância ou na juventude viver para a capital do Reino onde iniciaram o seu percurso académico e, alguns mesmo, a sua actividade profissional. Naturais de países estrangeiros temos João Tavares de Almeida (1816-1877), nascido em Montevideo e que em criança veio para a Europa, tendo chegado ao Porto onde se apresentou às ordens de D. Pedro para combater nas lutas liberais. De referir ainda Guilherme Luiz, Barão de Eschwege, de nacionalidade alemã, tendo entrado em Portugal em 1802 acompanhado de outros oficiais da sua nacionalidade a contrato do então Ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho e José Carlos Conrado de Chelmiki natural de Varsóvia, vindo de França e presente no Porto em 1833 para servir nas fileiras do Exército Liberal como engenheiro militar.
 
Em termos de distribuição geográfica, há uma maior concentração dos locais de nascimento a Norte do Rio Tejo com 17 Fundadores (65,38%), enquanto que a Sul apenas registamos 5 (19,23%) nas cidades de Elvas e Faro.
 
1.2 Idade à data da fundação do Periódico
 
Analisando o quadro referente à idade dos Fundadores do periódico em 1849, data do início da publicação (Janeiro), verificamos que metade (50%) é bastante jovem, com idades abaixo dos 36 anos. A outra metade (50%) distribui-se entre os 36 e 71 anos de idade. É de realçar que o indivíduo mais novo Joaquim Henrique Fradesso da Silveira (1825-1875) tinha apenas 24 anos, enquanto que o mais velho, o Barão de Eschwege (1778-1855), tinha 71 anos de idade, o que nos deixa antever uma grande amplitude de idades entre os Fundadores. Esta situação é reveladora da sã convivência entre os Fundadores mais jovens e os Fundadores de idade mais avançada, contínua característica do jornal até ao momento actual. Os grupos etários referidos no quadro são acrescidos pelos quatro indivíduos de quem não possuímos informação1.
 
Pela diferença de idades entre os Fundadores mais novos e os Fundadores de mais idade, estamos em presença de duas gerações de Fundadores.
 
A geração mais antiga, educada durante os finais do século XVIII e princípios do Século XIX, é uma geração formada sob a influência das Luzes, em instituições de ensino militares e instituições de ensino civis estrangeiras2.
 
A segunda geração é caracterizada pelos indivíduos que tiveram a sua formação académica durante o período das lutas liberais. Foi uma geração de militares de formação académica superior adquirida em instituições de cultura estrangeira, (caso de Chelmiki formado em Engenharia em França) e instituições civis e militares portuguesas (José Maria de Pina e de António Mello Breyner entre outros) que movidos por ideias liberais vieram a fazer parte dessas mesmas lutas. Eram homens com uma sociabilidade académica muito dinâmica e específica, para quem as lutas liberais representavam um esforço de salvação nacional face ao Portugal cada vez mais antiquado representado por uma aristocracia retrógrada a quem não era reconhecida legitimidade. Foi essa aristocracia fundiária e imobilista e o Clero por um lado e as forças modernizadoras da Burguesia e da Nobreza por outro que constituíram as forças em confronto no campo da luta de classes durante a Guerra Civil.
 
A formação académica proporcionada pelas instituições militares e civis, possibilitaram uma harmonia entre ciência e inovação, técnica e renovação capazes de contribuir para a reorganização de uma sociedade, oportunidades que foram interrompidas pelo seu exílio decorrido entre 1828 e 18343. Esta segunda geração contactou de perto com a situação de exilado já desperta para a nova realidade científica que a rodeava e que permitiu formar-se em escolas superiores dos países adoptados, adquirindo experiência científica e especializando-se em diversos graus académicos. Estas personalidades conviveram com as publicações científicas periódicas destinadas a uma comunidade científica, ao mesmo tempo que contribuíam para tornar popular a Ciência. Ao longo do período de exílio, os nossos intelectuais puderam estabelecer e consolidar contactos ao mesmo tempo que novos manuais universitários e a Escola Politécnica em conjunto com as visitas a fábricas lhes fizeram despertar para uma realidade bem distinta da que deixaram no seu país.
 
A esta geração4 de homens técnicos e científicos permitiu-se combinar o poder da ciência com a ciência do poder e sociedade de forma a que pudessem caminhar juntos, atribuindo um novo estatuto e um novo alento à comunidade de cientistas que legitimou o poder da ciência face ao poder político.
Deste movimento, emergiu uma terceira geração de homens responsáveis pelo desenvolvimento científico e pelo progresso do País que, a partir de 1851 com a Regeneração, viria a ganhar ênfase e estaria associado aos levanta­mentos geodésicos, ao progresso das estradas, dos caminhos de Ferro, das expedições africanas e da organização de exposições nacionais e internacionais. Foi este núcleo de personalidades responsável pelo alargamento da imprensa científica militar vocacionada para um determinado ramo do saber e voltada para um grupo de leitores muito específico e diversificado, com fortes ligações ao periodismo nacional e internacional.
 
A quarta geração de intelectuais, foram homens nascidos em pleno momento da revolta intelectual, revolução cultural: a Questão Coimbrã da qual Antero de Quental foi o seu principal incentivador. É uma geração que viveu as consequências do Ultimatum Britânico e a crise económica social e política da sociedade portuguesa na última década do século XIX que iria culminar com a Revolução Republicana de 1910. Educada nesses parâmetros, permitiram alcançaram uma grande abertura de natureza intelectual e cultural e, em simultâneo, foram capazes de criar as suas próprias ideias. Neste fim de século, as condições conservadoras são alteradas por um realismo e naturalismo crescentes, ao mesmo tempo que seguem as ideias de Hegel, Comte, Shelling.
 
Apesar de poder falar-se de quatro gerações, não podemos estabelecer uma divisão temporal na vida dos biografados, pois o que importa é perceber que houve uma continuidade de acontecimentos políticos, sociais, culturais e científicos que permitem perceber os elos de ligação entre as várias gerações. Uma mesma personalidade pode ter acompanhado mais do que uma geração e adquirido o perfil que mais se adequava à realidade do momento.
 
Ao longo do período em estudo o conjunto de individualidades que constituíram o periódico formou o perfil duma instituição que atravessou diferentes momentos, políticos, sociais, económicos e científicos que tanto desenvolvimento trouxe à Instituição Militar e ao País.
 
1.3 Percurso Académico
 
Relevante é o elevado número de possuidores de cursos académicos de grau superior, 99% do total do conjunto dos 26 Fundadores. Apenas se apresenta um elemento a quem não nos foi possível registar formação académica de grau superior5. Nestas condições não surpreende que, ao analisarmos o quadro, nos surjam as instituições militares de ensino superior em posição bastante mais destacada em relação às instituições civis de ensino superior como a Escola Politécnica e a Academia Real de Marinha e Commercio do Porto (1803). A Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho é a instituição de ensino superior de onde saíram mais diplomados, 13 (50%). Seguem-se-lhe a Academia Real de Marinha com 10 diplomados (38,46%) e a Escola do Exército com 7 diplomados (26,92%).
 
No que diz respeito aos diplomados em instituições de ensino superior não militar, aparece, com o maior número, a Escola Politécnica com 4 elementos (15,38%)6. Esta instituição de ensino teve um papel determinante na difusão das ideias positivistas e da mentalidade científica, sobretudo a partir de 1880. Seguem-se as instituições de ensino superior estrangeiras com 2 diplomados, (7,69%)7. Por último a Academia Real de Marinha e Commercio do Porto e a Academia de Línguas Inglesa e Francesa com 1 diplomado cada, (3%).
 
Quanto às instituições de ensino não superior temos a registar o Collegio Militar no qual completaram os seus estudos 8 elementos, (30,76%) dos Fundadores8.
 
Nas áreas científicas mais frequentes nos cursos de formação académica superior, encontramos 12 Engenheiros (46,15%), 4 Matemáticos (15,38%), 1 Artilheiro (3,84%) e 9 indivíduos de área científica não especificada (34,61%)9. Nestas condições, a maioria dos Fundadores eram indivíduos com uma prepara­ção específica, empenhados na divulgação do conhecimento técnico, científico e literário com repercussões ao nível do desenvolvimento e progresso da Nação.
 
Começámos por nos debruçar sobre os Fundadores que cursaram em mais do que uma instituição de ensino superior, independentemente, da sua natureza militar ou civil. Silvino Candido d’Almeida Carvalho, (1818-1852) iniciou a sua formação científica na Academia Real de Marinha em 1836, tendo depois continuado os estudos na Escola do Exército na qual concluiu o curso de Engenharia em 1839 e o curso da Escola Politécnica em 1843. Estudou Latim, Filosofia Racional e Moral10.
Faustino José de Menna Aparício, (1819-1869) recebeu a sua primeira formação científica no Collegio Militar, cursou na Escola Politécnica, Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho e Escola do Exército na qual concluiria o curso de engenharia com destino à Engenharia Militar em 183711.
 
António Ladislau da Costa Camarate, grande defensor dos ideais liberais, homem da Ciência, matemático dos mais distintos do seu tempo, cultivava essa ciência no convívio de intelectuais como Francisco Horta, Daniel da Silva e Latino Coelho entre outros espíritos igualmente superiores que o levariam a impor nos seus estudos um carácter notável de rigor científico. A sua formação académica iniciou-se na Academia Real de Marinha, tendo depois frequentado a Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho e terminando o curso na Escola do Exército12.
 
Dois grupos de intelectuais tiveram a particularidade de terem frequentado duas instituições de ensino superior: Fortunato José Barreiros, (1797-1885); Barão de Wiederhold, Augusto Ernesto Luiz, (1799-1869); Francisco Xavier Lopes e João Manuel Cordeiro (1811-1901) cursaram na Academia Real de Marinha e na Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho. O outro grupo de Fundadores é constituído por João Tavares de Almeida, (1816-1877) e António Maria de Fontes Pereira de Mello, (1819-1887) que se diplomaram pela Academia Real de Marinha e Escola do Exército. Uma outra particularidade entre ambos é o facto de todos os intelectuais terem cursado na Academia Real de Marinha. Além dos cursos já referidos, Wiederhold frequentou as lições de Física e Química de Mouzinho de Albuquerque em 1826 e 1827, na antiga Casa da Moeda, enquanto Francisco Xavier Lopes, além da sua formação científica em Portugal, estudou também em França e Inglaterra. Foi um intelectual esclarecido e aplicado com conhecimentos superiores ao nível do domínio das línguas inglesa e francesa, da gramática latina, da lógica, da geografia e do desenho civil. João Manuel Cordeiro, engenheiro e matemático, tinha o domínio das línguas francesa e inglesa e conhecimentos de geografia, desenho militar e civil13. Embora com duas instituições frequentadas, mas uma delas distinta, temos José Frederico Pereira da Costa, (1817-1910) que iniciou a sua formação científica na Academia Real de Marinha e Commercio do Porto na qual se distinguiu pelo seu empenho e inteligência ao vencer dois prémios na cadeira de Matemática14.
 
António José da Cunha Salgado, (1823-1881) principiou a sua actividade académica no Collegio Militar, frequentando depois o curso de Engenharia da Real Academia de Fortificação Artilharia e Dezenho e Escola Politécnica na qual tirou diversas cadeiras15. Dotado de inquestionáveis dotes intelectuais pelos conhecimentos científicos que possuía em virtude das diversas viagens ao estrangeiro, e das leituras que fazia com regularidade dos melhores livros e periódicos que se publicavam na Europa. Intelectual de espírito aberto, abraçava as ideias de inovação e progresso de que o País tanto necessitava.
No seu percurso académico Joaquim Henrique Fradesso da Silveira, (1825-1875) começou com os estudo de latim e de língua francesa no Collegio dos Nobres, passando depois ao Collegio Militar no qual demonstrou dotes de um aluno aplicado e inteligente. Em 1839 entrou na Escola Politécnica, termi­nando o curso de Marinha ao mesmo tempo que frequentava todas as cadeiras da Escola Politécnica. Em todas obteve prémios e distinções em concorrência com Latino Coelho e Andrade Corvo, seus condiscípulos de Zoologia16.
 
Naturalmente que esta interpretação dos dados não se limita apenas a determinar os grupos de elite de intelectuais Fundadores do periódico que cursaram em mais do que uma instituição, note-se contudo que outros elementos serão considerados. Nesse propósito identificamos dois grupos cuja formação técnica e científica ocorreu apenas numa instituição científica. Cursaram na Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho José Maria de Pina, António José Gonçalves Chaves, José Maria Moreira de Bergára e João Maria Fradesso da Silveira.
 
José Maria de Pina, como grande defensor do regime constitucional, adverso ao interesse do governo miguelista, viu interrompidos os seus estudos e ser afastado da Academia em 1829, conseguindo depois com alguma dificuldade e persistência realizar os exames em 1830 e ficar habilitado com o Curso de Artilharia. António José Gonçalves Chaves e José Maria Moreira de Bergára iniciaram, ambos, a sua formação na mesma Academia concluindo o curso de Engenharia. António José Gonçalves Chaves tinha o domínio das línguas francesa e inglesa e conhecimentos de geografia, desenho militar e civil17.
 
Na Academia Real de Marinha Joaquim José Gonçalves de Mattos Correia (1801-1878) distinguiu-se como escritor na primeira metade do século XIX na área técnica e cientifica sob temáticas relacionadas com a Marinha. Augusto Xavier Palmeirim (1807-1890), concluiu os preparatórios e tinha conheci­mento de línguas vivas, (francês, inglês e alemão), tendo-se matriculado em 1822 depois do regresso da família Real ao Reino que, contudo, por motivos políticos foi obrigado a interromper o curso que só viria a terminar em 1841. António de Mello Breyner (1813-1866), foi matemático de inteligência clara e aberta ao progresso da Nação, defensor dos ideais liberais quer no Parlamento a que pertenceu quer mesmo nas colunas dos periódicos em que foi cola­borador. António Florêncio de Sousa Pinto, (1818-1890) entrou na Academia na qual conquistou alguns prémios nos cursos que frequento e com a idade de 15 anos alistou-se nas fileiras do Exército Libertador e participou em diversas refregas e acções. Restabelecida a paz, solicitou e obteve permissão para continuar o curso de engenharia que viria a terminar em 1837. Francisco Maria Bordalo, (1821-1861) iniciou a sua actividade académica na Academia Real de Marinha diplomando-se com o curso de Marinha.
 
1.4 Actividades militares e civis
 
O conjunto dos Fundadores da Revista Militar era formado por homens que além de uma formação académica de cariz técnico e científico, vieram a desenvolver actividades profissionais como Professores, Cientistas, Políticos, Jornalistas, Publicistas, Conselheiros de Estado, Promotores de Justiça e Militares, com uma grande capacidade de intervenção e influência ao nível dos órgãos detentores do poder de decisão do país. O exercício cumulativo de várias actividades marca a profissionalização destes homens que por vezes, se nos tornou difícil destrinçar qual delas era a principal. No grupo dos Fundadores, registamos entre outros exemplos, o caso de António Maria de Fontes Pereira de Mello que além da sua formação académica como engenheiro militar foi ainda Político, Ministro, Deputado, Par do Reino e colaborador em diversos periódicos como a Revolução de Setembro 18.
 
Fontes Pereira de Mello iniciou a sua vida militar com 13 anos de idade na Academia de Guardas-Marinha. Passados dois meses da sua incorporação recebia o seu baptismo de fogo combatendo nas linhas de Lisboa. D. Miguel concentrou todas as suas forças contra a capital que ainda não estava suficientemente preparada para a sua defesa. Foi o enérgico Almirante Napier que contribuiu para essa defesa disponibilizando todos os recursos da sua marinha. Cumprido esse dever para com a Nação Fontes regressou novamente à Academia de Guardas-Marinha onde acabou o curso de forma brilhante. Terminado este, desejou continuar a estudar e matriculou-se na Academia de Fortificação Artilharia e Desenho (que entretanto com as reformas do ensino de 1836 passou a Escola do Exército), onde viria a concluir o curso de Engenharia Militar, passando depois à Arma de Engenharia na qual foi promovido a Tenente em 1839.
 
As lutas civis que dilaceravam o país, mesmo depois do triunfo da liberdade, tinham chegado ao seu ponto crítico. Eclodira a insurreição de 1846 e o Duque de Saldanha fora designado para ir ao encontro das tropas revolucionárias. Pertencia ao seu Estado-Maior o jovem Tenente de Engenharia - um dos seus melhores oficiais - tanto assim o reconheceu o Duque que o nomeou, antes da acção, de fazer o reconhecimento do campo de batalha. Fontes desempenhou a sua missão com bravura e aptidão, levando o próprio Duque a colocar-lhe a Cruz de Torre e Espada. Mais tarde, dizia-se que o sucesso da vitória de Torres Vedras se ficou a dever, em parte, ao jovem militar porque o reconhecimento que fizera servira de muito para o estudo e escolha da posição das forças.
 
Depois desta breve incursão pela actividade militar do jovem Tenente de Engenharia passemos a debruçar-nos sobre a sua carreira política ao serviço da Nação.
 
Fontes Pereira de Mello desenvolveu uma carreira política brilhante de mais de vinte anos, doze dos quais como Presidente do Conselho. Para alguns investigadores, foi o político que, mais do que qualquer outro do seu tempo, moldou Portugal na segunda metade de oitocentos19.
 
A 28 de Agosto de 1852 criou o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, organismo que viria a desempenhar uma função primordial na sua estratégia de desenvolvimento e progresso da Nação20.
 
Sintomático da sua acção governativa, foi o facto de nos interregnos da sua actividade política ter aproveitado, em mais do que uma ocasião, para partir em viagem pela Europa a fim de aí contactar com os novos inventos. Visitou certames internacionais, relacionou-se com estadistas, inspeccionou quartéis e visitou estações de caminho de ferro, procurando novas condições que permitissem o progresso e o desenvolvimento técnico e científico do País.
 
Outra obra de Fontes Pereira de Mello, quanto a nós pouco trabalhada e merecedora de um estudo mais aprofundado e sistemático, diz respeito ao Exército. Fontes Pereira de Mello, durante a sua acção governativa, jamais descurou a instituição militar21, propondo reformas sucessivas: criou novos regimentos, aumentou salários e desenvolveu o conhecimento técnico e científico com o objectivo de dotar o Exército com o que de mais avançado possuíam os seus homólogos europeus22.
 
Dos 26 Fundadores, 5 estavam ligados à actividade docente. Desses, 2 leccionavam na Escola Politécnica, Fortunato José Barreiros23 e Joaquim Henrique Fradesso da Silveira. António José da Cunha Salgado foi lente na Escola do Exército, Joaquim José Gonçalves de Mattos Correia na Academia Real de Marinha e o Barão de Eschwege na Academia Militar do Rio de Janeiro 24. Todos tiveram formação técnica e científica. Da análise do itinerário biográfico dos Fundadores que vieram a exercer a actividade de lente nas diversas instituições de ensino, encontrámos como aspecto comum: o facto de todos eles terem uma vasta produção literária e colaboração periodista na imprensa geral e na imprensa especializada. Todos estes lentes estabeleceram contactos com o estrangeiro através de exposições internacionais, em que foram responsáveis por representar o Estado, ou de contactos com agremiações científicas estrangeiras, com que se relacionaram, e ainda através de viagens facilitadas pela sua condição militar e pelos interesses científicos, muitas vezes relacionados com a actividade que desenvolviam ou com a arma que serviam, a Engenharia25. Nessas viagens científicas procuravam conhecer as conquistas do desenvolvimento técnico e científico da civilização de além Pirinéus cujo registo podemos encontrar até ao mais ínfimo pormenor e que lhes poderia servir para um objectivo último: o progresso da instituição militar e do País.
 
Os Fundadores da Revista Militar encontravam-se na sua grande maioria ligados ao aparelho de Estado, destacando-se, pelo seu elevado número, o grupo dos Directores de Organismos Públicos, Deputados, Docentes, Governadores do Reino, Pares do Reino e Ministros. A ligação ao aparelho da Administração Pública muitas vezes revelava-se temporária e efectivava-se de acordo com as diversas actividades: participação em comissões científicas para elaboração de projectos, desempenho de missões científicas especiais; exercício de cargos no executivo ou mesmo como parlamentar.
 
Desenvolveram a actividade de Directores de Organismos Públicos 17 Fundadores, (65,38%) de entre os quais destacamos: José Carlos Conrado de Chelmiki que teve a Direcção dos Serviços de Obras Públicas nos distritos de Évora, Portalegre e Viseu; Silvino Candido d’Almeida Carvalho, Director Superior de todos os trabalhos de Engenharia civil e militar da província de Angola em 1851; Faustino José de Menna Aparício depois de ter demonstrado a sua capacidade científica como engenheiro nas diversas comissões científicas a que pertenceu, nomeadamente, nos Serviços Geodésicos do Reino passou a servir nas Obras Públicas do Reino quando se organizou a Secretaria de Estado. O desempenho destas funções levou a que fosse nomeado Secretário do extinto Conselho e pela última reforma nomeado Engenheiro Chefe da 1ª Divisão de Obras Públicas que compreendia todo o distrito de Lisboa26; Joaquim Henrique Fradesso da Silveira exerceu diversas comissões durante a sua longa carreira pública, de entre as quais referimos a de Director do Observatório Meteorológico de Lisboa que dirigiu de forma notável, colocando-se ao mesmo tempo em contacto directo com os postos meteorológicos mais importantes dos países estrangeiros. Em 1853, solicitou a sua demissão de substituto da Escola Politécnica e foi nomeado Chefe da Repartição de Pesos e Medidas do Reino, contribuindo com a sua larga experiência científica para a implementação do sistema métrico em todo o país. Foi Vogal da Comissão das Pautas e do Conselho Geral das Alfândegas do Reino e Presi­dente da Associação Promotora da Indústria Fabril de Lisboa. Representou Portugal como Comissário Régio junto da Exposição Universal de Viena em 1873, que organizou de forma admirável e da qual redigiu um magnifico relatório. Visitou centros culturais e científicos de vários países da Europa de onde trouxe elementos importantíssimos para a fundação de um Museu Industrial que depois entregou ao Conselho Geral das Alfândegas. Nessa ocasião representou ainda Portugal no Congresso Meteorológico daquela cidade. Dos relevantes serviços prestados por esse ilustre cientista deu testemunho a correspondência do Barão de Schwarz Senhorn, Director Geral da Exposição, e as provas de estima do próprio Imperador da Áustria27.
 
Significativo é que 8 dos Fundadores (30,76%) desenvolveram em paralelo uma importante actividade científica que contribuiu para o reconhecimento e progresso da Instituição Militar e do País. São exemplo expressivo dessa actividade as diversas comissões científicas em que participaram alguns dos Fundadores da Revista Militar e que aqui sucintamente passamos a referir. João Maria Fradesso da Silveira (1816-1860) fez parte da Comissão Central de Pesos e Medidas do Reino onde foi responsável pela comparação dos pesos e medidas e sistema métrico decimal no Distrito administrativo de Ponta Delgada em 1858. António José Gonçalves Chaves, participou nas comissões de Obras de fortificação de Lisboa e das estradas do Reino, da Companhia das Obras Publicas de Portugal e responsável pelo reconhecimento dos trabalhos públicos e outros melhoramentos a adoptar na província do Alentejo. Augusto Xavier Palmeirim integrou várias comissões científicas - da responsável pelo estudo do desenvolvimento da fabricação e comércio da pólvora, da que elaborou o estudo sobre o projecto do Código Penal e da que estudou e elaborou o plano de defesa do Reino e de Lisboa. José Maria Moreira de Bergára também ele participou em diversas comissões científicas, a Comissão responsável pelo estudo e parecer sobre o lançamento do Caminho de Ferro de Lisboa ao Porto e a Comissão Científica encarregada de estudar e fixar as escalas que deveriam ser adoptadas nas cartas topográficas do Reino.
 
Quanto à actividade de Deputado, 8 Fundadores (30,76%) dos intelectuais exerceram aquele cargo. Dos Fundadores que exerceram funções parlamentares alguns viriam também a desempenhar funções ministeriais, caso de António Maria de Fontes Pereira de Mello, enquanto outros já desempenhavam, ou viriam a desempenhar, actividades docentes na Escola Politécnica e nas Academias Militares a que se poderia vir a associar mais uma eleição para deputado numa ou mais legislaturas.
 
Aos Fundadores a quem foram reconhecidos os seus relevantes serviços prestados ao País, foi possível distingui-los com o lugar de vitalício de Conselheiro de Estado, ou mesmo, de Par do Reino28.
 
No que diz respeito às actividades profissionais desempenhadas pelos Fundadores, todas foram consideradas elevadas, englobando o ensino, a Administração Pública, Jornalistas e actividades na Academia das Ciências de Lisboa e em instituições científicas estrangeiras. O maior número de cargos surge ao nível da Administração Pública com especial relevância para os 17 Directores de Organismos Públicos (65,38%) e para os 8 Deputados (30,76%). Os cargos de Ministro, Pares do Reino e Governadores do Reino foram de 2 (7,69%) cada. A este nível encontramos ainda 1 Secretário de Estado, 1 Conselheiro de Estado e 1 Promotor de Justiça (3,84%). Entre as actividades de Administração Pública, é o cargo de Director de Organismos Públicos e Deputado aquele que foi mais desempenhado pelos Fundadores da Revista Militar. No domínio do ensino relevamos os 6 Professores, (23,07%) em diversos estabelecimentos de ensino militar e civil, com especial incidência para a Escola do Exército que conta com 2 Professores (7,69%) e a Escola Politécnica também com 2 Professores (7,69%) e na Academia Real de Marinha e Academia Real de Fortificação Artilharia e Dezenho com 1 Professor (3,84%) cada. Relativamente ao desempenho da actividade de Jornalista, apenas 2 indivíduos (7,69%) se dedicaram àquela actividade. Torna-se pertinente referir que 16 Fundadores (61,53%) desempenharam actividades científicas nos mais diversos domínios da Ciência.
 
1.5 Colaboração Científica e Literária noutros periódicos culturais e científicos
 
A actividade profissional dos intelectuais Fundadores da Revista Militar implicou, em termos gerais, o exercício de várias funções. A sua produção cultural e literária foi fundamentalmente técnica, científica e literária e surgiu normalmente associada ao desempenho de outras actividades, consistissem elas no exercício de cargos de direcção em Organismos Públicos, Professores, Parlamentares, Ministros ou mesmo noutros órgãos de soberania do Estado.
 
Do grupo dos Fundadores da Revista Militar, 24 (92,30%) foram seus colaboradores29 e 13 (46,15%) publicaram artigos noutros jornais ou revistas, tendo mesmo alguns já exercito a actividade de Directores, Redactores, Colabora­dores e mesmo proprietários noutros periódicos antes da Revista Militar 30.
 
Existe um vasto leque de publicações periódicas técnico-científicas, literárias e políticas nas quais os 13 Fundadores (50%) colaboraram activamente. Quatro publicações em que colaboram dois Fundadores simultaneamente: Augusto Xavier Palmeirim31 e Guilherme Luiz, Barão de Eschwege escreveram na Revista Universal Lisbonense periódico de divulgação cultural de grande referência no periodismo nacional fundada por António Feliciano de Castilho em 184132. Para quem se iniciava na carreira das letras, ou mesmo para os literados, publicar um romance ou mesmo algumas páginas soltas na Revista Universal Lisbonense representava uma distinção tão apetecida “que a não trocariam pelo diploma de sócio de nenhuma Academia”, segundo palavras de Rebelo da Silva ao referir-se à estreia de Francisco Maria Bordalo na Revista, na qual publicara uma lenda precedida de “uma recomendação valiosa, redigida pelo sr. António Feliciano de Castilho, com aqueles escla­recimentos de honra e de amizade, que o inspirado cantor prodigalizava como estímulo aos que, encostados ao seu braço, se atreviam a afrontar as provas públicas”33.
 
No conjunto da sua produção como estudioso, importa considerar alguns dos seus não menos importantes estudos históricos: “Memoria sobre a topographia portuguesa”, Revista Universal Lisbonense, Tomo V, 1ª Série, p. 54, 68 e 78; “Elogio historico do conde de Lippe, Marechal General do Exercito portuguez”, Revista Universal Lisbonense, Tomo V, p. 547 e o “Elogio biografico do Coronel de Engenheiros José Maria das Neves Costa”, RM, Tomo I, 1849. Publicou ainda importantes e diversos relatórios, de entre os quais salientamos: “Relatorio sobre a Eschola naval e de construcção”, Inquerito ácerca das Repartições de Marinha; Tomo I, 1849; “Relatorio sobre o Arsenal da Marinha”, Tomo I, 1849; “Relatorio estatistico-militar ácerca da população, e da polvora por conta do Estado”, 185634.
 
Guilherme Luiz e Fortunato José Barreiros escreveram para os Annais da Academia de Sciencias de Lisboa e Panorama, jornal de instrução e recreio editado pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis que publicava diversos artigos traduzidos do Magazine Pittoresque e do Musseé des Familles e recebia muitas das gravuras que publicava, enquanto que Bento José da Cunha Vianna e João Manuel Cordeiro colaboram no Diário Ilustrado. Este viria ainda a colaborar no Jornal do Comércio em que publicou o estudo sobre o Arsenal do Exército em Fevereiro de 1868.
 
António Florêncio de Sousa Pinto, prestigiado historiador, biógrafo e politicólogo durante cerca de meio século colaborou no periódico com um grande número de artigos, fundamentalmente, na temática «Sociedade e Humanidades» e «Política e Administração Pública». Na «Sociedade e Humani­dades» salientamos os seus estudos de História de Portugal - “A Batalha do Bussaco”, RM, Tomo XII, n.º 3, 1870; “A Campanha de 1801 e o Duque de Lafões”, RM, Tomo III, 1851, n.º 2; “O General Sepulveda e a restauração de 1808”, RM, Tomo VII, 1855, n.º 2 e as biografias “A Duquesa de BragançaRM, Tomo XXIV, 1872, n.º 22 e “Gomes Freire de Andrade”, RM, Tomo II, 1850, n.º 4. Os seus principais trabalhos históricos foram publicados sob o título “Divagações Históricas”, tendo oferecido um volume à Sociedade da Cruz Vermelha de que na altura era Presidente35. Da análise feita a alguns dos seus trabalhos, ressaltou-nos à priori, a consciência que tinha na função social que a História tinha como meio de garantir a continuidade entre o passado e o presente. Temos um alerta constante para aquilo a que podemos designar de herança cultural portuguesa que pretendia desenvolver na elite militar. A constante referência a figuras ou factos da nossa História Pátria na sua obra revela-nos o interesse que tinha na divulgação da nossa História, não deixando, por vezes, de ocorrer em termos mais ou menos críticos. Os seus trabalhos tornam-se, por ventura, mais compreensivos se inseridos numa determinada conjuntura histórica, política e social nacional e europeia da época. Outro aspecto que também nos ressaltou foi que o seu trabalho historiográfico era dirigido a um grupo de leitores erudito.
 
Guilherme Luiz, pelos trabalhos que realizou, viria a tornar-se conhecido como geógrafo, cartógrafo, mineralogista e metalurgista do Reino e Sócio Efectivo da Academia Real das Sciencias de Lisboa em 1836. Da sua vasta produção literária referimos: Memoria sobre as Difficuldades das Fundições e Refinações nas Fabricas de Ferro, inserta no Tomo IV das Memórias Económicas 4.º (1812); Extracto de uma Memoria sobre a Decadencia das Minas de Ouro da Capitania de Minas-geraes, e sobre varios objectos Montanhisticos, Tomo IV, parte 2.ª, fol; Memoria Geognostica, ou Golpe de Vista do Perfil Pluto Brasiliensis; Achegas para o Conhecimento Montanhístico do Brasil; Notícias sobre Reflexões Estatísticas da Província de Minas Gerais; Notícias Geográficas do Brasil, (1827); Memória Geognóstica ou Golpe de Vista do Perfil das Estratificações das Differentes Rochas de que é Composto o Terreno, desde a Serra de Cintra na linha do Noroeste a Sudoeste até Lisboa, Atravessando o Tejo até à Serra d’Arrabida e sobre a sua Edade Relativa, Tomo XI parte 1.ª, (1831); Memória Sobre o Melhoramento das Providencias para Atalhar os Incêndios e para Augmento de Água em Lisboa, Tomo XII, parte 1.ª, (1837); Memória Geognóstica dos Arredores de Setúbal, (1837); Odologia dos Engenheiros Construtores, ou Guia para a Construção e Conservação das Estradas em Portugal e no Brasil, publicado em Lisboa, pela Typografia de Castro & Irmão, (1844)36.
 
Fortunato José Barreiros, também ele Sócio Efectivo da Academia Real das Sciencias de Lisboa em 1838, colaborou no periódico O Panorama e publicou alguns trabalhos de âmbito científico e literário que num breve apontamento destacaremos: Ensaio sobre os Principios Geraes de Strategia e de Grande Tactica, (1837); Memorias sobre os Pezos e Medidas de Portugal, Hespanha, Inglaterra e França que Empregam no Corpo de Engenherios e da Arma de Artilharia, Tomo 12; (1838).
 
Fortunato José Barreiros com o reacender da Questão Ibérica não terá, contudo, deixado de contribuir para a evidente valorização da memória histórica nacional através da publicação do seu trabalho - “Nacionalidade Portuguesa”, lido na Academia de Ciências de Lisboa em sessão presidida pelo Duque de Palmela, D. Pedro que insistiu com o autor no sentido de fazer publicar esse trabalho como resposta às pretensões ibéricas que já se come­çavam a fazer sentir no país37.
 
Torna-se evidente que os temas históricos também fizeram parte do ideário intelectual de José Barreiros e que de entre eles referimos: “Memoria descriptiva da praça de Elvas e seus fortes adjacentes”, publicado na Revista Panorama no ano de 1840 nos números 143 e 144 e em 1841, n.º 198 e 199; “Ensaios sobre os principios geraes da estrategia e de grande tactica”, publi­cado pela Academia Real das Sciencias de Lisboa em 1837; “Nota ácerca do Emprego dos Odres nas Pontes Militares”, Tomo I, das actas Impressas.
 
O vasto número de jornais e revistas onde colaboraram Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, Guilherme Luiz e Francisco Maria Bordallo, conside­ramos, especialmente, a obra de Fradesso da Silveira, já abordada em momento anterior, que em 1846 com apenas 21 anos de idade publicou o manual do curso de Chimica Elementar que viria a ser professado na Escola Politécnica e em 1848 as Lições de Optica. Em 1849 tornou-se proprietário da Revista Popular, semanário ilustrado e barato de literatura e indústria. Neste periódico iniciou a sua carreira de jornalista e fez as suas primeiras e talvez as últimas intervenções contestatárias, embora de forma cortês, porque lhe foram confiadas umas revistas muito bem redigidas e assinadas com o Pseudonimo de Fr. Gerundio. Ainda como Director da Revista Popular publicou os Almanachs Populares. Como Director do Observatório Meteorológico de Lisboa iniciou a publicação dos Annaes do Observatorio. Fundou a Gazeta Fabril para ser o órgão da Associação Promotora da Industria Fabril e o Diário Mercantil, jornal de grande formato. Em 1869, depois da sua passagem pela política em que sofreu grandes decepções, dirigiu e foi Redactor da Gazeta do Povo, jornal que surgiu a partir da fusão do Partido Histórico com o Partido Regenador e que depois se transformou no Paíz e no Progresso. Conseguiu ainda tempo para colaborar no Jornal do Comercio e no Diário de Noticias 38.
Francisco Maria Bordallo teve um percurso de autor literário de artigos em prosa39, verso, literários e políticos em diversos periódicos. Foi Redactor do Jornal Distracção Instructiva, publicado em 1842 no qual tem muitos artigos escritos em prosa e verso, literários e políticos e ainda noutros como a Ilustração, Imprensa, Rei e Ordem.
 
António Mello Breyner foi um dos prestigiados cientistas militares, personalidade intelectual, dotada de uma inteligência clara e aberta, que em relação ao seu país e, particularmente à instituição militar que serviu teve sempre presente a ideia de progresso e desenvolvimento.
 
Nos trabalhos de Mello Breyner, a par da área do erudito especialista em determinados assuntos da temática «Técnica e Científica», deparamos ainda com um significativo número de estudos no âmbito da temática «Sociedades e Humanidades».
 
Importante ao longo da sua obra, foi notar a intencionalidade científica que dominou todos os seus trabalhos técnicos e científicos. Exemplo disso podemos encontrar nos estudos “Exemplo dos caminhos de ferro e seu emprego”, publicado na Revista Militar em 1868 e “Emprego dos caminhos de ferro na guerra”, publicado no mesmo periódico em 1870 e que em momento próprio desenvolveremos com profundidade.
 
António de Mello Breyner colaborou, essencialmente, em periódicos militares, contudo merece particular destaque o estudo: Considerações Históricas sobre a Utilidade das Praças de Guerra, a sua Aplicação á Defeza de Lisboa. Trabalho apresentado à Academia Real das Sciencias de Lisboa e publicado pela mesma Academia em 1854.
 
João Manuel Cordeiro, iluminado escritor e historiador militar, publicou nas páginas da Revista Militar diversos artigos que de entre eles salientamos, “Apontamentos para a historia do Arsenal do Exército”, 1892 e ainda, “Apontamentos para a historia da artilharia portugueza”, publicado pela Tipographia do Comando Geral da Artilharia, 189540.
 
Estas personalidades escreveram para uma quantidade tão diversificada de jornais e revistas que pressupõe uma ampla ligação a um público de leitores distintos já que a natureza dos periódicos em que colaboram assim o determinava. O facto destes intelectuais serem ao mesmo tempo Fundadores, Redactores e Colaboradores da Revista Militar e em periódicos civis demonstra a rede de leituras e difusão de ideias que se estabelecia entre aquele periódico e o periodismo civil.
 
O facto de identificarmos cerca de 32 jornais e revistas em que encon­tramos colaboração deste grupo de Fundadores, levam-nos a concluir que existia uma forte ligação entre a Revista Militar e o periodismo civil da época, nos quais se encontravam os jornais de maior destaque do País como Revolução de Setembro, Annais da Academia de Sciencias de Lisboa, Revista Universal Lisbonense, Panorama e Diário de Notícias entre outros.
 
Como o leque de publicações é muito vasto, elaboramos uma classificação dos artigos publicados a partir das prosopografias dos diferentes Fundadores, tendo verificado que o maior número de artigos publicados são de carácter técnico e científico, o que não quer dizer que outros artigos literários e mesmo políticos não fossem publicados por alguns daqueles Fundadores. Enquanto Fontes Pereira de Mello se encontra mais ligado à publicação de artigos de carácter político, todos os outros se ocupam da difusão de conhecimentos técnicos e científicos. Francisco Maria Bordallo, Joaquim Henrique Fradesso da Silveira e Bento José da Cunha Vianna desenvolvem a sua escrita pelo domínio científico, literário e político, embora por vezes de forma efémera. Mais restritos são José Carlos Conrado de Chelmiki e Antonio de Mello Breyner que se ocuparam de temáticas do domínio científico e literário.
 
 
2.  Redactores
 
2.1 Naturalidade
 
Dos Redactores41 da Revista Militar, 11 (45,83%) são naturais da capital do Reino. Com 2 Redactores (8,33%) temos as cidades do Porto, Coimbra, Guarda e Viseu. As cidades de Chaves a norte do País e Faro a sul, surgem com 1 Redactor (4,16%) cada. Nascidos nas cidades de províncias ultramarinas, Luanda e Goa temos 2 Redactores (8,33%).
 
Do grupo dos Redactores, 13 (54,16%) nasceram nos dois maiores centros de cultura do País e, simultaneamente mais populosos, Lisboa e Porto. Os outros 10 Redactores (41,66%) nasceram nas cidades de Província do Continente e Províncias Ultramarinas.
 
À semelhança dos Fundadores, também os 12 Redactores (50%) nascidos no Porto e noutras cidades do Reino, se deslocaram para a capital durante a infância para frequentar o Colégio Militar ou, depois, na juventude, para ingressarem nas diferentes Academias. Foi em Lisboa que iniciaram o seu percurso Académico e a sua actividade profissional, e aí se manteriam, embora com pequenas saídas para o desempenho de missões relacionadas com a sua actividade militar.
Naturais de cidades das Províncias Ultramarinas temos José Joaquim de Castro, nascido em Luanda, que muito cedo veio para Lisboa onde iniciou a sua formação académica no Collegio Militar, e Francisco Xavier Correia Mendes nascido em Panguim.
 
2.2 Idade no Momento da sua Actividade Redactorial
 
Quanto à idade dos Redactores da Revista Militar ao momento da sua Actividade redactorial, 18 Redactores (75%) distribuem-se entre os 36 e os 55 anos de idade e 6 Redactores (25%) são bastante jovens, com idade inferior a 36 anos. Importa referir que o Redactor mais jovem, José Maria Pereira d’Almeida, (1826-1865) tinha apenas 23 anos, enquanto que o mais velho, Carlos Roma du Bocage (1853-1918), tinha 53 anos de idade. Esta situação é semelhante à dos Fundadores, embora a amplitude de idades entre os Redactores seja menor. A situação de sã convivência verificada entre os Fundadores está presente também nos Redactores.
 
2.3 Percurso Académico
 
No que diz respeito à formação académica, o número de Redactores diplomados com cursos académicos de grau superior é de 20 (83,33%). 2 Redactores (8,33%) José Maria Pereira d’Almeida e Luiz António de Vasconcelos Dias (1866-1924) apresentaram como habilitações o curso do Real Collegio Militar. Em Luiz Travassos Valdez (1816-1900) e a Francisco Xavier Correia Mendes (1861-1944) não foi possível registar qualquer formação académica, embora saibamos que ambos vieram a ocupar cargos ao mais alto nível da administração da Nação. Nesta situação, foi nas instituições militares de ensino superior que se diplomou o maior número de Redactores em relação às instituições civis de ensino superior, nomeadamente, Universidade de Coimbra, Escola Politécnica e Academia Politécnica do Porto.
 
Quanto aos diplomados em instituições militares de ensino superior registamos a Escola do Exército em que se diplomaram 18 Redactores (75%) e a Escola Naval com 2 Redactores (8,33%).
 
As instituições civis de ensino superior também estiveram presentes na formação académica dos Redactores. Surge com o maior número de diplomados a Escola Politécnica com 8 Redactores (33,33%), a Universidade de Coimbra com 2 (8,33%) e a Academia Politécnica do Porto com 1 (4,16%).
 
Diplomaram-se em mais do que uma instituição de ensino superior independentemente da sua natureza militar ou civil 11 Redactores (45,83%). Cursaram na Escola do Exército e na Escola Politécnica 7 Redactores (29,16%).
 
Augusto Pinto de Rebêlo Pedroza, (1831-1891) iniciou os seus estudos no Liceu de Santa Cristina em Viseu e matriculou-se nas disciplinas de Filosofia Racional e Moral. Em 1855 frequentou a Escola Politécnica em que foi um aluno aplicado, conquistando o primeiro prémio pecuniário atribuído por aquela instituição aos alunos que mais se distinguissem nas suas actividades académicas. Terminados aqueles estudos, matriculou-se na Escola do Exército na qual viria a concluir o curso em 1859.
 
Carlos Roma du Bocage, (1853-1918) foi, sem dúvida, uma figura proeminente da sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX e inícios do século XX. Familiar do grande poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, filho de um dos maiores cientistas do século XIX, o Doutor José Vicente Barbosa du Bocage, herdeiro portanto, de nome por tantos títulos ilustres, foi Carlos Roma do Bucage um distinto publicista, diplomata, estadista e parlamentar, homem teórico e prático. A sua formação académica começou na Escola Politécnica na qual cursou engenharia com distinção. Mais tarde, frequentou o curso de engenharia na Escola do Exército, em que o viria a concluir em 1875 com 22 anos de idade.
 
José Justino Teixeira Botelho, (1864-1956) recebeu a sua primeira formação académica no Colégio Militar no qual foi um aluno brilhante e aplicado, cujo curso completou em 1880. Cursou na Escola Politécnica e matriculou-se na Escola do Exército, terminando o curso em 1884 com a idade de 21 anos. Diplomaram-se ainda nestas duas instituições de ensino António Maria Celestino de Sousa (1840-1915), José Joaquim de Castro, Eduardo Augusto Ferreira da Costa (1865-1907) e Raul Augusto Esteves.
 
Pela Universidade de Coimbra e Escola do Exército diplomaram-se José Nunes Gonçalves, (1859-1917) e José Joaquim Mendes Leal, (1859-1930) enquanto que Rodolpho Ferreira Dias Guimarães cursou Engenharia na Academia Politécnica do Porto e Escola do Exército. O segundo cursou Direito na Universidade de Coimbra durante o período de 1888 a 1893, em que foi um aluno distinto e discípulo do egrégio catedrático Doutor Manuel Emídio Garcia. O terceiro iniciou a sua formação académica no liceu do Porto, realizando com distinção os preparatórios para a Academia Politécnica do Porto, na qual viria a frequentar quatro anos do curso de engenharia com destino à engenharia militar. Concluiu este curso em 1886. De Outubro a Novembro de 1890 frequentou o curso de engenharia na Escola do Exército tendo vindo a conclui-lo com distinção42.
 
Pela Escola Naval diplomaram-se Victorino Gomes da Costa e Augusto Ramos da Costa (1865-1939), o reconhecido engenheiro hidrógrafo da Marinha, que começou logo a distinguir-se na Escola Naval onde foi o primeiro aluno do curso de engenharia, conquistando vários prémios pecuniários. Ainda no curso para aquela especialização frequentou a Escola Politécnica na qual obteve distinção e louvor na cadeira de Astronomia.
 
Diplomaram-se na Escola do Exército Frederico Augusto de Novaes Côrte-Real, Domingos José Correia, José Nicolau Raposo Botelho, José César Pereira Gil, Luiz Henrique Pacheco Simões, João Ortigão Peres, Júlio Ernesto de Moraes Sarmento e Fernando Augusto Freiria43.
 
2.4 Actividades militares e civis
 
O grupo dos Redactores da Revista Militar, à semelhança dos Fundadores, era constituído por indivíduos que, além da sua formação académica técnica e científica nas diferentes instituições de ensino superior militar e civil, vieram a desenvolver as suas actividades como Professores, Jornalistas, Cientistas, Políticos (Ministros, Secretários de Estado, Deputados, Governadores do Reino, Conselheiros de Estado e Promotores de Justiça) e Militares com uma grande capacidade de intervenção e influência ao nível dos órgãos detentores do poder de decisão do País. Como apuramos nos Fundadores, também a profissionalização dos Redactores foi marcada pelo exercício de várias actividades em simultâneo, tornando-se, por vezes, difícil identificar qual delas era a principal.
 
Do grupo de Redactores, 16 (66,66%) exerceram a actividade docente como lentes nas diversas instituições de ensino liceal44 ou mesmo superior. 9 Redactores (37,5%) leccionaram na Escola do Exército, António Maria Celestino de Sousa, Augusto Frederico Pinto de Rebêlo Pedroza, Augusto Ramos da Costa, José Joaquim Mendes Leal, José Joaquim de Castro, Júlio Ernesto de Moraes Sarmento, José Nunes Gonçalves, João Ortigão Peres e Fernando Augusto Freiria.
 
Deste grupo destacaríamos o segundo elemento, Professor de Fotografia e Clinica Aplicada entre 1875 e 1881, o terceiro, lente de Astronomia na Escola Politécnica, Professor de Geodesia e Topografia da Escola do Exército e Professor de Hidrografia e Meteorologia Náutica na Escola de Marinha e o quarto Professor de Direito Publico, Constitucional e Internacional entre 1894-1908 na Escola do Exército.
 
Segundo a análise biográfica dos Redactores, 9 (37,5%) lentes estabele­ceram contactos com países estrangeiros onde se deslocaram como representantes da Nação nas mais diversas conferências internacionais e ainda através das viagens científicas proporcionadas pela condição de militar e dos interesses relacionados com a arma a que pertenciam. Estas viagens científicas a países estrangeiros tinham como propósito contactar com o que de mais avançado aí existia em termos de desenvolvimento técnico e científico.
 
No que respeita às actividades desenvolvidas, os Redactores da Revista Militar, encontravam-se na sua maioria ligados ao funcionalismo da Administração Pública do Estado, sobretudo da alta burocracia do Estado - Directores de Organismos Públicos, Professores, Deputados e Ministros - o que nos revela bem a sensibilidade para o desempenho de funções em organismos do Estado. 5 Redactores (20,83%) desempenharam funções de Ministro: José Nicolau Raposo Botelho, José Joaquim de Castro, Carlos Roma du Bocage, Júlio Ernesto de Moraes Sarmento e Fernando Freiria45. Os 6 Redactores (25%), desempenharam funções parlamentares: Luiz Travassos Valdez, José Joaquim Mendes Leal, José Joaquim de Castro, Carlos Roma do Bocage Francisco Xavier Correia Mendes e João Ortigão Peres46. O mesmo devemos referir em relação aos cargos públicos ligados à administração central e local, como sejam os de governadores do Reino47.
 
Entre as personalidades que desenvolveram actividades de Direcção em Organismos Públicos, 15 Redactores (62,5%) de que destacaríamos ainda Augusto Ramos da Costa, José Justino Teixeira Botelho, Rodolpho Ferreira Dias Guimarães, Raul Augusto Esteves e Victorino Gomes da Costa48.
 
Quanto às actividades profissionais exercidas pelos Redactores da Revista Militar e, à semelhança dos Fundadores, todas foram consideradas elevadas, sendo preponderante o grupo dos que exerceram cargos de Directores de Organismos Públicos, 15 Redactores (62,5%). Significativa foi também a actividade de Deputados pois 6 Redactores (25%) desenvolveram aquela actividade e 5 Redactores (20,83%) desempenharam o cargo de Ministro. Ao nível da Administração Pública, podemos encontrar 3 (12,5%) Governadores do Reino e 1 (4,16%) Conselheiro de Estado e Promotor de Justiça. Presença significativa ocorre no domínio do ensino liceal e superior com a existência de 16 Professores (66,66%) de diversos estabelecimentos de ensino militar e civil, com especial relevância para os 9 (37,5%) da Escola do Exército. Menor é a presença na Escola Auxiliar de Marinha e Escola Naval, com 1 Redactor cada (4,16%) e a Escola Politécnica, com 1 (4,16%). No ensino liceal surge-nos o Colégio Militar com 4 (16,66%) Professores. De salientar que dos 4 Professores do Colégio Militar nenhum deles leccionou no ensino superior. A actividade de jornalista também esteve presente, embora com apenas 3 Redactores, (12,3%) a dedicarem-se àquela actividade.
 
A actividade científica também esteve presente nos Redactores da Revista Militar, manifestando-se ao nível das diversas comissões científicas nacionais e internacionais que efectuaram em território nacional e aos diferentes países da Europa49.
 
2.5 Colaboração Científica e Literária noutros periódicos culturais e científicos
 
No que toca à actividade profissional dos intelectuais Redactores da Revista Militar, importa esclarecer que esta implicou em termos gerais o exercício de várias actividades, o que também foi característico dos Fundadores. Não saindo do cariz do periódico, a produção cultural e literária desenvolveu-se dentro de um carácter técnico, científico e literário associada ao desempenho de outras actividades, Direcção de Organismos Públicos, Professores, Deputados, Ministros e Militares.
 
No grupo dos Redactores, 9 (37,5%) colaboraram noutros periódicos, tendo exercido a actividade de Directores, Redactores e Proprietários antes e depois da Revista Militar, (aspectos que serão desenvolvidos em momento oportuno).
 
Este grupo de Redactores colaborou num grande número de periódicos técnico-científicos, literários, políticos e económicos: José Justino Teixeira Botelho e Carlos Roma du Bocage, dois dos Redactores, colaboraram numa mesma publicação: o Diário de Notícias. O primeiro, historiador, académico, colonialista, pedagogo, tradutor e jornalista, viria a notabilizar-se com os seus estudos relativos à Pedagogia e à História. A sua carreira literária jornalística iniciou-se em 1893 na companhia de Eduardo Costa, Ayres de Ornelas e Mascarenhas Galvão com a fundação da Revista do Exército e da Armada de que eram proprietários. Como pedagogo, preocupou-se com o ensino das línguas vivas no País deixando notáveis artigos nos jornais da época em que colaborou50. Homem muito dedicado à difusão dos conhecimentos úteis, viria a colaborar incessantemente em periódicos técnicos e científicos. No Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Arquivo Ultramarino, Mensageiro Literário (Porto), Boletim da Sociedade Luso-africana (Rio de Janeiro) Journal of the society of Army Historical Research (Inglaterra) e no Diário de Notícias, no qual publicou o seu último artigo A Guerra Peninsular e a Inglaterra 51.
 
Teixeira Botelho como escritor foi sobretudo um historiador «conscencioso e sério e um investigador paciente, criterioso e honesto»52 que nos deixou uma notável obra historiográfica. Importa referir alguns aspectos da obra em que se distinguiu como historiador. No concurso histórico e literário que decorreu para comemorar o 1º Centenário da Guerra Peninsular e no qual se apresentaram a concurso os mais conceituados historiadores militares e civis, a sua obra foi laureada com o 1º prémio. A esse trabalho deu Teixeira Botelho o título de “História Popular da Guerra Peninsular”, publicada pela Livraria Chardron, de Lello & Irmão, Porto, 1915, 651 páginas. No prefácio, o autor refere que na elaboração deste seu estudo histórico procurou compendiar os mais significativos acontecimentos políticos e militares que ocorreram na Península Ibérica. Através dessa sua obra propôs-se colmatar uma lacuna existente na historiografia portuguesa. É uma obra historiográfica educativa e completa que pela singeleza da sua linguagem e exposição podemos considerar que foi dirigida a um público de nível ilustrado mediano. Anos depois, escreveu a sua admirável obra “História Militar e Política dos Portugueses em Moçambique”, em 2 volumes. É uma obra em que o autor reflectiu sobre a cuidada acção civilizadora de Portugal na África Oriental e constitui um excelente repositório de informação para quem pretenda investigar o que foi a acção dos portugueses no continente africano. Outras obras merecem da nossa parte uma referência: A Restauração e o Império Colonial Português - Costa Oriental”, Edição Geral do Ultramar, 1940 e “Novos subsídios para a História da Artilharia Portuguesa”, 2 volms., Comissão de História Militar, 1º vol. 1944, págs. 407 e 2º vol. 1948, páginas. 48653.
 
Ao segundo, Carlos Roma du Bocage, engenheiro de formação e publicista, foram porém os assuntos coloniais e estudos históricos que mais absorveram a sua atenção como estudioso, sem nunca descurar a sua área de formação a engenharia. Em 1880, apresentou à Academia Real das Ciências de Lisboa uma memória sob um tema colocado a concurso sobre a defesa do país e melhor sistema de organização militar. Intitulada Estudo sobre o mais eficaz sistema de defesa do país subordinado aos meios de que podemos dispor, discutindo as hipóteses prováveis em que possa realizar-se a agressão, e formulando ao mesmo tempo os princípios em que deve basear-se a melhor organização e construção do exército português de maneira que seja fácil e profícua a sua mobilização. Esta foi premiada com a medalha de ouro, sendo o seu autor eleito Sócio Correspondente da Academia. Poucos anos depois, escreveu uma memória em colaboração com um escritor espanhol: Estudos de História Pátria - Origem do Condado de Portugal que viria a ser inserta nas memórias da Academia 2ª Classe (Tomo VI, parte II). Esta memória valeria a Carlos Roma du Bocage ser eleito sócio correspondente da Academia de La Historia de Madrid. Em 1889, escreveu dois artigos na Revista Portuguesa Colonial e Marítima, Lisboa Tomo III, um de título Aliança de Portugal e o outro Portugal sem Aliados. Tendo conhecimento que a aplicação dos automóveis na guerra e os seus constantes aperfeiçoamentos e progressos faziam prever a sua utilização no Exército para dar mobilidade às bocas de fogo na defesa de forças entrincheiradas, dispensando as linhas férreas, realizou em França em 1902, as primeiras experiências nesse sentido, organizando um comboio constituído por quatro bocas de fogo nos seus reparos, rebocado por um tractor a álcool e que fora denominado de Train Schneider-canet-du-Bocage54. Em 1906 e 1907 colaborou no Diário de Notícias no qual publicou uma série de magníficas crónicas internacionais que mais tarde, em 1914, viriam a ser compiladas e publicadas num só volume.
 
Rodolpho Ferreira Dias Guimarães, aluno de Gomes Teixeira Conde de Campo Bello e Luiz Woodhouse desenvolveu os seus trabalhos no âmbito da geometria. De vocação sobretudo para as Matemáticas, em 1885, com 19 anos de idade, publicou dois trabalhos no Ateneu do Porto55 sobre geometria e outro no Jornal de Sciencias Matematicas e Astronomicas do Dr. Gomes Teixeira. Ainda como estudante, em 1886 e 1888 continuou a colaborar com artigos sobre matemática naqueles periódicos e no periódico O Instituto56, tendo mesmo redigido um folheto, dedicando-se ao estudo da geometria, especialmente ao estudo da elipse, onde conseguiu resultados brilhantes que seriam muito enaltecidos pela comunidade científica nacional e estran­geira.
 
Em 1892, foi admitido como sócio correspondente da Academia Real das Sciências de Lisboa, pelo reconhecimento dos seus estudos de matemática já publicados e mereceu uma grande distinção por parte de personalidades ilustres do mundo da Ciência, como o geómetra Schiapa Monteiro, Francisco Horta e Mota Regado. Embora apaixonado pelas ciências matemáticas, não esqueceu os assuntos para a ciência de engenheiro como prova o interessante artigo publicado no Génie Moderne sobre o cálculo dos perfis transversais nos projectos de estradas, no qual demonstrou que o processo Silva Ribeiro é mais simples que o método clássico do chileno Krahnass. Em 1891 evidenciou-se como engenheiro, ao aplicar os seus conhecimentos na Escola Prática de Engenharia, no desenvolvimento dos Serviços Fotográficos do Reino, havia pouco tempo criados pelo Coronel João Veiga da Cunha, já no estudo e aproveitamento do material recentemente adquirido para a iluminação eléctrica de campanha, tanto com projectores como com lâmpadas. Desse estudo resultou um seu artigo: O Material Photo-electrico, Typo de Campanha publicado na Revista de Sciencias Militares, ilustrado com numerosas imagens elaboradas pelo próprio autor.
 
Os estudos de investigação histórica e bibliográfica também mereceram a atenção de Rodolpho Ferreira Dias Guimarães: ocupou-se do estudo das obras de Pedro Nunes. Deste resultaria uma série de artigos publicados no O Instituto com o título de Investigações históricas sobre as Obras de Pedro Nunes. Neste trabalho, revela-nos os trechos mais importantes das obras desse grande matemático, bem como faz uma avaliação das críticas e comentários que por reconhecidas autoridades da Ciência lhe foram dirigidas. Em 1900, voltou a publicar no mesmo periódico Les Mathématiques en Portugal que é uma com-pilação de crítica de tudo quanto neste ramo da Ciência foi estudado entre nós, desde o início da nacionalidade. Posteriormente, esse trabalho viria a ser completado com dois sucessivos apêndices e depois de reunido em volume com três índices, sistemático, cronológico e biográfico. Terminado aquele estudo, deu início a outro que resultaria na publicação de um conjunto de Artigos de título Sur La Vie et L’ouvre de Pedro Nunes nos Annais da Academia Polytechica.
 
São inúmeros os estudos publicados nas colecções da Academia de Ciências de Lisboa, na Revista do Boletim Bibliografico da Universidade de Coimbra, no Instituto, na Revista das Obras Públicas, no Boletim do Ministério de Instrução, no Jornal de Sciencias Mathematicas e Astronomicas de Coimbra, no Bulletin de la Société Mathématique de France, no El Progresso Matematico de Saragoça, entre outros57.
 
Francisco Xavier Correia Mendes, embora sendo um homem de grande aptidão intelectual, nunca escreveu uma grande obra, pois o seu espírito dinâmico sentia-se melhor como jornalista do que nas diversas considerações sobre os grandes estudos o que fez dele uma personalidade de relevo no meio jornalístico. A sua colaboração em prosa e verso distribui-se por numerosos periódicos diários: Correio da Noite, Voz Pública, Primeiro de Janeiro e em vários outros órgãos da imprensa de Coimbra, Monção, Viana do Castelo e Funchal. Foi cronista militar muito apreciado das Novidades no Tempo em que era seu Director o jornalista Emídio Navarro. Na Revista de Portugal em África, publicou em 1896 as biografias de Eduardo Costa e Ayres Ornelas, oficiais que ganharam celebridade nas campanhas de África.
 
Frederico Augusto de Novaes Côrte-Real, escritor estudioso dotado de uma reflexão contemplativa, realizou vários estudos sobre a ciência militar, colaborando na Cosmorama Literário e foi Director e Redactor da Revista Estran­geira, exercício que acumulava com o de Redactor Principal da Revista Militar.
Luiz Travassos Valdez desenvolveu a sua actividade a partir de 1842 como Redactor, Autor e Coordenador de vários estudos - almanaques civis e militares58. Esses estudos são de tal modo interessantes que além de notícias comuns encontramos outras menos vulgares que os tornam de grande interesse para serem consultados por investigadores de diferentes áreas. A eles recorreu Innocencio Francisco da Silva para redigir o seu Diccionario Bibliographico Portuguez. Foi durante alguns anos colaborador do Jornal do Commercio e no Diário Popular onde publicou em 1880 um estudo: Memoria Ácerca das Impressões do Governo, Obras Subsídiadas pelo Estado, Bibliothecas, Archivos, Boletins das Provincias Ultramarinas, Bibliographia Ultramarina.
 
José Joaquim Mendes Leal, Domingos José Correia e Raul Augusto Esteves, tiveram em comum o facto de pelo menos terem sido colaboradores num periódico.
O primeiro, Professor e Político, foi ainda em Coimbra quando cursava Direito que deu os primeiros passos no jornalismo como director e colaborador do Jornal Gazeta Nacional que se publicou na última década do século XIX. Como escritor militar, foi director da Revista do Exercito e da Armada. A sua colaboração não foi vasta, mas os seus estudos são de grande profundidade e rigor científico.
 
Domingos José Correia dedicou-se aos estudos no domínio do Direito, tendo publicado alguns dos seus estudos no periódico Revista de Jurisprudência Militar, enquanto que Raul Augusto Esteves, escritor militar de vasta bibliografia, colaborou na Revista de Engenharia Militar com estudos relacionados com a engenharia e na Gazeta dos Caminhos de Ferro, com o seu estudo O Problema Nacional dos Caminhos de Ferro. Foi ainda colaborador noutra imprensa diária.
 
 
3.  Colaboradores
 
3.1 Naturalidade
 
No que refere ao local de nascimento, dos 10 Colaboradores considerados 5 (50%) são provenientes de cidades portuguesas que podemos considerar de nível europeu, Porto com 3, (30%), e Lisboa 2, (20%). Igualmente significativo é que das cidades de província temos 3, (30%), dos Colaboradores. Santarém, Elvas e Faro com 1 Colaborador, (10%), enquanto se nos apresenta um colaborador de quem não conseguimos obter informação quanto ao seu local de nascimento. O maior número dos Colaboradores é de origem a norte do Rio Tejo com 6 Colaboradores, (60%), enquanto que a sul do mesmo rio temos apenas o Alentejo e Algarve com 2, (20%) dos Colaboradores.
 
3.2 Idade no Momento da Primeira Colaboração
 
Como tivemos oportunidade de verificar, através de uma análise à idade dos Colaboradores à data da publicação do primeiro artigo, facilmente nos apercebemos que 4, (40%), estrearam-se na divulgação do conhecimento técnico, científico e literário com uma idade igual ou inferior a 30 anos. Este factor indicia que ser-se colaborador de um periódico, neste caso da Revista Militar, era entendido como forma de afirmação perante a opinião pública e, quem sabe, de promoção política, (na verdade, o maior número dos colaboradores do periódico, até aos 30 anos vieram a ocupar cargos públicos), aspecto que abordaremos em momento oportuno. Os outros 4 Colaboradores (40%) distribuem-se entre os 37 e os 70 anos de idade. Os indivíduos mais novos, José Estevão de Moraes Sarmento (1843-1930) e António José de Mello (1859-1946), tinham apenas 23 anos de idade enquanto o Colaborador mais velho, Francisco Pedro Celestino Soares (1792-1873), contava 71 anos de idade o que mais uma vez revela uma grande amplitude de idades entre os colaboradores. Estes grupos etários acima referidos são acrescidos de 2 colaboradores de quem não conseguimos informação59.
 
3.3 Percurso Académico
 
No que concerne à formação Académica, relevante é o facto de 6 Colaboradores (60%) serem possuidores de formação académica de grau superior. Todavia, sobre 4 (40%) dos Colaboradores desconhecemos informação relativa à sua formação académica60. As instituições militares de ensino superior surgem em posição bastante mais relevante que as instituições de ensino superior civis, aliás temos presente apenas uma, a Escola Politécnica com 2 (20%) dos Colaboradores. A Escola do Exército é a instituição de ensino superior onde se diplomaram mais Colaboradores, 4 (40%), enquanto na Academia Real de Marinha foram 2, (20%), e na Real Academia de Fortificação Artilharia e Dezenho 1 Colaborador, (10%). Como já referimos em momento anterior, 4 (40%) dos colaboradores surgem sem informação quanto à sua formação académica. Formaram-se em instituições militares de ensino superior 6 Colaboradores, (60%). Tiveram formação em mais do que uma instituição de ensino superior 3, (30%) dos Colaboradores, José Estevão de Moraes Sarmento e Fernando da Costa Maya pela Escola Politécnica e pela Escola do Exército e Francisco Pedro Celestino Soares na Academia Real de Marinha e Real Academia de Fortificação Artilharia e Dezenho. Com formação académica na Escola do Exército temos António José de Mello e João Xavier d’Athayde Oliveira, enquanto Carlos Barcelos Machado se diplomou na Academia Real de Marinha.
 
3.4 Actividades ocupacionais militares e civis
 
No que diz respeito às actividades desenvolvidas pelo grupo dos Colaboradores da Revista Militar, este era formado por personalidades que, além de formação científica nas diferentes instituições militares e civis de ensino superior, estiveram como os Fundadores e Redactores a exercer actividades como Docentes, Jornalistas, Publicistas, Políticos (Ministros, Secretários de Estado, Deputados, Governadores do Reino e Directores de Organismos Públicos). A actividade dos Colaboradores foi também ela marcada pelo desempenho de várias funções em simultâneo.
 
No conjunto considerado, um grupo é preponderante: o do funcionalismo da Administração Pública - alta burocracia do Estado. Neste grupo, 5 Colaboradores (50%) exerceram o cargo de Directores de Organismos Públicos. Significativa é também a actividade de Professor, onde 4 Colaboradores (40%) exerceram a docência na Escola do Exército. As actividades de Jornalista, Publicista e Deputado também estão presentes com 2 Colaboradores (20%), cada a exercerem aquelas actividades. Ainda dentro do funcionalismo público encontramos 1 (10%) a exercer o cargo de Ministro, Secretário de Estado e Governador do Reino. Do grupo de Colaboradores, 4 (40%) exerceram a actividade docente: Francisco Pedro Celestino Soares, Fernando da Costa Maya, Manuel Alves de Souza (1829-1892) e António José de Mello (1859-1946)61. Deste grupo de Colaboradores que exerceram a actividade docente, desta­caríamos o primeiro pelas suas múltiplas actividades desenvolvidas quer como político quer como cientista nas diversas comissões científicas a que pertenceu62.
 
O Funcionalismo da Administração Pública do Estado - Ministro, Depu­tados e Directores de Organismos Públicos são os mais representativos. José Estevão de Moraes Sarmento exerceu a actividade de Ministro, Deputado, Par do Reino, Conselheiro de Estado, Promotor de Justiça e Director de Orga­nismo Público e Luiz Augusto Pimentel exerceu o cargo de Deputado em duas legislaturas. Como Directores de Organismo Públicos, além de Sarmento já referido, desempenharam esse cargo Carlos Barcelos Machado, António José de Mello, Francisco Pedro Celestino Soares e António Marciano Ribeiro da Fonseca63.
 
De entre estas personalidades destacaríamos José Estêvão Moraes Sarmento, que desempenhou o cargo de vogal da Comissão Central dos Trabalhos Preparatórios para a Exposição Universal de Paris em 1878, de chefe da 4ª Repartição da Administração Geral das Alfândegas de 1885 a 1886, que acumulou com o de Promotor de Justiça desde 1875 e que viria a deixar em 1893. Também serviu o país como político, tendo sido Deputado pelo círculo de Beja na legislatura de 1890 a 1893, e depois na seguinte pelo círculo de Mértola, de 1894-1897. Nesta legislatura distinguiu-se nos assuntos relacio­nados com as questões militares que lhe valeriam o desempenho do cargo de Ministro da Guerra em Abril de 1896 e que viria a exercer até Fevereiro de 1897.
 
3.5 Colaboração Científica e Literária noutros periódicos culturais e científicos
 
À semelhança dos Fundadores e Redactores, também a actividade dos Colaboradores foi marcada pelo exercício de diversas ocupações, fossem elas de Docente, Ministros, Deputados ou outros órgãos de soberania do Estado.
Posta de parte, por razões óbvias, a possibilidade de fazermos incidir o estudo sobre a totalidade dos Colaboradores da Revista Militar no período em estudo, importa começar por esclarecer quais os critérios que presidiram à construção da amostragem que constitui o conjunto dos Colaboradores: adoptámos como parâmetro essencial para a inclusão nesse conjunto todos os Colaboradores cuja colaboração igualou ou ultrapassou a publicação de 25 artigos no periódico. Deste critério resultou a selecção de 18 Colaboradores (100%). Nesse conjunto de Colaboradores, encontram-se 7 (38,88%) personalidades que além de Colaboradores, foram Fundadores e Redactores do periódico, por conseguinte já estudados em momentos anteriores64.
 
Do grupo dos restantes colaboradores, começaríamos por referir que em termos individuais, José Estevão de Moraes Sarmento e Fernando da Costa Maya deram o seu maior contributo, publicando um número superior a 100 artigos.
 
Como historiador, jornalista e publicista José Estêvão de Moraes Sarmento legou-nos uma vasta e diversificada obra de erudição e rigor científico. A sua actividade como Publicista começou em 1862 quando com 19 anos de idade iniciou a sua colaboração na Revolução de Setembro. Em 1873 fundou o Diário Popular e, nesse mesmo ano, colaborou no Diário de Notícias com uma crónica militar que, aliás, viria a manter até 1896 e no Jornal do Commercio com assuntos militares. Foi profícua a sua actividade literária com a divulgação de inúmeros estudos de que se salientam: A Defesa das Costas de Portugal e a Aliança Inglesa, mais tarde traduzido para a língua inglesa; Os caminhos de Ferro sob o Ponto de Vista Militar (1873); A Engenharia militar, (1875); Estudos sobre a Estabilidade Financeira dos Montepios, (1884); Memoria sobre a telegrafia Eléctrica Militar na Exposição da Electricidade de Paris em 1881, (1884); redigiu o prólogo para a segunda edição do Tratado Pratico de Topographia Regular e Irregular, Desenho e Leituras de Cartas, noções de Agrimensura, Photographias e suas principais Applicações, Lisboa, Imp. Sousa Neves, 1880, com 329 páginas. e 12 estampas.
 
Em 1866, iniciou a sua colaboração na Revista Militar com a transcrição de um artigo da Revolução de Setembro de seu título Collegio Militar que marca o início de um elevado número de publicações de artigos durante 40 anos de colaboração. A sua proveitosa e extraordinária colaboração na Revista Militar pode ser apreciada através da publicação dos seus 296 artigos65 sobre os mais diversos assuntos: Administração, Biografias, Colónias, Política de Defesa Nacional, Direito, História de Portugal, Marinha, Política Externa, Técnica e Ciência66.
 
Os seus trabalhos científicos e literários levaram a que em sessão de 14 de Julho de 1910 fosse eleito sócio Correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa. Mas, seria na Revista Militar que Moraes Sarmento prestaria um notável serviço técnico e científico nos sucessivos e eruditos artigos científicos que publicou.
 
Do ponto de vista da produção historiográfica, José Estêvão de Moraes Sarmento deixou-nos algumas obras de assinalável mérito: “Do valor Histórico dos Cronistas Medievais”, nomeadamente, de Fernão Lopes e D. Pedro V e a sua época e ainda para ser editada a tradução francesa da expansão alemã, cujo título é “Causes déterminantes de la Guerre Mondiale” com prefácio do Marechal Liantey e que seria publicada pela Livraria Lénix de Lisboa. Com os seus estudos procurava transmitir as suas ideias, formar opiniões que viessem ao encontro do seu ponto de vista e, consequentemente, influenciar a opinião pública67. Nas suas memórias, os estudos históricos com destaque para os que versam sobre a História de Portugal e História Universal, ocupam em Moraes Sarmento um lugar de primeiro plano destinado a um público militar ou mesmo civil mais esclarecido. Para isso basta percorrer alguns dos seus estudos publicados nos diversos periódicos onde foi redactor e colaborador.
Importa acentuar que Moraes Sarmento gozou, de facto, de uma enorme consideração e prestígio no meio cultural português, consideração essa e prestígio alicerçado nos seus importantes estudos históricos e políticos e colaboração na imprensa periódica que explicam o excepcional sucesso deste militar.
 
Fernando da Costa Maya iniciou a sua produção literária em 1883 com 19 anos de idade, publicando na Revista Militar o artigo: Do Ensino Militar nas Escolas Civis. Em 1897, foi nomeado para a comissão científica responsável pelo estudo de propor a reorganização das forças ultramarinas e a cooperação das forças da metrópole no serviço colonial, tendo saído deste trabalho a publicação de três volumes do maior interesse para quem se dedique ao estudo das questões coloniais e de seu título: Reorganização das Forças Ultramarinas. Com a sua capacidade científica e erudição adquirida como Professor, nos diversos estabelecimentos de ensino onde leccionou, facilmente se evidenciou como jornalista e publicista, colaborando no jornal A Província do Porto, no Diário de Notícias como Redactor efectivo para os assuntos militares e ainda noutros jornais e revistas. Além do grande número de artigos nesses periódicos, publicou um conjunto notável de livros dos quais destacamos alguns dos seus títulos: Royal Collège Militaire - monografia que fez parte na preciosa colecção de livros e opúsculos apresentados pelo governo na Exposição Universal de Paris, (1890); Memoria Histórica e Descritiva do Real Colégio Militar, (1890); Primeiro Centenário do mesmo Colégio, (1902); Subsídios para a História de Portugal, (1902); Compêndio do Novo Sistema Legal de Pesos e Medidas. Foi, contudo, na Revista Militar que mais se ocupou durante dezassete anos, com mais de 100 artigos68.
 
Em 1903, apresentou como título de candidatura à Academia Real das Ciências de Lisboa dois dos seus livros: Elementos de Táctica das Três Armas e da Cavalaria. A Sua Missão Estratégica e Táctica, vindo a ser eleito sócio correspondente da classe de Ciências em Maio de 1904. Destes trabalhos recebeu as mais elogiosas considerações da comunidade científica estrangeira69.
 
Significativa foi a colaboração de Luiz Augusto Pimentel, Carlos de Barcellos Machado, António José de Mello e João Xavier d’Atayde de Oliveira com uma colaboração entre os 96 e os 25 artigos publicados de natureza técnica, científica e literária nas páginas da Revista Militar.
 
Das actividades de Luiz Augusto Pimentel como cientista, escritor e investigador de História e Direito, resultaram numerosos estudos publicados na Revista Militar durante uma década, (1859-69) em que foi colaborador do periódico e dos quais se destacam: Comunicações e Transportes: A Praça de Estremoz e os Caminhos de Ferro do Alentejo, (1860); Aos Jornais da Índia, (1863); Um Brado a Favor dos Monumentos, (1864); Código Penal, (1865); Comunicações e Transportes: Considerações Estratégicas sobre os Caminhos de Ferro da Beira, (1865).
 
Carlos de Barcelos Machado ao longo dos seus 16 anos de colaborador (1862-1878) no periódico, publicou um vasto conjunto de artigos, sendo o primeiro inserto no Tomo X de 1862, intitulado de Transmissões e Telecomunicações: A aplicação da telegrafia às Operações Militares, (1862) e nos anos seguintes muitos outros: A Ideia de um Novo Sistema para Atravessar as Montanhas com Caminhos de Ferro, (1862); Sistemas de Telegrafia Analítica Universal, (1864); Novo Sistema de tracção para Vencer as Rampas Íngremes do Engenheiro Agudio, (1864); Instruções sobre Pára-raios Estabelecidos nos Paióis, Adoptados pela Academia das Ciências de Paris, (1868); Nova Cons­trução Gráfica para Achar o Comprimento de uma Circunferência sendo dado o Raio, (1876).
António José de Mello e João Xavier d’Athayde de Oliveira tiveram em comum o número de publicações no periódico em que foram colaboradores. O primeiro iniciou a sua colaboração com 21 anos de idade, mantendo uma notável participação que se estendeu por 22 anos, entre 1882 e 1904. Na sua actividade como escritor e investigador redigiu o Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa e colaborou nas páginas da Revista Militar, entre outros com os seguintes artigos: Gambetta e o Balão Correio «Armand Barbés» na Guerra Franco-prussiana de 1870, (1889); Vedemecum do Remontista, útil ao Exército e aos Possuidores de Cavalos, (1890); o Cavalo e a Guerra, (1890). O segundo, foi colaborador da Revista Militar durante uma década (1891-1901) e na sua vasta bibliografia incluem-se estudos sobre investigação histórica, temas religiosos e ultramarinos e assuntos sociológicos: O Futuro da Família, (1892); África. História, (1894); Subsídios para a História, (1898).
 
Na sua faceta de escritor e historiador António Marciano Ribeiro da Fonseca foi autor de valiosos estudos de investigação no campo da História de Portugal que publicou nas páginas da Revista Militar durante 18 anos com particular incidência na década de 1889-1898. De entre eles destacamos. História de Portugal: o Exército e as Colónias, (1880); História de Portugal: a Expedição a Moçambique, (1891); História de Portugal: o Problema Colonial, (1891); História de Portugal: a Questão Colonial, (1891); História de Portugal: Timor, (1895).
 
Francisco Pedro Celestino Soares, como publicista, desenvolveu grande actividade durante 8 anos na divulgação de alguns artigos nas páginas do periódico sobre uma diversidade de assuntos: Marinha; Engenharia e História de Portugal. Desta série mencionaremos: Marinha. Náutica, (1867); Novo Modo de Equilíbrio entre Pontes Levadiças e Contrapesos, (1867). Pelo seu interesse para a História de Portugal, destacaríamos os 20 estudos sobre a Guerra Peninsular.
Para terminar este estudo sobre a actividade jornalística dos Colaboradores na Revista Militar, abordaríamos Pedro Manuel Tavares e Manuel Alves de Souza. Quanto ao primeiro, a sua actividade jornalística iniciou-se em 1872 com uma colaboração durante 16 anos, 1872-1888, na qual publicou um vasto conjunto de 30 estudos, de entre eles: O Bronze como Metal para Peças, (1882); Trabalhos de Engenharia no Campo de Tancos em 1881, (1882). O segundo foi colaborador no periódico durante os anos de 1856 a 1892. Teve uma colaboração particularmente intensa na década de 1869-1878 com a publicação de 13 estudos nas páginas da Revista. A sua actividade versou sobre os mais diversos assuntos: Questões Ultramarinas, Política, Veterinária e História Cultural - As Províncias Ultramarinas, (1858); O Exército e a Liberdade, (1861); As Sociedades Militares, (1872); A África Portuguesa, (1879); Veteri­nária. Os Facultativos Veterinários, (1888).
 
Para além dos Colaboradores já tratados, a Revista Militar conheceu, embora em menor escala, a colaboração do monarca D. Pedro V e de algumas personalidades civis eminentes da cultura portuguesa do século XIX: Raimundo Bulhão Pato, António Feliciano de Castilho e Francisco de Sousa Viterbo.
 
D. Pedro V foi o monarca, na História de Portugal, que manteve uma polémica na Revista Militar quando responde ao artigo de Luiz Augusto Pimentel respeitante às razões económicas e estratégicas relacionadas com a abertura do Caminho de Ferro do Leste. Nessa polémica estão presentes duas opiniões: a primeira prende-se com aspectos militares, num primeiro momento de pensamento, com as bases sustentadas em provas pouco convincentes; a segunda, defendida pela pequena minoria esclarecida a que pertencia o Monarca, apoiava a integração do Caminho de Ferro no sistema de defesa, isto é, os Caminhos de Ferro, independentemente do seu traçado, deveriam depender sempre do previamente estabelecido em relação à defesa do Reino. Foram estas ideias que levaram à polémica entre o monarca e Luiz Augusto Pimentel.
 
Pelo seu grande contributo dado à Ciência e à Historiografia Nacionais, outras personalidades militares não poderiam, de forma alguma, deixar aqui de merecer uma menção muito especial.
 
Frederico Oom, (1864-1930)70 astrónomo, publicista e oficial de enge­nharia, possuía uma vasta cultura científica, dedicando-se durante toda a sua vida às questões relacionadas com a ciência astronómica. Iniciou a sua carreira académica cursando na Escola Politécnica e na Escola do Exército onde como aluno brilhante foi premiado na maioria das cadeiras, que no seu tempo, constituíam o corpos do curso de Engenharia Militar. Frederico Oom, como cientista, honrou as tradições de seu pai, o Almirante e Engenheiro hidrógrafo Frederico Augusto Oom, fundador do antigo Observatório da Tapada e do seu mestre o célebre Almirante Engenheiro Hidrógrafo Campos Rodrigues seu antecessor na direcção daquele Observatório. Tendo concluído o curso de Engenharia 1887 com destino à Arma de Engenharia Militar, a sua passagem pela mesma foi efémera, pois em Janeiro 1891 fora nomeado para servir como astrónomo no Observatório da Tapada. Foi nesta instituição do Reino que o seu trabalho constante, metódico e de grande rigor científico o viria a elevar à grande consideração na comunidade científica portuguesa e estrangeira. Frederico Oom foi colaborador no célebre trabalho “Determinação da paralaxe do Sol pela observação do plano Eros”, estudo em que o Observatório da Tapada viria a prestigiar e a honrar a Ciência Portuguesa e Mundial. Foi no concurso entre os treze maiores observatórios mundiais que o Observatório da Tapada obteve o maior número de observações e maior precisão nos dados observados, de acordo com o plano predeterminado na Conferência Astronómica de Paris. O valor da paralaxe solar conseguido pelo Observatório da Tapada apresentou um erro inferior ao de todos os restantes observatórios em concurso. E, mesmo em termos absolutos, muito inferior ao alcançado até esse momento pelos mais célebres astrónomos mundiais, sendo por esse motivo, atribuído às observações portuguesas a mais elevada importância na dedução da média final através de processos do cálculo de mínimos quadrados. Frederico Oom, não sendo o director do Observatório, contribuiu de sobremaneira para a glorificação daquela instituição bem como para o Prémio Valz conferido pela Academia de Sciencias de Paris em 1904 ao cientista português Campos Rodrigues pelo rigor científico dos trabalhos realizados sob a sua direcção. Frederico Oom, personalidade intelectual dotada de uma invulgar cultura científica, dada a forma como tratava os assuntos, deixou-nos uma vasta produção literária de natureza científica em almanaques e diversos periódicos nacionais e estrangeiros em que colaborou e que relevamos: “Observations Méridiennes de Mars”, 1895; “Méthodes de Calcul Graphique en usage à l’Observatoire Royal de Lisbone”, 1900; “Circunstâncias do Eclipse total do Sol”, 1900; “Réguas Geodésicas de Relsol em Portugal”, 1903;. Muito mais haveria a dizer sobre o saber desta ilustre personalidade, mas por falta de tempo e de espaço não nos é possível tratar na sua plenitude (como é merecedor) a obra científica e mesmo literária deste militar, bem como o seu grandiosos contributo para a Ciência e, particularmente, para o país. Contudo, nessa impossibilidade, as suas crónicas Astronómicas publicadas no Observatory inglês, na Revue Scientifique francesa (1912), na Astronimichen Nachrichten alemã (1904, 1911 e 1914), no Diário de Notícias (1916) e na Revista Militar (onde foi colaborador e Redactor) dão-nos o testemunho do mérito desse sábio publicista e do ilustre homem da Ciência.
 
José Maria Latino Coelho (1825-1891)71, engenheiro, jornalista, crítico, romancista, professor, historiador e político merece uma referência muito especial pelas novas características que introduziu no panorama da historiografia portuguesa. Além da sua “História Política Militar de Portugal desde finais do século XVIII até 1814”, 3 vols., 1874-1891, são relevantes as biografias históricas de Camões, Vasco da Gama, Marquês de Pombal e ainda a sua colaboração na imprensa periódica, reunida em volume no século XX72.
 
No percurso biográfico das personalidades tratadas, Latino Coelho exprime a memória histórica e uma nova ideia global de Portugal da época. Associou cada uma das figuras ao quadro que envolve o seu aparecimento. Acerca de Vasco da Gama debruçou-se sobre as motivações que relançaram a expansão ultramarina, a prioridade dos descobrimentos portugueses, o espírito de aventureiro e navegador do homem português e a ideia romântica do herói trágico que representa a Nação. As mesmas razões assistem à biografia de Camões. Já sobre Pombal, José Maria Latino Coelho esforçou-se por mostrar os antece­dentes e conjuntura em que se inseriu o Marquês de Pombal e o seu modelo de estadista. Esta obra de Latino Coelho surge no momento em que é necessário dar ênfase à memória histórica e quando se assiste ao levantamento de estátuas para popularização das personalidades históricas que era necessário reconhecer publicamente o seu exemplo - coluna de granito de D. Pedro V erigida no Porto em 1862, lápide na casa de Bocage em Setúbal em 1864 e monumento aos Restauradores em Lisboa em 1866.
 
O jovem Latino Coelho, em 1852 destacou-se como um grande defensor da União Ibérica, considerando que a união com a Espanha trazia a Portugal mais desenvolvimento, já que considerava este país tão atrasado como a Turquia. Participou acerca desta corrente na imprensa periódica e nas discussões públicas ao lado de Sinibaldo de Mas. No prefácio da Ibéria, obra daquele autor, Latino Coelho “exautorara, na globalidade, os heróis nacionais sustentando ineficácia dos seus exemplos no presente”73. Mais tarde, em 1860, abandonou esta ideia de monarquia unitária e de pró-republicanismo para defender os valores da unidade nacional pelo patriotismo e pela união de esforços, sacrifício e sentimentos patrióticos. É no seguimento de abandono dessa ideia que anuncia um ambicioso projecto de uma Galeria dos varões ilustres de Portugal (1880) em que se propunha a publicação de mais de vinte biografias de grandes personalidades portuguesas. O seu projecto seria, porém, mais modesto. Ao seu projecto estava inerente uma história moralizante alicerçada em exemplos ímpares da história nacional. Entendia que esses exemplos não deveriam permanecer no esquecimento, antes pelo contrário, relembrados para de forma elevada e heróica serem celebrados74. Latino Coelho pretendia com estas obras fornecer uma visão integrada destas personalidades em relação à sociedade em que estavam inseridos e tendências que atravessaram na evolução histórica75.
 
Claudio Bernardo Pereira de Chaby (1808-1905)76 foi, independentemente das suas qualidades profissionais como general de divisão e das várias funções de estado que desempenhou, nomeadamente, no Ministério da Guerra e nas diversas comissões científicas77 a que pertenceu, um prestigiado investigador e historiador. Entre elas e, em nosso entender, as que merecem particular menção são: a que teve na direcção da antiga Secção Histórica78, do extinto Arquivo Geral do Ministério da Guerra onde velou por toda a documentação histórico-militar portuguesa de 1640 até às primeiras décadas do século XX e outra que teve como finalidade procurar e recolher nos Arquivos Militares de Espanha todos os documentos relativos à Guerra Peninsular com especial relevo para os relacionados com a participação do Exército Português naquele conflito esta viria a dar origem a um dos seus mais prestigiantes trabalhos historiográficos que oportunamente iremos tratar.
 
Chaby, desde muito jovem, logo nos primeiros anos como oficial, consagrou-se ao estudo e investigação histórica, procurando, de forma intencional, através dos seus trabalhos, trazer à luz, de forma devidamente documentada, os feitos e épocas gloriosas do Exército Português. Foi devido a essa manifesta vocação do seu espírito histórico que nos legou diversos trabalhos de inquestionável valor para a História, Política e Literatura. Desse grande contributo, e na impossibilidade de falarmos de todos eles, relevamos apenas alguns no âmbito da historiografia: “Excerptos historicos e collecções de documentos relativos á guerra denominada da Peninsula, e ás anteriores de 1801, e do Roussillon e Cataluña. Resultado da commissão de investigações historicas commetidas ao capitão de primeira classe Claudio de Chaby”, Lisboa, Imprensa Nacional, 1863. Este trabalho foi ordenado pelo Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios da Guerra, Visconde Sá da Bandeira. É constituída esta edição por quatro partes. A primeira compreende a Guerra do Roussillon e da Cataluña, (1793-1795), a segunda trata da invasão espanhola de 1801 e a terceira aos acontecimentos da Guerra Peninsular de 1807 a 1814, por fim, a quarta parte contém documentos comprovativos indicados na terceira e algumas outras notícias79. Outro dos seus trabalhos históricos que merece por nós a devida referência é “Apontamentos para a historia da Legião portugueza ao serviço de Napoleão I, mandada sahir de Portugal em 1808, narrativa do tenente Theotonio Banha”, publicado em Lisboa pela Imprensa Nacional no ano de 1863 que também teve referências muita gratulatórias na imprensa periódica portuguesa80, de Lisboa e do Porto e espanhola, Ibéria de Madrid. Outra obra de grande mérito é “Synopse dos decretos remmetidos ao extinto Conselho de Guerra., desde o estabelecimento d’este tribunal em 11 de Dezembro de 1640, até á sua extincção decretada em 1.º de Julho de 1834, archivados no archivo geral do Ministerio da Guerra, e mandados recolher no real Archivo da Torre do Tombo em 22 de Junho de 1865", Lisboa, Imprensa Nacional de Lisboa, 1864. Este trabalho refere-se aos anos de (1640-1656) e compreende cerca de sete páginas com os fac-símiles das assinaturas e rubricas do Rei D. João IV e de outras personalidades notáveis de então e, algumas plantas de fortificações. Esta publicação recebeu, mais uma vez, encomiásticas apreciações da imprensa periódica portuguesa, destacando-se entre ela a Revolução de Setembro de 11 de Março de 1859.
 
A presença de Simão José da Luz Soriano neste trabalho, prende-se com o seu grande contributo para o conhecimento da História Militar.
 
Simão José Luz Soriano, (1802-1891) escritor, historiador e político iniciou a sua carreira académica na Universidade de Coimbra onde de forma brilhante conseguiu o grau de Bacharel em Medicina.
 
Decorria o ano de 1828 quando aderiu à Revolução Constitucional do Porto proclamada a 16 de Maio daquele ano. Malograda a Revolução, foi forçado a emigrar para Espanha, fazendo parte do Batalhão de Voluntários Académicos. De Espanha passou a (Plymouth), Inglaterra e em Fevereiro de1829 à Ilha Terceira. Em 1832, como militar, participou no cerco do Porto e, terminado este, entrou para a Secretaria d’Estado dos Negócios da Marinha.
 
A obra literária e historiográfica de Luz Soriano corresponde, de certo modo, à intencionalidade e exigência «científica» que o autor tinha e à noção do contributo que ela poderia dar ao conhecimento e divulgação da História de Portugal. Soriano, autor de uma notável obra erudita, centrada na Literatura, Política, História e Biografias81, constitui fonte valiosa para a elucidação da História Nacional e esclarecimento da vida de personalidades ilustres seus contemporâneos.
 
Luz Soriano é conhecido e citado, fundamentalmente, pela autoria das suas obras “História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal”, trabalho monumental constituído por 17 volumes publicados entre os anos de 1866 e 1884. Compreende esta grande obra a história diplomática, militar e política de Portugal de 1777 a 1834. Outra obra de menor dimensão, mas também ela muito importante é a “História do cerco do Porto precedida de uma extensa noticia sobre as differentes phases politicas da monarchia, desde os mais remotos tempos até ao anno de 1820; e desde este mesmo anno até ao começo do sobredicto cerco”, 2 vols. Lisboa, Imprensa Nacional, 1846-1849. A propósito desta obra lê-se na Revista Universal Lisbonense, Tomo I da II série, pág. 105: “O estylo é bello e corrente; addiccionou muita cousa ao que já sobre a matéria já se havia escripto, distinguindo-se principalmente por uma melhor critica que a dos seus antecessores (...)”82.
 
A imprensa periódica também despertou o interesse de Luz Soriano, na qual desempenhou a actividade de redactor e colaborador em diversos periódicos. Em 1830, tornou-se redactor da Chronica da Terceira83, permanecendo até à edição do 12º ou 15º número, retirando-se depois em consequência de divergências com o Duque de Palmella, D. Pedro de Sousa Holstein. Em 1846, depois das lutas em que esteve envolvido e já funcionário do Ministério da Marinha, editou a “Memoria sobre os sertões e a costa ao sul de Benguella na provincia de Angola, escripta sobre documentos officeas, que existem na Secretaria d’estado dos negócios da marinha”, publicado nos Anais Maritimos e Colonias, série 6, 1846.
 
Foram, de facto, os anos de instabilidade e indefinição política que em Portugal se viveu durante a Guerra Civil de 1832-34, da Maria da Fonte e da Patuleia (1846-47) e que terão contribuído em grande medida para a prática da história. Esses momentos forneceram um enorme espólio que permitiu a elaboração de numerosas obras historiográficas como as que acabámos de analisar84.
 
Na obra de Luz Soriano, está implícita a ideia de decadência associada a um período muito longo do percurso historiográfico da nossa história. Entende o autor que após a perda da independência política em 1580, e depois os anos que se seguiram sob domínio espanhol, Portugal nunca reencontrou a grandeza de outras épocas. Esta ideia, embora com algumas nuances, está presente nas obras de outros historiadores como Rebelo da Silva, Pinheiro Chagas e Oliveira Martins85.
 
Raimundo António de Bulhão Pato, (1829-1912), nasceu em Bilbau e em 1837, com a Guerra Civil, veio juntamente com seus pais para Portugal. O seu percurso académico iniciou-se no antigo e conceituado Collegio do Quelhas, tendo-se depois matriculado na Escola Politécnica e começado a conviver com as figuras da literatura do seu tempo: Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Andrade Corvo, Gomes de Amorim, Mendes Leal, Latino Coelho, entre outros. Discípulo preferido de Alexandre Herculano, a sua convivência levou-o a desenvolver o gosto pelas letras, tendo em 1847 mandado publicar os seus primeiros versos: Se Córas não Conto. Foi nesse convívio que Bulhão Pato pensou nas primeiras estrofes da Paquita, poema que viria a receber as palavras mais elogiosas de Alexandre Herculano e de Rebelo da Silva.
 
Bulhão Pato entregou-se com muito entusiasmo à vida das letras, colaborando desde muito cedo em diversos periódicos políticos e revistas literárias: Pamphletos, a Semana, Revista Peninsular86, Revista Contemporanea. No primeiro, publicou em 1848 os poemetos Um Sonho, ou Lelia enquanto no segundo, a Parisina, imitação de Lord Byron. Na terceira, publicou em 1856 o canto I, 600 versos em sextinas hendecassílabas ritmadas e na quarta alguns fragmentos dos contos II, III e IV vol. II. Além da sua actividade como Colaborador, foi Director da publicação Monumentos Inéditos por conta da Academia Real das Sciencias de Lisboa87.
 
Como colaborador na Revista Militar publicou em 1886 no Tomo XXXVIII dois artigos sobre História de Portugal: Escavações Históricas: António da Silveira em Diu e Escavações Históricas: D. Francisco de Almeida com os Rumes88.
 
António Feliciano de Castilho, (1800-1875), foi poeta, tradutor e jornalista, bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra em 1822. A sua vida atravessou a vigência de três escolas literárias. O Arcadismo Renascente o Romantismo e o Realismo, tornando-se no final da sua vida no patriarca da literatura oficial portuguesa, exercendo uma influência muito forte na pro­dução literária do seu tempo. Porém, surgia em Coimbra o fervilhar do Realismo que viria a opor-se ao magistério castilhiano e provocar uma das mais célebres polémicas literárias do nosso país - a Questão Coimbrã a que nos referimos em momento anterior.
 
Castilho, como publicista, colaborou em diversos periódicos: Agricultura Michaelense, Aguia do Occidente, Guarda Avançada dos Domingos, Jornal dos Amigos das Letras, Nacional, Patriota, Revolução de Setembro, Inde­pendente, Restauração, Jornal de Bellas Artes, Panorama, Diário do Governo, Civilização, Archivo Pittoresco, Gazeta de Portugal, Patria, Revista de Instrucção para Portugal e Brazil entre outros. Colaborou nas páginas literárias de quase todos os periódicos do seu tempo. A sua produção literária foi, fundamentalmente, sobre o romantismo literário que o viria a tornar conhecido e a tornar distinguido pelas mais diversas instituições científicas nacionais e estrangeiras89. Como Colaborador da Revista Militar publicou o seu primeiro e único artigo relativo ao ensino na instituição militar: Escolas Regimentais - Instrucção Militar no ano de 185890.
 
Francisco Marques de Sousa Viterbo, (1845-1910), destinado inicial­mente à vida eclesiástica, concluiu os estudos no Seminário do Porto. Porém, sentindo pouca vocação para a vida religiosa, matriculou-se na Escola Médico-cirurgica em 1869, vindo a concluir o curso em 1876 com a defesa da tese: Da Irritabilidade. Exerceu a actividade de Professor de Arqueologia na Academia de Bellas Artes a partir de 1881. Desde muito cedo começou a desenvolver o seu talento poético, escrevendo muitas poesias que viriam a ser publicadas em diversos jornais e revistas: Mundo Elegante, Mosaico, Porto Ilustrado, Aurora, Grinalda, Folha Chrysalida de Coimbra. Fundador da Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses, foi Redactor do periódico a Mocidade91 no qual publicou diversos trabalhos em prosa, e vários trechos de poesia, sendo seus colaboradores Alberto Pimentel Alexandre da Con­ceição, Guilherme Braga Pinto Almeida, entre outros.
 
Sousa Viterbo colaborou activamente na Revista Militar entre 1887 e 1897 tendo publicado diversos artigos como historiador, merecendo-nos especial atenção o seu trabalho sobre expedições científicas. Esse estudo, Expedições Científico-militares de Portugal no Brasil, publicado em 1893 e 1894, constitui fonte valiosa para o conhecimento do que foi essa ex-colónia portuguesa e, simultaneamente, saber qual o contributo dessas viagens para o progresso e desenvolvimento da Ciência.
 
 
Conclusão
 
A Revista Militar (1850-1910): difusão de Ciência e Técnica em Portugal - o rosto humano nas vivências técnicas e científicas constitui o estudo sobre os seus Fundadores, Redactores e Colaboradores que eram intelectuais que ocupavam lugares de prestígio na esfera da Política e da Ciência. Essa posição a que ascendiam por competência técnica e científica funcionou como mais valia para a Revista Militar e contribuiu para o prestígio do próprio periódico e ao mesmo tempo, para alargar a sua rede de influências na esfera da política, da Ciência e do jornalismo.
 
A maioria dos membros desta pequena comunidade científica, se assim a podemos designar, exercia uma multiplicidade de funções: professores, publicistas e políticos. Além da sua formação e função essencialmente militares, desempenharam cargos noutros periódicos militares e civis na imprensa científica, foram chefes de organismos públicos, deputados, governadores civis, ministros e pares do reino. Homens com um sentido utilitário do saber, nunca deixaram de redigir os seus artigos e publicações monográficas nas diversas áreas técnicas e científicas.
 
Estas personalidades pertencentes ao mundo da comunidade científica portuguesa oitocentista deslocaram-se para a capital onde a maioria, depois de formação académica nos diversos institutos militares, iniciou a sua carreira ascendente no plano cultural e social. A imagem e prestígio públicos começaram por se delinear nos meandros da Ciência e da Literatura através dos inúmeros artigos e «memórias» publicados. Além dos órgãos de Estado, a Academia Real de Ciências, a Sociedade de Geografia de Lisboa, e a Escola Politécnica, a Academia Politécnica do Porto e Universidade de Coimbra, a actividade jornalística, científica e militar foram sem dúvida motivos de cruzamento dos seus percursos individuais. Depois da sua colaboração, acontecia a fundação de um periódico, ou a obtenção de um lugar de proprietário, Director, Redactor e Colaborador de um desses periódicos de divulgação literária artística científica e mesmo política. Estavam, de facto, delineadas as marcas de distinção e o reconhecimento no seio da Cultura e da Ciência na sociedade portuguesa de oitocentos.
 
O desenvolvimento do periodismo nacional deve ser estudado tendo particular consideração à colaboração dos militares. Estes tiveram presentes no lançamento das bases e depois no desenvolvimento do periodismo português ligados a periódicos portugueses de maior destaque - Revolução de Setembro, Revista Universal Lisbonense, Panorama e Diário de Notícias.
 
Esta plêiade de intelectuais produziu com seriedade e rigor os diversos artigos e «memórias» que constituem as páginas do periódico; discursos que correspondem às diversas construções, técnicas, científicas, literárias e históricas. Embora nem sempre convergentes, elas representam uma unidade que se sobrepôs à heterogeneidade dos diversos discursos.
 
A postura de seriedade que essas personalidades colocaram nas suas atitudes e na sequência ininterrupta da publicação dos diversos assuntos, acabou por criar uma imagem de intocabilidade da Ciência, imagem pública de notoriedade delineada e granjeada nos meandros da Ciência, da Técnica e da Literatura através da sua actividade editorial.
 
Uma das certezas que nos fica é que esta elite intelectual marcou a sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX. Teve um papel muito importante na medida em que serviu de instrumento de competência científica, técnica, literária e social, ao mesmo tempo que funcionou como mecanismo imprescindível no processo de desenvolvimento e progresso da Nação.
 
Com este estudo, além de abrirmos novas e diversas perspectivas de investigação dentro da História Cultural Portuguesa, fizemos uma avaliação do que foi a acção destes militares na sociedade portuguesa nas suas mais diversificadas actividades profissionais. Esse contributo verificou-se de forma determinante e inequívoca na Ciência, na Técnica, na Literatura, na Arte, na História de Portugal e Universal, na Administração Pública, na Saúde (Medicina Veterinária), no Ensino Público e Militar, na Política e no Jornalismo. Partindo da interpretação das fontes históricas, este estudo tem como propósito relembrar a «memória» histórica junto da sociedade civil de maneira a que nos dias de hoje, possamos integrar, valorizar e dar a conhecer o contributo inestimável e de vanguarda desta elite militar para a sociedade portuguesa.
 
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*      Sargento-Ajudante Pára-quedista. Licenciado em História (Ensino de), e Mestre em Estudos Históricos Europeus pela Universidade de Évora. Prepara doutoramento no âmbito da História da Imprensa Científica Especializada e Ciência da Comunicação pela Universidade de Évora e Universidade Nova de Lisboa.
Professor do Ensino Secundário, Membro convidado da equipa de investigadores da Universidade de Évora num projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Espaços de Ciência e Construção de «Memória». De Lisboa ao Alem Tejo. Praticas Culturais de uma Comunidade Científica (Portugal séculos XVIII-XX). Faz parte do Centro de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora no qual desenvolve projectos de investigação. É Membro de algumas agremiações científicas e culturais: Sociedade de Geografia de Lisboa e Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Desempenha funções de na Comissão Portuguesa de História Militar.
 
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 1 Desconhecemos informação sobre António Ladislau da Costa Camarate, António José Gonçalves Chaves, José Maria Moreira de Bergára e Leopoldo Xavier de Miranda.
 2 Geração de homens que contactou com o “ideário liberal, (...) participaram na «Grande Armée» de Napoleão (...) combateram na Europa. (...) ocuparam aí posições de responsabilidade, experimentaram formas, práticas políticas e até administrativas de um Estado moderno, (...) de um Estado como o que o I império fora criando numa Europa ainda coalhada em minúsculas unidades políticas de recorte «feudal», antiquado. Esses militares ajudaram a formar uma nova ordem europeia, conforme com o triunfo do liberalismo emergente da revolução de 89. O Exército de Napoleão foi, (...) para além da sua acção propriamente castrense ou do sucesso variável das suas armas, um enorme «parteiro» de modernidade política, organizacional, prática. Alguns dos nossos militares (desde o lendário Gomes Freire a outros soldados de carreira) colheram, precisamente nessa experiência ao serviço do Império francês, os primeiros vislumbres do que poderia ser a modernização de Portugal (...)”. VICENTE, 2000: p. 9. Contactou com as primeiras vivências do liberalismo marcadas por “debates oratórios do vintismo e pelas lutas políticas e bélicas travadas entre as forças miguelistas e pedristas. Foi o tempo do triunfo da política e da retórica irrealista e apaixonada, na qual o discurso racionalista da ciência e da técnica soava a algo muito prosaico, pouco sonhador e nada utópico. Ou numa outra dimensão, ciência e técnica eram mechas de variados rastilhos de pendor revolucionário, perigosamente incendiários e subversivos”. NUNES, 1994: p. 330.
 3 Na retirada do Exército Liberal, embarcaram em Espanha com destino a Inglaterra, em Agosto de 1828, 2383 exilados, na sua grande maioria militares, contando-se também entre eles algumas centenas de civis. Assim, descriminaremos: Militares - 1 Brigadeiro, 36 Coronéis; 52 Tenentes-coronéis e Capitães-mores; 60 Majores, 154 Capitães e Voluntários; 142 Tenentes; 136 Alferes, 702 Praças e 610 voluntários. Paisanos - 2 Desembargadores, 36 Juizes de Fora e Corregedores; 4 Lentes e Opositores da Universidade; 52 Bacharéis de diferentes Faculdades; 32 Advogados; 14 Médicos, 28 Cirurgiões; 10 Boticários; 12 Frades de diversas Ordens; 25 Padres Seculares inclusive um Cónego e alguns Abades; 51 Empregados Civis, Escrivães, Oficiais da Fazenda, etc.), 66 Proprietários e Negociantes, 90 Mulheres, 27 Filhos menores; 41 Criados. Na classe dos voluntários incluíam-se proprietários, negociantes e académicos de estudos maiores entre os quais se contavam 25 brasileiros alistados no Batalhão Académico. Cfr., José Joaquim da Silva Maia, Memórias Históricas, Políticas, e Filosóficas da Revolução do Porto em Maio de 1828 e dos Emigrados Portugueses pela França, Espanha e Bélgica, Rio de Janeiro, s. ed., 1841, p. 206.
 4 Concordamos com a opinião formalizada por SANTOS, 1988: p. 102-107.
 5 Desconhecemos informação sobre a formação académica de grau superior referente a Leopoldo Xavier de Miranda, apenas conseguimos registar o Curso do Colégio Militar em 1838. RM, Tomo XXIII, 1871, n.º 4, p. 102-103; Arquivo Histórico Militar, 3ª Divisão, 7ª Secção, Caixa 810, docs. 168, L3-47, avulso e 3-47.
 6 Formaram-se na Escola Politécnica Faustino José de Menna Aparício, Silvino Cândido d’Almeida Carvalho e Joaquim Henrique Fradesso da Silveira. Cfr. Anexo I, Quadro n.º 4: p. 50.
 7 Formaram-se em instituições de ensino superior estrangeiras o Barão de Eschwege Guilherme Luis que fez formação universitária no seu país de origem, Estados d’Allemanha e José Carlos Conrado de Chelmicki que fez o Curso de Engenharia em França.
 8 Quanto aos restantes elementos é de admitir que tivessem estudos secundários frequentados noutros estabelecimentos de ensino (colégios particulares - religiosos ou não e liceus), contudo, é uma questão à qual não conseguimos encontrar resposta por ausência de dados.
 9 É de admitir que entre este número se encontrem mais Engenheiros, Matemáticos e Artilheiros ou de outras especialidades militares. Porém as fontes consultadas não nos revelaram essas informações.
10 Arquivo Histórico Militar, 3.ª Divisão, 7.ª Secção, Caixa 775, Maço 88, doc. Modelo 1.
11 RM, Tomo XXI, 1869, n.º 2, p. 31-32; Silva, 1870, IX: p. 204.
12 Arquivo Histórico Militar, 3ª Divisão, 7ª Secção, Caixa 3183, doc. 502/1880.
13 Arquivo Histórico Militar, 3ª Divisão, 7ª Secção, Caixa 1058, doc. 284.
14 Arquivo Histórico Militar, 3.ª Divisão, 7.ª secção, Caixa 1175, doc. 9-78.
15 Arquivo Histórico Militar, 3.ª Divisão, 7.ª secção, Caixa 889, doc. 1804.
16 PEREIRA; RODRIGUES, 1912: p. 948.
17 Arquivo Histórico Militar, 3ª Divisão, 7ª Secção, Caixa 1058, doc. 284.
18 Esta é uma situação comum à maioria dos Fundadores da Revista Militar e ao que parece característica do século XIX onde os intelectuais desenvolviam mais do que uma actividade sendo, por vezes, difícil saber qual delas era a principal.
19 MÓNICA, 1997, XXXII: p. 731.
20 Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria já se projectava a instalação de uma rede telegráfica que cobrisse todo o país. Em Portugal a rede telegráfica teve início em 1855 e em 1860 já apresentava uma extensão de 2.000 km. Cfr., Justino, 1989: p. 203; VICENTE, 1999: p. 251.
21 “Conquanto eu não possa ter a pretensão de ir resolver as dificuldades, aliás gravíssimas, com que luta aquela importante repartição do Estado, para melhorar ou para resolver os serviços que estão a seu cargo, contudo sobra-me vontade de realizar as reformas que, segundo a minha inteligência, são convenientes, necessárias e imprescindíveis no Ministério
   da Guerra. (...). Precisamos de melhorar a instrução prática e a instrução teórica do Exército. Precisamos de fazer com que uma corporação tão importante e tão benemérita possa estar à altura da sua elevadíssima missão e represente no Estado o papel que lhe compete”. Cit. por MÓNICA,1999: p.40.
22 Em Junho de 1866 como Ministro da Guerra Fontes Pereira de Mello ordenou a formação do Campo de Manobras em Tancos e dotou o Exército com as espingardas Enfields e Westley Richards. Melhorou o Arsenal do Exército, nele ordenou o fabrico de um grande número de peças de artilharia e elaborou as instruções para o transporte de tropas e organização de forças em campanha. A 11 de Setembro de 1884, como Presidente do Conselho de Ministros e do Ministério da Guerra, fez publicar o decreto que estatuía a reforma do Exército. Reorganizou o Estado-Maior do Exército e aumentou os quadros de oficiais. Criou seis novos regimentos de infantaria, dois de cavalaria e um de artilharia. Os batalhões de caçadores foram transformados em regimento e foram criadas 141 vagas no quadro com as respectivas promoções de 1 158 oficiais. A sua reforma contemplaria a aquisição em Londres de 25 000 espingardas Snider e as respectivas 20 000 culatras além de peças necessárias para adaptação às espingardas Enfields. Encomendou ainda à fábrica Krupp 10 baterias completas de seis peças cada. Cfr., VICENTE, 1999: p. 252.
23 Fortunato José Barreiros exerceu ainda a sua actividade como Lente Substituto e Efectivo da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Dezenho e Lente Jubilado da Escola do Exército em 1851.
24 Guilherme Luiz, Barão de Eschwege foi nomeado Lente da Academia Militar do Rio de Janeiro em 1811 quando a Corte e os Ministros se encontravam no Brasil.
25 Das viagens científicas efectuadas por estes lentes salientaríamos a viagem científica (1856-57) de Fortunato José Barreiros e seu acompanhante António José da Cunha Salgado a Inglaterra, Bélgica, Prússia, Áustria, Itália e França a fim de estudarem e tomarem conheci­mento dos últimos aperfeiçoamentos técnicos e científicos realizados na instituição militar daqueles países. Sabemos que dessa viagem foram elaborados seis relatórios pormenori­zados acompanhados de muitos documentos relativos a cada um desses países. SILVA, 1870, IX: p. 238.
26 SILVA, 1870, IX: p. 204; Cunha Viana, “Amizade e Saudade”, RM, Tomo XXI, 1869, n.º 2, p. 31.
27 “Necrologia”, RM, Tomo XXVII, n.º 8, p. 172.
28 Foram elevados ao Pariato pelos seus excepcionais serviços prestados à Nação António Maria de Fontes Pereira de Mello e Augusto Xavier Palmeirim. Foi ainda atribuído o cargo de Conselheiro de Estado a Fortunato José Barreiros.
29 António José Gonçalves Chaves foi o único Fundador de quem não conseguimos encontrar registo de actividade como Redactor ou Colaborador nos índices da Revista Militar. De Silvino Candido de d’Almeida Carvalho apenas encontramos referências como redactor em 1850.
30 Francisco Maria Bordallo foi Redactor do Jornal Distracção Instructiva, (1842); António José da Cunha Salgado colaborou na Cosmorama Litterario, Jornal da Sociedade Escholastico-Philomatica, (1840).
31 Em relação a Augusto Xavier Palmeirim, gostaríamos de salientar as suas distintas qualidades intelectuais que o tornavam muito considerado entre os membros do generalato. Tinha como grande reputação ser o escritor mais lido de todos os militares do seu tempo, e ser possuidor da primeira das bibliotecas militares particulares. Grande estudioso que tratava com grande dedicação e profundidade as problemáticas mais importantes que se debatiam no Parla­mento. Esta sua postura intelectual, originou que o seu convívio fosse muito solicitado pelos mais distintos oradores do seu tempo para que junto de si se ilustrassem com o saber do seu apurado conhecimento. Cfr. Redacção, “Augusto Xavier Palmeirim”, RM, Tomo XLII, 1890, n.º 23, p. 728.
32 Quanto a essa referência Innocencio Francisco da Silva ao aludir à Revista de quem também era colaborador refere no seu Dicionário: “Pode-se afirmar, sem nota de exageração, que durante aquele intervalo «os doze anos durante os quais se publicou a Revista» poucos foram os homens ilustrados ou conhecidos em Portugal, por ciências letras e artes, que deixaram de concorrer, com a sua colaboração, para tornar mais interessante e amenas as colunas da Revista. SILVA, 1858, VII: p. 158.
33 Rebelo da Silva, “Francisco Maria Bordallo”, Revista Contemporanea de Portugal e Brasil, Tomo III, 1854, p. 142.
34 SILVA, 1867, VIII: p. 349.
35 Redacção, “António Florêncio de Sousa Pinto”, RM, Tomo XLII, 1890, n.º 4, p. 101.
36 Idem, p. 25-27.
37 Idem, p. 35-37.
38 Fundado em 1865 por Eduardo Coelho, jornal popular, essencialmente noticioso, sem filiação partidária e de baixo preço. Procurava unicamente “interessar a todas as classes, ser acessível a todas as bolsas e compreensível a todas as inteligências”. “ (...) não discute política, nem sustenta polémicas. Regista com possível verdade todos os acontecimentos, deixando ao leitor, quaisquer que sejam os seus princípios e opiniões, o comentá-los a seu favor”. TENGARRINHA, 1989: p. 215.
39 Na História da Literatura Portuguesa Francisco Maria Bordallo tentou o romance histórico. Os seus romances marítimos são considerados muito interessantes quanto à descrição de certas operações e aventura marítima. Neles encontramos as primeiras impressões de viagens. SARAIVA, 1975: p. 865-866.
40 Esta obra é constituída por uma introdução seguida de sete capítulos. Nela o autor escreveu a história da arma de artilharia na Europa até finais do século XV. No primeiro capítulo, de 1370 a 1495, fez um estudo da artilharia em Portugal e nos diversos países da Europa. No segundo capítulo, de 1495 a 1580, elaborou um estudo sobre a artilharia em Portugal e colónias ultramarinas, nomenclatura e classificação das peças da época. No terceiro, que compreende o período entre 1580 e 1640, ocupou-se da artilharia portuguesa e espanhola. No quarto capítulo, de 1640 a 1750, descreve o estado na artilharia portuguesa, parques e trens, pessoal e instrução. No quinto, sexto e sétimo, trata dos mesmos assuntos relativa­mente aos períodos de 1750 a 1826 e 1826 a 1855.
41 O termo redactor foi adoptado nesta investigação tendo em atenção o critério da História da Imprensa e da Ciência da Comunicação.
42 SILVA, 1906, XVIII: p. 278.
43 Idem, Ibidem.
44 Foram lentes no Real Collegio Militar José Nicolau Raposo Botelho, José Justino Teixeira Botelho, Luiz Henrique Pereira Simões e José César Ferreira Gil.
45 Destes cinco ministros, quatro exerceram a pasta dos Negócios da Guerra, Embora, Fernando Freiria o exercesse em 1921 e 1922 e Ernesto de Moraes Sarmento em 1928. Carlos Roma du Bocage deteve a pasta dos Negócios Estrangeiros em 1909.
46 Dos seis deputados, Luiz Travassos Valdez desempenhou o cargo de Deputado do Ajudante-General do Exército Libertador; José Joaquim Mendes Leal foi eleito Deputado em 1901 pela primeira vez, deputado nas sucessivas legislaturas (então sempre dissolvidas no conturbado período histórico da falência do regime constitucional monárquico estabelecido em 1826) e manteve o seu lugar com uma ligeira interrupção em 1904; Carlos Roma do Bocage Deputado em duas legislaturas pelo círculo de Portalegre, (1884-87) e (1890-94) com já referimos chegaria a Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1909. Com itinerário inverso, José Joaquim de Castro desempenhou o cargo de Ministro em 1888 e mais tarde, em (1906-07) foi eleito Deputado pelo círculo de Beja; Francisco Xavier Correia Mendes exerceu o cargo de Deputado da Nação pelo Partido Progressista em 1907 e João Ortigão Peres foi eleito Deputado pelo círculo de Beja.
47 José Maria Pereira d’Almeida e Eduardo Augusto Ferreira da Costa desenvolveram, fundamentalmente, a sua actividade como administradores ultramarinos onde desempenharam funções de Governadores do Reino. O primeiro foi adjunto do Governador-geral da Província de Moçambique em 1857 e depois Governador de Timor. O segundo foi Governador do distrito de Moçambique (1899-1900), Governador do distrito de Benguela, (1903-1905) e Governador-geral de Angola em (1906-1907). Pelos seus serviços relevantes prestados ao país como administrador ultramarino, D. Carlos I concedeu-lhe as honras de seu oficial às ordens e mesmo de seu Conselho de Estado.
48 Augusto Ramos da Costa exerceu o cargo de Director da Hidrografia, Navegação e Meteorologia Náutica da Direcção Geral da Marinha; José Justino Teixeira Botelho desempenhou o cargo de adjunto do Governador-geral da Índia em 1889. Torna-se pertinente referir que a actividade destes homens embora tivesse o seu início na segunda metade do século XIX ela viria a desenvolver-se com maior intensidade a partir de 1910 e por isso, fora do período em estudo.
49 Nessas viagens científicas, entre outras, referimos: Carlos Roma du Bocage independente das experiências efectuadas em França no âmbito do seu projecto, em 1892 representou Portugal no Congresso Militar Hispano-português-americano que se realizou em Madrid. Desse congresso apresentou um relatório numa sessão da 1ª Classe da Academia Real das Sciencias de Lisboa realizada em 27 de Abril de 1893. Das importantes conclusões apresentou o relatório de sua autoria e cujo título é Congresso Militar Hispano-portuguez-americano; Rodolpho Ferreira Dias Guimarães representou Portugal e a Academia de Ciências de Lisboa no Congresso Besançon, tendo valorizado ainda mais essa viagem visitando vários estabelecimentos científicos e militares, bem como fábricas importantes de material de guerra, tendo deixado artigos relevantes para quem se interesse por estas questões. Entre outros estabelecimentos científicos visitados, referimos: as descrições de fábricas de St. Chamond, a Sociedade Eléctrica de Genebra, a das oficinas Decanville e Cockerill, a de Fábrica de Armas de Berne. Continuou nos anos seguintes a ser convidado aos congressos da Associação Francesa, participando no de Caen no ano de 1894, onde foi um dos seus Presidentes Honorários. Em 1895 voltou a França em mais uma missão de carácter científico e militar a fim de contactar com a instituição militar daquele país e assistir às manobras do Exército francês na região de Vogues.
50 As Línguas Vivas na Instrução Secundária - Considerações Gerais, Professores e Métodos de Ensino, Conclusões, Lisboa, Edição Ferin, 1904, págs. 180; Livre de Lecture Française à l’usage des Classes de 1ère, de 2ème et 3ème des licées Portugais, Porto, Livraria Chardron, 1907, págs. 249; Lectures Scientifiques et literaires à l’usage de 4ème et de 5ème Classes des Licées Portugais, Porto, Livraria Chardron, 1909, p. 249.
51 Foi graças à sua excepcional capacidade de estudo e trabalho que em 27 de Janeiro de 1916 foi eleito Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa na Classe de Letras. Doze anos volvidos e em 28 de Junho era escolhido para Sócio Efectivo na secção de Ciências Históricas e Geográficas. Restaurada a Academia Portuguesa de História e é considerado fundador em 30 de Dezembro de 1937 e considerado Sócio titular em 19 de Março de 1945. Pelos seus estudos como colonialista viria a ocupar lugar de destaque nas diversas secções e comissões que debatiam e estabeleciam a doutrina nas ciências de aplicação ao Ultramar.
52 RODRIGUES, 1956, Ano 8º: p. 99.
53 Teixeira Botelho ao longo de todo o seu percurso académico realizou um grande número de comunicações como historiador e colonialista.
54 Destas experiências deu resumidamente notícia num artigo de título: Baterias Moveis de Praça, publicado no mesmo ano na Revista de Engenharia Militar, no Tomo VII, p. 433-439.
55 Ateneu do Porto, Periódico de administração e economia social, fundado em 1850, jornal científico-literário e jornal técnico, tratava assuntos relacionados com a produção, distri­buição e consumo de riquezas, obras públicas e à instrução pública.
56 O Instituto, órgão de uma sociedade, (o Instituto de Coimbra) apoiado pela Universidade de Coimbra, fundado em 1852 destinava-se a publicar os estudos dos seus membros que se distribuíam por três áreas: ciências morais e políticas, ciências físico-matemáticas e literatura e belas-artes. Tinha como colaboradores quase exclusivamente lentes da Universidade de Coimbra e dedicava grande parte dos seus artigos à vida da Universidade e a investigações sobre matérias das diferentes cadeiras leccionadas nas diferentes faculdades, a estudos eruditos de história e literatura.
57 Para mais informação sobre a sua produção literária veja-se SILVA, 1906, XVIII: p. 278-279.
58 Lista Geral dos Officiaes do Exercito Libertador, referida ao dia 25 de Julho de 1833. Lisboa, Typ. A. J. C. da Cruz, 1835, 8.º 188 p. Encerra a relação dos oficiais condecorados com a Ordem da Torre e Espada, a das acções que tiveram lugar até aquela data, relação dos oficiais mortos, feridos e prisioneiros na guerra até então e mapas das mortes que ocorreram em cada acção; Almanach de Portugal para o Anno de 1855, Lisboa, Imp. Nac., 1854, 8.º de 703 p. Contém muitos mapas estatísticos e outras informações de grande interesse. Apresenta a relação dos titulares, com as datas da criação dos títulos, relações dos empregados, com as suas condecorações e datas de nomeações dos empregos que exerciam. Foi o primeiro deste género a ser publicado em Portugal, Notícias sobre os Pesos e Medidas de Portugal e suas Possessões Ultramarinas e do Brazil, Comparando os Antigos Systemas com o novo Systema Metrico Decimal. Lisboa, Imp. Nac., 1855, 8.º grande de 47 p.; Almanach de Portugal para o Anno de 1856, Lisboa, Imp. Nac., 1856, 8.º gr. CLXXVII, 720, p.
59 Não conseguimos informação sobre a data de nascimento de Luiz Augusto Pimentel e de Pedro Manuel Tavares, mesmo depois de consultadas as Folhas de Matricula no Arquivo Histórico Militar.
60 Desconhecemos informação académica relativa a Luiz Augusto Pimentel, Pedro Manuel Tavares, Manuel Alves de Souza e António Marciano Ribeiro da Fonseca. Quanto ao primeiro, sabemos que cursou Gramática Latina, Língua Francesa, Lógica, Retórica e Geografia, mas desconhecemos a natureza da instituição científica. Contudo, é de se admitir que tivesse formação académica de grau superior, tomando em linha de conta os cargos públicos exercidos bem como a posição hierárquica que alcançou na Instituição Militar.
61 Francisco Pedro Celestino Soares e Fernando da Costa Maya exerceram a docência como Professores na Escola do Exército, conseguindo o primeiro o grau académico de Professor Jubilado em 1850, enquanto que o segundo a posição de Lente provisório em 1892 e Lente efectivo em 1896. Manuel Alves de Souza foi Professor de Inglês e Francês em 1864 e António José de Mello Professor de Inglês, Matemática e Física em 1881.
62 Francisco Pedro Celestino Soares como político exerceu o cargo de Subsecretário de Estado para os Negócios da Guerra nas Províncias do Norte em 1841, Director Geral do Ministério da Guerra em 1846 e membro do Conselho da Guerra em 1856. Fez parte de várias comissões científicas, entre as quais destacamos: Comissão de Estudos da Academia Real das Sciencias de Lisboa para a elaboração dos estatutos das Belas Artes, (1841); Comissão que estudou os projectos de edificação do Teatro Nacional, (1841).
63 Carlos Barcelos Machado desempenhou funções como Engenheiro no Ministério das Obras Públicas, (1846) e Inspector da Engenharia, (1871-73) enquanto que António Marciano Ribeiro da Fonseca exerceu o cargo de Chefe da Repartição Militar da Secretaria do Governo de Macau e Timor em 1884. Cfr. Anexo III, Prosopografias: p. 107-126 e quadro n.º 6.
64 Foram estudados como Fundadores os Colaboradores do periódico: João Manuel Cordeiro de 1849 a 1910 com 98 artigos publicados; António Florencio de Sousa Pinto de 1849 a 1888 com 274 artigos publicados; António Mello Breyner de 1849 a 1878 com 100 artigos publicados; Bento José da Cunha Vianna de 1849 a 1868 com 69 artigos publicados; Foram ainda estudados como Redactores os Colaboradores Frederico Augusto de Novaes Côrte-real de 1854 a 1855 com 57 artigos publicados; Augusto Frederico Pinto Rebelo Pedrosa de 1872 a 1891 com 59 artigos publicados; José Nicolau Raposo Botelho de 1889 a 1910 com 52 artigos publicados.
65 José Estêvão de Moraes Sarmento foi colaborador da Revista Militar durante 64 anos, tendo publicado 355 artigos, num total de 2800 páginas. Sousa, 1980, n.º 11/12: p. 976.
66 Para mais informação sobre a actividade técnica, científica e literária de Moraes Sarmento, consulte-se o Arquivo da Revista Militar onde se encontram arquivados de (1866-1929) a maior parte da sua produção técnica, científica e literária: crónicas, recensões críticas a livros e opúsculos.
67 Moraes Sarmento em algumas das suas memórias históricas utilizou um discurso histórico dramático, nomeadamente, em situações de política internacional que afectavam directa ou indirectamente o nosso país, para logo depois acentuar de forma explícita o valor da Memória Nacional como forma de melhor ultrapassar essas dificuldades e, simultaneamente, dotar a sociedade portuguesa de valores patrióticos. Esta sua atitude está presente em 1890 nas reacções ao Ultimato Inglês e depois em 1908 na comemoração do Centenário da Guerra Peninsular. Adoptou um discurso de cultivo da memória nacional com o propósito de elevar a moral da Nação, o espírito e sentimento nacional e incentivar os leitores para o conhecimento da História de Portugal.
68 De entre esse grande número de artigos publicados na Revista Militar, relevamos: Às Armas, (1890); As Guerras Coloniais, (1895); A Capitulação de Almeida, (1890); A Guerra Sul-Africana, (1900); A Campanha Franco-Chinesa e Paz Armada, (1900).
69 Sobre estes trabalhos a secção de Matemática relata que tendo recebido as mais elogiosas considerações dos periódicos estrangeiros France Militaire, Revue de l’Armée Belge da Revue do Cercle Militaire, tendo este em 27 de Abril de 1901 publicado o seguinte: “L’étude que le major Fernando Maya vient de livrer à la publicité est des plus constructives; toutes les questions Qui interessent la cavallerie y sont traitées de main de maître”.
70 Frederico Oom, coronel da Arma de Engenharia, era filho do oficial de Marinha e astrónomo Frederico Augusto Oom e de Alexandrina Oom. Pela sua grande competência científica, fez parte de várias comissões científicas: foi vogal da Comissão nomeada para fazer os estudos e observações do eclipse solar, (1900); responsável pelo estudo e aplicação do serviço da Hora no Arquipélago dos Açores, (1901); Responsável pela aquisição de material e montagem do Observatório de Lourenço Marques, (1907). Pela sua grande competência científica, foi sócio efectivo da Academia de Sciencias de Lisboa e possuía várias condecorações, entre elas a de grande oficial de Santiago e de Aviz.
71 O general de Brigada de engenheiros José Maria Latino Coelho era filho do tenente-coronel de Artilharia João Alberto Coelho e de Maria Henriqueta Latino Martins de Faria Coelho, nasceu em Lisboa e faleceu em Sintra. Iniciou a sua carreira académica em 1839 na Eschola Polytechnica, passando depois à Escola do Exercito em que completou o curso de Engenharia Militar. Latino Coelho desempenhou os mais elevados cargos da Nação: Em 1855 surge como deputado às cortes, eleito pelo círculo de Lisboa e depois nas eleições gerais de 1856 e 1860 pelo círculo dos Açores. Em Julho 1868, chega a Ministro dos Negócios da Marinha e do Ultramar, cargo que manteria até Agosto de 1869. Em 1885, desempenhou o cargo de Ministro e Secretário de Estado Honorário. Foi membro de diversas agremiações literárias e científicas nacionais e estrangeiras. Sócio Efectivo e Secretário-geral da Academia Real das Sciencias de Lisboa.
72 Parte dessa colaboração foi compilada em José Maria Latino Coelho, Literatura e história (prefácio de Fidelino de Figueiredo), Lisboa-Porto, 1925 e Idem, Fernão de Magalhães (prefácio de Júlio Dantas), Lisboa s. d..
73 MATOS, 1998, p. 400. José Maria Latino Coelho, “Prólogo“, Sinibaldo de Mas, A Ibéria, 2ª edição, 1853, p. 12.
74 Galeria dos varões ilustres de Portugal, s. l., s. ed..
75 Latino Coelho pertence ao grupo de historiadores que cultivavam a ideia evolucionista e organicista da sociedade portuguesa que expressa a preocupação de definir o carácter nacional, Rebelo da Silva, Luz Soriano, Pinheiro Chagas, Oliveira Martins, Teófilo Braga e Consigliere Pedroso. A par da sua grande obra como historiador, Latino Coelho influenciou a educação, ao conceber um curso de instrução geral acessível a todos os cidadãos onde incluía a disciplina de História Universal - Política ou da civilização dos Antigos e Modernos e especialmente da Pátria. Cfr. MATOS, 1998: p. 177.
76 Nasceu em Lisboa e era filho do coronel do Estado-Maior do Exército Manuel Bernardo Chaby e de Margarida Pereira de Chaby. Adquiriu a sua formação académica na Academia
   Real de Marinha, Escola Polytechnica e Escola do Exercito. Foi distinguido com diversas condecorações honoríficas nacionais e estrangeiras, e era sócio correspondente da Academia Real das Sciencias de Lisboa, membro da Associação promotora das Bellas-artes e de outras agremiações científicas estrangeiras.
77 Claudio de Chaby além das missões científicas que desempenhou na vizinha Espanha, onde foi nomeado para estudar e descrever os estabelecimentos militares destinados à instrução de todas as armas, realizou ainda outros estudos na Itália, Bélgica e Holanda.
78 A Secção Histórica passou, desde 1845, por frequentes e desastrosas mudanças de instalações que foram muito prejudiciais à conservação da valiosa documentação que constituía parte do arquivo. Depois de ter permanecido cerca de 90 anos no palacete do Páteo das Vacas, passou pelo Palácio da Ajuda, edifício do Jardim Botânico, pelas velhas e arruinadas casas da oficina de refinação do salitre em Alcântara até que entre Dezembro de 1884 e Janeiro de 1885, foi mais uma vez transferido para o actual edifício de Santa Clara, onde ainda hoje se encontra com o nome de Arquivo Histórico Militar desde meados de 1921. Cfr. SIMÕES, 1924, LXXVI, 11-12: p. 550-564.
79 O aparecimento desta publicação foi efusivamente aplaudido pela imprensa portuguesa e Espanhola. O Conservador, Gazeta de Portugal, Jornal do Commercio, Revolução de Setembro, Portuguez, Crença, Nação, Progressista, Revista Militar, Federação, Jornal do Porto, Escholiaste Medico, Commercio de Lisboa, Revista Contemporanea e tantos outros de Lisboa e províncias apresentaram as suas elogiosas gratulações ao autor e à sua obra. Na nossa vizinha Espanha a imprensa periódica também não ficou indiferente La Asamblea del Ejercito, La Discussion, La America, Gaceta Universal de Barcelona, La Iberia, Epoca, Eco de Castilla, Politica entre outros, também não foram parcos em manifestações de grandes elogios, saídos dos generais D. José Gomez Arteche, D. Eusebio Asquerino, D. Benigno Joaquim Martinez e ainda de outros mais distintos literatos do reino vizinho. Cfr., SILVA, 1859, II: p. 72.
80 Sobre esta publicação veja-se um extenso e bem elaborado artigo de João Carlos de Almeida Carvalho publicado na Revolução de Setembro de 19 de Novembro de 1865.
81 Simão José da Luz Soriano, “Vida do marquez de Sá da Bandeira e reminiscencia de alguns sucessos mais notaveis que durante ella tiveram logar em Portugal”. “Vida e sucessos do dito marquez desde o seu nascimento até 1834, Tipographia da Viuva Sousa Neves, 1887; “Vida e successos do dito marquez desde 1834 até ao seu fallecimento em janeiro de 1876”, Tipographia da Viuva Sousa Neves, 1888.
82 Cit. por Silva, 1862, VII: p. 279.
83 Periódico semanal iniciou a sua edição a 17 de Abril de 1830, embora, anteriormente aquela data tivesse editado algumas folhas avulso nas quais constam narrações dos sucessos e notícias políticas da época. Foram seus redactores Luz Soriano que depois foi substituído pelos académicos Elias José de Moraes, José Estevam de Magalhães e João Eduardo de Abreu Tavares, oficial do Batalhão de Voluntários da Rainha. Constituem esta colecção 41 números que interromperam a sua edição em finais de Junho de 1832.
84 Temos ainda a referir autores como António de Serpa Pimentel, Portugal moderno. A queda do Antigo Regímen (1820 até 1834), Lisboa, s. ed., 1896.
85 Cfr. MATOS, 1998: p. 380.
86 A Revista Peninsular (1855-1856), tem a sua introdução assinada por Mendes Leal e é considerada como o documento mais rico e visível do intercâmbio luso-espanhol realizado sob a égide do Romantismo Liberal. Teve como Colaboradores Latino Coelho, Andrade Corvo, António Serpa, Luiz Augusto Palmeirim entre outros. ABREU, 1997: p. 503.
87 Como reconhecimento pelos seus trabalhos, foi eleito Sócio Correspondente e Efectivo da Academia Real das Sciencias de Lisboa e depois por unanimidade votado Sócio Emérito da mesma agremiação científica. SILVA, 1882, XXII: p. 157.
88 Acrescenta-se àqueles estudos por ordem cronológica as seguintes obras: Portuguezes na Índia, Scenas Históricas, Lisboa, s. ed., Santos Valente & Faro, 1883, 246, Cartas de Affonso de Albuquerque, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1884 - Tomo I 4.º de 448 páginas - Tomo II, 1898, 4.º 456 p.; O Marquez de Salisbury, Typographia das Horas Romanticas, 15 páginas.
89 A sua vasta produção literária levou-o a que fosse agraciado por várias corporações científicas nacionais e estrangeiras: Sócio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Sociedade das Sciencias Medicas de Lisboa, Academia de Sciencias e Bellas Letras de Ruão entre muitas outras. Para os estudiosos destas questões recomendamos: SILVA, 1862, VII: p. 130-135. Idem, 1863, VIII: p. 132-138. Idem, 1870, IX: p. 203-209. Todavia o estudo mais interessante, minucioso e cheio de informação importante e inédito encontra-se nas Memórias de Castilho redigido pelo Visconde de Castilho que escreveu e mandou imprimir dois tomos em 1881, com 309 e 348 páginas compreendendo a vida do ilustre poeta desde 1800 a 1834 e que depois prosseguiu em capítulos sucessivos no Instituto de Coimbra no volume XXXVIII, p. 613.
90 RM, Tomo X, 1858, n.º 14.
91 A Mocidade começou a ser publicado no Porto em Junho de 1887 e terminou com o número 12, contendo ao todo 96 páginas e foi Impresso na Typographia Pereira da Silva.
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