Nº 2451 - Abril de 2006
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
EDITORIAL - O Serviço de Saúde Militar
General
Gabriel Augusto do Espírito Santo
Quem siga com atenção o que se vai passando com o denominado Serviço de Saúde Militar tem razões para meditar e se preocupar. Especialmente toda a geração de portugueses que ainda vivem e que testemunharam como foi importante aquele Serviço para prevenir doenças, tratar os indisponíveis, socorrer feridos em combate longe de qualquer infra-estrutura de saúde, tentar diminuir tempos de evacuação até ao tratamento adequado ou dispensar apoio de saúde a familiares, que ficavam na retaguarda, de forma a minorar a falta de presença de pais, filhos ou maridos. Descrever o que foi o Serviço de Saúde Militar, especialmente o do Exército, durante as mais recentes campanhas de Portugal em África ou o que tem representado a modesta presença do Serviço de Saúde Militar nas tarefas que as Forças Armadas desenvolvem no apoio às denominadas Missões de Apoio à Paz, daria um conjunto de crónicas interessantes. Incluiriam naturalmente o testemunho daquele ferido grave que, após mais de uma hora de transporte em helicóptero, chegava ao Hospital para ser operado; ou o daquela parturiente evacuada do local mais recôndito do mato, que deu à luz assistida por enfermeiros ou socorristas militares; ou o dos feridos no mercado de Serajevo e tratados por médicos militares portugueses; ou o da população de Luanda quando o Hospital Militar Nº 7, em apoio da UNAVEM, foi montado naquela cidade.
 
Bastaria esse livro de crónicas para deduzir as funções do Serviço de Saúde Militar e mostrar a actualidade dessas funções nas vertentes da medicina, da veterinária e da farmácia, construídas através dos tempos sempre na preocupação da excelência pelos serviços prestados. Vertentes que sempre coordenaram esforços para a prevenção da doença, para avaliação perma­nente dos recursos humanos que servem a força militar, desde a sua admissão ao serviço até ao seu abandono, para o tratamento de indisponíveis e para o acompanhamento da Família Militar, como factor importante para desenvolver e manter o moral de quem faz a defesa militar da Pátria.
 
Preocupações mais recentes com a segurança humana e as ameaças que a podem afectar, levaram muitas nações a verem nos Serviços de Saúde Militares mais um elemento de importância relevante para tarefas supletivas de estruturas de saúde pública, na prevenção de epidemias, na detecção de agentes e causas de doenças, no rápido tratamento de feridos nos acidentes em estradas ou catástrofes.
 
Tudo isto não se improvisa, requer escola e prática e requer uma população variada em idades, sexo e actividades que permita praticar e “fazer mão”.
 
Constatamos que medidas economicistas têm insistido, de há muitos anos a esta parte, desfazer o capital acumulado quando parece lógico que se deveria procurar manter e desenvolver as capacidades existentes. Fala-se no encerramento de Hospitais, desmotivam-se profissionais de saúde não criando e desenvolvendo carreiras aliciantes, manda-se a Família Militar tratar-se «a outro lado».
 
Por estas constatações e razões é intenção da Revista Militar dedicar um número especial (Agosto/Setembro) a este tema. Procurando que se tratem não só áreas específicas do Serviço de Saúde, como a medicina, a veterinária e a farmácia, mas também questões próprias do serviço em cada um dos Ramos das Forças Armadas. Procurando ainda estabelecer perspectivas sobre o Serviço nas suas missões de obtenção, preservação e manutenção de efectivos adequados às Forças Armadas, tratamento de indisponíveis, apoio supletivo a estruturas nacionais de saúde em casos de emergência ou catástrofe e como factor para o desenvolvimento e manutenção do moral, no seu apoio à Família Militar.
 
Lançamos o apelo aos leitores e sócios para enviarem os seus contributos e experiências.
 
 
*      Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção.
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General

Gabriel Augusto do Espírito Santo

Nasceu em Bragança em 8 de Outubro de 1935.

É General do Exército, na situação de Reforma desde o ano 2000, depois de ter servido nas Forças Armadas Portuguesas durante 49 anos.

Além de Tirocínios e Estágios na sua Arma de origem possui os Cursos da Escola do Exército (Artilharia), Curso Complementar de Estado-Maior e Curso Superior de Comando e Direcção (Instituto de Altos Estudos Militares), Curso de Comando e Estado-Maior (Brasil) e o Curso do Colégio de Defesa Nato (Roma).

Falecido em 17 de outubro de 2014.

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by CMG Armando Dias Correia