Nº 2543 - Dezembro de 2013
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
A consequência maior da batalha de Waterloo ou os imponderáveis da guerra
Tenente-coronel PilAv
João José Brandão Ferreira

Introdução

 

Historicamente a Batalha de Waterloo representa o epílogo da tentativa hegemónica e imperialista da França, sobre a Europa.

 

Fig. 1 – Monumento à Batalha de Waterloo

 

Fig. 2 – Napoleão Bonaparte

 

E marca o fim político de um dos maiores comandantes militares de todos os tempos, o Corso Napoleão Bonaparte.

 

Desta vez, os ingleses tiraram-se de cuidados e exilaram-no na Ilha de Santa Helena, em 15 de Outubro de 1815, um local remoto de onde seria quase impossível resgatá-lo. Lá morreu em 5 de Maio de 1821.

O Congresso de Viena, de 1814/15, consagrou a figura do Estado-Nação – que já vinha de Vestefália, em 1648 – e estabeleceu uma nova ordem internacional, obviamente baseada no poder dos grandes como, de resto, sempre acontece.

 

Fig. 3 – Ilha de Santa Helena (Atlântico Sul)

 

  

Fig. 4 – Congresso de Viena

 

As principais potências da altura eram a Inglaterra, a Áustria, a Prússia, a Rússia e … a França, que acabou no grupo dos vencedores, por via do talento político e diplomático do ministro Taillerand-Périgoud.

Todavia, a principal consequência para o futuro dos povos dos continentes Europeu e Americano pouco teve a ver com este congresso, nem com o desfecho da batalha.

Já lá iremos.

 

Fig. 5 – Taillerand-Périgoud

 

 

Antecedentes próximos

 

"A confiança do ingénuo é a arma mais útil do mentiroso".

Stephen King

 

Após a campanha da Rússia, em 1812, os exércitos napoleónicos ficaram completamente destroçados, a que se devem juntar as derrotas francesas na Península Ibérica, às mãos das tropas inglesas, portuguesas e espanholas, o que perspectivava a sua expulsão de Espanha, a curto prazo.

 

 

Fig. 6 – A retirada da Rússia

 

Reuniram-se, então, os Exércitos dos países da sexta coligação, num total de 500.000 homens, que obrigaram à rendição de Napoleão, em Paris, a 11 de abril de 1814.

Nesta data, o Exército Anglo-Luso tinha atingido Toulouse, vindo do Sul, perseguindo as tropas francesas na ponta das baionetas.

Assinada a paz pelo Tratado de Paris, de 30 de Maio desse ano, Napoleão foi desterrado na Ilha mediterrânica de Elba; os Bourbon voltaram ao poder em França, através da pessoa de Luís XVIII e reuniu-se em Viena uma conferência internacional – que ficou para a História como o "Congresso de Viena" – onde, para além das grandes potências já referidas, participaram outras menores, como a Suécia, a Espanha e vários estados alemães.

Portugal foi representado por três ministros plenipotenciários:

– D. Pedro de Sousa Holstein, Conde de Palmela;

– António de Saldanha da Gama, diplomata em serviço na Rússia;

– D. Joaquim Lobo da Silveira, diplomata destacado em Estocolmo.

 

 

Fig. 7 – D. Pedro de Sousa Holstein

 

 

O Príncipe de Metternich foi o anfitrião do Congresso que, verdadeiramente, nunca teve uma sessão plenária. Houve sim, sessões informais entre as grandes potências, a que se juntavam os representantes dos restantes países para tratar assuntos específicos.

Inicialmente, as quatro potências vitoriosas pretendiam excluir os franceses dos trabalhos, mas a habilidade do ministro Talleyrand obrou que a França se conseguisse imiscuir nas principais negociações havidas, desde cedo.

O Congresso de Viena teve início a 2 de Maio de 1814 e terminou a 9 de Junho de 1815, tendo o seu "Acto Final" sido assinado nove dias antes da Batalha de Waterloo.

 

 

Fig. 8 – O Príncipe de Metternich

 

O Congresso teve como objectivo redesenhar o mapa político europeu, redefinindo muitas das fronteiras alteradas pelas campanhas napoleónicas e restaurar a ordem absolutista do "Ancien Regime".

Com isso pretendia-se gerar um equilíbrio geopolítico que preservasse a paz na Europa para o futuro próximo – já que todas as tentativas feitas até hoje de preservar um determinado "status quo", falharam redondamente.

Dada a natureza da condição humana e a ditadura da geografia, não parece nada que o futuro nos traga algo de diferente...

Em síntese, apresentam-se as principais medidas adoptadas:

– Restauração legitimista e definição de compensações territoriais, levando a que se considerassem legítimos os governantes e fronteiras que vigoravam antes da Revolução Francesa;

– Criação da "Santa Aliança", uma aliança política e militar que reunia os Exércitos da Rússia, Prússia e Áustria, que seriam o garante capaz de evitar qualquer ameaça ao sistema político vigente, o que incluía a hipótese de intervenção nas independências americanas.

De salientar que esta cláusula ajudou a nascer, nos EUA, a "Doutrina Monroe", em 1828, que defendia a "América para os Americanos".

A Grã-Bretanha, cujo pendor liberal já nada tinha a ver com o Absolutismo ainda dominante nas potências do Continente, não conseguiu nem fez grande pressão em se opor a estas conclusões.

Sendo a maior potência marítima da época – o que lhe permitia proteger as rotas comerciais e projectar poder em qualquer ponto do planeta – e levando a palma na Revolução Industrial, a Inglaterra não se sentia ameaçada pela restante realidade política europeia.

Relativamente às fronteiras:

– A Rússia anexou parte da Polónia, Finlândia e a Bessarábia;

– A Áustria anexou a região dos Balcãs;

– A Inglaterra ficou com a Ilha de Malta, o Ceilão e a Colónia do cabo;

– O Império Otomano manteve o controlo dos cristãos do Sudeste da Europa;

– A Suécia e a Noruega, uniram-se;

– A Prússia ficou com parte da Saxónia, da Vestefália, da Polónia e com as Províncias do Reno;

– A Bélgica foi obrigada a unir-se aos Países-Baixos;

– Os Principados Alemães formaram a Confederação Alemã, com trinta e nove Estados, a Prússia e a Áustria, que lideravam;

– Restabeleceram-se os Estados Pontifícios;

– Portugal e Espanha não tiveram compensações territoriais, mas viram restaurar as suas antigas dinastias;

– Pelo Artigo 105º do Acto Final, o Congresso reconhecia o direito a Portugal em reaver Olivença, o que nunca foi cumprido pela Espanha, apesar de esta ter ratificado, mais tarde, o Tratado, em 7 de Maio de 1817;

– Pelo Artigo 106º, Portugal restituiria a Guiana à França.

 

 

Fig. 9 – A Europa, depois do Congresso de Viena

 

O Congresso de Viena estabeleceu, ainda:

– O princípio da livre navegação nos rios Reno e Meuse;

– A condenação do tráfico de escravos e a sua proibição a norte da linha do Equador;

– 
Medidas tendentes à melhoria das condições de vida dos judeus;

– Um regulamento sobre a prática das actividades diplomáticas entre os países.

Como se disse, a grande maioria das decisões foi acordada entre as grandes potências, pelo que a maioria das delegações não tinha nada que fazer, o que levou o anfitrião Francisco II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, a oferecer entretenimento para as manter ocupadas.

Tal facto levou a que o Conde de Ligne tenha feito um comentário que ficou famoso: "Le Congrés ne marche pas; il dance" (o Congresso não anda; ele dança).

 

 

 

Os Cem Dias

"Estejam aos pés deles; aos seus joelhos…

Mas nunca nas mãos deles"

Talleyrand

 

Enquanto decorria o Congresso de Viena, Napoleão evadiu-se do seu exílio na Ilha de Elba, em 28 de Fevereiro de 1815, desembarcou em solo francês e conseguiu, pelo seu carisma, fazer passar para o seu lado as forças militares enviadas para o prender. Apesar destas estarem comandadas por aquele a quem Napoleão apelidou de "bravo dos bravos", o Marechal Ney.

 

 

Fig. 10 – A Ilha de Elba, ao largo de Itália

 

De seguida, marchou para Paris onde foi aclamado em glória, a 20 de Março, após a fuga de Luís XVIII.

Os aliados mal podiam acreditar no que estava a acontecer, mas rapidamente formaram a Sétima Coligação e começaram a reunir forças para bater Bonaparte e os franceses.

O Congresso de Viena não foi interrompido, mas o tempo urgia para ambos os lados da contenda.

 

 

A Batalha de Waterloo

 

"A mais renhida que assisti na minha vida"

Wellington, sobre a Batalha de Waterloo

 

A Batalha de Waterloo foi, na realidade, uma sucessão de três batalhas, como veremos.

 

 

Fig. 11 – Quadro da Batalha de Waterloo

 

Wellington comandava um exército de 93.000 homens, constituído por forças inglesas, holandesas e alemãs, a que se deveria juntar o Exército Prussiano de Von Blucher, composto por 117.000 homens. Todos estavam a confluir para o, agora, território belga.

Era Junho e estimava-se que, daí a um mês, um exército austríaco de 210.000 homens; um outro russo, de 150.00 homens e, ainda, um terceiro, austro-italiano, de 75.000 homens, invadiriam a França pelo Norte e pelo Sul.

 

Fig. 12 – Duque de Wellington

 

Napoleão só contava com 73.000 homens e a sua única hipótese de sucesso era a de tentar bater, separadamente, cada um dos exércitos enviados contra si, antes que se reunissem e tentar forçar um armistício com alguns dos estados envolvidos.

Deste modo, o Imperador Francês invadiu a Bélgica, a 15 de Junho, e começou por atacar e derrotar os prussianos em Ligny, tendo o cuidado de colocar 24.000 homens comandados por Ney, em Quatre Bras, a fim de impedir qualquer socorro de Wellington.

Fig. 13 – Marechal Von Blucher

 

Os Prussianos não foram, porém, esmagados, graças à perícia e coragem do velho Marechal Blucher e puderam retirar o restante das suas forças. Os prussianos sofreram 22.000 baixas e os franceses metade daquele número.

Napoleão podia agora voltar-se contra os ingleses e, para garantir que os prussianos não voltariam em auxílio de Wellington, deixou uma força de 30.000 homens comandados pelo Marechal de Grouchy, para os perseguir e servir de tampão.

No dia 17, Wellington aproveitou a intempérie que se abateu sobre a região para colocar as suas forças numa posição mais favorável junto ao Monte Saint Jean. Somavam 67.000 homens (23.000 ingleses e 44.000 belgas, holandeses e alemães) e 160 canhões.

Os franceses chegaram ao fim do dia e Napoleão logo inspecionou o local, apesar da chuva forte. O tempo corria contra ele.

As suas tropas reuniam 74.000 homens e 250 canhões – mais do que um terço a mais que os aliados, ou não fosse Napoleão um fã da artilharia.

O comandante aliado assumiu uma postura defensiva, aproveitando o terreno, como era seu apanágio. Postura agora reforçada pelo facto do seu Exército não ser dos melhores e porque quanto mais durasse a batalha, mais hipóteses tinha de chegarem os reforços de Blucher.

 

Por seu lado, o instinto de Bonaparte era a ofensiva combinando a manobra e o fogo.

O ataque foi retardado até às 11h00 do dia seguinte, a fim de permitir que o terreno, transformado em lodaçal pela chuva, secasse um bocado.

A batalha durou todo o dia e foi duríssima, tendo sido empregues todas as reservas de parte a parte. E muito equilibrada, dada a competência dos comandantes.

Napoleão esteve a ponto de ganhar, mas os reforços prussianos sempre chegaram, algo de surpresa, e desequilibraram o potencial relativo de combate a favor dos aliados. Atacaram a direita francesa perto da quinta "Papellote", com 40.000 homens.

Tal deveu-se à extraordinária fibra moral do Marechal Blucher e à incapacidade do Marechal de Grouchy em os manter afastados do campo de batalha.

Blucher, de 74 anos, escapou milagrosamente na batalha de Ligny. Ficou preso debaixo do seu cavalo caído e escondido por um capote com que um seu soldado o cobriu, foi dado como morto, escapando à cavalaria francesa.

Mais tarde, cobriu as suas feridas – e também o seu interior – com abundante quantidade de brandy, reorganizou as suas tropas e relançou a perseguição aos franceses contra o parecer do seu estado-maior que aconselhou a retirada.

Em todas as forças ocorreram actos de extremo heroísmo e valor militar, de que são exemplos a última carga de cavalaria comandada por Ney, já com a batalha perdida, ao brado de "assim morre um marechal da França"; e a acção dos três derradeiros batalhões da Guarda Imperial que se dispuseram a lutar até ao fim, de modo a permitir a fuga do seu Imperador. Ao receberem a oferta de rendição, o seu comandante, General Cambronne, respondeu "a Guarda morre, mas não se rende"!

Fig. 15 – O General Hill sugere a rendição da Guarda

 

Falo nisto para referir que este espírito desapareceu quase por completo, nos dias de hoje, nas nações europeias, o que já as tornou presa fácil de todas as ameaças e perigos existentes.

Os aliados voltaram a entrar em Paris, a 7 de Julho, e Napoleão foi despachado para Santa Helena, a 8 de Agosto, para nunca mais voltar em vida.

Ao contrário do que Blucher sugeriu, de que a Batalha se chamasse da "Belle Aliance", a mesma foi crismada de Waterloo, a instâncias de Wellington, que tinha a estranha mania de dar às batalhas o nome do local onde dormira na véspera, no caso vertente uma pequena vila com aquele nome.

Enfim, idiossincrasias da natureza humana…

Fig. 16 – Longwood House. A casa onde viveu Napoleão, em Santa Helena

 

 

A consequência maior do desfecho das Campanhas Napoleónicas

 

"A mão que dá está acima da mão que tira.

O dinheiro não tem Pátria, os financeiros não têm

patriotismo, nem decência, o seu único objectivo é o lucro"

Napoleão

 

Estamos agora em condições de tratar o fulcro desta exposição, aquilo que se pode considerar como a maior consequência de todo este lance da História heroica-trágica do Continente Europeu: a consolidação do maior império financeiro da Humanidade.

Em 1815, existia na praça financeira de Londres, conhecida pela "City", uma casa bancária, já com grande poder financeiro, de que era proprietário o judeu (Ashkenazy) de origem alemã, Nathan Mayer Rothschild (18/09/1777-28/07/1836).

Este homem tinha nascido no ghetto judaico de Frankfurt-am-Main e emigrado para Manchester, em 1798, com a idade de 21 anos e sem conhecer uma palavra de inglês.

Começou por negociar em têxteis, naturalizou-se inglês, em 1804, e mudou-se para Londres no ano seguinte onde, paulatinamente, foi construindo um império financeiro através de empréstimos e operações na bolsa londrina.

 

Fig. 17 – Nathan Mayer Rothschild

 

A partir de 1809, passou a negociar em ouro (mais propriamente, em barras de ouro) e fez desse negócio a pedra angular de toda a sua actividade. Ainda hoje, e desde 1919, o preço desse "metal nobre" é fixado, diariamente, às 11h00, pelo "World Gold Council", no N.M. Rothschild & Sons, Londres (através dela podemos saber que as reservas portuguesas desse metal ascendem a 382.2 toneladas…).

A partir de 1811, depois de negociações com o Comissário-Geral inglês, John Charles Henies, a Casa Rothschild passou a fornecer as tropas de Wellington com os créditos necessários para a logística e o pagamento das suas tropas, em campanha na Península Ibérica e, mais tarde, no Sul de França.

Tudo feito com a ajuda, em rede, dos seus quatro irmãos colocados estrategicamente, em Frankfurt, Paris, Viena e Nápoles, onde disfrutavam igualmente de grande poder e influência financeira.

Todos eles montaram um serviço de comunicações, correios e agentes por toda a Europa.

Quando Napoleão se rendeu, em 1814, todos pensaram que a guerra tinha acabado e venderam-se enormes quantidades de armamento e material, ao desbarato. Alguns dos irmãos Rothschild compraram muito deste equipamento.

Quando Napoleão fugiu de Elba precisou de armar o seu Exército, o mesmo acontecendo aos aliados. Foi mais uma oportunidade dos Rothschild fazerem negócio, revendendo o armamento por preços muito superiores ao que tinham adquirido!

Porém o maior "golpe do baú" estava ainda para ser dado.

Devido ao sistema de informações e de transporte desenvolvidos, o grande banqueiro da City esteve sempre ao corrente do que se passava na Bélgica e, através de um agente seu de confiança, chamado Rothworst, postado em Waterloo e que zarpou para Inglaterra mal a batalha ficou decidida, soube da vitória aliada vinte e quatro horas antes do Governo Inglês.

Os historiadores dividem-se sobre o que aconteceu, nunca tendo a família Rothschild esclarecido o que exactamente se passou.

Existe quem defenda que Nathan informou o Governo Inglês, o qual não terá acreditado na informação. Independentemente disso, Nathan foi à Bolsa de Londres e pesando os "timings", encostado ao que já era conhecido pelo "Rothschild pillar", imperturbável e sem exteriorizar qualquer tipo de emoção, começou a vender as suas acções e os títulos de dívida de guerra britânicos.

Tal foi interpretado como se ele soubesse da derrota aliada, o que fez com que os investidores começassem a vender os seus títulos em massa e a tentar trocá-los por ouro e prata, a fim de tentarem salvar parte do seu valor. Esta atitude fez os preços caírem abruptamente.

Quando estes estavam no seu valor mais baixo, Rothschild mandou os seus agentes começarem a comprar tudo o que pudessem, o mais discretamente possível.

Quando, pouco depois, a notícia da derrota francesa se soube em Londres, a bolsa registou aumentos brutais no valor das acções o que permitiu ao ramo inglês dos Rothschild apoderarem-se praticamente do sistema financeiro inglês e, por via deste, da economia britânica, passando a ter uma influência determinante na "City" e no próprio Banco de Inglaterra.

Estima-se que, nessa noite, a riqueza de Nathan Rothschild tenha aumentado vinte vezes e, mais tarde, o mesmo gabava-se de, em dezassete anos de permanência em solo inglês, ter aumentado em 2.500 vezes as suas iniciais 20.000 libras, o que perfazia a astronómica soma de 50 milhões de libras.

Na sequência, e por via do facto de todos os países europeus estarem endividados e empobrecidos, por causa da grande devastação e longas e variadas guerras que se seguiram à Revolução Francesa, as diferentes sucursais da Casa de Rothschild descobriram que emprestar dinheiro a governantes era muito mais rentável do que emprestá-lo apenas a particulares. E isso queria dizer, também, passar a ter influência política e, até, a poder controlar o próprio poder político.

Vieram a descobrir, outrossim, ser extremamente rentável passar a financiar todas as partes de um conflito. Parece, até, que tal passou a fazer jurisprudência...

 

Fig. 18 – Estabelecimento do Banco de Inglaterra, em 1694

 

 

Como tudo começou: uma breve discrição

 

"Permitam-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação

e não me importarei com quem faz as leis".

Mayer Amschel Rothschild, 1790

 

A chamada "Dinastia dos Rothschild" começou com Mayer Amschel Bauer, nascido em 1744, no ghetto judeu (ramo judaico dos Ashkenazy) em Frankfurt-am-Main, na altura pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico.

Em 1760 mudou o apelido para Rothschild e fundou a casa com o mesmo nome.

A sua ancestralidade remonta a 1577, a Izaak Elchanar Rothschild, cujo nome derivava da casa que ocupava na judiaria da cidade, conhecida pelo signo do "escudo vermelho" – roten – Schield, em alemão antigo.

 

 

Fig. 19 – Mayer Amshel Rothschild

 

Seu pai possuía um negócio de ourives e câmbios, vindo a ser o fornecedor de moeda do Príncipe de Hesse. A casa de família situava-se por cima da loja com apenas 3,4 metros de largura, onde chegaram a viver 30 pessoas, em simultâneo.

Aprendeu finanças, comércio externo e câmbio de moeda no banco da família Oppeinheimer, em Hannover, no ano de 1757.

O negócio prosperou rapidamente e com a Revolução Francesa teve um grande incremento, sobretudo quando a Casa Rothschild passou a ser intermediária na contratação de mercenários no Estado de Hesse e passando a ser o financiador do Príncipe William IX, do referido Estado.

Mayer Amschel Rothschild casou com Gottle Schnapper (1753-1849), em 29 de Agosto de 1770, e teve cinco filhos e cinco filhas.

Quando chegaram à idade adulta, o pai, Mayer, proveu todos os cinco filhos com um capital generoso e estabeleceu-os em cinco cidades importantes, com o objectivo de ganharem importantes posições no respectivo mundo financeiro.

Seguiram-se casamentos bem relacionados.

Deste modo, o terceiro filho – Nathan – foi enviado, como já se disse, para Manchester, com 20.000 libras (equivalentes a 1.8 milhões, a preços de 2012); o filho mais novo, Jacob, foi para Paris, em 1811; o mais velho, Amschel, ficou com o banco de Frankfurt; Salomon teve Viena como destino, em 1810, e Calmann fixou o ramo da família, em Nápoles, em 1821.

O pai – Mayer – faleceu em Frankfurt, em 19 de Setembro de 1812, onde ainda hoje se pode ver a sua sepultura. O seu filho Nathan substituiu-o como patriarca da família.

 

Fig 20 – Sepultura de Mayer Amshel Rothschild

 

Deixou em testamento para a família (entre outras coisas) que, apenas, a descendência masculina fosse responsável pelos negócios do "clã" e promoveu os casamentos entre elementos dos diferentes ramos da família, o que favorecia a unidade, coesão e interligação entre todos e em cada vez mais países. O que, obviamente, ajudava a manter o dinheiro na família.

Não é, seguramente, por acaso, e como exemplo, que os únicos dois locais não bombardeados e destruídos em Frankfurt, durante a II Guerra Mundial, foram dois parques: o Gruneburgpark, onde estava a sede da IG-Farbenindustrie, uma importante indústria química, fundamental ao esforço de guerra nazi e do Rothschildpark, onde a família dispunha de casa, mesmo depois dos próprios donos terem sido expulsos da Alemanha, nos anos 30.

Do mesmo modo, nada lhes foi confiscado em Viena e Paris.

 

  

Fig 21 – Sede da IG-Farben

 

Conclusão

"Há só um poder na Europa e esse é o de Rothschild"

Werner Sombart, "The Jews and Modern Capitalism", 1911.

 

Assim se formou aquele que deve ser o maior potentado económico-financeiro em todo o mundo, cuja riqueza anda avaliada em cerca de 500 triliões de dólares.

Tudo feito com a maior discrição possível, sem alardes e com um, quase, "blackout" noticioso – mesmo vivendo-se hoje, e há muito, na época da comunicação e do áudio-visual –, relativamente a tudo o que, com eles, esteja relacionado.

E, seguramente, não serão alheios a toda a crise financeira mundial que estamos a atravessar.

Às vezes, os imponderáveis da guerra prolongam-se muito para além do final das batalhas…

 

 

Bibliografia

LIVROS

Cardoso, Pedro – "Cronologia Geral", Instituto de Relações Internacionais, Lisboa, 1995.

Martinez, Pedro Soares – "História Diplomática de Portugal", Verbo, 1986.

Serrão, Joel (e outros) – "Dicionário da História de Portugal", Livraria Figueirinhas, Porto, 1985.

Sobral, Fernando; Cordeiro, Paula Alexandra – "Barings, A História do Banco Britânico que salvou Portugal", Oficina do Livro, Cruz Quebrada, 2005.

 

DOCUMENTOS

Actas do XXXV Congresso Internacional de História Militar "A Guerra no Tempo de Napoleão", Comissão Portuguesa de História Militar, Lisboa,2009.

 

INTERNET

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2014-04-14
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João José Brandão Ferreira

Sócio Efetivo da Revista Militar.

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