Nº 2549/2550 - Junho/Julho de 2014
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
A Inovação Militar no período entre guerras e o início da II Guerra Mundial.
Brigadeiro-general
Luís Fernando Machado Barroso

O desenvolvimento da Blitzkrieg,
a tradição germânica e os contactos germano-russos nos anos 1920

 

A palavra “Blitzkrieg” tinha como objetivo descrever um novo método de combate alemão utilizado na II Guerra Mundial, entrado na linguagem comum quando jornalistas e observadores militares o utilizaram para explicar o sucesso militar alemão na campanha da Polónia (1939) e da França (1940)[1]. Relativamente ao impasse militar típico da guerra de trincheiras na frente Ocidental na I Guerra Mundial, a Blitzkrieg representava uma alteração radical.

A perícia da máquina militar alemã foi claramente demonstrada, em maio de 1940, e evidenciada pela ocupação da Bélgica e da Holanda através combinação de ataques com paraquedistas e formações blindadas. A França, embora reforçada com o Corpo Expedicionário Britânico, seria derrotada em seis semanas. Depois da vitória sobre a Polónia, muitos dos oficiais de topo da hierarquia militar, educados segundo a tradição prussiana do Estado-Maior Imperial, não tinham muita fé na opção militar para derrotar os aliados que considerasse os panzer como solução para a vitória, nem confiavam na capacidade da Alemanha em conduzir uma guerra prolongada. Esta foi uma das razões para que Hitler utilizasse o sucesso militar na França para demonstrar a superioridade militar alemã. Como modelo, a Blitzkrieg foi apenas colocada em prática na invasão da União Soviética, devendo ser entendido como um produto da conjugação entre um exército que encorajava a agressividade, uma ideologia política expansionista (guerra entre sociedades) e constrangimentos económicos que obrigavam a batalhas decisivas de curta duração em grandes extensões de território[2].

O desenvolvimento da Blitzkrieg tem sido associado ao espírito inovador alemão para resolver o impasse criado pela sobreposição do fogo sobre a manobra na I Guerra Mundial. Tem servido também de exemplo perfeito para justificar parte dos processos de transformação em curso nas forças armadas norte-americanas, durante os anos 1990 e 2000[3]. A campanha da França é utilizada como exemplo do sucesso de uma Revolução em Assuntos Militares, porque emergiu de uma combinação de avanços tecnológicos, doutrinários, e como justificação de utilização de forças para uma guerra que a Alemanha teria de vencer rapidamente[4]. Referir a Blitzkrieg como um exemplo de Revolução em Assuntos Militares sem referir as circunstâncias únicas que explicam a sua emergência leva-nos a uma confrontação entre o que é um puro assunto de história militar e o que são os estudos de guerra. Estudar a guerra obriga a compreender as dimensões social, política e militar num período de tempo que envolve a sua preparação, a sua condução e os seus efeitos[5].

Até que ponto a Blitzkrieg representava uma doutrina melhor do que a francesa ou do que a britânica é um ponto que também merece alguma reflexão. Em maio de 1940, nenhum dos contendores detinha superioridade militar em termos numéricos, embora se reconheça que, naquele momento, a vitória esmagadora sobre os franceses e britânicos se deveu em parte à sua superioridade doutrinária. Porém, é necessário considerar que o Plano de Manstein foi muito mais audaz e arriscado do que o que tinha sido inicialmente proposto pelo comando alemão[6]. Além do mais, há ainda a acrescentar os erros defensivos que os aliados cometeram, em especial a má utilização das suas reservas e a inação em relação às extensas colunas de blindados nas estradas das Ardenas[7]. Ao nível estratégico deve ainda acrescentar-se a total incapacidade de franceses, britânicos e belgas anteciparem o ataque alemão[8]. Portanto, as circunstâncias da derrota aliada incluem muitos fatores para além da genialidade militar alemã, cujo apogeu foi o emprego inovador de unidades blindadas apoiadas pela aviação.

Na realidade, a invasão da França (maio de 1940) foi um dos mais decisivos momentos da II Guerra Mundial por dois motivos principais e que contribuiriam para a derrota alemã em 1945. Em primeiro lugar, ao permitir a fuga de parte considerável do Corpo Expedicionário Britânico, manteve parte considerável da capacidade de resistência britânica. Em segundo lugar, convenceu Hitler de que uma invasão da União Soviética seria muito mais fácil, porque considerou que o seu exército tinha inventado um novo modelo de guerra. Por isso, exprimiu ao Marechal Wilhelm Keitel que a destruição da União Soviética seria uma “brincadeira de crianças”[9]. O sucesso da Blitzkrieg, em França, ajuda a explicar a expansão da guerra à União Soviética, marcando também o início da viragem no destino de Hitler e dos Aliados, na Europa.

O problema dos recursos necessários a uma guerra prolongada era o grande ”calcanhar de Aquiles” da estratégia alemã. A sua posição central na Europa obrigava a expandir-se à custa de potências que, em conjunto, somavam um potencial superior ao alemão. O final da I Guerra Mundial, com as condições impostas pelo Tratado de Versalhes e os graves problemas económicos e sociais, levou a elite militar alemã a considerar que tinha de garantir a segurança nacional e restaurar o seu estatuto de potência na Europa[10]. Nesse período, a estratégia alemã baseou-se na autonomia dos assuntos militares em relação à sociedade civil e política. O pensamento estratégico alemão foi impulsionado por duas correntes principais: uma, com o objetivo de unificar todos os assuntos do Estado, que seria levada a cabo por Hitler[11]; e outra, com o objetivo de modificar a conduta da guerra, essencialmente relacionada com o que ficou designado como a “revolução estratégica” da guerra mecanizada[12]. Estas correntes fundiram-se na aproximação operacional para o emprego de forças blindadas, cuja essência se centrava na utilização de divisões independentes de panzers beneficiando de apoio aéreo próximo, a quem eram atribuídos objetivos na profundidade do adversário. As hierarquias militares na Grã-Bretanha e a França, conservadoramente inflexíveis, ficaram agarradas à “mentalidade da linha Maginot” que não concebia o emprego de blindados e da aviação para além do apoio à infantaria.

A chegada de Hitler ao poder foi um novo passo para o cumprimento do desejo dos militares. Mesmo prometendo-lhes os meios para que pudessem assegurar a defesa militar da Alemanha, a visão do Partido Nacional Socialista sobre a guerra era muito diferente. Enquanto o exército enfatizava o controlo institucional da violência, o Partido dava mais importância às dinâmicas societais que corporizassem a vontade de domínio de conquista de espaço vital a leste. Não aceitava a subordinação da política aos imperativos técnico-militares da conduta da guerra, em que a destruição da força armada adversária era apenas o primeiro passo na criação da superioridade rácica alemã. Misturava-se a tecnocracia militar com um conceito de guerra baseado num processo de purificação da raça[13].

A guerra como mecanismo primordial na resolução de problemas de política internacional e a mobilização da sociedade para a guerra encontraram na Blitzkrieg a ponta da lança para a guerra total do regime nazi[14]. Apesar dos objetivos alcançados terem claramente ultrapassado os inicialmente previstos, constata-se que, ao nível tático, algumas vitórias alemãs foram-no por margens mínimas. Os alemães basearam o sucesso mais em aspetos táticos, operacionais, estratégicos e de liderança tradicionais do que em aspetos revolucionários. A proliferação de literatura militar, nomeadamente nos EUA, sobre a guerra de manobra[15], que tem na campanha da França um dos seus paradigmas, transformou perigosamente a Blitzkrieg num exemplo a seguir na atualidade, porque focaliza a guerra aos níveis tático e operacional. Não se deve esquecer que a guerra se vence ao nível estratégico.

Como conseguiram os alemães desenvolver a Blitzkrieg no quadro das restrições decorrentes do Tratado de Versalhes é muito mais complexo do que o que pretendemos apresentar com este texto. Porém, há que referir três pontos essenciais nesse processo. Em primeiro lugar, a Blitzkrieg é o resultado do emprego de forças blindadas concentradas em frentes estreitas deficientemente defendidas, apoiadas pela aviação, com a intenção de explorar os intervalos no dispositivo dos defensores até conseguir levar o combate a toda a profundidade do adversário, para o paralisar e aniquilar[16]. Este método não era inovador nos anos 1930, uma vez que estava em franco desenvolvimento junto dos militares soviéticos desde os anos 1920. Destes, destacamos a figura do general Mikhail Tukhachevskii que desenvolvia o conceito de Deep Battle e que consideramos ser a base do modelo alemão. Essa é a razão pela qual consideramos decisiva a cooperação secreta entre os dois exércitos, no início do anos 1920, e que teve o seu auge na troca de ideias e de experiências no campo militar de Kazan na Rússia. Em segundo lugar, a Blitzkrieg apoia-se numa abordagem ao comando e controlo de forças que explora a iniciativa e agressividade aos mais baixos escalões de comando. Esta abordagem encontrou na tradição militar prussiana, desenvolvida durante o século XIX nas academias militares, um campo propício ao seu desenvolvimento. Em terceiro lugar, há que considerar o aproveitamento que Hitler fez da “superioridade” tática alemã, que lhe servia na exata medida da sua estratégia: procurar o espaço vital necessário à grandiosidade da Alemanha exigia uma modalidade de guerra capaz de derrotar os adversários de forma rápida, violenta e espetacular. Pretendia a sobreposição da estratégia de aniquilamento à estratégia de erosão, que a Alemanha não conseguiria suportar.

Apesar de crítica, a mecanização do exército alemão foi apenas uma parte de um processo muito mais abrangente no qual a unidade estratégica se dividiu em duas dimensões: o desenvolvimento da arte da guerra; e a “estratégia” ideológica desenvolvida pelo Partido Nazi. Seria no período entre 1938 e 1941 que aquelas duas dimensões se fundiriam na decisão de Hitler em avançar para a II Guerra Mundial[17]. A intenção de Hitler era fazer da Alemanha a potência dominante no mundo[18].

Delimita-se a análise ao desenvolvimento da máquina militar terrestre alemã que deu origem à Blitzkrieg, embora esta não se possa resumir a este único aspeto[19]. Todavia, parece-nos evidente que foi o desenvolvimento da guerra blindada o principal fator para que a Alemanha alcançasse os primeiros êxitos na Polónia e na França e que Hitler se convencesse que já possuía um modus operandi capaz de lhe garantir o sucesso na Rússia.

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Sob a chefia de Hans von Seeckt (1919-1926), as forças armadas alemãs fizeram um esforço para incorporar as lições da derrota da I Guerra Mundial[20]. Um dos resultados mais importantes foi o desenvolvimento de doutrinas operacionais que pretendiam resolver o principal problema da guerra de trincheiras em que o fogo se sobrepôs à manobra. Heinz Guderian tomou boa nota dessas novas abordagens, ao contrário do que fizeram os franceses e britânicos. Uma nova estrutura de forças, combinada com as novas táticas desenvolvidas no final da guerra colocava um elevado prémio na flexibilidade e na iniciativa dos comandantes subordinados. A motorização e a mecanização teriam como finalidade restaurar a guerra de movimentos para tornar possível a vitória através de combates de encontro.

Seeckt estava numa posição privilegiada para dar início a um processo de adaptação para libertar a Alemanha das imposições do Tratado de Versalhes e que favorecia a modernização e a mecanização, desde que subordinados à tradição germânica da não ingerência política nos assuntos militares[21]. As limitações impediam efetivos superiores a 100.000 homens, blindados, aviação e negavam as condições políticas para o desenvolvimento do aparelho militar. Porém, a autonomia do Reichswher permitiu-lhe desenvolver um processo de adaptação autónomo da política, bem evidenciada pelos acordos secretos com a Rússia e com a Suécia para testar blindados e aviões[22]. Curiosamente, apesar do distanciamento político, foi a União Soviética que desempenhou um papel preponderante. Em meados dos anos 1920, os contactos entre alemães e soviéticos serviram para testes e treinos com blindados, gás e aviões para preparar um quadro de especialistas que mais tarde partilharia os seus ensinamentos nos respetivos exércitos[23]. Ambos os exércitos foram influenciados pelos avanços doutrinários relacionados com blindados desenvolvidos na Grã-Bretanha por Liddel Hart e por J. F. Fuller, o que teria facilitado a integração das novas tecnologias (motor a explosão; telegrafia sem fios – TSF) em conceitos operacionais ideais para aquele período[24]. Porém, determinar até que ponto a influenciou é ainda motivo para discussão, mas não a consideramos decisiva.

Os contactos entre russos e alemães foram desenvolvidos a vários níveis, com expressão ao nível da produção industrial e técnico-militar. Os alemães pretendiam que os soviéticos pudessem acolher tecnologia para o desenvolvimento e fabrico de armamento proibido pelo Tratado de Versalhes. Por seu lado, aos soviéticos interessava sobretudo crédito financeiro e fornecimento de carvão. Ao nível técnico-militar, ambos pretendiam a partilha de projetos e experiências entre oficiais que cobrisse o emprego de submarinos, aviões e blindados. Aos oficiais alemães era permitido treinar com as unidades soviéticas, e aos oficiais soviéticos permitido visitar escolas e academias na Alemanha. Em 1922, o aeródromo de Smolensk estava essencialmente ocupado por pilotos alemães[25].

Mas terá sido no campo de treino em Kazan, no centro da Rússia, que os contactos entre russos e soviéticos foram mais profícuos, uma vez que pode ter daí resultado o gérmen do desenvolvimento das ideias alemãs que seriam colocadas em prática por Heinz Guderian. Entre 1929 e 1933, e depois de algum desenvolvimento doutrinário na Alemanha derivado da experiência da I Guerra Mundial, os alemães dispunham em Kazan de terreno ideal para o emprego de panzers, desenvolver protótipos, treinar guarnições e trocar experiências com os soviéticos[26]. Em agosto de 1929, ocorreu mesmo uma conferência entre os oficiais dos dois países que se focalizou nas considerações doutrinárias de nível operacional e tático. Não há evidências documentais de que a experiência de Kazan tenha influenciado os alemães, mas terá certamente contribuído para a sua inspiração[27]. Um deles foi certamente Heinz Guderian, considerado o pai da Blitzkrieg. Apesar de nunca ter referido a “batalha em profundidade” desenvolvida pelos generais soviéticos Tukhachevskii e Triandafilov, há que considerar que o modelo que propõe em Achtung Panzer apresenta uma singular semelhança com aquela abordagem[28]. J. F. C. Fuller e B. L. Hart são também referenciados como influência nos soviéticos e nos alemães, mas a verdade é que os seus trabalhos só foram publicados depois de desenvolvidas as ideias de Tukhachevskii. Isso é claramente evidente no prefácio que escreve a uma edição soviética (1931) da obra de Fuller, The Reformation of War (1923), e na qual afirma que as suas ideias [de Fuller] são desadequadas à necessidade de levar o combate a toda a profundidade do adversário, em simultâneo, com blindados. Por isso, refere que a fragilidade da sua tese é o seu desinteresse pela utilização extensiva dos meios aéreos como meio de transporte[29].

As ideias de Tukhachevskii foram desenvolvidas antes de 1923 e baseavam-se em ideais operacionais em torno de conceitos como simultaneidade, frentes extensas, unidades mecanizadas, armas combinadas e profundidade. Estes só poderiam ser coerentes quando se desenvolvessem os meios com proteção, mobilidade e velocidade suficientes para paralisar o adversário, através da penetração e envolvimento simultâneos. Os blindados seriam utilizados em três escalões com missões muito distintas. Os dois primeiros escalões de blindados apoiavam a infantaria no combate próximo, dando-lhe poder de choque e poder de fogo para facilitar o assalto. O terceiro escalão, apoiado por artilharia autopropulsada e aviação (incluindo paraquedistas), tinha como missão explorar as brechas dos dois escalões da frente e penetrar as defesas na profundidade necessária à destruição das bases logísticas, postos de comando e centros de comunicação[30]. Estas ideias são sumariamente referidas por Guderian, que cita como fonte um outro militar soviético, Kryzhanovsky, muito menos conhecido do que Mikhail Tukhachevskii[31].

Para a batalha de profundidade gizada por Tukhachevskii, era também necessário que os comandantes aos mais baixos escalões tivessem a confiança dos seus comandantes superiores e conhecessem como as suas ordens (que deveriam ser genéricas) se encaixavam em toda a operação. Assim, no caso de quebra de comunicações, os subordinados estavam em condições de decidir de forma independente e continuar a contribuir para toda a operação[32]. O sucesso da “batalha de profundidade” dependia em larga medida da antecipação (preemption) e da ação de surpresa. As missões atribuídas aos mais baixos escalões seriam logicamente relacionadas com o objetivo estratégico e orientadas às forças ou recursos inimigos. O terreno só raramente podia ser objetivo, exceto quando a posição permitisse uma nítida vantagem, como são os exemplos de cidades, aeroportos ou bases militares.

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A I Guerra Mundial tinha demonstrado que a força militar não era recurso suficiente para decidir uma longa guerra da era industrial, em que a atrição se sobrepunha ao movimento de forças, o que evidenciava que o potencial nacional era muito mais importante do que a perícia operacional dos comandantes. Isto estava em nítida oposição com a tradição prussiana, razão pela qual alguns militares, entre eles o tenente-coronel Joachim von Stulpnagel e o general Werner von Blomberg (ministro da defesa de Hitler, entre 1933-38), pensaram em militarizar a sociedade alemã como precondição para o sucesso da guerra[33]. Numa outra linha, Wilhelm Groener (antecessor de Seeckt e ministro dos transportes, entre 1920-23) considerava que o novo exército só poderia ser reconstruído depois de a Alemanha recuperar economicamente, um objetivo que dependeria da ajuda norte-americana. Depois de intensa discussão interna, o grupo de oficiais liderado por Stulpnagel instigou a uma reforma em torno da “guerra do povo” e da “guerra móvel”. A guerra do povo era o meio mais “desesperado” para utilizar em “situações desesperadas” que virtualmente extinguia a diferença entre soldados e civis, e que transformava a população no meio principal da guerra[34]. A maioria dos oficiais da ala tradicional considerava que a única forma de ultrapassar as fraquezas alemãs era livrar-se das imposições do Tratado de Versalhes e aumentar os efetivos e os armamentos das forças armadas. Como consequência, o rearmamento (em segredo) passou a ser o aspeto mais importante nos anos seguintes[35].

Em meados dos anos 1920, a mecanização do exército estava englobada num amplo programa de modernização das forças armadas. Em finais de 1926, uma diretiva do estado-maior indicava que os panzer se deviam combinar apenas com forças com igual mobilidade e formar unidades independentes. Em 1927, Werner von Fritsch, chefe da divisão de operações do estado-maior, concluiu que as unidades panzer se transformariam na “arma ofensiva” mais importante se fossem concentradas em brigadas blindadas. Em 1929, foi dada prioridade ao esforço para criar, equipar e treinar unidades panzer capazes de atuar de forma independente. Com este conceito minimizava-se o papel das linhas da frente e reconhecia-se a importância da batalha na profundidade do adversário através de uma torrente de movimento auto sincronizado com artilharia autopropulsada e apoio aéreo ofensivo. Era também obrigatório reconhecer que o estilo de comando e controlo teria de mudar através da implementação de estruturas mais ligeiras apoiadas pelas comunicações sem fio. Em 1930, os jogos de guerra levados a cabo no estado-maior demonstravam que Alemanha não era capaz de conduzir uma guerra de atrito depen-dente do apoio da opinião pública, economia e logística. Em caso de guerra, esta deveria ser rápida e decisiva[36].

De facto, alguma da elite militar considerava que era necessária uma nova abordagem ao emprego de meios, que veio a ter em Heinz Guderian um elemento decisivo. Apesar das proibições de Versalhes, em 1922, acolheu com entusiasmo o estudo da motorização do exército. Isso levou-o a um estudo intensivo de livros e documentos, tornando-o numa autoridade em guerra blindada junto dos seus pares. O seu conhecimento era essencialmente teórico, mas Guderian tinha contactos com oficiais que tinham sido destacados para campos de treino militar na Suécia e em Kazan. Em 1929, levou a cabo jogos de guerra com miniaturas de viaturas para confirmar as suas leituras e contactos, concluindo que os panzer seriam a arma decisiva no futuro[37]. O segredo seria encontrar uma combinação de armas (panzer, infantaria, artilharia) apoiadas por aviação e apoio logístico adequados à velocidade de progressão. Este método, aplicado em grandes unidades, era capaz de paralisar um país, dada a confusão que criaria na profundidade dos adversários. Os comandantes, tirando partido da TSF, podiam comandar desde a frente[38]. Em finais de 1933, num boletim publicado pelo seu comando, Guderian visualizava as divisões panzer a realizar ataques simultâneos e independentes contra os flancos do adversário. A sua utilização em perseguição do adversário facilitava a sua destruição. Porém, considerava que essas forças não eram adequadas para conquistar territórios. O seu empenhamento em combate seria por períodos curtos em situações em que o tempo era fator primordial e com ordens de operações muito curtas. O princípio para o seu emprego era a concentração de unidades de panzers no ponto decisivo da operação[39].

No primeiro encontro com Hitler, em 1934, então chefe de estado-maior na Direção de Tropas Motorizadas, Guderian teve a oportunidade de lhe mostrar o que considerava serem os elementos a introduzir nas divisões panzer: combinações de motos, viaturas de transporte, viaturas de lagartas e panzers. Apesar de ser um projeto, Hitler mostrou-se entusiasmado, tendo afirmado que era o que “ele precisava” e o que “queria ter”[40]. Provavelmente, Hitler não pretendia nada mais do que ser simpático, porque estava rodeado de oficiais que favoreciam a primazia da infantaria e da artilharia, à semelhança da I Guerra Mundial. Por isso, Guderian teve de lutar nos “corredores do poder” para impor o seu projeto no Exército Alemão. Em 1935, conseguiu ver aprovada a sua petição para a criação de três divisões panzer, apesar da desconfiança de alguns dos generais próximos de Hitler[41].

Um outro fator importante no desenvolvimento das unidades panzer teria sido o “laboratório” espanhol. Este aspeto deve ser entendido, não tanto como “lições aprendidas”, mas como deduções do que poderia ser, ou não, o emprego de forças blindadas. A maioria das experiências com material cedido por alemães, italianos e russos não se pode transpor diretamente para a Blitzkrieg. Em primeiro lugar, o número de veículos blindados em cada batalha não ultrapassava uma ou duas dezenas, em companhias ou batalhões diferentes. Em segundo lugar, a maior parte das guarnições não estava treinada para o combate blindado, especialmente do lado republicano. Em terceiro lugar, os blindados foram utilizados essencialmente em áreas e sob condições meteorológicas que desaconselhavam a sua utilização fora de itinerários[42]. Em quarto lugar, as posições atacadas por unidades com blindados estavam bem guarnecidas de armas anticarro, causando um enorme impacto no ataque antes da linha da frente[43]. Contudo, os alemães não estavam somente a ceder material aos nacionalistas. Estavam também a testar novas táticas, tendo sido enviados alguns oficiais em missões de assistência militar. Um deles, o general von Thoma, conseguiu impor uma nova abordagem ao general Franco, fazendo-o utilizar os blindados em unidades puras em vez de serem utilizados em apoio à infantaria como o líder nacionalista desejava[44]. Este teria sido um dos motivos para os sucessos das tropas nacionalistas, em Bilbao, em junho de 1937, e nas ofensivas de Aragão, do Ebro e da Catalunha, a partir de março 1938[45]. Não se tratava de utilizar blindados, mas de saber como o fazer de forma decisiva.

A dedicação ao desenvolvimento de unidades panzer e conceitos doutrinários para o seu emprego como a força decisiva culminou na publicação do livro Achtung-Panzer, que tinha como objetivo principal agregar oficiais do estado-maior que pretendessem adaptar a doutrina aos desenvolvimentos sociais, económicos e técnicos, tendo em conta os ensinamentos dos adversários da Alemanha[46]. Com o desenvolvimento dos blindados, Guderian propunha uma nova forma de combate que se basearia em princípios como a surpresa, massa e terreno adequado. A massa de blindados deveria ser concentrada em frentes estreitas onde se pretenderia obter a decisão, aproveitando o terreno mais adequado para a sua progressão e escalonamento. O movimento era apoiado pelos meios aéreos para se protegerem da aviação inimiga, obter e transmitir as informações necessárias para conduzir o combate na profundidade do adversário e transportar paraquedistas para dificultarem a ação das reservas e controlar terreno importante. Só assim se pode atacar o inimigo em toda a profundidade e provocar-lhe a paralisia[47]. Este foi o método que os alemães utilizaram com mestria, em 1940, em França, imortalizado pelo primeiro-ministro francês Paul Reynaud num discurso ao Senado, em 21 de maio: “A verdade é que a nossa conceção clássica de guerra teve de enfrentar uma nova. Não é só a utilização massiva de divisões blindadas com apoio de aviões, mas a criação da desordem nas nossas retaguardas com paraquedistas, informações e ordens falsas transmitidas por telefone às autoridades civis”[48].

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A Blitzkrieg, que teve início na Polónia e seria mitificada em França, deve muito do seu sucesso à tradição militar prussiana, especialmente a Helmuth von Moltke. Durante o período em que dominou o pensamento estratégico e militar alemão (década de 1860), o foco da formação dos oficiais de estado-maior orientou-se na excelência tática. Os assuntos do Estado estavam muito para além das suas preocupações e interesses. O modelo de combate da era Moltke era baseado nos conceitos da guerra napoleónica[49] melhorada com as inovações da era industrial. Os oficiais de estado-maior acreditavam que as guerras do futuro seriam caraterizadas por ações militares rápidas e decisivas[50]. O seu principal elemento de estudo era a guerra ao nível tático e operacional, cujo patrono foi Moltke, deixando de parte o que Clausewitz tinha legado à sua geração. Esta abordagem teria um enorme impacto no pensamento estratégico (militar) alemão até ao final da II Guerra Mundial.

O intelecto de Moltke, iluminado por anos de estudo, permitiu-lhe compreender claramente os desafios estratégicos que a Prússia enfrentava, particularmente no que respeita ao exercício do poder militar. Considerava que a Prússia estava rodeada de adversários e que não dispunha de recursos para alimentar grandes exércitos que se podiam perder na guerra. Por conseguinte, a batalha de atrito não era o método adequado, nem mesmo a troca de tempo por espaço pela sua extensão ao territorial[51]. Moltke tinha uma aproximação à guerra que tinha semelhanças com a de Clausewitz quanto aos atributos da guerra, essencialmente os que se relacionam com a fluidez, caos e desordem que desaconselhavam o estabelecimento de dogmas[52]. Como consequência, oficiais bem treinados e com experiência, capazes de improvisar e com autoridade para agir de forma independente quando enfrentam situações novas, teriam maior probabilidade de sucesso do que aqueles que se guiavam pelos dogmas doutrinários. Pelo menos, essa capacidade é traduzida num importante elemento no campo de batalha: velocidade.

Moltke estava convencido que para uma nação vencer a guerra era necessário velocidade e ação decisiva, com as quais era possível destruir o adversário. Uma vez decidido entrar em guerra, o aniquilamento do adversário era o caminho mais correto para a vitória, não era o exercício de qualquer outro instrumento de poder[53]. Portanto, Moltke, que durante mais de trinta anos foi o chefe de estado-maior, considerava a primazia do movimento de forças segundo a tradição napoleónica, utilizando os melhores eixos de progressão para se deslocar e concentrar na batalha decisiva. Tal como Clausewitz, considerava a defesa como a forma mais pujante do combate, mas considerava que a melhor defesa de uma nação era dispor de um exército bem treinado e com mobilidade suficiente para agir pela ofensiva, através da combinação de ataques frontais com envolvimentos sobre o adversário[54].

Após a vitória sobre a França, em 1871, a nova Alemanha unida entrou num período de paz que durou quarenta anos. Durante este período, a liderança política e militar teve a oportunidade para ponderar qual a melhor maneira de defender o país. Moltke, que sabia que a Alemanha não tinha recursos para guerras longas, era apologista de uma aproximação baseada em guerras rápidas e decisivas. Tendo como máxima de que nenhum plano sobrevive ao primeiro contacto com o grosso das forças do adversário, considerava que a estratégia não era mais do que um conjunto de expedientes que se devia focalizar na mobilização, transporte e projeção de forças controlados por um estado-maior que explorasse os caminho-de-ferro e o telégrafo[55].

As ideias de Moltke estavam alinhadas com o programa dos cursos da Academia Militar prussiana, em meados do século XIX. O sistema educacional militar teve origem no período das guerras napoleónicas, estando diretamente ligadas às derrotas contra Napoleão. Envolveu uma série de reformas lideradas por uma elite militar em que se destaca David Gerhard von Scharnhorst, que se traduziu numa alteração de currículos e da seleção de oficiais. No final do século XVIII, os oficiais eram recrutados tendo em conta a sua origem nobre, sem olhar às suas capacidades. Durante as guerras napoleónicas, em 1808, foi promovido o recrutamento baseado na capacidade em vez do estrato social. A criação da Academia Militar (Allgemeine Kriegsschule), em Berlim, em 1810, por Scharnhorst, tinha também como objetivo ombrear com a Universidade de Humboldt, com um rigoroso currículo de disciplinas como geografia, artilharia, física, química, para além de estudos de tática e estratégia[56]. A reforma teve também impacto na reorganização do estado-maior da Prússia, em 1823, que assim podia dispor de oficiais mais bem instruídos e treinados para apoio aos seus comandantes. O currículo do curso que Moltke frequentou sob o comando de Clausewitz (1818-1830), tinha uma duração de três anos (1823-26) e demonstrava a preocupação em dar aos oficiais uma formação de “banda larga” que passava pelos estudos militares, matemática, literatura e língua estrangeira. Entre 1872 e 1882, o currículo não sofreu alterações significativas, mas na viragem do século é curioso notar a aparente expansão dos estudos de tática em todos os três anos do curso[57]. É certo que a atividade da guerra se relaciona essencialmente com o nível tático e operacional. Também parece lógico este enfoque no seguimento da mitificação criada com as vitórias da unificação da Alemanha e da guerra Franco-Prussiana, entre 1864 e 1871. Por isso, enquanto o papel do estado-maior se sacralizou, os aspetos políticos e diplomáticos foram relegados para segundo plano[58].

Apesar de algumas exceções, como Hans Delbruck, a elite militar alemã estava muito mais preocupada com o nível tático do que com os assuntos de estratégia e política. Moltke, que foi a referência militar principal na segunda metade do século XIX, apesar de conhecer a importância e o significado da estratégia, estava muito mais confortável com a tática. Por isso, a geração de oficiais por si influenciada, e que viria a ter papel determinante na I Guerra Mundial e a influenciar a geração que participou na II Guerra Mundial, considerava a tática muito mais apelativa do que a estratégia e a política. Por conseguinte, a emergência da Alemanha como a principal potência europeia ficava ligada a uma importante lacuna na cultura estratégica. A liderança militar, que tinha uma enorme influência na sociedade civil e política alemã, analisava o ambiente numa perspetiva meramente militar. A desconexão entre as autoridades políticas e militares resultou em planos estratégicos desenvolvidos pelo estado-maior que não tinham nada de estratégico, sendo apenas planos operacionais. A II Guerra Mundial viria a demonstrar o mesmo, depois dos sucessos operacionais na Polónia e em França.

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Guderian foi também um excelente exemplo da tradição militar prussiana, que desde o século XIX enfatizava o espírito crítico, a iniciativa e a intrepidez nos oficiais. Só assim se pode compreender o desenvolvimento de uma aproximação ao comando e ao controlo, normalmente designado de “controlo diretivo” que tem as suas bases no conceito Auftragstaktik. O conceito não foi introduzido por decreto no exército, mas foi o fruto de uma lenta maturação que remonta às derrotas do Exército Prussiano contra Napoleão. As reformas iniciais, especialmente orientadas aos comandantes das grandes unidades, traduziram-se na abolição doutrinária da conduta metódica na batalha, tornando-se mais importante a iniciativa e a independência intelectual. Contudo, continuava a impor-se a rigidez tática aos mais baixos escalões[59].

Moltke foi também o principal responsável pela introdução do Auftragstaktik no exército germânico. Considerava que as rápidas mudanças da situação na guerra contrariavam os planos detalhados e privilegiavam orientações baseadas em princípios e pontos de vista genéricos. A vantagem que as novas situações apresentavam só poderiam ser completamente exploradas se os comandantes subordinados não estivessem à espera de ordens[60]. As guerras Austro-Prussiana (1866) e a Franco-Prussiana (1871) testemunharam a necessidade de dispersão das forças devido ao aumento da letalidade das armas. Os comandantes das divisões, regimentos e batalhões não conseguiam observar nem controlar as suas forças em detalhe, em virtude da evolução técnica do armamento, que cada vez mais potenciava o combate em ordem dispersa. Os comandantes mais jovens eram obrigados a empregar as suas forças em situações que exigiam rapidez sem as ordens dos seus escalões superiores, ou seja, decidir em situações que eram normalmente da responsabilidade dos comandantes superiores. Frequentemente, os resultados eram desastrosos por não estarem treinados para essa tarefa. Consequentemente, o Exército Prussiano estudou o problema para procurar o obter soluções adequadas à necessidade de iniciativa e ação independente dos comandantes subalternos[61]. Em 1888, foi emitido um regulamento de técnicas e perícias para a infantaria, em que se expressava a necessidade de dar orientações genéricas sobre o que fazer, deixando liberdade de ação aos subordinados para escolher como fazer. Esta aproximação tinha como objetivo estimular a iniciativa para julgar cada situação de forma distinta. No início da I Guerra Mundial este conceito estava já enraizado no pensamento militar alemão, tendo-se desenvolvido ainda mais durante a guerra[62]. A necessidade de desenvolver a iniciativa estava em plena consonância com a perceção que os alemães tinham dos atributos da guerra apresentados por Clausewitz: fluidez, dimensão humana, desordem, fricção. O recrutamento de oficiais junto das classes médias prussianas, fortemente influenciadas pelas ideias liberais, veio facilitar o desenvolvimento desta abordagem. Um oficial britânico que serviu no estado-maior prussiano, notou que os seus camaradas alemães oriundos da classe média tinham um espírito muito mais aberto do que os oficiais oriundos de famílias nobres[63]. Porém, esta aproximação tinha também detratores, uma vez que era considerado um perigo para a disciplina militar, não tendo sido muito fácil a sua completa inclusão no pensamento militar alemão.

Seja como for, um dos conceitos mais importantes no sucesso da Blitzkrieg, o Aufrollen, dependia essencialmente do Auftragstaktik. Aufrollen, que literalmente significa “empurrar para a frente”, é o conceito que descreve a irradiação de forças a partir do eixo de penetração das defesas adversárias e que serve essencialmente para proteger a força principal dos contra-ataques. Conduzir esse movimento no interior e na retaguarda da defesa do adversário requeria unidades independentes e capazes de combater sem apoios da unidade mãe. Por isso, essas unidades tinham de ser comandadas por oficiais que aceitassem que os seus subordinados tivessem a iniciativa para aproveitar as oportunidades que lhes surgissem[64].

* *

Como se pretendeu evidenciar, o surgimento da Blitzkrieg (ou modelo alemão de fazer a guerra) deveu-se essencialmente à combinação de condições únicas: os efeitos de uma tradição militar prussiana que privilegiava a excelência tática, porque considerava que a guerra era essencialmente um assunto de militares; aos contactos com os militares russos como mecanismo de evitar que as potências aliadas acusassem a Alemanha de romper as obrigações impostas pelo Tratado de Versalhes; ao papel que alguns militares alemães desempenharam na insistência da necessidade de desenvolver o projeto de motorização do Exército Alemão para resolver uma guerra com o mínimo de recursos possível.

Destas condições, relevamos os contactos com os militares soviéticos que estavam alertados para as novas aproximações propostas por Tukhachevskii, uma vez que a similaridade entre a Blitzkrieg e “batalha em profundidade” nos leva a afirmar que eram as faces de uma mesma moeda: a tentativa de resolver os desafios que a I Guerra Mundial tinha revelado nos campos de batalha, especialmente a sobreposição do fogo à manobra no combate tático. A campanha da Polónia e, essencialmente, a da França testemunharam de um novo método de combate que parecia muito superior ao dos seus adversários e que permitiu que Hitler considerasse ter a chave para derrotar Estaline. Contudo, o sucesso na França, que é utilizado como o grande modelo para a Blitzkrieg, só foi possível pela audácia dos planos alemães e do elevado risco que se correu. Novas doutrinas e novos equipamentos não são suficientes para alterar significativamente as dinâmicas do campo de batalha. É necessário ter os comandantes certos nos momentos e locais certos.

Seja como for, a Blitzkrieg, que Hitler pretendia utilizar para demonstrar a supremacia militar alemã, foi uma das principais causas para o fim do Reich quando aprovou o plano para a Operação Barbarossa.

 

 

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[1] * Texto resultante da comunicação intitulada “Inovação Militar no período entre guerras e o início da II Guerra Mundial”, no âmbito do II Encontro Anual “A Europa no Mundo: A Europa entre Guerras (1919-1939)”, ocorrido em 3 e 4 de abril de 2014, na Faculdade de Ciên­cias Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa.

** Sócio Efetivo da Revista Militar.

 

 

 1 “Editor’s Introduction”, in Guderian, Heinz, Achtung Panzer! The Development of Tank Warfare, London: Cassel Military, 2007, p. 16.

[2]  Laub, Thomas J., After he Fall: German Policy in Occupied France, 1940-1944, NY: Oxford Press, 2001 , p. 25; Manstein, Lost Victories, pp. 127-47.

[3]  Cf. Krepinevich, Andrew F., The Military-Technical Revolution: a Preliminary Assessment, Washington DC: Center for Strategic and Budgetary Assessments, 2002, p. 5; p. 30; Idem, ‘Cavalry to Computer: The Pattern of Military Revolutions’, The National Interest (1994), p. 37; Fitzsimmonds, James R. and Jan M. Van Tol, ‘Revolutions in Military Affairs’, Joint Force Quarterly (Spring 1994), p. 24 e segs; Murray, Williamson, ‘Armoured Warfare: The British, French and German Experiences’, in Murray, Williamson and Allan R. Millett (eds.), Military Innovation in the Interwar Period, Cambridge: CUP 1996, pp. 6-49; Hundley, Richard O., Past Revolutions, Future Transformations: What Can the History of Revolutions in Military Affairs Tell Us About Transforming the US Military?, Santa Monica, CA: RAND, 1999, p. 11; Rogers, Clifford J. and Williamson Murray, ‘May 1940: Contingency and Fragility of the German RMA’, in Knox, MacGregor and Williamson Murray (eds.),The Dynamics of Military Revolution, 1300-2050, Cambridge: CUP, 2001, p. 155; Boot, Max, War Made New: Technology, Warfare, and the Course of History, 1500 to Today, New York: Gotham Books, 2006, p. 13.

[4]  Cf. Cooper, Jeffrey R., Another View of the military Revolution in Military Affairs, Carlisle Barracks, PA: U.S. Army War College, Strategic Studies Institute, 1994, pp. 13-14; Cf. Metz, Steven e James Kiewit, Strategy and the Revolution in Military Affairs: From Theory to Policy, Carlisle Barracks, PA: U.S. Army War College, Strategic Studies Institute, pp. 14-15.

[5]  Barkawi, Tarak, “From War to Security: Security Studies, the Wider Agenda, and the Fate of the Study of War”, Millennium – Journal of International Studies (March 2011), pp. 1-16.

[6]  Cf. Manstein, Lost Victories, pp. 103 e segs.

[7]  Cf. Alexander, Don W., “Repercussions of the Breda Variant”, French Historical Studies 8(3), pp. 459-88.

[8]  Ao contrário dos holandeses, que o previram e resistiram aos alemães (Mosier, John, The Blitzkrieg Mith. How Hitler and the Allies Misread the Strategic Realities of World War II, New York: Hapercollins Publisher, p. 117).

[9]  Apud Hobson, Rolf, “Blitzkrieg, the Revolution in Military Affairs and Defense Intellectuals”, Journal of Strategic Studies, 33 (4), p. 630. Hitler não contava alcançar tanto sucesso, uma vez que os objetivos eram claramente limitados. A diretiva de Hitler tinha como objetivo derrotar o máximo de forças aliadas e conquistar o máximo terreno na Holanda, Bélgica e norte da França para estabelecer uma base de operações de apoio ao ataque a efetuar por mar e ar contra a Grã-Bretanha (cf. Manstein, Erich von, Lost Victories, St. Paul, MN: Zenith Press, 2004, p. 97).

[10]  Geyer, “German Strategy…”, p. 554.

[11]  Hitler foi o líder supremo da Alemanha devido à sua dupla função como chanceler e líder do seu partido (os adversários do Partido Nazi foram eliminados), e como comandante supremo da Wehrmacht depois da reorganização do comando das forças armadas ocorrido em fevereiro de 1938, que estabeleceu o Comando Supremo da Wehrmacht (OKW) sob a sua direção direta (Craig, “The Political Leader as a Strategist”, pp. 481-509).

[12]  Cf. Addington, Larry H., The Blitzkrieg Era and the German General Staff, 1865-1941, N. J.: New Brunswick, 1971; Geyer, “German Strategy…”.

[13]  Geyer, “German Strategy…”.

[14]  Strachan, Hew, European Armies and the Conduct of War, London: Allen & Unwin, 1983, p. 163 e segs.

[15]  Lind, William S., Maneuver Warfare Handbook, Westview Special Studies in Military Affairs, Boulder, CO: Westview Press, 1985; Leonhard, Robert R., The Art of Maneuver: Maneuver-Warfare Theory and Airland Battle, Novato, CA: Presidio Press, 1991; Hooker, Richard D., Maneuver Warfare: An Anthology, Novato, CA: Presidio Press, 1993.

[16]  Neste contexto, aniquilar não é a destruição completa das forças adversárias, mas refere-se à ação necessária para impedir que funcione de forma coerente como força de combate. É o oposto à atrição, ou erosão, que implica a destruição física do adversário até que este não consiga combater.

[17]  Geyer, Michael, “German Strategy in the Age of Machine Warfare, 1914-45”. In Paret (Ed.), Makers of Modern Strategy: from Machiavelli to the Nuclear Age, Princeton University Press, 1986, pp. 527-97.

[18]  Craig, Gordon A., “The Political Leader as a Strategist”. In Paret (Ed.), Makers of Modern Strategy: from Machiavelli to the Nuclear Age, Princeton University Press, 1986, pp. 481-509.

[19]  Sobre a evolução do poder aéreo alemão e o desenvolvimento da blitzkrieg, consultar Corum, James, “Airpower Thought in Continental Europe between the Wars”. In Meilinger, Col. Phillip S. (Eds.), The Paths of Heaven: The Evolution of Airpower Theory, Maxwell Air Force Base: Air University Press, 1997, pp. 150-81.

[20]  Liddell Hart considera que Hans von Seeckt foi o militar alemão com mais influência na II Guerra Mundial, ao considerar que foi a sua herança que mais contribuiu para o desenvolvimento da Blitzkrieg (Hart, Liddell B., The German Generals Talk: Strarling revelations from Hitler’s high command, NY: Perennial, 2002, p. 10).

[21]  Geyer, “German Strategy…”, pp. 555-58.

[22]  Macksey, Kenneth, “Guderian”. In Barnet, Corelli (Ed.), Hitler’s Generals, London: Weidenfeld and Nicholson, 1989, p. 441.

[23]  Macksey, Kenneth, Guderian, The Creator of the Blitzkrieg, 1976, p. 42.

[24]  Hart, Liddel, The Current Of War, 2nd Impression, London: Hutchinson & CO. (Publishers) Ltd. (s.a.) (Neste livro, L. Hart publicou “The Next Great War” (Chapter I) e “New Model Army” (Chapter II), publicados pela primeira vez em 1922, que enfatizam a necessidade de adaptação aos desígnios de um novo campo de batalha dominado pelo movimento e poder de fogo concentrado em locais decisivos); Fuller, J. F. C., Tanks in the Great War, New York: E. P. Dutton and Company, 1920. Cf. Simpkin, Richard, Deep Battle: The Brainchild of Marshal Tukhachevskii, London: Brassey’s Defence Publishers, 1987; Gat, Azar, British Armour Theory and the Rise of the Panzer Arm: Revising the Revisionists, London: Macmillan, 2000.

[25]  Cf. Carr, Edward Hewlett, The Russian Revolution: From Lenin to Stalin, NY: The Free Press, 1979, p. 87; Cf. Carsten, F. L., The Reichswher and Politics, 1918 to 1933, Los Angeles, CA: University of California Press, 1974, p. 135-47.

[26]  Corum, James S., The Roots of Blitzkrieg: Hans von Seeckt and the German Military Reform, KS: University Press of Kansas, 1992, pp. 192-5.

[27]  Cf. Simpkin, Richard, Race to the Swift: Thoughts on Twenty-First Century Warfare, pp. 25-6.

[28]  “Editor’s Introduction”, in Guderian, Heinz, Achtung Panzer!, pp. 15-6.

[29]  Simpkin, Deep Battle, pp. 125-34.

[30]  Cf. Ibidem, pp. 33-9.

[31]  Guderian, Achtung Panzer, pp. 152-3; cf. Simpkin, Deep Battle, p. 38.

[32]  Simpkin, Deep Battle, pp. 98-9.

[33]  Stulpnagel pretendia um alinhamento entre os objetivos da guerra e a vontade do povo, pelo que era necessária uma mudança radical na política interna através da eliminação das restrições impostas pelo parlamento e da transformação da República num regime ultramilitarista. Isto era uma ideia muito diferente da ideia de autonomia das forças armadas conforme Seeckt pretendia. Para Stulpnagel tratava-se do tudo ou nada, era necessária uma vitória total sobre os inimigos, não havendo lugar a objetivos limitados (Diest, Wilhelm, “The road to ideological war: Germany 1918-1945”, in Murray, Williamson; Knox, MacGregor; Bernstein, Alvin (Eds.) (2005), The Making of Strategy, Cambridge University Press, p. 358).

[34]  Geyer, “German Strategy…”, pp. 555-8.

[35]  Bennett, Edward W., German Rearmament and the West, 1932-1933, Princeton, 1979, pp. 235-41; pp. 338-55.

[36]  Geyer, “German Strategy…”.

[37]  Guderian, General Heinz, Panzer Leader, 2ª Ed., New York: Da Capo Press, 2002, p. 24.

[38]  Macksey, Kenneth, “Guderian”, pp. 441-60.

[39]  Idem, Guderian: Creator of the Blitzkrieg, p. 46.

[40]  Guderian, Panzer Leader, pp. 29-30.

[41]  Macksey, “Guderian”, pp. 441-60.

[42]  Sobre este ponto, Zaloga, Steven, Spanish Civil War Tanks: The Proving Ground for Blitzkrieg, pp. 40-6. No final deste livro, o autor propõe uma extensa bibliografia sobre as experiências alemãs na Guerra Civl de Espanha.

[43]  Sobre este ponto cf. Miksche, F. O. ,Blitzkrieg, London: Faber and Faber Limited, 1941, pp. 35-42; Zaloga, Steven, Spanish Civil War Tanks: The Proving Ground for Blitzkrieg, 2010, pp. 40-6.

[44]  Hart, The German Generals Talk, p. 92.

[45]  Miksche, Blitzkrieg, pp. 41-2.

[46]  Guderian, Achtung Panzer, p. 24.

[47]  Ibidem, pp. 200-11.

[48]  Apud Miksche, Blitzkrieg, p. 23.

[49]  Manobra rápida e concentração de forças para a batalha decisiva.

[50]  Cf. Herwig, Holger H., “The Prussian Model and Military Planning Today”, Joint Forces Quarterly (Spring 1998), p. 69.

[51]  Hughes, Daniel J. (Ed), Moltke. On the Art of War: Selected Writings, NY: Ballantine Books, 1995, pp. 124-8.

[52]  Cf. Ibidem, p. 124; Cf. Echevarria, Antulio J., “Moltke and the German Military Tradition: His Theories and Legacies,” Parameters (Spring 1996), p. 92.

[53]  Hughes, Moltke..., pp. 125-6.

[54]  Hughes, Moltke..., pp. 68-9.

[55]  Ibiem, p. 124.

[56]  Cf. Clemente, Steven E., For King and Kaiser: The Making of the Prussian Army Officer, Westport, CT: Greenwood Press, 1992, p. 39; p. 176.

[57]  Clemente, For King and Kaiser, pp. 175-6.

[58]  Herwig, Holger H. “Strategic uncertainties of nation-state: Prussia-Germay, 1871-1918”. In Murray, Williamson; Knox, MacGregor; Bernstein, Alvin (Eds), The Making of Strategy: Rulers States and Wars, Cambridge University Press, 2005. p. 243.

[59]  Widder, Major General Werner, “Auftragstaktik and Innere Fuhrung: Trademarks of German Leadership”, Military Review (September-October 2002), pp. 3-4.

[60]  Hughes, Moltke..., pp. 382-4.

[61]  Sobre estes desafios, consultar Bernhardi, Frederick von, Cavalry in Future Wars, New York: E. P. Dutton and Company, 1906, p. xxviii; pp. 72-3; p. 115; p. 224; p. 236.

[62]  Nelsen II, John T., “Auftragstaktik: A Case for Decentralized Battle, Parameters (September 1987), pp. 22-3.

[63]  Clemente, For King and Kaiser, p. xiii; p. 215.

[64]  Cf. Miksche, Blitzkrieg, pp. 52-4; Cf. Lind, Maneuver Warfare, p. 78.

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Luís Fernando Machado Barroso

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