Em 2005, um ano que começou com uma tragédia humanitária em alguns países do Sudeste Asiático, da Oceânia e da costa africana do Índico, devido a causas do universo que a ciência continua a esforçar se por conhecer, continuaremos a assistir aos efeitos de quatro revoluções provocadas pelo ser humano no planeta que habita. As revoluções da “Globalização”, da “Informação/Comunicação”, da “Crise do Estado” e da natureza dos “Novos Conflitos” que têm proliferado no globo.
Os efeitos da globalização estão a pôr em causa modelos económicos e sociais que pareciam adquiridos, a escala que ordenava o conceito de riqueza e pobreza das nações, o que diferenciava os que têm dos que não têm, os estilos de vida e a própria geoestratégia do poder.
O telemóvel e a rede global de comunicação permite a cada um estar mais próximo dos outros, para o bem e para o mal, o que leva alguns a pensar em novas fronteiras entre o dever e o direito de informar.
O Estado continua a desempenhar o seu papel de herói na resistência a quem o discute, a quem o limita ou a quem o quer apagar como símbolo da soberania das nações.
Novos conflitos nas suas estruturas e naturezas pedem novos conceitos de segurança e neo realistas e neo idealistas procuram, em novos modelos para a aplicação da força militar ou na concepção de novas escolásticas, soluções impostas, mas não consentidas.
Na ausência de políticas e autoridades globais capazes de respostas reguladoras eficazes, como o evidenciam a actual crise das Nações Unidas ou as hesitações de cooperação na União Europeia, começam a proliferar conceitos de Grandes Estratégias definidos por quem tem poder - recursos, influência e vontade - para tentar sobreviver aos novos desafios.
Portugal está a lidar com estes desafios num ciclo complexo da sua História, já que tem de enfrentar aquelas revoluções sem ter tido tempo de adaptar se internamente à perda de um Império que durou cinco séculos, a um regime constitucional condicionado por uma lei fundamental escrita sob o primado dos direitos, a uma tremenda alteração da sua estrutura demográfica (entre 1975 e 1977 a população portuguesa cresceu 10%, fenómeno único na Europa moderna) cujas consequências estão agora a verificar se e à sua opção pela Europa.
Todos teremos de unir esforços e tomar consciência de que é necessário definir uma Grande Estratégia para continuarmos o caminho de Nação. O exemplo das indefinições que têm caracterizado o nosso colectivo recente traduz se na observação do Presidente da República de “que nos esperam trabalhos difíceis”.
O diagnóstico está feito. Precisam se terapêuticas. Com realismo, observando o que se passa, não esperamos grandes soluções. E as indefinições na continuação da Nação, por teimosia de alguns e a passividade de muitos, levam nos a esperar de 2005 o continuar do caminho de apenas palavras para um ponto que se advinha sem retorno.
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* Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção
Nasceu em Bragança em 8 de Outubro de 1935.
É General do Exército, na situação de Reforma desde o ano 2000, depois de ter servido nas Forças Armadas Portuguesas durante 49 anos.
Além de Tirocínios e Estágios na sua Arma de origem possui os Cursos da Escola do Exército (Artilharia), Curso Complementar de Estado-Maior e Curso Superior de Comando e Direcção (Instituto de Altos Estudos Militares), Curso de Comando e Estado-Maior (Brasil) e o Curso do Colégio de Defesa Nato (Roma).
Falecido em 17 de outubro de 2014.