João Cosme e José Varandas, professores e investigadores do Departamento de História da Universidade de Lisboa, já autores de uma extensa e notável bibliografia, apresentaram o volume V das Memórias Paroquiais de 1758. Edição fundamental para o conhecimento do Portugal de meados do século XVIII, por se tratar da transcrição, organizada e tratada criteriosamente, do inquérito que foi ordenado às paróquias portuguesas em 1758, cobrindo assim todo o território e localidades do nosso país.
Que inquiriam as Memórias Paroquiais? Sendo uma consequência do terramoto de 1755, cataclismo que deixou marcas por todo o país e cujos efeitos se pretendiam conhecer, aproveitou o “esclarecido” Marquês de Pombal para ir mais longe e ficar a conhecer o “Estado do Reino”.
O trabalho de organização das Memórias ficou a cargo do Padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, a quem coube ordenar os textos que os párocos do Reino enviaram à Secretaria de Estado, com as escrupulosas e circunstanciadas descrições que lhe foram solicitadas. Estas descrições acabaram por ser ordenadas e encadernadas em 44 volumes de fólio, que ficaram a constituir a resposta à maior inquirição feita até então, no nosso país.
No questionário que foi enviado às paróquias, encontramos um variado leque de interpelações, abrangendo temas geográficos, religiosos, históricos, económicos e administrativos da circunscrição paroquial. A resposta a 60 perguntas específicas permitiu radiografar o país de então e, embora as respostas elaboradas pelos milhares de párocos não tenham sido uniformes, dependendo do interesse, cultura e dedicação de cada um, tratou-se de um levantamento minucioso sobre as nossas comunidades paroquiais de há 257 anos atrás.
Recorda-se que os volumes I a IV das Memórias Paroquiais foram editados de 2009 a 2012 e, tal como este último, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. De que se ocupa então o volume V publicado em 2014?
Em primeiro lugar refere-se que se trata da compilação das comunicações enviadas pelas 91 paróquias, ordenadas por ordem alfabética, compreendidas entre Arões e Airó. Depois, inclui um quadro muito útil e que permite uma consulta imediata dos volumes já publicados, com as variáveis e categorias mais importantes de cada paróquia, transmitindo informação sobre a freguesia, o orago, o número de fogos, o termo, a comarca, a província, o bispado e a freguesia a que pertencia, assim como a respectiva arquivística.
O tratamento global, sistemático e alfabético das Memórias Paroquiais, vem proporcionar uma consulta fácil e eficaz, pelo que ninguém pode ficar indiferente à publicação dos primeiros 5 volumes, a que certamente se seguirão os restantes, que farão renascer o trabalho do Padre Luís Cardoso.
Criteriosamente apresentado, este volume V contém 412 páginas, está dotado de índices analíticos, onomásticos e geográficos, muito bem elaborados, o que constitui um valioso contributo para todos os investigadores do século XVIII português.
A Revista Militar agradece a oferta do volume V das MEMÓRIAS PAROQUIAIS (1758) e felicita os historiadores Doutores João Cosme e José Varandas, pela continuação do seu trabalho.
Major-General Manuel de Campos Almeida
Vogal da Direção da Revista Militar
Vogal Efetivo da Direção da Revista Militar.