Esta obra, da autoria do Comandante Jaime Correia do Inso e editada pela Comissão Cultural de Marinha, tem origem na coletânea de artigos, publicados pelo autor, entre 1937 e 1939, nos Anais do Clube Militar Naval.
Trata-se de um relato de acontecimentos históricos, ocorridos entre 1914-1918, contemporâneos do Comandante, muitos dos quais por ele vividos, na qualidade de combatente e expedicionário.
Fundamental para conhecer a participação da Marinha Portuguesa na Guerra, muitas vezes olvidada, tendo em conta a supremacia de meios e homens que foram remetidos pelo Exército, para a Flandres e territórios ultramarinos.
De facto, o esforço desenvolvido pela Marinha passou um pouco ao lado das grandes parangonas dos jornais, numa época conturbada com problemas políticos e sociais e que não permitiu aos poderes públicos cuidar convenientemente dos nossos meios de defesa marítima, para o que também concorre a própria natureza da atividade naval, o chamado “serviço silencioso”, prestado no mar, garantindo a segurança de outros, longe da vista do público.
Os acontecimentos aqui descritos, mostram-nos a nossa Marinha, dotada de meios humanos escassos, espalhada pelo Atlântico e pelo Índico, com navios não apetrechados com as tecnologias mais modernas da época e dotados de artilharia antiquada.
Para Jaime do Inso, durante a guerra, a nossa Marinha operou e participou nas seguintes missões de soberania:
– Nos mares da Europa, contribuindo para a defesa das costas do Continente e Ilhas Adjacentes (Capítulo II);
– No serviço de comboios e transporte de tropas para França e para os territórios ultramarinos (Capítulo III);
– Na guerra submarina (Capítulo IV);
– Na defesa de Cabo Verde (Capítulo V);
– Nas águas de Moçambique (Capítulo VI);
– Em terra, sobrelevando a atuação dos Batalhões de Marinha, enviados para Angola e Moçambique (Capítulo VII).
O Comandante também não esqueceu a ação heroica da Marinha Mercante, durante o conflito, transportando pessoas e os recursos necessários para o esforço de guerra. Para evocar e atestar tamanho esforço, basta dizer que as perdas da nossa Marinha Mercante, durante a guerra, foram de cerca de 32% da totalidade da tonelagem dos navios existentes antes da guerra e dos que foram apreendidos aos alemães. E para que não restem dúvidas, consta de páginas 156 a 158 a identificação das 93 embarcações mercantes portuguesas afundadas pelo inimigo, durante a Grande Guerra, entre navios a vapor (36) e navios a vela (57).
Dentre as informações e descrições, constantes desta obra, que reputamos importantes, destacamos:
– O serviço de patrulhas e dragagem de minas;
– A chegada a Lisboa, em fevereiro de 1918, dos três novos submarinos, construídos em Itália;
– A Base Naval francesa estabelecida em Leixões e o Centro de Aviação francês de Aveiro;
– O Centro de Aviação Marítima de Lisboa;
– Os ataques de submarinos alemães a Ponta Delgada e Funchal;
– A listagem dos navios estrangeiros, retidos nos portos nacionais, que foram requisitados;
– A relação dos navios que estiveram ao serviço do transporte de tropas;
– O inventário das embarcações nacionais requisitadas;
– Na guerra submarina, o afundamento do caça-minas Augusto de Castilho, durante a luta desigual com o moderno submarino alemão U-139.
Depois da guerra, Von Arnauld, comandante do U-139, ao ser entrevistado, descreveu assim o recontro:
“Ao largo dos Açores o U-139 travou o seu último combate e bem rijo foi. Avistámos um grande vapor escoltado por uma canhonheira portuguesa. Demos-lhe caça, mas o vapor era muito veloz. A canhonheira atacou-nos. Era uma antiquada e mísera coisa sem peças capazes de competirem com as nossas e tinha uma guarnição por metade da do nosso navio.
Os portugueses combatiam como diabos, atirando granadas umas atrás das outras, dumas peças de brincar, enquanto nós os varríamos de popa à proa. Catorze dos quarenta homens da guarnição jaziam mortos no convés e a maior parte dos restantes encontrava-se ferida antes que o barco se rendesse”.
A morte heroica do primeiro-tenente Carvalho de Araújo e de boa parte da guarnição do Augusto de Castilho permitiu salvar o navio S. Miguel, repleto de carga e passageiros que, desarmado, seguia da ilha da Madeira para Ponta Delgada.
Esta obra apresentada num volume de 167 páginas, publicada em 2016, pela Comissão Cultural de Marinha, integrada na evocação do centenário da entrada de Portugal na Grande Guerra, constitui um importante contributo para a história portuguesa daquele período, pelo que se recomenda a sua leitura.
A Revista Militar agradece a oferta deste livro e felicita a Comissão Cultural de Marinha por mais esta iniciativa.
Vogal Efetivo da Direção da Revista Militar.