Nº 2580 - Janeiro de 2017
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Relações da UE com a Índia: o passado e antevisão do futuro
Prof. Doutor
Eugénio Viassa Monteiro

Recebi do Senhor General José Luiz Pinto Ramalho o honroso convite para tomar parte no painel sobre a Índia e a China no contexto das relações da UE com a Ásia. Da exposição feita, dentro das restrições de tempo, com base no power-point que elaborei, foi-me pedido para produzir um texto para a Revista Militar. É uma oportunidade para completar algumas ideias que apenas foram incoadas, por falta de tempo. Aqui está o resultado.

 

Introdução

Quando se trata de estabelecer relações entre dois países ou grupos de países, a primeira coisa é saber porque um país é relevante para o outro; o que leva uns países a olharem para os outros como merecendo uma aproximação para uma aliança ou acordo?

Encontrei quatro motivos, para além dos que a ocasião e/ou necessidade ditar. São: a posição geoestratégica; o poderio militar; o económico; e o científico. Talvez todos os outros motivos possam estar assumidos por estes quatro.

– A relevância geoestratégica conta muito, ganhando importância à medida que países à volta se desenvolvem e a zona em questão vai alcançando entidade própria. Muitas vezes, há países que, pelo seu passado conflitivo, podem despertar receios à volta. Este aspeto merecerá referências posteriores;

– A relevância militar nas democracias vai em paralelo com o progresso económico; país mais rico é também o país que se apetrecha com armamentos mais eficazes; nas ditaduras assiste-se a que haja pessoas a morrerem de fome, enquanto não faltam meios para fabricar e/ou comprar mísseis semeando desasossego e pânico. É o caso da Coreia do Norte e outras ditaduras. Não lhe vou dar importância;

– A relevância económica é que comanda a vida dos países. Nas democracias modernas leva à satisfação das necessidades mais importantes, vindo a criar e fortalecer uma ampla classe média, muito interventiva que faz os dirigentes cumprirem as políticas anunciadas no processo eleitoral, não os deixando derivar para outras aventuras, nomeadamente militares;

– A relevância científica. Quando os governantes têm altura inteletual e visão ampla do futuro veem nas ciências um modo de afirmação do país, ganhando vantagens sobre os outros, com inovações introduzidas que aceleram o crescimento económico ou social.

 

Análise da relevância económica da Índia

Tenho de fazê-la nestes quatro períodos significativos:

a. Anterior à colonização, isto é, antes de 1500;

b. O período colonial, de 1500 a 1950;

c. Da Índia independente ao ano 1991: período do socialismo Indiano;

d. De 1991 aos dias de hoje: economia de livre iniciativa e o futuro.

 

a. e b. A relação da Europa com a Índia, foi iniciada pela mão de Portugal, a partir da chegada de Vasco da Gama, perto de 1500, e teve o condão de se aproximar e confirmar que a Índia era mesmo muito rica, com um comércio pujante. Depois, os dirigentes que se seguiram, com alianças e traições foram subjugando zonas até se apoderarem das fontes da sua riqueza; mais tarde, a presença inglesa hegemónica, unificou a Índia, mas destruiu-a totalmente, deixando as populações locais famintas enfraquecidas e à beira da morte.

Vários autores ingleses e norte-americanos dão dados da sua investigação histórico-económica, como os que sintetizo nos Quadros I, II e III:

1. Angus Maddison, fez algumas afirmações de muito peso:

Quadro I

a) “A Índia era o país (entenda-se: área geográfica) mais rico do mundo conhecido, até ao século 17”.

 

b) Produção de riqueza em % da riqueza mundial:

Ano    Índia  Toda a Europa

 1700    27 %        23 %

 1950     3 %           ?

 

Em 1700, a Índia produzia 27% da riqueza mundial, quando a Europa toda apenas produzia 23%. É natural que antes a Índia produzisse bem mais, para ser cobiçada por Portugal, que despachou Vasco da Gama a toda a pressa, para descobrir o caminho marítimo e instalar uma plataforma em Goa, para posteriores incursões no Continente Indiano e na Ásia.

A verdade é que, quando os ingleses saíram da Índia, esta nem 3% da riqueza mundial produzia, tal era o seu grau de destruição, de fome e de pobreza.

 

2. Outro autor, William Darlymple[1], diz o que se resume no Quadro II: Dados da evolução da Riqueza da Índia (RI) e do Reino Unido (RU) em % da Riqueza Mundial (RM).

Quadro II:

William Darlymple

 

% da RM          Índia            RU

1600             22,5 %          1,8 %

1870    fome, pobreza, privação  9,1 %

 

Em resumo, Darlymple afirma que a Índia produzia 22,5% da riqueza mundial em 1600, quando o RU produzia uns míseros 1,8%. E, em 1870, depois de a coroa britânica ter substituído a East India Company, a Índia estava totalmente saqueda e o RU já produzia 9,1% (com os produtos do saque e do que exportava à sua colónia destruída).

 

3. Outro autor norte-americano, Jeffrey Sachs[2], faz estas afirmações contundentes:

 

Na altura da Independência (1950) da Índia:

 

– A taxa de literacia na Índia era de 17 % (hoje, 74 %);

– A esperança de vida era de 32,5 anos (hoje, 67,5 anos).

 

“A melhor ilustração da irresponsabilidade imperial britânica foi a sua resposta às repetidas fomes e doenças epidémicas durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX”.

 

Uma afirmação destas sobre a fome e epidemias intrigou-me, parecendo que Sachs estaria numa onda de grande exagero. E descobri o seguinte, nas minhas investigações: que, no período referido, teriam morrido, pelas razões aludidas, entre 15 e 29 milhões de cidadãos indianos!

Mais ainda, e isto é que é incrível: só no ano 1943, quando era primeiro-ministro Winston Churchill, este recusou-se terminantemente a abrir os armazéns e distribuir alimentos aos moribundos famintos, apesar das insistências dos comissários ingleses em Calcuta para o fazer, deixando que morressem 4 milhões nesse ano!

Isto só pode ser de um assassino e talvez de um louco!

c.  Da Índia independente até ao ano 1991. A independencia árduamente conquistada tinha levado todos a sonhar com a rápida reconstrução, acabando com a fome e dando a todos condições de vida bem melhores. A pressa de o fazer levou os dirigentes a instaurarem um modelo económico de corte soviético, com um planeamento central e fortes controlos sobre o investimento e os meios de produção. Foi o reino das Raj Licences, autorizações para se investir em qualquer empreendimento de certa importância. O controlo levou a criar uma poderosa burocracia; na avidez de se querer fazer muito e depressa, e pelas limitações impostas pelo Raj, desenvolveu-se em grande a ‘indústria da corrupção’ que ainda hoje persiste, e é muito capilar, desde os níveis mais altos. Foram mais de 40 anos totalmente perdidos, anos de estagnação, no plano económico e também no do ensino e da oferta de meios de saúde para a sua crescente população. Anos desesperantes, tendo em conta a enorme iniciativa dos indianos que não podiam actuar por causa do ‘socialismo’. Os que puderam, sairam da Índia, bem como muitas pessoas que se formavam em Medicina, Engenharia e Management, nas melhores Escolas criadas após a Independência. Quem beneficiou destes enormes dispêndios na boa formação de engenheiros, médicos, gestores, etc., foram os EUA. Dizem que só de médicos nos EUA, 11% são indianos formados na Índia! Dizia Vivek Wadva, Professor da Universidade de Califórnia, indiano, que 44% das empresas nascidas na Silicon Valley eram de indianos da diáspora. Naturalmente, os que sairam são uma minoria e os outros permaneceram no seu posto de trabalho, apesar das condições muito pouco atraentes, quer de remuneração ou mesmo do ambiente de trabalho. Poderia ter havido uma reviravolta e adaptação de um outro modelo económico, ao ver que o socialista só trazia miséria e corrupção; no tempo de Indira Gandhi, ela achou que o socialismo tinha que ser mais verdadeiro e acabou por nacionalizar a Banca, asfixiando ainda mais a economia. Durante todo este período socialista, as taxas de crescimento eram de cerca de 3 a 3,5%, uma valor desprezivel para um país saqueado e destruído, com pessoas de grande iniciativa.

d.  Em 1991, após o assasinato de Rajiv Gandhi e a eleição de Narashima Rao, do partido do Congresso, este viu-se na iminência de um colapso financeiro, tendo recorrido a um empréstimo do FMI. De facto, foram as condições impostas pelo FMI, de abrir a economia à concorrência interna e externa, e os muito bons resultados que se seguiram, que levaram o então Ministro das Finanças, Manmohan Singh, a aprofundar as reformas, para pôr a economia a crescer a maior velocidade. Outros governos da oposição subiram ao poder, mas a economia seguiu o modelo de abertura e cada vez maior.

 

O modelo de livre iniciativa trouxe estas consequências:

– A economia cresceu de forma mais acelerada e sustentada, pelas reformas levadas a cabo;

– As taxas de crescimento mais do que duplicaram (>7%), sobre as do socialismo (de 1950 a 1991);

– De 2000 a 2015, a riqueza da Índia multiplicou-se por 5, passando de $476,000 milhões para $2.308,000 milhões;

– Hoje, Modi está a fazer mais reformas de fundo importantes e os resultados já se estão a notar…

O PNB per capita em PPP é de $6.200 (2015) e o PNB per capita é de $1660 (2015).

As taxas de crescimento anuais são da ordem dos 7,6% e irão aproximar-se e mesmo ultrapassar os 8%, durante um longo período, dado que a população é muto jovem e tem muitos anos de trabalho pela frente. Com 1250 milhões de habitantes, é o país que mais cresce e continuará a sê-lo.

Pela sua performance económica, os países vizinhos, e mesmo distantes, procuram hoje a amizade e também a protecção da Índia, coisa que não faziam antes.

 

Relevância Indiana em Ciências

A Índia é o país da Ciência, por excelência. Basta ver donde surgiram as Universidades e a enorme décalage no aparecimento da primeira Universidade na Índia e na UE; a primeira Universidade Portuguesa foi criada em Coimbra, em 1290; a primeira Universidade Europeia surgiu em Bolonha, no ano 1088. A primeira Universidade do Mundo? É a de Taxila, no Punjab, fundada no Século 6 AC e funcionou até ao Séc. 5 da nossa era!

A Universidade de Takshashila, ou Takshila, teve grandeza. Com a idade mínima de 16 anos para a frequentar, aí se ensinavam 68 matérias diferentes, chegando a ter 10000 estudantes, vindos da Babilónia, Grécia, Síria, China, para além dos da peninsula hindostânica.

Ensinavam-se matérias como os vedas, línguas, gramática, filosofia, medicina, cirurgia, tiro de arco, política, estratégia da guerra, astronomia, contabilidade, comércio, documentação, música, dança, representação, futurologia, ciências ocultas, cálculos matemáticos complexos, etc..

Dos Professores famosos destacam-se[3]: Kautilya, Panini, Jeevak, Vishnu Sharma, entre muitos outros. Assim, o conceito de uma Universidade abrangente nas matérias a tratar, de grande nível intelectual, destacando a inter-acção com outros pensadores e a integração das matérias, foi primeiro desenvolvido na Índia[4].

A outra Universidade antiquíssima da Índia situou-se no atual Estado de Bihar, a Universidade de Nalanda, com atividade durante 8 séculos, dos anos 500 a 1300 da nossa era, até ser destruída pelos invasores (infelizmente, estes foram muitos ao longo da história da Índia, mas talvez nenhum tão destrutivo como o Reino Unido).

A sua prolongada actividade granjeou muita fama. O seu campus tinha 1,7x0,85 kms de extensão, com 300 salas de aula, com bancos de pedra; dispunha de laboratórios e outras facilidades. Tinha uma torre de observação e pesquisa astronómica. E também uma ampla biblioteca designada de Dharma Gunj ou Montanha do Saber, disposta em três edifícios identificados como Ratna Sagar, Ratnodavi e Ratnayanjak.

O exame de admissão era muito exigente, entrando apenas 3 em cada 10 estudantes. Apesar disso, o viajante Chinês Hien Tsang escreveu no seu diário: havia em Nalanda 10 000 estudantes e 200 Professores.

Qualquer destas duas Universidades não teve uma sequência contínua até aos nossos dias. Mais recentemente, há cerca de 5 anos, ressurgiu a de Nalanda, no seu antigo local, tendo começado a funcionar a partir de 2014, num Campus de 190 ha, sendo o seu Chanceler o Prémio Nobel Amartya Sen.

Retomando as antigas tradições intelectuais, os Governantes pós-independência apostaram forte na Ciência, criando uma série de Estudos Superiores muito selectivos e de elevada qualidade. As super-faculdades criadas em 1960 (IIT, IIM, IISc, AIIMSc)[5] e o reatar da brilhante actividade intelectual ajudaram a Índia a dar passos importantes para ir vencendo as mais importantes carências mais básicas com que defrontava.

A difusão generalizada da Revolução verde criou abundância de cereais para alimentar a população, manter um stock de segurança e exportar o excedente. E também de legumes e outros vegetais necessários à dieta alimentar.

O mesmo se deu com a produção do leite, através da Operation Flood na qual a exemplar actuação da Cooperativa AMUL, pode ser replicada noutros Estados da Índia. Assim, definitivamente se ultrapassou o défice de alimentos e se enriqueceu a dieta alimentar.

Aa super-faculdades prepararam o terreno para que hoje haja na Índia todos os conhecimentos científicos aplicados nos diversos domínios: da Saúde, da Tecnologia de Informação e dos serviços facilitados pela TI; muito avanço na produção de fármacos e investigação de novas moléculas, etc..

Basta dizer que a Índia é a maior potência em TI, actualmente, produzindo mais de $123.000 milhões e exportando cerca de $98.000 milhões, em 2014/15.

Além disso, fixaram-se na Índia mais de 1100 Companhias Multinacionais, para fazerem o I&D em solo indiano.

Com o crescimento da população, a Índia tem de criar 12 a 15 milhões de postos de trabalho na Indústria e em Serviços, cada ano, para absorver os jovens em busca do seu primeiro trabalho e também para tirar da agricultura parte da população activa para que possa trabalhar com boa remuneração.

Daí que se tenha lançado um amplo Programa ‘Make in India’, para remover todos os obstáculos que vinham do tempo do socialismo e obrigavam os empreendedores a buscar outras localizações que não a Índia, para investir em Indústria.

Contudo, para se poder trabalhar bem, com uma remuneração que corresponda à produtividade, a Índia necessita de dar preparação, skills, a toda aquela população em busca de trabalho. Daí, o Programa skill India, que agitou todo o panorama de treino profissional, para as mais variadas ocupações. Só no ano 2015, receberam treino profissional 10,4 milhões de jovens!

A seguir ao skill India surgiu o start-up India, para que sugissem muitas ideias novas de negócios e empresas. Realmente, no último ano, a Índia esteve em 3º lugar no ranking mundial de criação de empresas de TI; e em 5º lugar na criação de todo o tipo de empresas, incluindo as de TI e tecnológicas.

Só para exemplificar, as maiores Companhias Multinacionais (CMN) de TI estão de pedra e cal na Índia, com mais de 1/3 dos seus trabalhadores intelectuais lá.

As seis maiores CMN estrangeiras têm a presidir, na Índia, uma Senhora local:

– A IBM, com 380.000 pessoas, tem mais de 150.000 na Índia e a ela preside a Vanitha Narayana;

– Accenture, com 373.000 pessoas, tem mais de 130.000 na Índia e era presidida por uma Senhora Indiana;

– Cap-Gemini, com 160.000, tem 80.000 na Índia, presididos pela Aruna Jayanthi, agora promovida.

Para além da I&D feitos pelas empresas, há também a feita nos laboratórios da CSIR, nomeadamente em domínios da agricultura e também na Exploração do Espaço, através do ISRO-Indian Space Research Organization. Esta:

– Faz satélites e põe-os em órbitas geoestacionárias. Atualmente, há 35 satélites indianos no espaço, para comunicação, navegação, exploração científica, meteorologia; lançou 40 satélites de 19 países;

– Em 21 de Junho de 2016, 20 satélites foram postos num único foguetão, cada um na sua órbita geoestacionária: eram satelites da Índia, EUA (13), Canadá, Alemanha e Indonésia. Vai lançar um foguetão com 68 satélites, em 2017;

– Também colocou uma sonda na órbita de Marte, a um custo de €54M, logo na 1ª tentativa.

Conhecimento e aproveitamento das riquezas do mar, através do NIO – National Institute of Oceanography. Criado em 1 de Janeiro de 1966, e instalado em Goa, em homenagem à marinharia portuguesa. Faz-se aí toda a investigação relacionada com os Oceanos.

200 Cientistas e 100 membros do staff técnico lá trabalham. As áreas de Oceanografia em que investigam, abrangem:

– Biologia;

– Química;

– Geologia/geofísica;

– Física, bem como engenharia dos oceanos e instrumentação marinha e arqueologia marinha.

Na investigação nuclear e aplicação para fins pacíficos, feita no Bhabha Atomic Research Centre (BARC), que é o primeiro centro de Investigação Nuclear da Índia, localizado em Trombay, Mumbai, Estado de Maharastra. É um centro pluri-disciplinar de investigação com uma infraestrutura ampla para pesquisas avançadas, cobrindo o vasto espectro das ciências nucleares, de engenharia e áreas afins.

O objetivo específico é tirar vantagens da aplicação pacífica de energia nuclear, em primeiro lugar na geração de energia: o centro de pesquisas domina todas as facetas da geração de energia, desde o projeto do reator, seu modelo computorizado e simulação, análise de riscos, desenvolvimento e teste dos materiais do combustível do novo reator, etc.. Também conduz investigação sobre o combustível irradiado e o seu processamento e conservação segura dos resíduos nucleares.

Outras áreas em foco são as aplicações de isótopos na indústria, medicina, etc..

 

Como a Índia e a UE se vêem mutuamente?

Vista da Índia: “UE? Existe? Para um indiano médio, há o Reino Unido, a Alemanha, a França… e cada um fala por si… não há discurso comum.

Dada a riqueza europeia, havia a convicção nos políticos indianos que poderia ser uma fonte de Investimentos, Tecnologia e Comércio…

O Comércio entre os dois podia ser muito melhor. O FTA-Free Trade Agreement tarda... Pode aumentar muito o comércio e jobs dos dois lados (há lobbies a emperrar)…

Para a maioria dos indianos, a UE é uma fortaleza rica, velha, ‘instalada’, a reboque dos EUA, sem liderança. E muitos pensam, com toda a razão: “Rica, à nossa custa, da nossa pobreza.”

Em geral, para quem conhece melhor a realidade, a UE é vista como um actor global, com boa presença na política internacional, talvez por inércia do passado, atribuindo-se mais importância do que tem hoje.

Os analistas indianos não acreditam que a UE possa funcionar como um ‘contrapeso’ ou ter um papel equilibrador face aos Estados Unidos (Subrahmanyam).

 

Vertente geopolítica

A zona do Índico está pujante e com importância crescente. Em população, tem mais de 3.000 milhões; em riqueza, com recuperação das profundas feridas coloniais, está a refazer a sua prosperidade roubada (pelo RU, França, Holanda, etc.).

Em Ciência, com Instituições a funcionar em pleno e muita procura do Ocidente (outsourcing). No contexto mundial, a Índia ainda não se sente reconhecida, e não tem um papel proporcionado à sua importância real, actual.

É facto que a Índia agiu no pós-independência com determinação, aprendendo dos seus fracassos, com trabalho inteligente e disciplinado a partir de 1991 e com muito sofrimento imposto pelos colonizadores.

Está hoje em posição de ter voz activa na solução de problemas que afectam o mundo, partilhando responsabilidades. Mas não se põe em bicos de pés. Há boa dose de sabedoria para evitar precipitações.

Diria que todos os países livres e democráticos estão com a Índia, em óptima colaboração: é a liberdade, a democracia, que os une:

– Todos os dias visitam-na PMs, Chefes de Estado, Ministros…

– Também Modi, o Primeiro Ministro da Índia, tem visitado os seus vizinhos e outros países com interesses comuns e desejo de cooperar para o benefício de todos;

– A UE, cedo ou tarde, terá de ter a Índia em muito mais conta, pelo seu crescente poder económico, pelo saber, pela população... como já o fizeram os Estados Unidos. Porque…

– Têm também interesses comuns. Há lentidão em transformá-los em políticas coordenadas. Há desencontro no modo de encarar o mundo; diferentes mindsets e diferentes agendas.

A Índia acredita que importa fortalecer as instituições multilaterais e os mecanismos de enfrentar os desafios globais (terrorismo, proliferação nuclear, tráfico de drogas, HIV, etc.). Mas há diferenças marcadas no modo de o fazer. Sobretudo dando aos países o seu valor e importância real, actual e não a que tinham no final da II Guerra Mundial.

Felizmente o mundo mudou e muito!

 

 


[1]  TIME, Aug. 13, 2007, William Dalrymple, in The last Mugal.

[2]  In The end of Poverty, Jeffrey Sachs, 2005, Penguin Books, pg. 174.

[3]  Kautilya, estadista dos séculos IV e III AC; foi Primeiro-Ministro de Chandragupta Maurya, fundador do Império Maurya (322-185 AC). Os seus pensamentos recolhem-se no Arthashastra (Cfr. Wikipédia). Panini, autor do tratado ou gramática de Sanskrit escrito, nos séc. VI e V AC. Este trabalho lançou os modelos do Sânscrito clássico. Em 4000 sutras resume a ciência da fonética e gramática (Cfr. Enciclopédia Britânica). Jeevak Kaumarbhritya (525-450 AC), contemporâneo de Buddha, foi o primeiro médico da história da Índia e do mundo (anterior a Hipócrates). Estudou na Universidade de Takshila, praticou medicina Ayurvédica e cirurgia, e tratou Buda e gente simples ou importante (Ritesh Kumar Gupta, Google). Vishnu Sharma, pensador indiano e autor do Panchantra, uma coleção de fábulas com finalidade pedagógica. Estima-se que o terá escrito no Séc III AC. Está muito traduzido e, na Pérsia, foi-o em 570 DC (cfr.YouSigma).

[4]  (Cfr. http://veda.wikidot.com/main:home).

[5]  IIT-Indian Institute of Technology; IIM- Indian Institute of Management; IISc- Indian Institute of Science; AIIMSc- All India Institute of Medical Sciences.

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2017-11-02
95-104
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Prof. Doutor

Eugénio Viassa Monteiro

É um dos fundadores e primeiro Diretor-geral da Associação de Estudos Superiores de Empresa (AESE), na qual desempenhou também variados cargos: Presidente do Conselho Pedagógico, Responsável da Área de Comportamento Humano nas Organizações; Responsável da Área de Empreendedorismo Social, etc..

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