Andaram por aqui os franceses...
A 3ª Invasão Francesa em Mortágua
A presença e passagem pela região de Mortágua do exército anglo-luso e do francês, os trajetos utilizados entre Santa Comba Dão e o Bussaco e depois a retirada em direção a Coimbra, a batalha do Bussaco e as suas baixas, os locais de aboletamento das tropas, as vidas humanas destroçadas, os bens imóveis e móveis afetados, são os grandes tópicos abordados por João de Almeida e Sousa.
Médico e investigador da história da região, o autor soube ainda introduzir uma faceta original, na sua pesquisa, dando a conhecer os aspetos inovadores da prática organizacional da emergência médica e pré-hospitalar da época, aplicada pelos franceses, para a recolha de feridos e respetiva triagem e tratamento.
Como escreveu Almeida e Sousa, esta publicação aborda, em termos temporais, os acontecimentos bélicos ocorridos na região de Mortágua, entre os dias 22 e 30 de setembro de 1810, e a sua envolvente física e humana.
Apresenta também uma descrição minuciosa da orgânica do exército francês comandado por Massena e das forças anglo-lusas presentes no conflito do Bussaco, a que acrescentou outros minuciosos quadros com as baixas sofridas por ambos os lados, durante o confronto.
Oportunidade ainda para fazer uma descrição das forças de Milícias de Tondela, onde estavam integrados os naturais de Mortágua, descrevendo nomes, postos, uniformes e orgânica.
Esta obra apresenta-se ordenada em seis capítulos, com as seguintes inquietações:
– No capítulo 1º, analisa a importância estratégica da região de Mortágua, barreira natural na passagem das montanhas das Beiras para as planuras do litoral;
– No capítulo 2º, descreve a movimentação das forças francesas até à Serra de Alcoba, como era designado o Bussaco daquele tempo;
– No capítulo 3º, menciona o desconhecimento que os franceses tinham do terreno, baseados em mapas pouco precisos e carenciados de guias conhecedores da região e de informações militares adequadas;
– No 4º capítulo, aborda a manobra de retirada do Exército francês, das escarpas do Bussaco, impossibilitado de seguir em frente, para atingir Coimbra, forçado a optar por trajetos menos óbvios, seguindo por Boialvo, para lá chegar;
– No 5º capítulo, o autor apresenta-nos uma interessante carta escrita por Massena, em Coimbra, em 4 de outubro de 1810, em que o general relata os acontecimentos do Bussaco e dos dias subsequentes. Endereçada ao príncipe de Wagran, general Berthier, chefe do Estado-Maior de Napoleão, missiva que não chegou ao seu destino, ou seja Paris, por ter sido detido o seu portador.
– No 6º capítulo, relata o sofrimento das populações, a violência, o terror e a destruição provocada pela passagem do exército francês, carente de logística e predador de bens e vidas das populações.
Este estudo está devidamente documentado e ilustrado com mapas, documentos e cartas. Apresenta ainda fotografias de locais e edifícios onde ocorreram os eventos relatados, em particular de moinhos, igrejas, pontes, caminhos e lugares. E também de objetos, pinturas, gravuras, desenhos e uniformes daquela época.
Em anexo, apresenta a bibliografia, algumas cartas e documentos, a relação nominativa dos naturais de Mortágua que terão participado nos combates, a descrição do fardamento das milícias de Tondela, os quadros orgânicos dos dois exércitos e as baixas sofridas pelos contendores, no confronto do Bussaco.
Havendo subestimado os nacionalismos europeus e em particular o dos povos ibéricos, as forças de Napoleão tentaram submeter Portugal, invadindo-o, mas aqui tiveram de defrontar as forças anglo-lusas, com os resultados conhecidos. Desaires que teve de enfrentar, antes do total fracasso da campanha da Rússia e da derrota de Waterloo.
Para Portugal, a passagem dos franceses constituiu um fim de ciclo histórico. Embora perdendo militarmente, as forças francesas contribuíram para a penetração de ideias novas, que acabaram por introduzir o Liberalismo em Portugal.
Fica pois esta obra, de carácter eminentemente regional, à disposição de estudiosos e investigadores. Momento para recordar o flagelo que foi a 3ª invasão francesa, duzentos e seis anos após a retirada de Portugal, de Massena e do seu Exército.
Apresentada, num volume de 126 páginas, com excelentes fotografias a cores, constitui um contributo importante para a história da 3ª invasão francesa e da região de Mortágua.
A Revista Militar agradece a oferta da obra “Andaram por aqui os franceses… A 3ª Invasão Francesa em Mortágua” e felicita o Dr. João de Almeida e Silva pelo seu trabalho.
Vogal Efetivo da Direção da Revista Militar.