Ouvindo apelos, comentários, diagnósticos e propostas com que a comunicação/informação (propaganda?) nos têm brindado recentemente, somos tentados a pensar naquele clássico conto que se intitulou “O homem que dormiu vinte anos”. Tudo parece surpreendernos, quando eram evidentes as tendências.
Sem querermos recuar tanto no tempo, fixemonos num documento, publicado em Dezembro de 1998, pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional, do Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território, intitulado “Portugal - uma visão estratégica para vencer o século XXI - Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social 20002006”. Era um documento bem elaborado, onde se definiam como pressupostos inalienáveis da evolução futura:
A Consolidação do Estado de Direito como promotor da cidadania;
A garantia de segurança dos cidadãos;
A dignificação da justiça por forma a assegurar a coesão da sociedade e de todos os seus sistemas económicos, sociais e culturais;
O aprofundamento das funções de regulação dos mercados visando a salvaguarda dos bens colectivos e dos princípios da equidade e da igualdade de oportunidades.
Não sabemos qual foi o destino do documento; constatamos que passaram cerca de seis anos sobre os propósitos da acção e que estamos em retrocesso quanto aos pressupostos da evolução futura. Para os Objectivos fixados, relendo o documento e comparando com a realidade, quase nada foi feito. Naturalmente que os portugueses que seguem com atenção e patriotismo o destino do seu País sentem que o tempo passado foi tempo perdido e que houve falta de acção, para não falarmos de desperdício de recursos e desmobilização de vontades. Não vale a pena evocarmos crises do passado, que superámos, com esforço e vergonhas. Gostaríamos de continuar uma Nação com credibilidade perante os outros, transmitindo confiança e orgulho na nossa condição de portugueses para quem tem o seu destino ligado a este pedaço de terra, onde sempre se cultivaram valores de honra e solidariedade.
Anunciamse novos sacrifícios para superar a crise, com mais alguns anos de espera. Vão sucederse debates e conferências, com intervenientes e assistentes que são os mesmos de há muitos anos, com provas dadas de que lhes falta visão estratégica para continuar Portugal.
Não nos atrevemos a pedir que seja estabelecido um Conceito Estratégico para Portugal, para ser cumprido com vontade, rigor e patriotismo. Atrevemonos a pedir que, no mínimo, e apesar das naturais divergências ideológicas, tenham visão estratégica para um futuro que será de todos nós, mantendo como pressupostos inalienáveis da evolução os mesmos que se fixavam no documento de 1998, que também reflectia as preocupações da Defesa Nacional.
___________
* Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção