Em 12 de Junho, em Singapura, teve lugar a Cimeira entre o Presidente dos EUA e o Chairman Kim (como passou a ser designado o líder norte-coreano), cuja importância teve, do lado dos analistas mais críticos, uma avaliação política estratégica marcada por uma interrogação quanto aos efetivos resultados obtidos e quanto e quem teria, efetivamente atingido os seus objetivos, assumindo-se para uns e para outros a figura do “copo meio vazio ou meio cheio”.
Contudo, importa seguir no tempo as diversas posições dos EUA, da Coreia do Norte e da China para avaliar de onde se partiu e onde se chegou com esta Cimeira. Temos presente que a Coreia do Norte foi justificando a necessidade dos ensaios nucleares e dos testes com os mísseis de cada vez maior alcance e a necessidade de poder atingir território americano, com quatro grandes premissas: a garantia da sobrevivência do regime e o fim das “ameaças” americanas, o reconhecimento como potência nuclear, o tratamento como uma potência normal, sem restrições no quadro internacional, e o levantamento das sanções económicas e políticas a que tem sido sujeita.
Assistimos ao avolumar das tensões entre a Coreia do Norte e os EUA, com um discurso belicista, simultaneamente à participação nos Jogos Olímpicos na Coreia do Sul e à deslocação de Kim Jong-Un a este país e à China. Paralelamente, a China sugeria, como forma de abrandar a tensão na península coreana, uma política de “dual track approach”, materializada pela suspensão dos testes nucleares por parte da Coreia do Norte e das manobras militares conjuntas entre a Coreia do Sul e os EUA.
Dos encontros na China, Kim percebeu um conjunto de aspetos muito importantes. O lado chinês não reconheceria nem aceitava o seu estatuto de potência nuclear, mas não queria uma situação de caos que favorecesse uma reunificação sob a égide da Coreia do Sul, trazendo as tropas americanas para a fronteira chinesa e o desanuviamento flexibilizaria as sanções impostas do seu lado. Paralelamente, uma melhoria de relações com a Coreia do Sul facilitaria os contactos no domínio económico e trocas comerciais com este país.
Da Cimeira de Singapura saiu a afirmação de um Acordo em quatro grandes questões: uma nova política de relacionamento entre os EUA e a Coreia do Norte, com garantias de segurança para o país e para o regime, uma nova política de segurança e estabilidade na península coreana, a desnuclearização da Península Coreana e o retorno aos EUA dos restos mortais de americanos mortos (5300 PoW/MIA). Paralelamente, o Presidente Trump informou a suspensão das manobras conjuntas com a Coreia do Sul e o Chairman Kim comprometeu-se a desmantelar também o local de testes de motores para mísseis.
Confrontado relativamente às garantias do processo de desnuclearização, o Presidente Trump referiu que disponha de três instrumentos que só se alterariam, à medida que aquele processo se fosse tornando irreversível e que deveria estar mecânica e tecnicamente concluído até ao final de 2020: as sanções económicas que manter-se-iam e seriam aliviadas de acordo com os progressos verificados, as manobras conjuntas, que poderiam vir a ser reiniciadas e a não redução da presença militar americana (28500 militares US) que hoje é uma realidade na Coreia do Sul.
No regresso aos seus países, o Presidente Trump pôs a tónica do seu discurso no facto de a Coreia do Norte não constituir mais uma ameaça aos EUA e na desnuclearização da península coreana e o Chairman Kim nas garantias de segurança americanas e no fim das manobras militares conjuntas entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Ambos referiram o novo ambiente de relações bilaterais, com Kim a ser convidado para visitar a Casa Branca e Trump a aceitar um convite para, no futuro, visitar a Coreia do Norte.
De tudo o que foi referido pode concluir-se que estão dados passos no sentido de uma nova relação e uma possível desnuclearização da península coreana, saudada internacionalmente pela Europa, mas especialmente pela China, pela Rússia e pelas Nações Unidas. Foi saudada pelo Japão também, embora talvez menos efusivamente por Shinzo Abe, que contava com a prevalência da ameaça norte coreana para continuar a transformação das forças armadas japonesas, incluindo eventualmente o acesso a tecnologias, em parceria americana, que contrabalançassem a capacidade nuclear de Pyongyang.
Interessante notar também é o facto de, na atualidade, nos EUA e também nos “media” internacionais, se começar a referir o Presidente Trump em moldes diferentes do que até agora era habitual, de imprevisível, de impreparado para a função, perigoso, inconstante e não confiável, para uma apreciação de “presidente peculiar e não convencional, adepto e confiante na diplomacia tradicional (?)”.
Nasceu em Sintra, em 21 de Abril de 1947, e entrou na Academia Militar em 6 de Outubro de 1964.
Em 17 de Dezembro de 2011, terminou o seu mandato de 3+2 anos como Chefe do Estado-Maior do Exército, passando à situação de Reserva.
Em 21 Abril de 2012 passou à situação de reforma.
Atualmente exerce as funções de Presidente da Direção da Revista Militar e de Presidente da Liga da Multissecular de Amizade Portugal-China.