Nº 2611/2612 - Agosto/Setembro de 2019
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Atrição e Desistência no Estágio de Seleção de Voo na Força Aérea Portuguesa / Attrition/withdrawal rate in the Flight Screening Stage at the Portuguese Air Force
Capitão PilAv
Ariel Simão Fernandes Morgado Abreu
Tenente-coronel
Cristina Fachada

1. Introdução*

Nos últimos anos tem-se assistido a uma conjuntura nacional, e também supranacional, pautada por importantes condicionantes económicas, financeiras, entre outras, refletidas, por exemplo, em determinações que apelam para o desenvolvimento de uma “[…] gestão rigorosa e criteriosa dos recursos humanos, [e um] rentabilizar [dos] crescentes custos da formação […] dos pilotos-aviadores” (Ministério da Defesa Nacional [MDN], 2015 p. 33).

Deduzida desta linha de pensamento, surge uma das três orientações estratégicas do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas:

Melhorar a capacidade para superar as dificuldades em pessoal e material, [cuja] consecução […] implica […] adoção de modelos que permitam uma maior rentabilização dos recursos existentes e captação de novos, de forma a superar as dificuldades em pessoal e material. (Estado-Maior General das Forças Armadas [EMGFA], 2018 p. 14)

Não sendo, naturalmente, a Força Aérea Portuguesa (FA) imune a esta realidade, o mesmo se passa com a Academia da Força Aérea (AFA). Assim, e complementarmente às condicionantes até aqui identificadas, constitui-se como limitação marcante a elevada taxa de atrição e, dentro desta, a também acentuada taxa de desistência dos candidatos à especialidade de Piloto Aviador (PILAV) na fase do Estágio de Seleção para o Voo (ESV) desenvolvido pela Esquadra 802 da AFA (Academia da Força Aérea [AFA], 2018). ESV entendido como um “[…] pré-requisito do processo de admissão dos candidatos ao curso PILAV, [com] caráter eliminatório, [que] inclui uma componente teórica e outra de voo, [constituída], no máximo, por 7 voos [na aeronave Chipmunk]” (Centro de Recrutamento da Força Aérea [CRFA], 2018).

O carácter nacional e supranacional das condicionantes acima referidas, também se aplica a esta matéria da atrição/desistência. Como elencado pelo relatório da NATO (North Atlantic Treaty Organisation, 2007, pp. 2A-5-2A-6), mais centrado numa fase inicial de treino/formação, mas que se torna fácil e legitimamente transponível para a desistência no ESV,

[…] uma desistência precoce é muito onerosa para a Organização. Primeiramente, porque o investimento realizado não tem retorno. Complementarmente, porque é muito provável que a desistência possa vir a ter efeitos indiretos e indesejados [na imagem] da Organização. Desistentes desapontados tenderão a disseminar as suas histórias, e neste processo a desmotivar terceiros de concorrer. Uma explicação frequentemente escutada acerca desta realidade é a de que os desistentes têm expectativas inflacionadas acerca da vida militar. Expetativas irrealistas estas provavelmente atribuíveis à tradicional ‘abordagem de divulgação/recrutamento’ […] que apenas comunica as características positivas […]. Contudo, quando questionados relativamente ao porquê da sua desistência, os desistentes tendem a referir-se a experiências mais concretas: saudades de casa, problemas com o instrutor, problemas em casa, a perspetiva de uma missão no estrangeiro, um salário desmotivante, […], etc.

De entre as várias estratégias discutidas e testadas em diferentes países da NATO, regista-se o recurso a instrutores mais séniores (com uma, pelo menos, razoável experiência de instrução), considerando que os mais novos são, por vezes “[…] mais propensos a assumir um comportamento macho, [enquanto] que os instrutores que quase poderiam ser pais dos recrutas, [pareceram] ter uma atitude muito diferente. Como resultado desta experiência, verificou-se um número de desistências muito menor” (NATO, 2007, pp. 2A-8).

Tendo ainda por foco a instrução, especificamente na ação do instrutor, tem-se o facto – identificado pela Inspeção Geral da Força Aérea como uma anomalia no Centro de Atividades Aéreas (CAA) –, de “nem todos os Pilotos Instrutores (PI) [possuírem] um Curso de Formação Pedagógica de Formadores [CFPF] e um Curso de Instrutor de Pilotagem adequado à aeronave específica utilizada na Esquadra 802” (Inspeção Geral da Força Aérea [IGFA], 2017).

Pelo referido, o tema desta investigação – Atrição e Desistência no Estágio de Seleção de Voo (ESV) – apresenta-se como um contributo significativo para o enriquecimento do conhecimento da FA relativo a esta matéria, que poderá tornar mais robusta a definição de políticas/procedimentos potencialmente mitigantes destas taxas.

Este estudo tem como objeto a atrição e a instrução no ESV, e está delimitado (Santos, & Lima, 2016), ao nível:

– Temporal, ao período de 2016-2018 (que detém uma realidade organizativa similar, mediante uma relativa constância dos instrutores, chefia, normas e regras de operação);

– Espacial, à Unidade Aérea (UA) responsável pela realização do ESV, especificamente o CAA da AFA;

– De conteúdo, à atrição e à instrução no ESV.

No seguimento do até aqui referido, este estudo tem como objetivo geral (OG), Analisar a relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV, e específicos (OE):

OE1: Analisar a formação dos PI nas Unidades Aéreas da FA.

OE2: Analisar a experiência vivida dos candidatos durante o ESV.

OE3: Avaliar a relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão) no ESV.

Um conjunto de objetivos que se repercutem na questão central (QC) de investigação, Será que existe relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV?

Em termos de estrutura, este trabalho está organizado em cinco capítulos. O presente, correspondendo à presente introdução. O segundo, referente ao enquadramento teórico e conceptual. O terceiro, focado na metodologia e método. O quarto, orientado para a apresentação dos dados e discussão dos resultados. O quinto, e último, assente nas conclusões, contributos para o conhecimento, limitações, estudos futuros e recomendações.

 

2. Enquadramento teórico e conceptual

Apresenta-se, abaixo, uma revisão da literatura à luz dos conceitos estruturantes.

 

2.1. Estado da arte e conceitos estruturantes

Neste subcapítulo elenca-se a revisão da literatura, os conceitos base e o modelo de análise.

2.1.1. Estágio de Seleção de Voo

A candidatura ao Curso de Mestrado em Aeronáutica Militar (CMAM), especialidade de PILAV, na AFA, desenvolve-se em várias etapas, eliminatórias: avaliação da condição física, avaliação de conhecimento em língua inglesa, avaliação psicológica, inspeções médicas, ESV e aptidão militar (CRFA, 2018a).

O ESV decorre na Esquadra 802, sita no CAA da AFA, e pretende dar uma oportunidade ao candidato “[…] para experimentar o voo, viver o espírito aeronáutico e assim poder adquirir uma melhor consciência da sua opção […]” (CRFA, 2018b), e também avaliar as suas potencialidades face a diversas características aeronáuticas (NEP/PCE 1.36, 2016).

Para tal (CRFA, 2018b):

O ESV [congrega duas fases]. Na fase teórica, normalmente com a duração de [3] dias, os candidatos terão aulas sobre o Chipmunk, que vão voar a seguir, e sobre os procedimentos de voo e de segurança. Antes de iniciarem os voos, terão de efetuar e passar um teste escrito sobre as matérias lecionadas. A fase de voo tem no máximo 7 voos, sempre que possível com mais do que um instrutor. Os voos têm uma configuração elementar e adequada à inexperiência dos candidatos e ao objetivo estabelecido para o ESV. Os candidatos são avaliados em voo e no solo, sobre a habilidade e a atitude, a capacidade para gerir emoções e para atingir os níveis de proficiência determinados. O último voo é um voo de verificação (exame).

A instrução, propriamente dita, realiza-se por PI colocados na AFA e PI adidos ao CAA (i.e., colocados em outros órgãos da FA ou fora do ramo), todos eles qualificados na aeronave De-Havilland Chipmunk MK-20 para todas as Modalidades de Voo (Lopes, 2017).

2.1.2. Taxa de atrição no ESV

A atrição (inaptidões+desistências) no ESV está prevista, tem uma natureza variada e pode ocorrer em qualquer momento (antes da componente teórica ou no decorrer das componentes teórica e prática) (Centro de Psicologia da Força Aérea, [CPSIFA] 2016).

De uma forma simplificada, a inaptidão e a desistência diferem no tipo de elemento primariamente responsável por “quebrar o laço”, respetivamente, a Instituição (que diz que o candidato não tem condições para continuar) versus o próprio candidato (que opta por desvincular-se do concurso).

Neste enquadramento, a inaptidão é causada por falta de rendimento e/ou aproveitamento dos candidatos na instrução de voo (RDINST 140-8 (C), 2008) refletindo-se, p.ex.: em dificuldades na assimilação de conhecimentos específicos do âmbito aeronáutico e, consequentemente, na sua aplicação no voo; na gestão de múltiplas tarefas em simultâneo; numa excessiva apatia e lentidão na execução de procedimentos em voo (CPSIFA, 2016). Além das eliminações previstas por falta de rendimento em voo (inaptidão em voo) e por falta de aproveitamento nas disciplinas teóricas (mediante critérios concretos e devidamente documentados), o candidato pode também ser proposto para eliminação por motivos de saúde, disciplinares ou “evidente falta de espírito de missão e de ética militar, por desinteresse pelo curso ou por qualquer outro comportamento que, sem margem para dúvidas, o qualifique como menos idóneo para servir na [FA]” (PDINST 144-26 (B), 2013). A eliminação de cada candidato originada pela avaliação em voo, é sempre efetuada em reunião de PI, com presença daqueles que ministraram instrução e do Chefe do CAA (MAFA 144-1, 2011).

Relativamente à desistência, esta tem-se associado, entre outros fatores, ao que o candidato perceciona como uma elevada exigência do ESV e situações limite que tende a criar, seja pelo volume de trabalho, seja pela extrema complexidade da adaptação aos meios aéreo e militar (CPSIFA, 2018).

2.1.3. Experiência

Neste trabalho, “experiência” assume um duplo significado, designadamente, experiência vivida pelo candidato no ESV (a sua narrativa do ESV) e experiência do PI, em concreto, o estar habilitado, ou não, com um curso de Instrutores.

2.1.4. Formação como PI

Em sentido lato, a formação como PI pode ter duas origens:

– Aproveitamento num curso de formação para PI. Para obter esta qualificação, são exigidos os Cursos de Instrutor das Fases Básica e Avançada de Aviões – destinados a habilitar os pilotos com competências para ministrar instrução nos cursos de pilotagem e formação –, para além do CFPF, “condição sina qua non para a frequência do Curso de Instrutor de Pilotagem” (RDINST 140-8(C), 2008), e desejável para a “qualificação de PI nas esquedras operacionais (RFA 500-2), a fim de dotar o Instrutor com técnicas de pedagogia e didática (E. Lopes, entrevista presencial, 30 de novembro de 2018).

– Obtenção de uma qualificação como PI. Nas UA “operacionais” – cuja missão principal (core business) não é a instrução no seu sentido elementar/básico –, a formação de PI constitui uma qualificação entre outras mais. Nestes casos, a qualificação de Instrutor advém da experiência operacional, horas de voo e/ou requisitos afins previstos nos manuais das aeronaves.

 

2.2. Modelo de análise

Na tabela 1 apresenta-se o mapa conceptual que norteia esta investigação.

 

Tabela 1 – Mapa conceptual.

Objetivo geral

Questão central

Objetivos específicos

Questões derivadas

Conceitos

Dimensões

Indicadores

Instrumento

OG:

Analisar a relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV

QC:

Será que existe relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV?

OE1:

Analisar a formação dos PI nas Unidades Aéreas da FA

QD1:

Como é realizada a formação dos PI nas Unidades Aéreas da FA?

Formação/ Experiência

Formação formal/ Curso de Instrutor

Esquadras de instrução

Análise documental e entrevistas semiestruturadas

Formação informal/ Experiência operacional

Esquadras operacionais

OE2:

Analisar a experiência vivida dos candidatos durante o ESV

QD2:

Como é que os candidatos percecionam a sua experiência vivida no ESV?

Experiência vivida

Narrativa (do candidato) do ESV

Perceção

Análise documental, entrevistas semiestruturadas e questionário

ESV

Atrição

Apto/ Inapto/ Desistente

OE3:

Avaliar a relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão) no ESV

QD3:

Será que existe relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão) no ESV?

Formação/ Experiência

Formação formal/ Curso de Instrutor

Esquadras de instrução

Análise documental

ESV

Atrição

Apto/ Inapto/

Desistente

 

3. Metodologia e método

Neste capítulo serão descritos a metodologia e o método que orientam esta investigação.

 

3.1. Metodologia

O percurso metodológico desta investigação desenvolve-se em três fases (Santos & Lima, 2016), nomeadamente:

– Exploratória, mediante análise documental, realização de entrevistas exploratórias semiestruturadas, enquadramento conceptual do objeto de estudo e formulação do mapa conceptual;

– Analítica, norteada para a recolha e análise de dados, e resposta às perguntas definidas;

– Conclusiva, e uma vez avaliados e discutidos os resultados, orientada para o elencar de contributos para o conhecimento, limitações, sugestões para investigações futuras e recomendações.

Esta investigação pauta-se por um raciocínio de tipo indutivo, assente numa estratégia quantitativa com reforço qualitativo e num desenho de estudo de caso.

 

3.2. Método

Apresentam-se aqui os participantes, o procedimento, o instrumento de recolha de dados e as técnicas de tratamento dos dados.

3.2.1. Participantes e procedimento

• Participantes[1]. Integraram este estudo 47 cadetes-alunos do CMAM, especialidade PILAV, da AFA, correspondendo a 94% do universo (N=50) e distribuídos pelos: 1.ºano (n=16), 2.ºano (n=14), 3.ºano (n=12) e 4.ºano (n=8). No seu ESV, todos realizaram 7 missões de instrução. Integraram, ainda, 6 PI (passados e presentes) da Esquadra 802, com os postos de Capitão a Major-general.

• Procedimento. Para evitar um eventual efeito de contágio, o questionário foi intencionalmente aplicado a todos os participantes no mesmo dia/hora (22 de novembro de 2018), numa forma eletrónica, e respondido em anfiteatro com recurso a computador portátil. No momento imediatamente anterior ao início da aplicação, os participantes foram enquadrados: do objetivo do estudo, da inexistência de respostas certas/erradas, da duração média do preenchimento do questionário e do acautelamento das questões do anonimato e confidencialidade das respostas. Foi-lhes, ainda, solicitada autorização para efetuar levantamento/análise dos dados para fins estatísticos. Relativamente às entrevistas, foi igualmente garantido o anonimato e confidencialidade das respostas, de que os entrevistados abdicaram.

3.2.2. Instrumento de recolha de dados

Foram construídos dois questionários constituídos por duas partes: a primeira, referente à experiência vivida do ESV pelos agora cadetes-alunos; a segunda, concernente à experiência que estes cadetes-alunos tiveram com os candidatos desistentes, em eventuais trocas de informação numa conversa. Foi, ainda, realizada uma entrevista semiestruturada aos PI, constituída por três partes: experiência pessoal do PI; perceção das implicações (vantagens/desvantagens de um curso de instrutores); perceção das razões de desistência dos candidatos.

3.2.3. Técnicas de tratamento dos dados

O tratamento qualitativo dos dados foi efetuado com recurso ao programa Excel. A análise qualitativa do conteúdo das respostas das entrevistas semiestruturadas, foi realizada em conformidade com Fachada (2015), mediante identificação de categorias emergentes (associadas a modelo aberto e definidas no decorrer da análise) e de categorias a priori (alicerçadas num modelo fechado e pré-definidas à luz de referencial teórico).

 

4. Análise dos dados e discussão dos resultados

Neste capítulo são estudadas e respondidas as QD e a QC.

 

4.1. Formação dos Pilotos Instrutores nas Unidades Aéreas da FA

Analisam-se aqui sumariamente a formação dos PI de todas as esquadras de voo da FA, desde as primárias, e unicamente ligadas à instrução, às operacionais (que também ministram instrução e/ou aquelas em que a formação é uma qualificação entre muitas outras).

4.1.1. Esquadras de voo primárias, e unicamente ligadas à instrução

• Esquadra 802, sita na AFA, tem por missão efetuar os ESV aos candidatos à AFA “[…] e ministrar a instrução elementar em Chipmunk MK-20 e planador (ASK-21) aos [seus] alunos [PILAV]” (Estado-Maior da Força Aérea [EMFA], 2018a).

Nesta Esquadra não existe um curso de PI devidamente tipificado e estruturado, mas apenas uma qualificação prática de voar a aeronave no lugar da frente e, posteriormente, no lugar de trás, num total de cerca de 23 horas de voo (HV) (MAFA 140-9, 2010).

Esta inexistência não operacionaliza o predito no RDINST 140-8 (C), que preconiza a realização de um curso de Instrutor de Fase Elementar em Aviões.

• Esquadra 101, sita na Base Aérea N.º 1 (BA1), em Sintra. A formação de PI reporta-se ao Curso de Instrutor da Fase Básica em Aviões (CIFBA), que “[…] tem como objetivo conferir aos Pilotos em Adaptação [PA], os conhecimentos e a experiência de voo, que os capacitem a ministrar as Fases Elementar e Básica em Aviões […]” (PDINST 144-54(C), 2017, pp. 1-1).

Esta formação pressupõe que o PA esteja previamente qualificado na aeronave (Epsilon TB-30), através da realização do programa de qualificação da aeronave (MCA 507-2, 2014). A obtenção dessa qualificação está dependente da conclusão, com sucesso, do Programa de Qualificação na Aeronave (PQA), após o qual o piloto ficará pronto para voo (PV) e para frequentar o CIFBA.

Entre outros requisitos, exige-se que o PA ministre instrução a um aluno fictício (personagem habitualmente assumida por um PI da Secção de Uniformização e Avaliação (SUA), que, adotando a postura típica de um AP, simula vários comportamentos tipificados e geradores de inesperados e complexos desafios) (PDINST 144-54(C), 2017).

4.1.2. Esquadras de voo operacionais, mas que também ministram instrução

• Esquadras 201/301, sitas na BA5, a qualificação de PI tem 2 vertentes (MCA 503-2, 2014; R. Silva, entrevista por email, em 1 de janeiro de 2018):

– TACIP (Tactical Instructor Pilot), relativo ao Piloto Operacional (PO) que tem competência para ministrar instrução tática em voo a cursos de PO, de Piloto Comandante de Parelha, de Esquadrilha e de Esquadra, bem como em algumas missões táticas do curso de PI. Atualmente, a qualificação em TACIP, inexistente em Portugal, decorre da conclusão do Fighter Weapons Instructor Training (FWIT) e consiste em aproximadamente 40 missões, com a duração média de 01h10. Para ser proposto para a frequência do FWIT, o piloto deve reunir um conjunto de requisitos previamente identificados.

– IP (Instructor Pilot), relativo ao PO que pode ministrar instrução na Qualificação Inicial (Initial Qualfication Training, IQT) a PA a partir do backseat de um F-16 bilugar. Este curso (IPUG, Instructor Pilot Upgrade Training) realiza-se em Portugal, e engloba voos de instrução básica e tática, num total de 12 missões, com cerca de 01h30 cada.

• Esquadra 552, sita na BA11, que, na sua missão, contempla as vertentes operacional, mas também de instrução básica e complementar (EMFA, 2018b). A progressão de um piloto até PI desenvolve-se pelas suas qualificações: operacional na aeronave (podendo operar em missões operacionais); no lugar do meio; comandante de parelha; e piloto supervisor. Para poder ser proposto para PI, o piloto tem ainda que possuir um mínimo de 500HV como PO em helicópteros, e ser proposto para o curso de Piloto Instrutor de Helicópteros (promulgado pela DINST), com o aval do Comandante de Esquadra (CE) (PDINST 144-56, 2011).

O curso prevê a realização de 29 missões de proficiência e 22 de instrução, tipificadas no Syllabus assente no PDINST 144-56, num total de 77 HV e englobando operação com guincho, carga suspensa e voo de montanha.

4.1.3. Esquadras de voo operacionais, em que a formação é uma qualificação entre muitas outras.

• Esquadra 501, sita na BA6 no Montijo. A qualificação de PI do SA Lockheed C-130 Hercules contém uma componente teórica de 22:30 horas, previstas no Programa Teórico de Instrução de Voo, e uma prática de 19:30HV. Preconiza como nomeáveis para esta função, os Pilotos Comandantes (PC) que reúnam o requisito de 1500HV, demonstrem qualidades pessoais e profissionais condizentes com a função de PI, sejam recomendados pela SUA e obtenham aprovação do CE (MCA 501-2, 2018).

• Esquadra 502, sita na BA6, Montijo. A qualificação de PI no SA EADS C295-M advém do Curso de Qualificação de Piloto Instrutor na Aeronave e prevê um momento formativo (upgrade para PI), onde é abordada a teoria de instrução e uma componente prática (de 3 voos de formação, avaliação e qualificação na função de PI com a duração de 05:00HV). Como nomeáveis para esta função são referidos os PC que possuam 500HV, sejam recomendados pela SUA e obtenham aprovação do CE (MCA 502-2, 2017).

• Esquadra 504, sita na BA6 e no AT1 (Figo Maduro). A qualificação de PI no SA Marcel-Dassault Falcon 50 obedece a requisitos, como sejam, a frequência, com sucesso, do CFPF, ou equivalente, e consiste num curso de 3 voos de 13:30HV totais, que pretende transmitir técnicas de instrução e onde é simulada uma situação de instrução, propriamente dita (MCA 504-2, 2015). A fim de garantir “[…] a capacidade para transmitir técnicas de instrução nas mais diversas pistas (pequenas, grandes, com e sem ajudas rádio, aeródromos controlados e não controlados)”, o primeiro voo consiste numa missão de pistas curtas, o segundo num voo à Madeira e o terceiro aos Açores (J. Valente, entrevista por email, em 5 de dezembro de 2018).

• Esquadra 601, sita na BA11, Beja. No SA Lockheed P-3C CUP+ Orion, a qualificação de PI decorre do desempenho de funções, podendo ser nomeados para ministrar esta dita qualificação, os PC que, possuindo capacidade profissional comprovada e qualidades pessoais para o desempenho de funções de formação, sejam propostos pela SUA e obtenham a aprovação do CE (MCA 506-2, 2016).

A atividade teórica corresponde à revisão do Curso de Instrução Teórica na Aeronave e do Flight Manual em regime de Self Study.

Apesar do PI ser “[…] um desempenho de funções, pelo facto de ir realizar e supervisionar manobras pouco habituais, o próprio também realiza voos de treino de proficiência específico, num total de 16 horas de tempo efetivo aos comandos” (MCA 506-2, 2016, pp. 3-6).

• Esquadra 751, sita na BA6. A qualificação de PI no SA Agusta-Westland EH-101 Merlin, abrange dois tipos de qualificação em Instrutor – Instrutor Search and Rescue e Sistema de Fiscalização e Controlo das Atividades da Pesca (SAR/SIFICAP) e/ou Instrutor Tático –, com requisitos transversais para ambas as qualificações: 1200HV Totais, 800HV em EH-101 e 300HV como PC (em SAR/SIFICAP e/ou Tático) (MCA, 505-2(A), 2018). Estão ainda previstas as componentes teórica e prática, tipificadas em 08:30HV onde são abordados os sistemas da aeronave e a vertente operacional, e o Programa de Qualificação de Instrutor é recomendado pela SUA e detém a aprovação do CE (MCA, 505-2(A), 2018).

4.1.1. Síntese conclusiva e resposta à QD1

Pelo acima analisado, e em resposta à QD1 – Como é realizada a formação dos PI nas Unidades Aéreas da FA?, conclui-se que, de entre todas as esquadras de voo da FA, a única onde não está tipificada/operacionalizada a existência de um curso de formação de PI é justamente a Esquadra 802, cuja missão é, precisa e exclusivamente, a de: desenvolver o ESV a candidatos à especialidade de PILAV do Curso de Mestrado em Aeronáutica Militar; ministrar instrução elementar aos alunos PILAV da AFA. Por outras palavras, tem-se que a outra esquadra da FA, que tem igualmente por única missão a instrução (Esquadra 101), pressupõe que o PA, para além de qualificado na aeronave, esteja habilitado com um curso de instrução e proficiência para PI, sendo avaliado, entre outros parâmetros, em simulações de instrução em voo a alunos fictícios (personificados por PI da SUA).

Tem-se, ainda, que as esquadras de voo operacionais, mas que também ministram instrução (Esquadras 201/301 e 552), advogam o cumprimento rigoroso de critérios, que passam pela detenção de um conjunto de condições ab initio e/ou pela frequência de formação específica de instrução (quadro 1).

 

Quadro 1 – Resumo dos requisitos para PI nas Esquadras 201/301 e 552.

Tem-se, por último, que as esquadras de voo operacionais, em que a formação é uma qualificação entre muitas outras (Esquadras 501, 502, 504, 601 e 751), pressupõem, ainda assim, o preenchimento de alguns requisitos (quadro 2).

 

Quadro 2 – Requisitos para PI nas Esquadras 501, 502, 504, 601 e 751.

4.2. Perceção dos candidatos relativamente à sua experiência vivida no ESV

4.2.1. (Auto)avaliação da experiência (individual) vivida no ESV

Do total dos 47 participantes, 93,6% (n=44) referiram ter vivido/encontrado no ESV uma realidade diferente daquela que era a sua expectativa inicial, indicando como as maiores discrepâncias entre o expectável e o vivido: o PI (48,9%;n=23); e a carga teórica (29,8%;n=14). Em alguns casos, e em resposta à questão aberta (categorias emergentes) a postura dentro e fora do avião (36,2%;n=17) e o grau de exigência imposto (21,3%;n=10) foram de tal forma impactantes que “a paixão pela profissão se tornou numa vontade de desistir.”

Da análise do quadro 3, observa-se que a generalidade dos momentos no ESV (categorias a priori) foi percebida como positiva ou muito positivamente impactante, com particular destaque (acima de 70%) para: levantamento dos equipamentos de voo (91,5%;n=43), chegada à AFA (78,7%;n=37), prova de olhos vedados e primeiro voo (ambos:72,4%;n=34); e contacto com cadetes de outros anos (70,2%;n=33).

 

Quadro 3 – Momentos experienciados como impactantes (de forma positiva e negativa) no ESV.

Também da análise do quadro 3, observa-se um sentimento de indiferença (ausência de impacto negativo e positivo) em matéria de afastamento de casa/família/meio (53,2%;n=25) e algum sentimento de divisão relativamente ao regime de internato, percecionado como indiferente por 38,3% (n=18) e negativo por 31,9% (n=15) dos respondentes.

Relativamente a categorias emergentes, foram identificados como fatores muito negativamente impactantes e que, nas palavras de um dos participantes, quase “abriram as portas” à sua desistência ainda numa fase precoce: a falta de pedagogia dos PI (38,4%;n=5) e o enquadramento dos cadetes mais antigos (23%;n=3).

A importância do PI, ao nível do perfil/personalidade são igualmente aspetos enfatizados por P. Mateus (entrevista presencial, em 12 de novembro de 2018) e por R. Romão (entrevista presencial, em 26 de outubro de 2018). Acresce a mais-valia de deter um curso de PI e de sensibilizar para a pedagogia da instrução de voo, regras e procedimentos (E. Lopes, entrevista por email, em 29 de novembro de 2018; P. Mateus, op. cit.; N. Pereira, entrevista presencial, 12 de novembro de 2018; F. Peres, entrevista presencial, em 4 de dezembro de 2018; R. Romão, op. cit.).

Da análise do quadro 4, observa-se que a grande maioria dos candidatos já detinha algum conhecimento de que iria efetivamente voar (93,6%;n=44) e em que aeronave (70,2%;n=33).

 

Quadro 4 – Conhecimento prévio ao ingresso em ESV (tipo de aeronave e realização de voos).

Da análise de conteúdo das categorias emergentes, os fatores que, no ESV, mais contribuíram para uma apreciação positiva, foram: experiência de voar (68,1%;n=32); autonomia no controlo da aeronave (23,4%;n=11); e dinâmica das manobras acrobáticas (19,1%;n=9). Pelo oposto, os fatores que mais contribuíram para uma apreciação negativa do voo no ESV, foram: perceção do PI não deter uma “postura didática” (38,3%;n=18), frustração pela incapacidade de não conseguir executar as tarefas corretamente (25,5%;n=12); e reações fisiológicas adversas, nomeadamente enjoo (10,6%;n=6).

Da análise do quadro 5, observa-se que os fatores mais impactantes na apreciação do voo durante o ESV foram, pela:

– Positiva, a sensação de altura (85,1%;n=40);

– Negativa, a temperatura no cockpit (51,1%;n=24). De notar que o ESV realiza-se na época mais quente do ano, sendo o calor (temperatura medida no interior do cockpit) um dos maiores obstáculos fisiológicos para todos os tripulantes. Num contexto comparável, a Esquadra 101 adota no seu modus operandi a operação em tempo quente (Fighter Index of Thermal Stress), que prevê, entre outros procedimentos, cancelar a atividade aérea sempre que é registada uma temperatura do ar superior a 32º C (MCIFFA 507-3, 2011).

 

Quadro 5 – Fatores impactantes na apreciação do voo durante o ESV.

Igualmente da análise do quadro 5, observa-se um certo sentimento de divisão relativamente ao processo de instrução, percecionado em igual percentagem (40,4%;n=19) como positivamente impactante e como negativamente.

Quando questionados acerca dos fatores mais impactantes na decisão de permanecer no processo de candidatura, os participantes identificaram: a dinâmica do voo (51,1%;n=25), a família (apoio, orgulho e receio em falhar) (34%;n=16), e o desafio imposto pela prova na concretização de um sonho (31,9%;n=15).

Da análise do quadro 6, o que despertou maior impacto positivo no candidato foram a experiência de ter voado no ESV (95,7%;n=45) e o ESV como um todo (85,2%;n=40). A vivência em regime de internato num contexto militar foi, mais uma vez, experienciada entre indiferente (38,3%;n=18) e positiva (36,2%;n=17).

 

Quadro 6 – Fatores impactantes na decisão de permanecer (em detrimento de desistir) no processo de candidatura.

4.2.2. Perceção da experiência vivida pelo candidato desistente no ESV

Na análise desta temática impõe-se começar por tecer o foco que norteia o seu desenvolvimento. Pelas razões descritas em 3.2 Método (designadamente nota de rodapé 1 associada aos participantes), esta matéria foi estudada com recurso à perceção dos cadetes-alunos PILAV da AFA. Para tal, foi-lhes solicitado que recuassem ao seu ESV e centrassem as suas respostas no feedback dos candidatos com quem conviveram e que optaram por desistir. Considerando que dois candidatos podem estar a responder centrados no mesmo desistente, as percentagens abaixo apresentadas devem ser lidas em termos relativos e não absolutos (como sucedeu com as anteriores que se reportam a respostas na primeira pessoa). É, também, por esta razão que os valores percentuais e de “n” não são aqui elencados, mas apenas ordenados os motivos mais referidos.

Em relação às maiores diferenças entre aquelas que eram a(s) expectativa(s) inicial(ais) do(s) candidato(s) com quem falou/conviveu e aquilo que ele(s) efetivamente experienciou(aram) no ESV, apenas 30 cadetes percecionaram conhecer as razões dos candidatos. Neste âmbito, foram identificadas: o contraste entre o gosto pela aviação e a perceção vivida em voos de linha aérea; a grande diferença entre o voo civil e militar, em termos de exigência e de intensidade; a diferença face à rotina da vida civil; a incompatibilidade com o meio militar, “o ficar preso e sem liberdade” dado o “excessivo” enquadramento militar a que são sujeitos; e o facto do ESV, no seu todo, ter sido percebido como muito exigente (elevada carga teórica a ser assimilada num curto espaço de tempo, dificuldade em gerir a pressão imposta pelo ambiente vivido, e frustração em lidar com solicitações de natureza diferente).

Da análise do quadro 7, e tomando como ponto de corte 50%, surgem como fatores:

– Negativamente impactantes: experiência do primeiro voo; momento inicial da fase de voo; primeiro enquadramento/instrução militar; afastamento de casa/família/meio;

– Positivamente impactante, o levantamento dos equipamentos.

Nesta linha de pensamento, N. Pereira (op. cit.) referiu a possível relação da desistência com a experiência de voo vivida pelo candidato nas 1.ª e na 2.ª missão de voo, onde este perceciona novas sensações fisiológicas pela primeira vez, e poderá desmotivar-se por fatores inerentes à vida militar e ao respetivo enquadramento. Também para R. Romão (op. cit.) a forma como decorre o 1.º voo é um fator muito influente na motivação do candidato.

 

Quadro 7 – Momentos percebidos como impactantes no ESV nos desistentes.

Da análise do quadro 8, observa-se que a grande maioria dos candidatos parecia já ter algum conhecimento relativamente à aeronave que iria voar, assim como do facto de que iria efetivamente voar.

 

Quadro 8 – Perceção do conhecimento prévio ao ingresso em ESV (tipo de aeronave e realização de voos) pelos desistentes.

Na análise ao quadro 9, os participantes referiam desconhecer o quão impactantes foram a maioria das categorias apresentadas para a decisão de desistência, com exceção da que se reporta ao processo de instrução, percebido como de impacto negativo. É, efetivamente, no PI que está depositada a responsabilidade de conduzir o candidato ao sucesso ou insucesso (P. Mateus, op.cit.), porque é nele que o candidato se revê e é ele que o motiva dentro do cockpit (N. Pereira, op. cit.). Se o PI não entender o medo de falhar e a insegurança de um candidato, não lhe dá a segurança que ele precisa para construir, ao longo do voo, o gosto por aquilo que está a fazer, o que contribui para que esse candidato, mais tarde ou mais cedo, acabe por desistir (R. Romão, op. cit.).

 

Quadro 9 – Fatores percecionados como impactantes na apreciação do voo durante o ESV pelo desistente.

Finalmente, quando questionados acerca dos fatores para reverter a decisão de desistir do(s) candidato(s) desistente(s) com quem falaram – excluindo-se, na sua apreciação, fatores de reversão menos imediata, como sejam as de índole fisiológica –, a categoria emergente mais indicada foi a postura do PI (melhorar a pedagogia usada em voo e o método de instrução; gerir a severidade e a pressão).

4.2.3. Síntese conclusiva e resposta à QD2

Pelo acima analisado, e em resposta à QD2 – Como é que os candidatos percecionam a sua experiência vivida no ESV?, conclui-se que a chegada à AFA e a fase inicial do processo do ESV proporcionam boas sensações aos candidatos.

Vivenciadas igualmente como positivamente impactantes no ESV foram a dinâmica das manobras acrobáticas e a autonomia do controlo da aeronave. Neste enquadramento, voo, apoio da família e desafio pessoal foram também percebidos como estímulos para a permanência no ESV.

Este sentimento de permanência foi questionado, e em algumas situações invertido – mediante desistência do ESV –, aquando da experiência vivida/reportada pelos candidatos como: pautada por uma carga teórica percebida como muito elevada; de frustração pela sua falta de rendimento; alvo de um enquadramento pelos cadetes mais antigos sentido como muito duro; muito divergente, no sentido negativo, das suas expectativas; integrados num processo de instrução em que alguns PI foram percebidos como pouco pedagogos.

Em voo, as duas primeiras missões revelaram-se extramente impactantes, contribuindo muito para a permanência/desistência no ESV. Com impacto positivo, revelou-se a sensação de altura, e negativo, a elevada temperatura no cockpit.

4.2.4.
Relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão) no ESV

A fim de estudar esta relação, importa começar por descrever, ainda que de forma sucinta, a realidade da atrição e da desistência no ESV, quer no período alargado de 12 anos (de 2007 a 2018) quer, um pouco mais detalhadamente, no período correspondente à delimitação temporal deste trabalho (2016-2018).

4.2.5. Atrição e desistência no ESV

Da análise do gráfico 1, observa-se que a taxa de atrição, à exceção do ano de 2015 (onde registou um boom, situando-se nos 72%), aumentou, passando do intervalo de 20%-34% para o de 46%-55%.

Fonte: AFA (2018)

Gráfico 1 – Taxa de atrição (inaptos+desistentes) e desistentes entre 2007-2018.

 

Detalhando um pouco mais a realidade registada entre 2016-2018, importa analisar a desistência por ano e intra-período.

• Análise da desistência por ano. Da análise do gráfico 2, tem-se que do total de candidatos que se apresentaram para ESV, os desistentes traduziram-se, respetivamente, em 24% (n=8/33), 23% (n=6/26) e 37% (n=14/38).

Fonte: AFA (2018)

Gráfico 2 – Taxa de desistentes por ano 2016-2018.

 

4.2.6. Formação como PI e taxa de atrição

Da análise do gráfico 3, e em concreto nos anos de 2016 e 2017, observa-se uma maior taxa de aptidão (e a correspondente menor taxa de atrição) nos candidatos que voaram os seus primeiros voos com um PI que, porque oriundo da Esquadra 101, possuía com formação/curso de instrutor:

– Aptidão em 2016: PIc/ curso=60% e PIs/curso=44%, e em 2017: PIc/ curso=78% e PIs/curso=50%;

– Inaptidão em 2016: PIc/ curso=20% e PIs/curso=30%, e em 2017: PIc/ curso=11% e PIs/curso=28%;

– Desistência em 2016: PIc/ curso=20% e PIs/curso=26%, e em 2017: PIc/ curso=11% e PIs/curso=22%.

Fonte: CPSIFA (2018).

Gráfico 3 – Taxas de aptidão+atrição nos ESV de 2016 a 2018.

 

Em 2018, o comportamento acima descrito (verificado em 2016 e 2017) inverteu-se, registando-se uma maior taxa de aptidão (e a correspondente menor taxa de atrição) nos candidatos que voaram os seus primeiros voos com um PI sem curso de instrutor. Um efeito multicausal, e eventualmente associado ao facto de alguns destes PI, estando a exercer funções na Esquadra há três anos poderem, de algum modo, ter: “dilatado” os seus padrões de avaliação (uma espécie de efeito de harmónica, associado ao facto de ainda não terem estabilizado o seu padrão de avaliação); ou como que “contrabalançando”, pelo menos em parte, a ausência de curso com a detenção de experiência prática, efetiva e acumulada de instrução de voo. Se, por um lado, a longa experiência nos ESV concorre para que os PI possam adquirir valências para realizar um trabalho com qualidade (R. Romão, op. cit.), e reconhecer mais precocemente os erros dos alunos e atuar de forma assertiva (P. Peres, op. cit.), a detenção de um curso é sempre uma mais-valia para a proficiência do instrutor (T. Soares, entrevista presencial, em 4 de dezembro de 2018).

Complementarmente, a componente operacional revela-se também como um forte complemento ao desempenho da função de PI (N. Pereira, op. cit.). Não sendo um requisito obrigatório (E. Lopes, op. cit.), um PI com experiência operacional poderá ter alguma vantagem no cockpit, quando comparado com um First Assingnment Instructor Pilot em início de carreira. Este último, por não ter experiência, serve-se dos manuais para colmatar essa lacuna (N. Pereira, op. cit.), enquanto os pilotos com experiência operacional acumulada demonstram mais “à-vontade”, fruto desta sua experiência (R. Romão, op. cit.). A componente operacional é, assim, um ingrediente que combina e otimiza a estrutura de uma esquadra de instrução (P. Mateus, op. cit.).

4.2.7. Síntese conclusiva e resposta à QD3

Pelo acima analisado, e em resposta à QD3 – Será que existe relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão) no ESV?, conclui-se que tende a existir uma associação, e que esta é no sentido positivo.

Dito por outras palavras, a detenção de comprovada formação em instrução dos PI – primariamente através da frequência, com sucesso, de um curso de instrutores, e complementarmente mediante a praxis de voo/instrução –, revelou-se positivamente associada a uma maior taxa de aptidão dos candidatos em ESV e, por conseguinte, a uma menor taxa de atrição (em ambas as suas componentes: inaptidão e desistência).

 

4.3. Relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV

Neste subcapítulo apresenta-se uma proposta de modelo de curso de instrutores recém-colocados da Esquadra 802, e responde-se à QC.

4.3.1. Modelo de qualificação de PI no Chipmunk (Esquadra 802)

Ancorado no até aqui analisado, afigura-se urgente gizar um modelo de curso de instrutor para o piloto que é colocado na Esquadra 802 para exercer funções de instrutor de voo e que não possui curso de instrutor.

Um modelo alicerçado num programa de manual (no prelo), elaborado pelo autor e que – por imperativo da sua inclusão deste documento exceder o número máximo de páginas autorizadas – encontra-se no espólio do autor, sendo disponibilizado por este quando pertinente/solicitado.

A figura 1 esquematiza o modelo proposto.

Figura 1 – Proposta de modelo de qualificação de PI no Chipmunk (Esquadra 802).

 

4.3.2. Síntese conclusiva e resposta à QC

Pelo até aqui estudado, em resposta à QC – Será que existe relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV?, e da análise de três abordagens complementares e com resultados perfeitamente sintónicos entre si, conclui-se que existe efetivamente uma associação positiva entre a experiência e a atrição.

Por um lado, centrado na análise dos resultados obtidos nos voos, observou-se que a detenção de comprovada formação (experiência) em instrução dos PI – mediante frequência, com sucesso, de um curso de instrutores, e praxis complementar, efetiva e acumulada de experiência de voo/instrução –, tende a associar-se positivamente a uma maior taxa de aptidão dos candidatos em ESV e, por conseguinte, a uma menor taxa de atrição (em ambas as suas componentes: inaptidão e desistência).

Por outro lado, tendo por base a experiência vivida dos candidatos – mediante as respostas dos alunos PILAV, a quem lhes foi pedido para recuar ao seu ESV e centrar as suas respostas, numa primeira parte, na sua própria experiência vivida do ESV, e numa segunda parte, no feedback que à data receberam dos candidatos que estavam consigo e optaram por desistir –, complementada pelos reports de PI, verificou-se que a falta de pedagogia do PI (mais especificamente de alguns PI), contribuiu para uma forte experiência negativa dos candidatos, assim como para a sua frustração pela falta de rendimento. Complementarmente, uma experiência vivida/percebida como muito divergente do esperado (p.ex., carga teórica percebida como muito elevada, enquadramento dos cadetes mais antigos percebido como duro, temperatura do cockpit sentida como muito alta) foi outro dos fatores sentidos como negativamente impactantes no ESV. Pela positiva, foram elencadas: a chegada à AFA e a fase inicial do processo do ESV; a dinâmica das manobras acrobáticas e a autonomia do controlo da aeronave; o voo; o apoio da família; e o desafio pessoal. Em voo, as primeiras missões revelaram-se extramente impactantes no processo de decisão de permanência ou desistência no estágio, acrescidas pela sua associação positiva à sensação de altura, e negativa à elevada temperatura no cockpit. De notar que, não obstante o ESV ser realizado na época mais quente do ano, e não obstante também existirem esquadras, como a 101 (igualmente de instrução e sita em Sintra), cujo manual preconiza que a atividade aérea deve ser cancelada sempre que se observar uma temperatura do ar superior a 32ºC, este postulado não está previsto na Esquadra 802.

Ainda por outro lado, registou-se que todas as esquadras de voo da FA, com exceção da Esquadra 802 – precisamente aquela cuja missão é, exclusivamente, o desenvolvimento do ESV a candidatos à especialidade de PILAV e da instrução elementar aos alunos PILAV da AFA – têm tipificado/operacionalizado o rigoroso cumprimento de critérios, que passam pela detenção de um conjunto de condições ab initio e/ou pela frequência de formação específica de instrução/curso de formação de PI.

 

5. Conclusões

A atual conjuntura nacional tem sofrido diferenciados condicionalismos económicos e financeiros. Nas Forças Armadas Portuguesas o cenário é idêntico, impondo-se uma necessidade urgente de otimizar, cada vez mais, as políticas de gestão dos seus recursos materiais, financeiros e humanos. Uma realidade a que a FAP, em geral, e a AFA, em particular, não são naturalmente alheias.

Pelo referido, e atendendo às taxas de atrição (inaptidão e desistência) que têm sido registadas na fase do ESV, do concurso para ingresso nos QP de PILAV – que para além de serem onerosas para a Instituição, poderão surtir efeitos indesejados na imagem da FAP e na atratividade em termos de recrutamento –, urge examinar razões da atrição no ESV, sem esquecer o foco nas razões da permanência.

Esta investigação teve, assim, por objeto a atrição e a instrução no ESV, delimitando-se: temporalmente, ao período 2016-2018, com uma realidade organizativa muito similar (relativa constância dos instrutores, chefias, normas e regras de operação); espacialmente, ao CAA ou Esquadra 802 da AFA (Unidade Aérea responsável pela realização do ESV); de conteúdo, à atrição e instrução no ESV.

Neste âmbito, o presente estudo pontuou-se pela QC de investigação, Será que existe relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV?

Atinente ao percurso metodológico, este assentou em três fases (exploratória, analítica e conclusiva), e alicerçou num raciocínio indutivo – que parte da observação de factos particulares para, através da sua associação, estabelecer generalizações –, assente numa estratégia quantitativa com reforço qualitativo, e num desenho de pesquisa de estudo de caso.

Estruturalmente, este documento é constituído por cinco capítulos.

O primeiro, versou a introdução, com enquadramento do tema, definição do objeto de estudo e do problema de investigação, delimitação, apresentação dos objetivos, questão central e estrutura deste documento.

O segundo, destinou-se ao enquadramento teórico e conceptual, ancorando a revisão da literatura, os conceitos estruturantes e o modelo de análise.

O terceiro, direcionou-se para a descrição da metodologia e do método (apresentação dos participantes, procedimento, instrumentos de recolha de dados e técnicas de análise dos dados).

Os quarto e quinto, nortearam-se, respetivamente, para a análise dos dados e discussão dos resultados (com as respostas às questões e objetivos de investigação) e para a apresentação das conclusões, contributos para o conhecimento, limitações, estudos futuros e recomendações.

Pelo referido, e concernente ao primeiro OE, Analisar a formação dos PI na Unidades Aéreas da FA, o seu estudo foi realizado através da correspondente QD, repercutido, primariamente, na apreciação do tipo de formação que é ministrada aos PI nas esquadras: por um lado, com relevo na instrução, nomeadamente as Esquadras 802, 101, 201/301 e 552; por outro, com exclusivo empenhamento operacional, designadamente Esquadras 501, 502, 504, 601 e 751. Neste âmbito, concluiu-se que, à exceção da Esquadra 802 (CAA) – precisamente aquela que tem como missão primária, e única, o desenvolvimento do ESV a candidatos à especialidade de PILAV e da instrução elementar aos alunos PILAV da AFA –, todas as restantes esquadras da FA, percebendo como particularmente relevante o processo de formação de um piloto em instrutor, advogam e cumprem com um conjunto de requisitos prévia, superior e formalmente tipificados. Uma tipificação operacionalizada quer na implementação de programas de instrução teórico-práticos, que contribuem para o desenvolvimento competências pedagógicas no ato de ensinar (caso das Esquadras 802, 101, 201/301 e 552), quer na observância de um leque de condições operacionais e de ab initio, que os possibilita a progredir nas suas qualificações operacionais, inerentes à progressão na carreira, e que os qualifica como PI (caso das Esquadras 501, 502, 504, 601 e 751).

Respeitante ao segundo OE, Analisar a experiência vivida dos candidatos durante o ESV, a sua investigação foi realizada mediante o estudo da associada QD, refletido na participação dos alunos PILAV, a quem lhes foi solicitado que recuassem ao seu ESV e centrassem as suas respostas, primeiramente, na sua própria experiência vivida do ESV, e em seguida, no feedback que à data tiveram dos candidatos com quem conviveram e decidiram desistir. E, com a participação também, de oficiais pilotos instrutores. Neste enquadramento, concluiu-se que a ação parcamente pedagógica de alguns PI foi negativamente impactante junto dos candidatos, o mesmo sucedendo com o hiato entre as expectativas do ESV e o encontrado (caso da carga teórica percebida como muito elevada, enquadramento dos cadetes mais antigos percebido como duro e temperatura do cockpit sentida como muito alta). Percebidas como positivamente impactantes foram os momentos da chegada à AFA e da fase inicial do processo do ESV; a dinâmica das manobras acrobáticas e a autonomia do controlo da aeronave; o voo; o apoio da família; e o desafio pessoal. Também percebido como muito impactante da decisão de permanência ou desistência do ESV, foi o 1.º voo/missão, associado a uma valência positiva a sensação de altura, e a uma negativa, a elevada temperatura no cockpit (situação não verificada na Esquadra 101, onde é cumprido o superior e formalmente preconizado de cancelamento da atividade aérea sempre que se regista uma temperatura do ar superior a 32ºC).

Em relação ao terceiro OE, Avaliar a relação entre a detenção de um curso de PI e a taxa de atrição (desistência e inaptidão), e de forma a dar resposta à decorrente QD, analisaram-se as missões dos primeiros voos de três anos consecutivos (2016 a 2018) e as respostas dos entrevistados, e concluiu-se que a detenção da formação em instrução dos PI, quer seja pela frequência (formal) de um curso de instrutores quer seja pela efetiva e acumulada experiência de anos de instrução (e de participação no ESV), tende a contribuir para uma maior taxa de aptidão dos candidatos e, por conseguinte, para uma menor taxa de atrição (inaptidão e desistência).

Ipso facto, em referência ao OG, Analisar a relação entre a experiência e a atrição (desistência e inaptidão) no ESV, e em resposta à sua associada QC, concluiu-se que tende a existir uma relação positiva entre a experiência, designadamente de instrução (mediante frequência, com sucesso, de um curso de instrutores, e praxis complementar, efetiva e acumulada de voo/instrução), e a atrição. Por outras palavras, a instrução assume um papel muito importante na evolução (permanência ou desistência) do candidato em ESV. É, com efeito, neste seguimento, que se observou que e para o desempenho e (des)motivação do candidato concorrem fatores associados a reações e condições fisiológicas e à expectativa do voo e do ESV em geral, mas, sobretudo, fatores ligados à experiência de instrução (percebida como parcamente pedagógica) e ao enquadramento militar operacionalizado pelos cadetes mais antigos (percebido como muito duro).

Como contributo para o conhecimento tem-se a evidência, agora comprovadamente empírica, da mais-valia da detenção de um curso de instrutores e da efetiva e acumulada experiência de anos de instrução para a qualidade da instrução. Acresce, ainda, o conhecimento também empiricamente validado dos demais fatores percebidos como positivamente e negativamente impactantes na experiência vivida pelos candidatos do ESV. No fundo, fatores protetores/potenciadores da permanência e da desistência dos candidatos no ESV. Ou, por outras palavras, o contributo traduzido pela concretização de uma abordagem menos usual, e como tal, enriquecedora, da (des)motivação e (des)identificação do candidato com toda esta realidade.

Concernente às principais limitações do presente estudo, mas que lhe são alheias e não se constituem como condicionantes das mais-valias das evidências elencadas, surge, em primeiro plano, a interdição legal (decorrente de imperativos legais associados a recentes normativos no âmbito da Proteção de Dados) em entrevistar, por telefone, os próprios candidatos desistentes, e avaliar – mediante relato na primeira pessoa –, a forma como perceciona a sua experiência vivida do ESV e a(s) causa(s) da desistência. Por outras palavras, a sua narrativa do ESV, no seu todo. Apresenta-se, também, a impossibilidade (face ao reduzido universo de cadetes-alunos) de avaliar se estatisticamente significativas as diferenças de média inter-anos, no que respeita às principais razões de desistência/permanência. Por último, elenca-se, ainda, a dificuldade em estudar o efeito isolado das variáveis “deter curso de instrutor” e “deter experiência operacional de voo” sobre a qualidade da instrução, uma vez que os PI com curso de instrutor, reuniam também um já relativamente largo curriculum operacional/horas de voo. Ao que acresce o facto de o seu universo ser também extremamente reduzido.

Na questão de estudos futuros, e no seguimento da limitação atrás referida, afigura-se determinante analisar, na primeira pessoa e mediante entrevista junto dos próprios candidatos, a supradita narrativa. Um estudo futuro que, no fundo, traduz-se em replicar um dos objetivos específicos do presente, impedido, contudo, de ter sido desenvolvido por questões legais. Para tal, impõe-se que a montante – no momento imediato à chegada do candidato à FA –, seja cumprido o abaixo recomendado em matéria de autorizações e de entrevista a desistentes.

Pelo estudado e conclusões retiradas, recomenda-se:

–  À Direção de Instrução (DINST), a análise do programa de manual aqui proposto – que define o curso de PI a ser frequentado, com sucesso, por todos os Pilotos colocados na AFA e que não tenham na sua formação o Curso da Fase Básica e/ou Elementar em avião –, e a sua eventual promulgação em PDINST.

–  À AFA:

    • A gestão do processo associado à obtenção do consentimento informado dos candidatos para que os seus dados (designadamente contacto telefónico) possam ser usados para recolha de informação relativa à sua experiência vivida do ESV, e que permita um constante retroalimentar da qualidade da formação e, considerando que o ESV se enquadra no processo de seleção, da própria seleção;

    • A gestão da aplicação de uma entrevista semiestruturada aos desistentes;

    • A implementação, na Esquadra 802, do realizado, p.ex., na Esquadra 101 (cujo core business é igualmente a instrução) em matéria de operação em tempo quente. Especificamente, adotar a medida de cancelamento da atividade aérea sempre que se observe uma temperatura do ar superior a 32ºC, e, eventualmente, para cumprir com calendarização oficial de seleção (fase de ESV), mitigar pontuais necessidades de realizar voos (cancelados por esta questão da temperatura), mediante antecipação da hora de início de atividade;

    • A otimização da base de dados relativa ao histórico de voos, desempenho, etc., dos candidatos em ESV;

    • A análise das evidências aqui elencadas aquando da definição de políticas/modalidades de ação relacionadas com o processo de ESV. A título de exemplo, e atendendo ao impacto do enquadramento e da ação dos cadetes mais antigos, definir políticas de ação que otimizem as já existentes medidas de seleção e de formação dos cadetes mais antigos para esta tarefa. Ou, considerando o hiato entre as expectativas iniciais e o encontrado na realidade, potenciar meios de informação que permitam colmatar este desencontro. Ou, ainda, atentando para o grande impacto do primeiro contacto com a AFA, assim como do primeiro voo, garantir a valência positiva do mesmo.

 

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* Artigo adaptado a partir do trabalho de investigação individual realizado no âmbito do Curso de Promoção a Oficial Superior 2018/19 do Capitão Ariel Abreu, sob orientação da Major Cristina Fachada, cuja defesa ocorreu em fevereiro de 2019, no Instituto Universitário Militar.

[1]     O estudo de campo desta investigação, iniciada em setembro de 2018 e com término aprazado para janeiro de 2019 (em regime de não-exclusividade, porque em complementaridade com toda a restante atividade académica do CPOS), tinha como desenho experimental desenvolver, por telefone, uma entrevista semiestruturada a uma amostra representativa dos candidatos desistentes no seu ESV, desde 2016. Neste âmbito, solicitou-se a habitual autorização superior para a supradita aplicação, e obteu-se um parecer negativo por imperativos legais associados a recentes normativos no âmbito da Proteção de Dados. Considerando que este parecer negativo datou de 9 de novembro de 2018, e atendendo aos prazos acima elencados (refletidos, por um lado, no já alargado trabalho de investigação até então realizado, e, por outro, no já muito escasso tempo para a sua finalização), optou-se por aplicar um questionário aos cadetes-alunos PILAV, pedindo-lhes para recuar ao seu ESV e centrar as suas respostas, numa primeira parte, na sua própria experiência vivida do ESV, e, numa segunda parte, do feedback que à data receberam dos candidatos que estavam consigo e optaram por desistir.

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2019-12-15
889-917
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Capitão PilAv

Ariel Simão Fernandes Morgado Abreu

Licenciado em Ciências Militar Aeronáuticas, pela Academia da Força Aérea (AFA). Comandante de Esquadrilha da AFA.

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Tenente-coronel

Cristina Fachada

Doutorada em Psicologia, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Docente da Academia da Força Aérea (AFA) e do Instituto Universitário Militar (IUM). Investigadora do Centro de Investigação da AFA. Investigadora do Centro de Investigação e Desenvolvimento do IUM.

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