Entre 30 de junho e 17 de junho do ano corrente comemora-se o Centenário da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, levada a cabo pelo Capitão-tenente Sacadura Cabral e pelo Capitão-de-mar-e-guerra Gago Coutinho, no âmbito das comemorações do Centenário da Independência do Brasil, que ocorreu em 7 de Setembro de 1822.
A Revista Militar (RM) dedica àquela efeméride o presente número temático, com o qual se pretende-se dar relevo, nomeadamente:
– Ao pioneirismo de Portugal, após a Grande Guerra, no contributo para o multi-emprego do aeroplano que fora concebido apenas como máquina bélica, para bombardeamento e combate aéreo, a operar num espaço limitado e restrito, a pouca distância dos alvos, por falta de autonomia, em particular quanto à navegação aérea;
– À primazia dos aviadores navais portugueses na Travessia Aérea do Atlântico Sul, cumprindo o objetivo de ligar Lisboa ao Rio de Janeiro, contribuindo com soluções científicas que viriam a possibilitar as grandes viagens, conjugando as necessidades de autonomia e de orientação dos pilotos em pleno voo;
– À coragem dos protagonistas, ao arriscarem utilizar algumas invenções e adaptações no âmbito da navegação astronómica, elementos que, em último recurso, por eventual falha dos atuais sistemas de navegação aérea, ainda podem ser utilizados para a orientação espacial;
– À determinação anímica e a resiliência dos dois oficiais perante os contratempos que surgiram durante a viagem;
– Ao esforço nacional de um País que, sem grandes recursos, disponibilizou três hidroaviões, devido aos imponderáveis técnicos das aeronaves utilizadas;
– À projeção interna e externa do acontecimento, com ênfase no reforço das relações luso-brasileiras e no reconhecimento internacional das façanhas científicas e tecnológicas.
Neste contexto, publicam-se quatro artigos – “Algumas Notas sobre a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul”, “Breve excurso pelos métodos e sistemas de navegação, desde Gago Coutinho aos dias de hoje”, “A inédita travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro de 1922: uma visão brasileira pelo olhar da imprensa” e “A Travessia aérea do Atlântico Sul assinalada através do bilhete-postal ilustrado” – a cujos autores se agradece as disponibilidades e os esforços para acolherem o convite dirigido pela RM:
– Tenente-general PilAv António de Jesus Bispo (Sócio efetivo da RM);
– Comodoro Nuno Sardinha Monteiro (Sócio efetivo da RM);
– Coronel Carlos Roberto Carvalho Daroz (com o apoio da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército Brasileiro);
– Prof. Doutor António Pires Ventura (Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
A “travessia aérea do Atlântico” é um assunto que, de longe, despertou interesse na RM, o que pode ser destacado nas referências bibliográficas da presente publicação, designadamente com a publicação, dois anos antes de eclodir a Primeira Guerra Mundial, de um artigo (traduzido pela Direção em língua portuguesa) da autoria de Raffe Emesrson e publicado, em junho de 2012, no Boletim do Aero Club of America (atual National Aeronautic Association), que fazia a premonição de “um veículo aéreo que consiga manter-se no ar durante um trajeto de 270 ou, melhor ainda, de 450 a 870 milhas, numa determinada direcção, pode atravessar o oceano.”
A par deste artigo, também outros artigos, dois coevos e outro da comemoração dos cinquenta anos do feito que agora se comemora, são selecionados e republicados neste número temático:
– “A travessia aérea do atlântico”, do Capitão-tenente Alfredo Botelho de Sousa (Vogal da Direção), RM n.º 5, junho de 1922;
– “A travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro”, texto da Direção, RM n.º 6/7, junho/julho de 1922;
– “Cinquentenário da I Travessia Aérea do Atlântico-Sul por Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1922-1972), do Contra-almirante Manuel Sarmento Rodrigues (Vogal da Direção), RM n.º 6, junho de 1972.
Hoje, um voo entre Lisboa e Rio de Janeiro dura cerca de dez horas. Quando essa mesma rota foi feita pela primeira vez, pelos portugueses Artur de Sacadura Cabral e Carlos Gago Coutinho, demorou 79 dias de viagem e mais de 60 horas de voo. Do seu feito, em 1922, resultaram as promoções daqueles oficiais da aviação naval, por distinção, a capitão-de-fragata e a vice-almirante, respetivamente.
A Direção