Nº 2651 - Dezembro de 2022
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
A Uniformologia do Corpo Expedicionário Português. Os Uniformes Portugueses da Grande Guerra
Dr.
João Costa Silva
Dr.
Manuel Martins

Introdução

A proposta para esta investigação teve como ponto de partida a procura das respostas às seguintes questões: Qual foi a evolução do exército desde o final da Monarquia até à I Guerra Mundial a nível da sua dimensão, recursos e natureza? Quais eram as principais influências e origens do fardamento? Há alterações diacrónicas nos Planos de Uniformes de 1911, 1913 e 1916? Tendo em conta as condições das trincheiras da Grande Guerra, como correspondeu o fardamento e o equipamento português? Com base na iconografia e na documentação das Ordens do Exército e das Ordens de Serviço, tentar-se-á encontrar um conjunto de respostas fundamentadas.

Relativamente ao estado da arte, são inúmeras as obras relativas ao estado das Forças Armadas em Portugal no período da transição para a República, bem como sobre os motivos e objetivos que levaram à entrada de Portugal na I Guerra Mundial, cabendo-nos, apenas, enumerar algumas.

Quanto à contextualização política e militar: as História Militar de Portugal1 e Nova História Militar de Portugal2, cujas secções de História Contemporânea ficam sob a responsabilidade direta ou indireta de Nuno Severiano Teixeira, são boas sínteses gerais sobre as temáticas militares portuguesas; o volume editado pela Comissão de História e Cultura Militar Portuguesa, Portugal na 1.ª Guerra Mundial – Uma História Militar Concisa3, contém passagens úteis não só relativamente às questões militares, mas também ao contexto político português e europeu; do autor já referido anteriormente, destaca-se a sua tese de doutoramento publicada pela Estampa, O Poder e a Guerra4 e, por último, as obras de Filipe Ribeiro Meneses5 e de Isabel Pestana Marques6, mais específicas sobre o Corpo Expedicionário Português (CEP). Para um contacto mais direto, recomendam-se os Livros Brancos portugueses, publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), em 19977.

A uniformologia é um tópico pouco presente na historiografia portuguesa, destacando-se as obras de Sérgio Veludo Coelho8 e de um aficionado não-historiador, Pedro Soares Branco9, em relação ao fardamento da I Guerra Mundial em Portugal.

 

1. As Forças Armadas em Portugal

Com o golpe da Regeneração liderado por Saldanha, em 1851, o Exército Português entra num período de ausência prolongada de conflitos com os restantes exércitos euro­peus – os mais beneficiados pela industrialização da própria guerra. No entanto, mesmo o meio século que antecede a I Guerra Mundial é marcado por profundas altera­ções desencadeadas pelo progresso tecnológico da Europa de finais do século XIX.

É de notar, no entanto, que esses avanços não são acompanhados pela teoria de guerra vigente – o movimento que caracteriza as deflagrações de maior dimensão, como a Guerra Austro-Prussiana ou a Guerra Franco-Prussiana, e que é o pilar basilar da teoria bélica da altura – conflitos curtos e batalhas decisivas – é substituído pela guerra estáti­ca, industrial, e desumana, ou seja, total.

A posição periférica e ausente, bem como a sua crónica falta de recursos, tem resultados significativos na condição a que chegaram as forças armadas portuguesas, no final da Monarquia e na I República.

 

1.1 Os factores de modernização militar finissecular – guerras industriais e guerras totais, guerras de movimento e guerras estáticas

Explicar as causas profundas e imediatas da I Guerra Mundial tem consumido parte significativa da atenção dos historiadores contemporanistas com apetite pela História do século XX – Hobsbawm, desde logo, na criação do seu conceito de ‘curto século XX’, elege o início da I Guerra Mundial e as características que inauguram um novo tipo de conflito, o total, como o ponto de rutura definitiva com o otimismo positivista da Belle Époque e o fim da sociedade oitocentista10.

Telo identifica vários fatores que motivam a modernização militar nos finais do século XIX/início do século XX, estando estes intimamente ligados à Segunda Revolução Industrial11, que se prendem também com a evolução do equipamento e do fardamento: a invenção da eletricidade e a utilização da combustão petrolífera enquanto fonte de ener­gia, além da aplicação militar dos avanços da metalurgia e da química. Assim, surge a pólvora sem fumo, graças à química, os avanços necessários para a produção em série de armas de repetição e automáticas e da artilharia de retrocarga com sistemas hidráuli­cos, graças à metalurgia, e a aplicação da telegrafia sem fios para a comunicação entre várias unidades militares, graças à eletricidade12.

Não sendo uma lista exaustiva das inovações militares do período (ignoramos, por exemplo, a motorização), contém várias chaves necessárias para um entendimento da evolução geral do fardamento e equipamento da infantaria na Europa: a pólvora sem fumo faz terminar os cenários tipicamente napoleónicos de batalhas campais em nuvens de fumo branco que cobriam as fileiras de soldados trajados de cores estridentes que facilitassem a sua identificação e localização, além de que a cadência de tiro superior e mais precisa inviabilizou formações lineares massivas que conseguissem compensar a imprecisão das armas de pederneira com a massificação do fogo. Por sua vez, a telegra­fia elétrica facilita a comunicação entre unidades militares, que combatem um inimigo que lhe estava cada vez mais distante e se queria agora difícil de identificar, também contribuindo para o abandono de fardamento e equipamento individual que facilitasse, e não o oposto, a identificação das unidades13.

Em suma – o desenvolvimento tecnológico e científico é fundamental para estabelecer as linhas-mestras do combate do século XX, mesmo que, no plano teórico militar, estes avanços estivessem por ser compreendidos – como rapidamente descobririam, os co­nhecimentos táticos e estratégicos dos oficiais superiores não estavam preparados para evolução do conflito para uma guerra de trincheiras, nem para o impacto da evolução tecnológica.

 

1.2 As Reformas Republicanas de 1911 – do semiprofissionalismo ao exército de base miliciana

Os dirigentes republicanos entendem que a indiferença generalizada com que a cúpula militar assistiu à queda da Monarquia não se traduziria no apoio à juvenil República. Um exército de chefias monárquicas assente numa estrutura semiprofissional e perma­nente, com recrutamento guiado pela lotaria ou pela remissão (substituição ou pagamen­to para isentar o loteado), principalmente direcionado para a manutenção da ordem in­terna num país com forças policiais débeis (as Guardas Municipais, além de desempe­nharem uma função de salvaguarda pretoriana da Monarquia, restringiam-se a Lisboa e ao Porto) e pouco presentes no belicismo europeu, excetuando eventuais expedições coloniais14.

As reformas de fundo do exército metropolitano teriam dois objetivos fundamentais: a salvaguarda da integridade territorial de Portugal continental e arquipélagos europeus, principalmente contra uma Espanha entendida como a principal ameaça (anexionista, quanto aos monárquicos, ou federalista, quanto à esquerda do republicanismo), e a re­publicanização da principal força armada, simultaneamente neutralizando-a enquanto ameaça e tornando-a num instrumento de defesa do próprio regime15. Assim, com a diluição da identidade corporativa do Exército, ao alargar o serviço militar obrigatório a franjas significativas da população e através da criação da figura do oficial miliciano, é reforçada a identificação com a República e as suas instituições e, também, o enfraque­cimento daquele que seria o corpo “mais permanente” desta força armada, um quadro reduzido de oficiais e sargentos profissionais.

Estas reformas têm como pilares dois decretos: primeiro, o decreto de 2 de Março de 1911, Lei do Recrutamento para o Exército, e o decreto de 25 de Maio do mesmo ano, a Lei da Organização-Geral do Exército. Instituía-se o Serviço Militar Obrigatório (SMO) de acordo com os princípios da nação-em-armas, adotados por toda a Europa tomando a Alemanha como inspiração principal e, no caso português, o modelo suíço e as suas especificidades. As remissões são abolidas e o serviço militar na permanência é reduzi­do a um ano, com formações de duas semanas com periodicidade anual dos cidadãos nas forças ativas (após a saída da permanência, durante uma década, com outra década posterior na reserva)16. Além da concretização da estrutura miliciana, que seria reforça­da com a inclusão de oficiais milicianos (vistos, frequentemente, como competição ameaçadora aos oficiais de carreira), o poder militar fica totalmente subordinado ao poder civil, dividido entre dois ministérios e perdendo a tutela das Colónias.

 

1.3 As tentativas de rearmamento

Se já durante o reinado de D. Carlos se tinha começado um programa de rearmamento das Forças Armadas, a I República mantém esta tendên-cia, desde logo, evidente na evolução do PIB dedicado às despesas militares (1900 – 1,2%; 1910 – 1,4%; 1911 – 1,7%; 1912 – 1,6%; 1913 [ano da restrição orçamental afonsista que resultou no superavit financeiro] – 1,5%; 1914 – 2,3%; 1915 – 4,4%)17, além de poder contar com várias aquisições feitas no tempo da Monarquia – a importação de armamento ligeiro em quantidades maciças, primeiro da Áustria, depois da Alemanha, e a importação de peças de artilharia, também da Alemanha, numa fase inicial, e da França numa fase posterior18.

Além das questões do armamento, notam-se desenvolvimentos no próprio complexo militar-industrial: às fábricas de produção de armamento mais antiquado no Arsenal são adicionadas a fábrica da pólvora sem fumo e a Fábrica Braço de Prata, para a produção de munições de artilharia, além da criação da Manutenção Militar e da Oficina e Depósito de Fardamento. É necessário indicar-se, no entanto, que estes desenvolvimentos também foram concretizados no período monárquico19.

 

1.4 As falências estruturais – continuidades da monarquia e a irrupção da I Guerra Mundial

Apesar dos incentivos ao desenvolvimento militar feitos pela Monarquia e pela própria República, a crónica falta de recursos financeiros de Portugal põe em causa todo este programa, desde as reformas de 1911 à continuação das iniciativas de aquisição de ar­mamento20 – apenas em 1914, a parcela do PIB dedicada às despesas militares ultrapas­sa os 2%, e nem esta maquia era dedicada exclusivamente ao Exército, nem se arma um integralmente em apenas um ano. Apesar dos desenvolvimentos da indústria militar portuguesa, permanecem também falhas estruturais a nível das matérias-primas e da própria produção: Portugal não tem nem os recursos nem a perícia tecnológica a nível metalúrgico para produzir os componentes integrantes do armamento21.

Com as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, nos primeiros anos da República, e a eclosão da I Guerra Mundial, em 1914, a tentativa de transitar o exército semi­profissional deixado pela Monarquia nunca consegue arrancar totalmente, nem tem tempo suficiente para produzir modificações substanciais – apenas consegue desestrutu­rar a força já existente de tal forma que agrava a dificuldade das iniciativas militares portuguesas no âmbito da Guerra22. O próprio SMO, devi­do às debilidades da burocracia estatal e da generalização das exceções ao Serviço, é posto em causa e os efetivos militares de ambos os ramos continuam aquém das expetativas (c. de 40.000, em 1910, c. de 50.000, em 1911, c. de 120.000, em 1918 [já em pé de guerra])23.

Também é seguro inferir-se que, com a criação da Guarda Nacional Republicana, que os sucessivos governos democráticos reforçam como sustento do regime republicano e contrapeso ao Exército, os recursos pouco abundantes de Portugal dedicados às despe­sas militares veem-se ainda mais fracionados – nem aquela força é suficiente para cum­prir as funções que lhe tinham sido estipuladas (o Exército continua a desempenhar fun­ções de ordem interna)24, nem este consegue alcançar os propósitos que os republicanos estabelecem.

 

2. Fardamento e equipamento

A principal instituição portuguesa responsável pela produção nacional do fardamento e equipamento para o Exército Português tem origens humildes – surge, em 1901, no âmbito já referido das iniciativas de rearmamento e expansão da produção militar portuguesa, com um despacho que cria uma Oficina de Alfaiate destinada a apetrechar os dispositivos militares do Campo Entrincheirado de Lisboa, estrutura militar basilar no planeamento defensivo do país. Esta Oficina é transformada, em 1903, no Depósito Central de Fardamento, acompanhando a tendência de criação de novas unidades fabris militares que pusessem em prática as inovações tecnológicas, com destino a fornecer artigos e mercadorias a Corpos do Exército, hospitais e outros estabelecimentos militares. A nível do calçado, é criada a Fábrica do Calçado, em 1911, no edifício de Santa Engrácia. O Depósito Central de Fardamento apenas assumirá a designação de Oficinas Gerais de Fardamento e Calçado em 1926. Em 1969, esta designação é alterada para Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, após a Fábrica Militar de Santa Clara ser incorporada nessa instituição.

 

2.1 Os Planos de Uniformes

Entre a queda da Monarquia e o final da I Guerra Mundial, destacam-se três momentos na evolução dos uniformes portugueses – 1911, com a publicação do Plano de Unifor­mes para o Exército, na O.E. n.º 16 da I Série de 1911; 1913, com a publicação da O.E. n.º 15, na I Série de 1913 – Plano de Uniformes – Alterações ao plano de 7 de Agosto de 1911, cujo prefácio é fundamental para entender o porquê do Plano de 1911 ser ina­dequado e inexequível, além desta O.E. estar inserida num contexto político-financeiro mais vasto; 1916, com os Decretos 2:231 e 2:759 da O.E. n.º 2 da I Série de 1916, que estabelecem as principais características do uniforme utilizado pelo Corpo Expedicioná­rio Português (CEP).

No entanto, é de referir a existência de Ordens de Serviço e outros decretos com altera­ções mais ou menos significativas ao longo destes anos que, por questões de operacio­nalidade e pela sua própria natureza muito específica, não serão tidos em conta neste ensaio de forma pormenorizada. Também é necessário referir que a força das próprias condições e eventos que o CEP enfrentou durante o seu serviço na Flandres levou a nu­merosas alterações e adaptações dos uniformes, mesmo que estas não fossem sequer regulamentadas a nível oficial.

O Plano de Uniformes de 1911 insere-se no projeto de criação de simbologia própria e apagamento da Monarquia do imaginário pela I República – pauta-se pelo “sacrifício de aspetos práticos e económicos em favor de tornar a aparência das tropas num projeto político”25. Recorde-se que, como referido no capítulo anterior, o Exército semiprofis­sional da Monarquia assiste com apatia à implantação da República, sendo visto como uma prioridade para o novo regime a sua republicanização, na qual se inseriam a aboli­ção das ordens honoríficas e, naturalmente, a criação de uma nova imagem e simbologia militar que se adequasse à nova situação política, incluindo os trajes.

Este Plano é caracterizado pela sua complexidade e multiplicidade de variações cosmé­ticas das peças dos uniformes: os uniformes dividiam-se, desde logo, no Grande Uni­forme (dedicado às cerimónias de maior prestígio), no Pequeno Uniforme (nas cerimó­nias mais gerais e em serviço de representação), no Uniforme de Campanha (utilizado nas expedições e combates) e no Uniforme de Instrução (também utilizado, além das formações, no serviço interno de guarnições e em exercícios de formatura)26. O azul-ferrete permaneceu generalizado nas peças, mesmo nas calças utilizadas em campanha, com o dólman de serviço cinzento abotoado a meio do peito por seis botões cobertos por pestana; a nível de cores das guarnições das peças de uniforme, também havia gran­de variação nas golas e carcelas dos dólmans e casacos, das dragonas, das listas das cal­ças e nas divisas27.

A complexidade e variação é a principal fonte de críticas a este Plano, a mais notável sendo um artigo publicado na Revista de Infantaria, em Outubro de 1911: o autor consi­dera-o uma oportunidade perdida para impor uma “verdadeira uniformidade de trajo para todas as armas, para todos os serviços, para todos os militares, enfim”, com “vari­edade infinita de cores e extravagância”, “diversidade de artigos” e assente em princí­pios obsoletos da uniformologia, ao adotar características de um figurino de base francesa já rejeitado pelos próprios franceses, que estavam a efetuar estudos a nível da regu­lamentação uniformológica28. Esta desigualdade está patente, desde logo, nas alíneas 1 e 2 do Artigo 3.º do Plano29.

Seriam estas críticas plasmadas na justificação da transição para o “Plano” de Uniformes de 1913, evidente no prólogo da Ordem do Exército que o estabelece: é explicitado o princípio da “economia” como a principal motivação para esta alteração e como a linha mestra dos uniformes nos exércitos em geral, visando “tornar estes cada vez mais simples e pouco dispendiosos”, uma vez que “os militares […] tem [sic] de o adquirir à sua custa”. São elencados, no prólogo, os fatores que permitem esta economia: qualida­de, duração e resistência das matérias-primas, a fixação da cor nos têxteis, a simplicida­de do corte que dispense intensidade a nível da mão-de-obra30.

Assim, mais importante do que as alterações principais nas peças de uniforme – a saber, a supressão do chapéu e a adoção do chapéu-capacete no Uniforme de Campanha31, a introdução de um novo tipo de uniforme (além do Grande Uniforme, referido como N.º 1, o Pequeno Uniforme, referido como N.º 2, e a alteração da designação do Uniforme de Campanha para N.º 4 e o Uniforme de Instrução para N.º 5, também é criado o Uni­forme N.º 3, dedicado a passeios, guarnições e serviços sem tropa), mais elementos de distinção entre praças e sargentos e a introdução das grevas no fardamento de campanha dos oficiais – é o que levou a estas alterações e a contextualização mais geral em que se inserem.

Há que ser referida a difícil situação financeira da I República e os esforços de conten­ção orçamental levados a cabo por Afonso Costa enquanto Presidente do Conselho de Ministros, recorrendo à “Lei travão” para impedir despesas acrescidas e atingir um su­peravit orçamental no mesmo ano em que são publicadas as alterações ao Plano32. É possível estabelecer-se uma ligação entre os princípios da simplificação estabelecida pelo Plano e, também, na autorização de utilização de peças abandonadas anteriormente e que estejam em depósito e em condições de serem transformadas33.

As principais alterações dos dois decretos de 1916, a nível das peças, são as seguintes: as botas de cabedal preto passam a ser de couro natural, a imposição da mescla de lã ou cotim de algodão cinzentos no barrete, as calças abandonam definitivamente o azul-ferrete e o dólman de serviço adota uma figura junta, algibeiras superiores mais peque­nas e inferiores de maior dimensão, externas ao corpo principal da peça.

Por último, destaca-se a Ordem de Serviço n.º 119 de 6 de Julho de 1917, que formaliza muitas das adaptações do uniforme e do equipamento às condições encontradas na Flandres, evidenciando as insuficiências que serão expandidas adiante.

Os principais materiais ao longo de todo o período serão o cotim de algodão ou mescla de lã cinzenta, dependendo das condições climatéricas, constituindo uma fonte de pro­cura importante para a indústria têxtil portuguesa, com consequências operacionais que também serão explicitadas adiante.

 

2.2 A estética e as inspirações

A dificuldade na obtenção de fontes documentais dificulta uma análise segura e total­mente comprovada quanto à inspiração estética do fardamento. No caso português, não foi possível ser encontrada documentação dos autores dos Planos de Uniformes que pudesse complementar e sustentar as suposições que, em seguimento disto, são feitas através da análise da iconografia existente.

A estética do uniforme, em si, obedecia a diversos critérios, podendo realçar-se a apro­ximação ideológica a uma potência ou hegemonia militar de outra num determinado período histórico34 – desde a adoção de certas peças ilustrativas dos uniformes de na­ções militarmente dominantes, com particular destaque para a França e a Prússia/Alemanha, até à quase-cópia dos próprios uniformes em si. Ilustrando com exemplos contemporâneos, facilmente comprovados pela iconografia atual, comparem-se as far­das cerimoniais do exército chileno, treinado pelos alemães no início do século XX, com o fardamento alemão das Grandes Guerras.

Quanto ao caso português, a já referida influência do ideal revolucionário francês tam­bém se traduziu no Plano de Uniformes de 1911. Isto é óbvio, desde logo, no formato do barrete, descrito como “cilíndrico, com a forma indicada nas fig. 128 e 130 e for­mado de duas partes, ligadas por uma costura, em toda a volta”. Compare-se este de­senho com o képi mantido pelos uniformes cerimoniais franceses até aos dias de hoje ou o atual barrete da Guarda Nacional Republicana. Isto também é evidente pelas golas elevadas e pouco ergonómicas dos dólmans, que dificultavam a rotação do pescoço e a utilização de equipamento complementar e outras, mencionadas por Sérgio Veludo Coe­lho, como o casaco, a abotoadura única, as dragonas com franja de lã e o bivaque35.

A partir de 1913, nota-se um acentuar da influência britânica e germânica no fardamen­to e equipamento – é estabelecido um novo tipo de barrete, de copa alargada e viseira (os de inspiração germânica tinham uma copa menos alargada que os de inspiração bri­tânica36), e o chapéu-capacete (baseado nos chapéus pith), inovação do plano de 1913, apresenta um espinho que o assemelha ao pickelhaube prussiano que estaria em uso no exército alemão ainda em 1914.

Uma motivação de queixas dos britânicos do British Expeditionary Force foi a similari­dade da mescla de lã cinzenta portuguesa ao feldgrau utilizado pelos alemães nos seus uniformes. No entanto, após análise de réplicas, de peças originais e de iconografia, em que se constata a semelhança de cor entre os dois fardamentos, verifica-se que o cinzen­to português apresentava uma tonalidade mais azulada (apesar de, devido à fraca quali­dade do fabrico, haver variações nessa tonalidade), enquanto o alemão tinha uma tona­lidade mais esverdeada. É possível que a opção da tonalidade azulada esteja relacionada com a adoção do azul-horizonte pelo Exército francês, podendo significar uma manu­tenção subtil da influência francesa no fardamento português.

Por último, o equipamento tem clara inspiração, quando não origem, britânica – os dis­positivos anti-gás (PHG helmet e small box respirator), os capacetes Brodie que recebe­ram a designação de m/1916 (com copa canelada) e m/1917 (com copa lisa), consoante o ano de adoção, o sistema de equipamento individual de lona m/1912 (adoção portu­guesa do pattern 1908) e o sistema de cinturão e correia peitoral Sam Browne, para ofi­ciais37.

 

2.3 Adequação e críticas ao fardamento e ao equipamento

A avaliação geralmente negativa que fazemos do equipamento português, com base na bibliografia e na documentação relevante, baseia-se em três parâmetros: a fraca quali­dade dos materiais e da capacidade de transformação da indústria portuguesa, a desade­quação das peças do uniforme e das tentativas de soluções que foram implementadas (visíveis nas ordens de serviço do CEP durante a sua permanência na Flandres) e das próprias dificuldades de abastecimento devido à insuficiência da Marinha Portuguesa e da sobrecarga da tonelagem britânica, particularmente agravada com a entrada dos EUA na Guerra e a necessidade de transportar centenas de milhares de homens e toneladas de equipamento pelo Atlântico.

No transporte do CEP para a França, a dificuldade no acondicionamento dos uniformes e equipamento resulta no transporte pessoal destes elementos pelos próprios soldados, “compelidos a vesti-lo ou a colocá-lo na mochila, abolindo-se ainda o saco de farda­mento”38. Aquando da sua chegada, numa tentativa de simplificar a logística, é eliminado um conjunto de peças, como “os atacadores, o cachecol, as luvas de lã e as palmilhas”, ao mesmo tempo que são adicionados outros elementos ao equipamento, como “os acessórios para tenda, as alpergatas, as polainas e o saco para terra39”.

As condições climáticas, em conjunto com o mau uso do equipamento pelos próprios soldados, resultam numa deterioração particularmente acelerada das peças, já fragilizadas pelo seu fabrico com recurso a materiais de qualidade pobre. Na documentação da época, ficam patentes as críticas à desaquação das peças dos uniformes e do equipamento às condições das trincheiras, destacando-se, desde logo, a Ordem de Serviço n.º 119 de 6 de Julho de 1917, que regulamenta muitas das adapta­ções ad hoc dos uniformes e do equipamento às condições encontradas na Flandres, evidenciando as suas insuficiências.

São diversos os elementos sujeitos a escrutínio, desde logo, o cinzento-azulado dos uni­formes, alvo de crítica dos britânicos, que a consideram demasiado próxima do cinzento dos uniformes alemães40, além desta cor estar mais sujeita à visibilidade da sujidade resultante do serviço nas trincheiras. A própria mescla desadequava-se às condições climatéricas devido à permeabilidade, revelando-se incapaz de resistir ao frio e à chuva. Isabel Pestana Marques afirma que foi proposta a substituição da cor cinzenta pelo ver­de caqui dos uniformes ingleses, que facilitaria a camuflagem, bem como a produção dos dólmans portugueses nas fábricas têxteis inglesas, e que estas propostas teriam sido rejeitadas devido aos interesses dos fabricantes portugueses e do próprio exército portu­guês em manter uma imagem distinta41.

Não obstante estas resistências, verificam-se, de facto, algumas tentativas de solucionar algumas falhas mais práticas dos uniformes do CEP. Um dos focos nestas alterações foi a melhoria dos agasalhos dos soldados, nomeadamente no que toca à sua liberdade de movimento e à proteção contra o frio – a principal preocupação dos praças do CEP, muito afetando o seu moral, era o medo do frio da Flandres, muito mais intenso que o do inverno português. O capote das praças sofre alterações neste sentido, tendo sido reduzido em comprimento e adicionado dois bolsos frontais abaixo da cintura42. Estas alte­rações visam evitar o seu arrastamento na lama das trincheiras, de modo a aumentar o seu manuseio e durabilidade. Quanto aos dólmans, as golas direitas dificultam o movi­mento dos soldados, bem como a colocação das máscaras anti-gás. Porém, apenas a gola dos dólmans dos oficiais é alterada, sendo adotada a gola voltada, mais próxima das golas dos dólmans britânicos. Uma das alterações mais memoráveis é a permissão do uso dos agasalhos de pele de carneiro – os safões e os pelicos – que visam o combate ao frio, resultando, porém, em consequências sanitárias negativas (por atrair parasitas) e no dano da imagem do CEP junto das tropas aliadas e das tropas alemãs. Os cachecóis, também permitidos, bem como os novos agasalhos dos oficiais têm algum sucesso, mas, no geral, as alterações adotadas junto dos uniformes das praças continuaram a revelar-se insuficientes43.

Pestana Marques destaca ainda dois outros elementos do fardamento que receberam alguma atenção devido à sua inadequação. O primeiro destes é o capacete de aço, de­nunciado pela sua qualidade inferior em comparação ao dos capacetes ingleses. Tinha uma deficiência particular na sua capacidade de amortecimento, devido à sua técnica rudimentar de ligação ao forro. Este problema é resolvido através da adoção, já em Ca­lais, do sistema de amortecimento inglês, permanecendo o uso do aço português no fa­brico dos capacetes que “manteve a inferioridade de resistência em relação aos capacetes britânicos”44.

O CEP utilizou dois modelos de capacetes: o capacete Brodie, de copa canelada, a que foi dada a designação m/1916, e a sua forma com adaptações técnicas, com a designação britânica Mk. I e a designação portuguesa m/1917. Soares Branco considera que a concessão do modelo m/1916, de qualidade francamente inferior, se prende com o desprezo das autoridades britânicass pelas tropas portuguesas45. No entanto, discordamos desta afirmação – a sobrecarga da indústria e tonelagem britânicas, tanto pela necessidade de armar as suas tropas, como para armar, além do CEP, outros corpos dos Domínios, justifica, na nossa opinião, a atribuição de material já existente a soldados de outras nacionalidades, que eram preteridos em relação aos soldados britânicos, até que estes dispussem do equipamento mais tecnologicamente sofisticado.

O segundo elemento em questão é o calçado. Este desgastava-se rapidamente devido à ausência de impermeabilização e, por vezes, ao uso não regulamentar – “o cabedal ao enxugar perdia a elasticidade e rasgava-se”46. Foi sugerida a utilização de óleo de baleia para contornar este problema, mas devido à carência deste material é utilizada uma mistura de sebo de boi e óleo de peixe, que constituía uma gordura de menor qualidade – “O sucesso da impermeabilização foi, então, comprometido”47.

Toda esta questão de insuficiência a nível de qualidade e quantidade tem que ser inserida num quadro mais amplo de insuficiência geral da tonelagem mercante britânica para fazer face a todos os desafios que lhe são postos: além de manter uma conexão transcontinental com todos os domínios da Grã-Bretanha, também fica responsabilizada por transportar centenas de milhares de soldados americanos e respetivos abastecimentos com a entrada dos EUA na Guerra, agravando ainda mais a situação logística do CEP, precária desde o início48.

 

Conclusão

Com este ensaio, espera-se ter dado mais um passo tímido na direção de um conhecimento aprofundado sobre a uniformologia portuguesa.

Conclui-se ter estado presente uma transição de influência francesa para influência germânica e britânica na uniformologia portuguesa, reflexo das próprias afinidades políticas da I República e da sua diplomacia. Além disso, está patente a fraqueza do complexo militar industrial português, que se viu sobrecarregado e incapaz de satisfazer as necessidades militares do CEP durante a Grande Guerra, acentuando a sua dependência do Exército britânico. Os Planos de Uniforme evoluíram com uma tendência simplificadora e pragmática, de modo a reduzir os seus custos e, com complementos através das Ordens de Serviço, aumentar a sua adaptabilidade e eficácia nos contextos militares em que o Exército Português se inseria.

O contacto direto com a documentação foi fundamental, uma vez que a bibliografia do tema escasseia, especialmente em relação à época histórica escolhida, e permitiu colmatar uma das fraquezas commumente presente nos currículos universitários – uma componente mais prática e inserida na aplicação dos conhecimentos, permitindo adquirir competências de investigação em alunos de licenciatura. Além disso, o complemento do contacto com práticas museológicas, auxiliares ao trabalho do historiador e a obrigação de comunicação entre ciência e a comunidade, permite conhecer o funcionamento interno dos museus, instituições intimamente ligadas à História e à sua interação com a população leiga em geral, ao dinamizar a relação estabelecida entre o observador e o presente objeto de estudo.

Recomenda-se, no entanto, o prosseguimento de estudos neste sentido – apesar da conceptualização teórica rudimentar ter sido desenvolvida por Sérgio Veludo Coelho, como já foi referido, a investigação no âmbito desta temática escasseia, particularmente em épocas fora do interesse desse autor, que está especializado no século XIX e na uniformologia da Monarquia Constitucional. Este tipo de estudos, a nível cultural, permite entender as principais influências estéticas externas na moda militar, que, muitas vezes, tem uma tradução na moda civil em geral.

É de notar que Portugal se manteve ausente de conflitos militares entre a I Guerra Mundial e a Guerra Colonial, começada em 1961, o que facilitaria certas componentes de um estudo sobre a eficácia do fardamento e do equipamento português, bem como a capacidade de produção industrial militar, durante um novo contexto de guerra, podendo pôr em causa certos componentes de um estudo posterior. Não obstante, a questão da estética e do fornecimento mantêm-se fulcrais para se compreender de quem estava Portugal dependente e com quem mantinha maiores afinidades.

 

Fontes

Arquivos:

Arquivo Histórico Militar

Arquivo Municipal de Lisboa

Fontes Documentais:

(AHM)

Documentação sobre uniformes 1911-1913-1920-1933-1934-1936

Cota: PT/AHM/DIV/3/CX9/doc 33

I Série 1911 – O.E. n.º 16 – Plano de Uniformes para o Exército

I Série 1913 – O.E. n.º 2 – Plano de Uniformes – Por ter saído com inexactidões publica-se novamente o decreto de 28 de Dezembro de 1912, com alterações ao mesmo plano

I Série 1913 – O.E. n.º 15 – Plano de Uniformes – Alterações ao plano de 7 de Agosto de 1911

I Série 1916 – O.E. n.º 2 Decreto n.º 2:231 – Alterações ao plano de uniformes

I Série 1916 – O.E. n.º 2 Decreto n.º 2:759 – Alterações ao plano de uniformes

Fontes Publicadas:

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1 Nuno Severiano Teixeira, coord., História Militar de Portugal (Lisboa: Esfera dos Livros, 2017).

2 Nuno Severiano Teixeira e Manuel Themudo Barata, dirs., Nova História Militar de Portugal, vol. 4 (Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004).

3 Abílio Pires Lousada e Jorge Silva Rocha, eds., Portugal na 1a Guerra Mundial: uma história militar concisa (Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2018).

4 Nuno Severiano Teixeira, O Poder e a Guerra 1914-1918 – Objectivos Nacionais e Estratégias Políticas na Entrada de Portugal na Grande Guerra (Lisboa: Editorial Estampa, 1996).

5 Filipe Ribeiro de Meneses, De Lisboa a La Lys – O Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra (Alfragide: Dom Quixote, 2018).

6 Isabel Pestana Marques, Das Trincheiras, Com Saudade (Lisboa: Esfera dos Livros, 2008).

7Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Tomos I e II (Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros, 1997).

8 Sérgio Veludo Coelho, «Os Uniformes do Exército Português na Transição da Monarquia para a República» (XIX Colóquio de História Militar 100 anos de regime republicano: políticas, rupturas e continuidades, Lisboa, 2010); Coelho, «O combatente português da grande guerra – fardamento e equipamento», em Portugal na 1.a Guerra Mundial – Uma História Militar Concisa, ed. Abílio Pires Lousada e Jorge Silva Rocha (Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2018), 199-228; Coelho, «Uniformologia – O jogo da aparência e da realidade», Revista População e Sociedade, n. 4 (1999): 229-50.

9 Pedro Soares Branco, Uniformes do Exército Português 1913-1919 (Porto: Fronteira do Caos, 2015); Pedro Soares Branco, Uniformes do Corpo Expedicionário Português (Porto: Fronteira do Caos, 2014).

10 Eric Hobsbawm, «The Age of Total War», em The Age of Extremes – 1914-1991, por Eric Hobsbawm (Londres: ABACUS, 1995), 22, «Mankind survived. Nevertheless, the great edifice of nineteenth-century civilization crumpled in the flames of world war, as its pillars collapsed.»

11 António José Telo identifica, na nossa opinião erroneamente, os avanços tecnológico-económicos como a Terceira Revolução Industrial. No entanto, seguindo a linha estabelecida em David Landes. The Unbound Prometheus: Technical Change and Industrial Development in Western Europe from 1750 to the Present (New York: Cambridge Univesity Press, 2003), adoptamos a tese de que a Segunda Revolução Industrial é marcada pelo advento da eletricidade e do petróleo (meados do séc. XIX a meados do séc. XX), com desenvolvimento substancial na Metalurgia e na Química, enquanto a Terceira, que surge após a IIGM, é marcada pela digitalização e o desenvolvimento da eletrónica e da computação, sendo seguida pela Quarta, relacionada com o desenvolvimento das ciências computacionais e da automatização.

12 António José Telo, «Os Começos do Século», em Nova História Militar de Portugal, ed. Nuno Severiano Teixeira e Manuel Themudo Barata, vol. 4 (Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004), 351-351.

13 Cf. José Antunes Calçada, «Elementos Essenciais do Combate», em Portugal na 1.a Guerra Mundial – Uma História Militar Concisa, ed. Abílio Pires Lousada e Jorge Silva Rocha (Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2018), 469-80, que oferece uma visão diacrónica da evolução das operações e das batalhas, incluindo sínteses relativamente às táticas e aos fatores da sua inviabilização posterior.

14 Jorge Silva Rocha, «Organização do Exército Metropolitano», em Portugal na 1.a Guerra Mundial – Uma História Militar Concisa, ed. Abílio Pires Lousada e Jorge Silva Rocha (Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2018), 133-34; Teixeira, «O Tempo das Guerras Totais (1890-1945)», 454.

15 Nuno Severiano Teixeira, «Portugal e a Grande Guerra», em Nova História Militar de Portugal, ed. Nuno Severiano Teixeira e Manuel Themudo Barata, vol. 4 (Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004), 18-19; Rocha, «Organização do Exército Metropolitano» (2018), 134-35; José Medeiros Ferreira, «As Forças Armadas e a República: Antes, Durante e Depois da Primeira Guerra Mundial», em Nova História Militar de Portugal, ed. Nuno Severiano Teixeira e Manuel Themudo Barata, vol. 4 (Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004), 267-69; Luís Salgado de Matos, «República: um “corpo com alma”», em Nova História Militar de Portugal, ed. Nuno Severiano Teixeira e Manuel Themudo Bara-
ta, vol. 4 (Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004), 120-22.

16 Telo, «Os Começos do Século» (2004), 353; Rocha, «Organização do Exército Metropolitano» (2004), 134-36.

17 Matos, «República: um “corpo com alma”» (2004), 120.

18 Telo, «Os Começos do Século» (2004), 359-60.

19 Idem, 357-58.

20 Idem, 363.

21 Idem, 358.

22 Rocha, «Organização do Exército Metropolitano» (2004), 142-48; Telo, «Os Começos do Século» (2004), 364-65.

23 Matos, «República: um “corpo com alma”» (2004), 118; Teixeira, «O Tempo das Guerras Totais (1890-1945)» (2017), 457.

24 Matos, «República: um “corpo com alma”» (2004), 132-33.

25 Sérgio Veludo Coelho, «O combatente português da Grande Guerra – fardamento e equipamento», em Portugal na 1.a Guerra Mundial –Uma História Militar Concisa (Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2018), 8.

26 Ordem do Exército n.º 16 da I Série de 1911, 1133-34.

27 Cf. Quadros n.º 1 e n.º 2 da Ordem do Exército n.º 16 da I Série de 1911, 1139-41.

28 Transcrito em Coelho, «O combatente português da Grande Guerra – fardamento e equipamento» (2018), 7-8.

29 “§1.º Os tecidos e artefactos destinados aos officiaes, chefes de musica e aspirantes a official serão, tanto quanto possível, iguaes em côr aos das praças de pret [forma arcaica da expressão «praças de pré», categoria que inclui as patentes mais baixas da hierarquia militar, incluindo soldados e cabos], mas de qualidade superior.” / “§2.º O pano dos uniformes dos sargentos-ajudantes e sub-chefes de musica poderá ser igual, em qualidade ao dos officiaies.

30 Ordem do Exército n.º 15 da I Série de 1913, 687.

31 Cf. Figura 8.

32 João B. Serra, «A evolução política (1910-1917)», em História da Primeira República Portuguesa, por Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo (Lisboa: Tinta da China, 2010), 110-11.

33 Ordem do Exército n.º 15 da I Série de 1913, 687. “Acrescendo também existir ainda, em depósito, uma grande quantidade de artigos fabricados anteriormente a 7 de Agosto de 1911, e segundo o plano de uniformes até então em vigor, impõe-se como medida de boa administração aproveitar todos êsses artigos, adoptando disposições que evitem o mais possível as despesas de transformação, e pôr de parte, no plano de 7 de Agosto de 1911, aqueles artigos de que ainda não se adquiriu exemplar algum e que podem, com vantagem, ser substituídos por outros do antigo plano, dos quais há a quantidade suficiente.”

34 Sérgio Veludo Coelho, «Uniformologia – O Jogo da aparência e da realidade», Revista População e Sociedade, n. 4 (1999), 11.

35 Sérgio Veludo Coelho, «Os Uniformes do Exército Português na Transição da Monarquia para a República» (XIX Colóquio de História Militar – 100 anos de regime republicano: políticas, rupturas e continuidades, Lisboa, 2010), 22-23; Coelho, «O combatente português da Grande Guerra – fardamento e equipamento» (2018), 8-9.

36 Branco, Uniformes do Exército Português 1913-1919 (2015), 12-13.

37 Branco, Uniformes do Corpo Expedicionário Português (2014), 24-26.

38 Isabel Pestana Marques, «O Dia-a-Dia na Zona de Guerra», em Das Trincheiras, Com Saudade (Lisboa: Esfera dos Livros, 2008), 145.

39 Idem, 145-46.

40 Meneses, De Lisboa a La Lys – O Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra (2018), 78.

41 Marques, «O Dia-a-Dia na Zona de Guerra» (2008), 148.

42 Ordem de Serviço n.º 119 do CEP, de 6 de Julho de 1917. Transcrita em Branco, Uniformes do Corpo Expedicionário Português (2014), 33.

43 Marques, «O Dia-a-Dia na Zona de Guerra» (2008), 149-51.

44 Idem, 152.

45 Branco, Uniformes do Corpo Expedicionário Português (2014), 22.

46 Marques, «O Dia-a-Dia na Zona de Guerra» (2008), 152.

47 Idem, 153.

48 Meneses, De Lisboa a La Lys – O Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra (2018), 111-68.

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