IN MEMORIAM
Major-general Adelino de Matos Coelho
31 de outubro de 1946-13 de junho de 2023
O Major-general Adelino de Matos Coelho nasceu na freguesia de Vera Cruz, concelho de Aveiro, em 31 de outubro de 1946, e faleceu em Lisboa, a 13 de junho de 2023. Era Sócio efetivo da Revista Militar, desde 1998. Desempenhava as funções de Vogal efetivo da Direção, desde 2001, e o cargo de Administrador-gerente da Revista Militar, desde 2009.
Faleceu em virtude de doença grave e aguda, com evolução muito rápida. Foi uma situação que surpreendeu todos, os seus Familiares e também os seus amigos e todos os que com ele, de forma continuada, davam corpo às edições regulares da Revista Militar.
Por todos era reconhecido como o camarada e amigo, pela sua disponibilidade e empenhamento, pelo seu carácter motivador, pela sua dedicação e espírito participativo, a par da sua competência, cultura e estímulo que sabia incutir nos seus colaboradores. Fica-nos a Memória do Camarada e do Amigo, da sua exigência e rigor postos na qualidade dos textos, dos temas dos diversos ”artigos”, a atualidade dos mesmos ou o seu interesse histórico e, ainda, o estrito respeito pelo estatuto editorial da Revista Militar.
Após ser detetada a sua doença, as conversas que iam decorrendo, encontravam, na sua confiança e no seu otimismo, a esperança, quer dos familiares, quer dos amigos, de que a sua situação clínica estaria controlada, reforçada pela sua informação confiante e determinada ao comunicar que, no dia seguinte, iria ser sujeito a um tratamento inovador. Infelizmente, foi o nosso último contacto e, apesar do seu otimismo inicial, acabaria por se contrapor o nosso desalento, pelo desfecho inesperado que lhe arrebataria a vida.
Era um Oficial estudioso e especialista da História Militar, integrava o Centro de História da Universidade de Lisboa, como Investigador Convidado, pertencia à Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos e era Conferencista regular do Centro Histórico de Almeida-Museu Histórico Militar de Almeida-Centro de Estudos de Arquitetura Militar de Almeida.
Esta faceta da sua dedicação ao estudo das campanhas da Guerra Peninsular fazia dele um conferencista muito solicitado por Escolas, promotores de celebração de efemérides, estudiosos dos temas específicos desta área, sendo, ainda, exímio nas múltiplas recensões de livros dedicados à História Militar.
Fruto da sua relação com a Universidade de Lisboa, foi o grande impulsionador das parcerias da Revista Militar com aquela Instituição Académica, na realização dos seus Encontros Anuais que, sucessivamente, foram ocorrendo.
De realçar, igualmente, o seu empenhamento e a coordenação que estabeleceu com a Biblioteca do Exército em todo o processo que conduziu à digitalização das edições da Revista Militar, desde o seu início editorial até ao último número publicado, e à inserção da coleção dos volumes da Revista nas redes nacionais e internacionais de Bibliotecas.
Tendo sido um elemento ativo do Movimento das Forças Armadas e do processo que conduziu ao 25 de abril de 1974 e à implementação da Democracia, esteve presente na Reunião de Óbidos, em 1 de dezembro de 1973, onde foi eleita a primeira Comissão Organizadora do MFA, e integrou, mais tarde, a coluna militar que saiu do Quartel das Caldas, em 16 de março de 1974. Era Sócio efectivo da Associação 25 de Abril e Sócio Fundador do Grupo de Reflexão Estratégica Independente.
Os acontecimentos do 16 de março de 1974, ocorridos a partir do Aquartelamento das Caldas da Rainha, foram sempre objecto do seu interesse, levando à sua permanente disponibilidade para o estudo e divulgação da realidade dos factos e explicitar a veracidade dos acontecimentos ocorridos, numa base fundamentada em documentação original, em alguns dos casos, muito pouco divulgada e acessível, que mantinha na sua posse, e que constituem um acervo histórico daquele período da Revolução de Abril, que importaria preservar.
O Major-general Matos Coelho ingressou como Cadete na Academia Militar, em 11 de outubro de 1965, tendo concluído a sua licenciatura em Ciências Militares para a Arma de Infantaria, em 1970, tendo sido promovido, sucessivamente, a Alferes (1970), Tenente (1971), Capitão (1974), Major (1984), Tenente-coronel (1991) e Coronel (1998), tendo, ao longo da sua carreira, desempenhado diversos cargos e exercido diferentes funções, destacando-se, como Coronel, no Comando do Regimento de Infantaria n.º 3, em Beja, e como assessor, no Gabinete do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Tendo sido promovido ao posto de Major-general em 2003, foi nomeado para o cargo de Comandante da Zona Militar dos Açores, que desempenhou, entre julho de 2003 e setembro de 2006. Terminou a sua carreia militar, na situação de reserva na efetividade de serviço, como Diretor da Direção de História e Cultura Militar e como Presidente da Comissão para os Estudos das Campanhas de África, entre março de 2007 e outubro de 2011.
Como militar insigne, que foi, da sua folha de serviços constam vinte louvores e uma referência elogiosa, tendo, igualmente, sido agraciado com as mais altas condecorações militares.
Em 2002, foi-lhe concedido o Grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade pelo seu contributo à causa da Liberdade, e à defesa dos valores da Civilização, e da dignificação da Pessoa Humana.
No âmbito da Revista Militar, foi, para além das atribuições e responsabilidades que assumiu, um colaborador sempre muito ativo, salientando-se na organização dos workshops temáticos de interesse para a Defesa Nacional/Estratégia Militar e na publicação de diversos números alusivos a efemérides, nomeadamente:
– maio de 2014, na Evocação do Centenário da I Guerra Mundial, onde se trataram as operações militares conduzidas por Portugal, em Angola e em Moçambique;
– maio de 2016, abordando a participação militar nacional do Exército, da Marinha e da Aviação Militar, no teatro de operações europeu da I Guerra Mundial, constituindo assim o complemento da edição publicada em maio de 2014, ambas em ligação com a Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I GM;
– abril de 2018, sobre a participação das Forças Armadas e da Guarda Nacional Republicana nas Operações de Paz, sob a égide das Alianças e Organizações Internacionais;
– fevereiro/março de 2019, na Evocação do II Centenário da morte do General Gomes Freire de Andrade;
– maio de 2020, versando a pandemia da COVID-19;
– agosto/setembro, na Evocação do Serviço Postal Militar.
Ao longo dos anos, para além de inúmeras crónicas bibliográficas, contribuiu com um significativo número de artigos da sua autoria que foram publicados na Revista Militar e que a seguir se enumeram:
– Legitimidade e limites ao uso da força nas Operações de Paz;
– O conflito na Guiné-Bissau no Verão de 1998 e os OCS em Portugal;
– A Primeira Brigada Mista Independente;
– O Terrorismo, a Segunda Guerra do Golfo e a Reavaliação do Direito Internacional Humanitário;
– Da normalidade do Estado democrático ao estado de exceção – Encontros da Revista Militar 2013, 1º Painel – Estado e Sociedade;
– O Expansionismo alemão em África – Número Temático – Portugal na I Guerra Mundial, Operações em África (1914-1918);
– O expansionismo alemão em África – Encontros da Revista Militar: I Guerra Mundial – Portugal em África (1914-1918);
– Portugal e a cooperação intergovernamental na UE: das origens à Cooperação Estruturada Permanente;
– Reflexão evocativa nos 170 anos da Revista Militar (Número Temático: 170.º aniversário do primeiro número da Revista Militar);
– O combate à COVID-19 no Conceito Estratégico de Defesa Nacional-2013;
– Antecedentes do Serviço Postal Militar (Número Temático: Evocação do Serviço Postal Militar);
– O “duplo uso” – uma questão de terminologia;
– A Reforma da Estrutura Superior das Forças Armadas.
À Família enlutada e aos seus amigos, a Direção da Revista Militar reitera a expressão do mais profundo pesar, na data do seu falecimento.
A Direção