Nº 2668 - Maio de 2024
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Memórias de um Militar e Engenheiro

Antes e depois do 25 de Abril, 2.º Volume, 1973-1989

Agostinho Mourato Grilo

Edição do Autor, Lisboa 2022

 

O coronel de engenharia Agostinho Mourato Grilo publicou, no ano de 2022, o 2.º volume de MEMÓRIAS DE UM MILITAR E ENGENHEIRO, que cobre o período de antes e depois do 25 de Abril, mais precisamente o intervalo de tempo que decorre de 1973 a 1989. Deve dizer-se que este ilustre militar desempenhou inúmeros cargos e funções, ao longo da sua carreira, de que se destacam:

– Comandante da Companhia de Engenharia 2580, em Angola;

– Comandante de Batalhão na Escola Prática de Engenharia;

– Professor na Academia Militar, nas áreas de Mecânica, Resistência de Materiais, Teoria das Estruturas, Pontes, Elasticidade Aplicada, Fortificação e Arquitetura Militar;

– Delegado da Junta de Salvação Nacional junto da Companhia das Águas de Lisboa (em 1974) e na Comissão Diretiva do Fundo de Fomento da Habitação (em 1975);

– Cargo militar na NATO, na POL Section do SHAPE, na Bélgica (em 1981--85);

– 2.º Comandante da Escola Prática de Engenharia;

– Projetista de Estruturas e Planeamento.

Na primeira parte das suas memórias, publicadas em 2018, o coronel Mourato Grilo relatou as suas memorações, abarcando o período de 1959 a 1973, com acentuada incidência na prestação de serviço em Angola, de 1969 a 1971, comandando a Companhia de Engenharia 2580. Já na presente obra, como afirma1:

Destina-se este volume a abordar a minha vivência militar no período referido … ele não poderia porém, deixar de ser também de cariz político-social, porque logo pouco depois do meu regresso à Academia Militar, como professor, teve lugar o 25 de Abril de 74.

Para atingir o seu desiderato, Mourato Grilo apresenta o seu trabalho em oito capítulos, estruturados de forma cronológica2:

– Capítulo I – Átrio para entrar num tempo complexo e o plenário de Cascais em 5 de março de 1974;

– Capítulo II – Organização dos capítulos; esclarecimentos gerais e de detalhe;

– Capítulo III – Funções militares do final de 1973 até à passagem à situação de reserva em 1989;

– Capítulo IV – Atividades de engenharia desenvolvidas em simultâneo com funções militares, de 1972 a 1989;

– Capítulo V – Epílogo administrativo-militar e ainda a Academia Militar;

– Capítulo VI – De novo a Academia Militar;

– Capítulo VII – Ainda a Academia Militar;

– Capíulo VIII – Alguma formação adicional, que futuro e, em particular,que Engenharia Militar?

Em relação ao 25 de Abril de 1974, em cujas teias o autor esteve envolvido, antes e após, escreveu o seguinte3:

O que é facto é que a sociedade estava bloqueada. Tinha vindo a ser anunciada como orgulhosamente só e, no entanto, não estava ela toda orgulhosa. Só alguns estavam orgulhosos.

Orgulho foi pois, o que todos, menos alguns poucos, os orgulhosos de ontem, puderam sentir naquele dia 25 de Abril. E era um facto a alegria nas ruas, a comunhão no objectivo comum, a expectativa generalizada no devir por trilhar, talvez também as dificuldades ainda não vividas, mas absoluta a necessidade em dizer não ao que ficava para trás…

É que a realidade era bem outra e já tinha, não só estropiado corpos, desiludido espíritos, cansado ânimos como, por outro lado, bloqueado intelectos e impedido desenvolvimentos...

E a glória, essa, quem a via, a não ser nas caseiras manifestações de um artificial 10 de Junho?

Para complementar o conhecimento relativo ao período em análise, é interessante referir algumas das suas experiências:

– Quando foi nomeado pelo MFA para, juntamente com o major Adérito Figueira, dirigir as operações no quartel da Legião Portuguesa, na Penha de França, nomeadamente recolher as armas que os legionários começaram a entregar; aí percorreu refúgios e salas de trabalho, onde deparou com documentos e escritos que, segundo o autor, denotavam um apoio incondicional ao regime e um saudosismo mórbido em relação à noção de Pátria4.

– Enquanto delegado da Junta de Salvação Nacional junto da Companhia das Águas de Lisboa, desde 6 de maio de 1974; no dia seguinte teve de deslocar-se aos Olivais, onde a agitação dos que aí serviam estava ao rubro, cabendo-lhe discursar, reunir com a Comissão de Trabalhadores, acalmar os ânimos e tomar nota das reivindicações5;

– Como delegado do MFA, na Comissão Diretiva do Fundo de Fomento da Habitação, que decorreu de 11 de março de 1975 até perto de 25 de novembro de 1975; a agitação neste organismo tinha vindo a agravar-se a partir de 4 de janeiro de 1975, o que deu origem à criação, por resolução do Conselho de Ministros, de uma Comissão de Inquérito à Administração, de que o autor também fez parte6.

No final da sua obra, Mourato Grilo teceu considerações sobre o futuro das Forças Armadas, em particular da Engenharia Militar do Exército que, no seu entender, deverá integrar as componentes técnicas de engenharia civil, mecânica e eletrotécnica, estendidas à informática, à cibernética e à IA, de modo a garantir o seu emprego pelo poder político, em especial no decurso de crises.

Apresentado, num volume de quase 600 páginas, com capa onde estão realçadas as mais importantes etapas da sua carreira, ilustrado com documentação diversa e fotografias da época, fruto de uma aturada investigação e comprovando a diversificada experiência e os amplos conhecimentos do autor, fica esta obra à disposição dos leitores interessados, constituindo um importante contributo para a nossa História do período de 1973 a 1989.

A Revista Militar agradece a oferta do livro MEMÓRIAS DE UM MILITAR E ENGENHEIRO, Antes e depois do 25 de Abril, 2.º Volume, 1973-1989 e felicita o coronel Agostinho Mourato Grilo.

 

Major-general Manuel de Campos Almeida

Vogal da Direção da Revista Militar

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1 Página 16.

2 Ver o Índice desta obra, páginas 506 a 516.

3 Página 19 e seguintes.

4 Página 124 e seguintes. Aí podem ser consultados alguns dos referidos documentos, bem como artigos de jornais e poemas.

5 Página 130 e seguintes. A CAL, hoje denominada EPAL – Empresa Pública das Águas de Lisboa, tinha e tem ainda a sua sede na Avenida da Liberdade n.º 24, no antigo palacete do Conde da Ericeira.

6 Página 226 e seguintes.

Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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