Quando se discute de novo o modelo e correspondente enquadramento político para a União Europeia, constatamos, por ditos e feitos, que a Segurança da Europa e a sua sempre problemática defesa não têm merecido a atenção que o novo panorama estratégico global parece aconselhar. Vamos aceitando que esta componente da construção de uma Europa para europeus continua acomodada a uma concepção estratégica conhecida como o Documento Solana de 2003, mais orientado pelas ameaças temporárias e conjunturais do que pelas imposições estruturais de uma missão que deve materializar uma segurança num espaço que se vai modificando.
A já percebida política furtiva europeia vai esquecendo a definição de um verdadeiro conceito estratégico para uma Europa que se vai alterando na geografia (forma, dimensão, fronteiras e de algum modo posição), na economia (demografia, recursos, energia, produção) e até nas ameaças, privilegiando respostas policiais e legislativas a ameaças e riscos de conjuntura e esquecendo as atitudes e preparativos de defesa que deveriam constituir a preocupação para uma visão estratégica preventiva, dissuasora e de resposta face a ameaças militares e directas nascentes. É que para uma euroburocracia instalada e crescente, que até está disposta a esquecer espaços soberanos face a um potencial alargamento de espaços de votos, e com algum esquecimento da História, é mais fácil e descomprometido ir passando o tempo a falar de diálogo, cooperação e entendimento mútuo (sem atender ao que realmente pensam os interlocutores) e de arranjos de battle groups (que no momento de acção ficarão paralisados por falta de decisão oportuna e clara) do que tomar atitudes correctas face a uma defesa da Europa que está, crescente e perigosamente, a ficar obsoleta, sem liderança e sem vontade colectiva para enfrentar ameaças.
A Europa só foi e será próspera enquanto for segura e com capacidades militares próprias. Demonstra-o a História, confirmado por factos recentes. O estilo de vida europeu não pode ser assegurado, e só, pelo pensamento e a crença de mais um século sem conflitos. Ameaças crescentes à sua economia, a degradação das suas bases demográficas, a sua dependência energética galopante e a preocupante tendência para a instabilidade social generalizada são vulnerabilidades que estão a ser cuidadosamente monitorizadas por quem nunca desejou uma Europa forte e próspera.
Competirá aos europeus e aos que acreditam numa Europa unida, próspera e segura inverterem as tendências instaladas, reverem as bases para uma postura militar credível e compreenderem que os racionais de uma sonhada Política Europeia Comum de Segurança de Defesa se alteraram. Revisão que tem de seguir a par e passo com o reavivar das relações transatlânticas e definição de novo papel para a OTAN.
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* Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção