Este número da Revista Militar contém as intervenções feitas durante a conferência que se realizou, no dia 9 de Junho, na fundação Gulbenkian, promovida pela Comissão Executiva do XV Encontro Nacional de Combatentes, a que se associaram a nossa Empresa e a Associação dos Antigos Auditores dos Cursos da Defesa Nacional.
Os encontros, que se têm realizado regularmente coincidindo com o dia 10 de Junho, o Dia de Portugal, com conhecimento da Liga dos Combatentes mas promovendo-os ao lado das suas actividades institucionais, procuram reunir antigos combatentes no espírito que os uniu e unem na defesa de Portugal. Lembrando os que caíram no cumprimento do Dever a que foram chamados, cimentando os laços de camaradagem que se materializaram no princípio de não deixar nenhum para trás, procurando perceber Portugal e os portugueses, na sua identidade, nos seus anseios e no caminho que a Nação quer percorrer.
Algumas incertezas se colocam sobre o futuro, num mundo que está a percorrer um caminho de nova e diferente globalização, de conflitos nascendo por razões variadas e tomando formas que parecem conduzir a insurreições generalizadas, no receio que o génio solte o nuclear e os seus horrores imprevisíveis. Mundo dominado por emoções onde o medo parece estar a generalizar-se.
Os combatentes procuram conhecer este mundo e a sua Nação. Não pondo em dúvida porque combateram na defesa de princípios e valores, transmitidos por gerações a que sucederam, veiculados por família, escola, convivência e Instituição Militar. Mas tentando perceber se esses valores continuam, se a vontade de defesa não desapareceu, se as actuais gerações acreditam no que eles acreditaram.
Dizem que a Nação atravessa uma crise, como outras que atravessou na sua longa História. Não é um a crise, como as outras, em que se adivinhe uma necessidade de combater. Mas será um tempo em que se exige a vontade de todos, o espírito de não deixar ninguém para trás, a solidariedade do combatente, o sentido de Pátria, indo buscar valores da Nação que nos deram identidade e sentido de um destino comum, e para todos.
Com o intuito de detectar as vulnerabilidades que nos afectam como Nação, as intervenções dos convidados a participarem neste Encontro trazem-nos importantes diagnósticos, que reconhecidamente agradecemos e que nos podem apontar caminhos.
Portugal, que materializa a ideia e o orgulho de ser português, precisa de uma Grande Estratégia para enfrentar as vagas tumultuosas de um mundo instável e de alguma crise de valores. Grande Estratégia que terá de passar, como sempre, por estratégias particulares de afirmação num mundo hostil, de consolidação económica que se traduza em bem-estar comum e repartido por todos os portugueses, de uma segurança que previna conflitos violentos, de uma postura de defesa que assegure capacidades para defender, se necessário. Grande Estratégia que não esqueça os valores da nossa cultura, não os subordinando a alguns que pela sua universalidade estarão mais na moda. Grande Estratégia que vai exigir, de todos, o espírito de combatentes. Nós, combatentes, na nossa humildade e esquecimento permaneceremos atentos.
_____________
* Sócio Efectivo da Revista Militar, Presidente da Direcção.
Nasceu em Bragança em 8 de Outubro de 1935.
É General do Exército, na situação de Reforma desde o ano 2000, depois de ter servido nas Forças Armadas Portuguesas durante 49 anos.
Além de Tirocínios e Estágios na sua Arma de origem possui os Cursos da Escola do Exército (Artilharia), Curso Complementar de Estado-Maior e Curso Superior de Comando e Direcção (Instituto de Altos Estudos Militares), Curso de Comando e Estado-Maior (Brasil) e o Curso do Colégio de Defesa Nato (Roma).
Falecido em 17 de outubro de 2014.