Se é verdade que “o medo guarda a vinha” também é verdade que não é bom conselheiro para gerir crises. E na crise que o nosso mundo está a viver parece que o medo está a tomar o papel de orientador para encontrar soluções para a superar, com alta probabilidade de conduzir a políticas de orientação autoritária que colocarão em perigo valores do estilo de vida que adoptámos, como a liberdade e a democracia. A História não se repete, mas deve ser lida sem pensar que não é mais do que um relato de maus acontecimentos que aconteceram a outros. E se lermos correctamente a História contemporânea, concluiremos que o medo não foi bom conselheiro na gestão das crises vividas.
Os acontecimentos de Setembro de 2001 nos EUA e os que se lhe seguiram noutras regiões do globo provocados por outra forma de terrorismo, parece que inspirado por valores que não são os nossos, fizeram que o medo fosse a emoção a orientar novos arranjos de segurança e consequentes mapas geopolíticos de centros de gravidade e de periferias. Para essa ameaça parece que o modelo seguido foi o do velho aforismo popular que diz que “quem tem medo compra um cão”.
Os acontecimentos que estamos a viver e que provocam o medo de perder um estilo de vida a que nos habituámos merecem um modelo de resposta diferente. Nós, militares, que já vivemos o medo e que de algum modo tivemos de o superar, sabemos que o modelo de resposta tem de ser encontrado na confiança. Confiança em nós próprios e nos valores que constituem o legado cultural que queremos deixar a quem nos seguir, onde os valores de liberdade de democracia, de entendimento mútuo e de tolerância constituam bastião de defesa para outros que advogam o retorno de modelos de estado, de organização da sociedade, de sistemas económicos e de valores que rejeitámos no passado.
A geopolítica do medo não deve prevalecer na formulação de modelos e medidas que permitam superar a crise. Deveremos continuar a defender o modelo dos valores que constituem os alicerces da sociedade que escolhemos e o estilo de vida que adoptámos, onde a confiança deve ser a pedra mestra para organizar a resposta.
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* Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção.