A Assembleia Geral da Empresa Revista Militar mandatou a sua Direcção para organizar, anualmente e no seu programa de actividades, um programa denominado Encontros destinado a uma convivência de diferentes gerações de militares, tendo em vista a passagem de testemunho dos valores que as unem, das experiências vividas e lições aprendidas, dos elementos estruturantes da Instituição Militar e do diferenciador exclusivo daqueles que a Servem: a Condição Militar.
O racional desses Encontros encontra-se no legado dos Pais Fundadores da Revista, um grupo de 26 Oficiais do Exército e da Armada Real, dirigidos pelo então Tenente do Real Corpo de Engenheiros Fontes Pereira de Mello, no dia 1 de Dezembro de 1848: a Revista Militar deveria constituir o fórum de transmissão do pensamento militar entre gerações. É esse legado que queremos respeitar, honrar e ir passando.
Interpretando a missão recebida, a Direcção da Revista entendeu escolher para tema dos Encontros deste ano Lições Militares das Últimas Campanhas do Império (1961-1975), realizados no dia 10 de Dezembro, na Academia Militar. Perante os seus Comandantes, a nova geração de Cadetes das Escolas de Formação de Oficiais dos três Ramos das Forças Armadas e da Guarda Nacional Republicana formou ao lado dos seus camaradas de armas mais velhos, representando uma geração que fez uma guerra de características próprias e com lições militares que ainda merecem reflexão.
No pensamento militar internacional decorre actualmente um intenso debate sobre o modelo de Forças Armadas do futuro, havendo correntes que defendem modelos especialmente vocacionados para enfrentar conflitos armados do tipo insurreição, privilegiando as capacidades militares mais vocacionadas para esse tipo de conflito. Outras correntes defendem modelos que continuam a privilegiar capacidades militares mais vocacionadas para conflitos do tipo convencional, e que alguns baptizam com guerras de teatro. Os cenários mais realistas apontam para prever guerras híbridas, combinando conflitos que podem tomar a forma de convencionais, irregulares, disruptivas (procurando anular capacidades militares que resultam de elevada tecnologia) ou catastróficas (utilizando armas de destruição massiva). Qualquer que seja o modelo para as Forças Armadas do futuro a sua missão será, como foi no passado, combater.
É este o legado cultural e institucional que se procurará transmitir nestes Encontros e diálogo entre gerações de militares. Por razões de tempo, este ano o tema tratado foi o Emprego Operacional das Forças. Esperemos ter tempo para, no futuro, abordarmos outros temas, como a Logística, a Cooperação Civil-Militar, o emprego de Forças Irregulares ou Auto-defesa de populações. Quando lemos as questões que se colocam à definição de estratégias militares para enfrentar conflitos que se desenvolvem no Iraque, no Afeganistão ou no Congo concluímos que muito do que se debate foi pensado, planeado e praticado pelas Forças Armadas Portuguesas nas últimas campanhas em que estiveram envolvidas.
Costuma dizer-se que na história dos conflitos irregulares tem havido muitos relatos dos vencidos e pouco dos vencedores. Acreditamos que a história das Forças Armadas Portuguesas naquelas campanhas é uma história de vencedores.
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* Sócio Efectivo da Revista Militar. Presidente da Direcção.