Quero e devo assinalar com emoção e júbilo a publicação pela “Revista Militar” de um número comemorativo do 1º Centenário do Nascimento do General Luís Maria da Câmara Pina, contendo as comunicações feitas nas sessões solenes que, inspiradas pela “Revista Militar”, se realizaram nas instituições em que o General Câmara Pina exerceu actividade e deixou a marca do seu valor pessoal.
Com a aquiescência da Direcção, quero e devo também publicar neste número umas linhas, que sei bem serão redigidas pelo coração, referentes a uma Amizade que “não esqueço”.
Estive ligado ao General Câmara Pina quase uma trintena de anos, cerca de metade dos quais como seu Oficial do Estado-Maior próximo ou Chefe do seu Gabinete no Estado-Maior do Exército - e sempre como seu amigo devotado. Da sua parte, e quanto a mim o General Pina foi um Grande Amigo na vasta acepção da palavra.
Neste alongado período de tempo, que permitiu um contacto estreito e tantas vezes não formal, porque consentido, pude valorizar-me e enriquecer-me pelo trabalho com um Grande Espírito.
Assim, estive frente a um Chefe Militar altamente competente, possuidor de uma cultura extraordinária e de uma notada e vincada elegância de trato. E assisti dia a dia e empenhadamente à forma profissional, clara e segura como o General Pina assumiu as pesadíssimas responsabilidades de recrutar, instruir, organizar e enquadrar, deslocar e transportar, reabastecer remuniciar e assegurar cuidados de saúde e apoiar moralmente as tropas para o então Ultramar e do então Ultramar, sediadas num espaço que ia de CABO VERDE a TIMOR.
“Companheiro fascinante” lhe chamou o Professor Reginald Jones, da Universidade de Aberdeen, numa carta dirigida ao Times, de Londres, quando do seu falecimento.
Apesar do correr dos anos e das situações mantive sempre um estreito convívio amigável e respeitador. E no final, porque a vida mantém inflexivelmente as suas Leis, tive a dolorosa honra de ser portador, no seu funeral, da almofada com as suas condecorações. E ficou uma recordação que se mantém muito viva e uma saudade imensa.
Duas lembranças ficaram bem gravadas no meu espírito e no meu coração:
- total adesão à função, fosse ela qual fosse;
- e a sua alegria de viver.
Junto do General Luís Maria da Càmara Pina sentia-me “melhor” e “maior”, como militar e como pessoa.
Poder o Homem criar, manter e respeitar Amizades é uma Graça Divina.
Tenente-General J.M. de Bethencourt Rodrigues
Sócio Honorário da Revista Militar desde 1998, Sócio Efectivo desde 1970. Presidente da Direcção de 1980 a 1990, na sucessão do General Câmara Pina, por seu falecimento.