Dom Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino (1360-1431)
“A história é verdadeira, a tradição verosímil, e o verosímil é o que importa ao que busca as lendas da Pátria.”
Alexandre Herculano
A bibliografia portuguesa tem dedicado à figura de Dom Nuno Álvares Pereira muitas páginas, recordando as virtudes que caracterizaram a figura que a História da Pátria, na sua tradição, celebra como herói e santo. Sem historiografia coeva até agora conhecida, A Crónica do Condestabre, de autor desconhecido e datada de meados do século XV, refere aquelas virtudes dando relevo, entre outras, à da caridade. Fernão Lopes, na sua Crónica de D. João I, e quando relata a forma como o jovem Dom Nuno é nomeado Condestável do Reino, escrevendo que “assim no temporal como espiritual, vivo e depois da morte, sempre foi havido em grande reverência por todo o povo…”, transmite para os vindouros que ao Condestável eram reconhecidas virtudes não comuns. Gomes Eanes de Azurara, na Crónica da Tomada de Ceuta, quando se refere ao conselho que o Condestável dá ao seu Rei para iniciar tal empreendimento, transmite-nos como Dom Nuno encarava a sua condição de homem de guerra perante uma missão. De joelhos, perante D. João, teria dito: “Eu vos faço esta reverência tendo-vos muito em mercê de me confiardes coisa em que vos sirva no meu ofício de cavalaria em que Deus por sua mercê pôs…”.
Gerações de portugueses aprenderam a ver em Dom Nuno Álvares Pereira um herói que lutou com valor pela defesa da Pátria quando tal se tornou necessário. Vivendo um tempo em que a arte da guerra se transformava, as suas virtudes exteriores de soldado, vistas de fora, têm servido para motivar os que são chamados a defender valores e bens que materializam o destino comum de Nação. A sua acção em Aljubarrota levou a celebrá-lo, na História Militar nacional, o Patrono da Arma da Infantaria. A primeira contribuição de Portugal, em forças terrestres, para a defesa colectiva da Europa, materializando a estrutura militar integrada acordada no Pacto do Atlântico, foi a 3ª Divisão Nun’Álvares. Na inauguração da Igreja do Santo Condestável, no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, estiveram presentes todos os estandartes das Unidades do Exército Português.
D. António dos Reis Rodrigues, bispo da Igreja Católica, que durante algumas gerações de Cadetes foi capelão da Academia Militar, há pouco desaparecido e evocado nesta Revista, na biografia que nos deixou de Nun’Álvares, escreveu:
“Nenhuma época se repete, nenhum homem se copia. No entanto, há princípios que, embora traduzidos existencialmente de forma sempre diversa, são perenes, e pessoas que, pela intensidade e pureza com que aderem a esses princípios, se tornam verdadeiramente exemplares. Por isso, o estudo das grandes figuras históricas não é um acto de saudosismo doentio, uma fuga para trás, um repúdio do tempo em que se vive, mas a aprendizagem de como, posto que num quadro de vida e em circunstâncias muito diferentes, é possível triunfar da mediocridade e colocar-se, hoje mesmo, ao serviço de uma causa nobre”.
A Revista Militar tem dedicado algumas das suas páginas à figura do Condestável e herói da Pátria. Agora junta-se aos que reconhecem as suas virtudes, vistas por dentro, elevando-o a Santo da Igreja Católica.
_____________
* Presidente da Direcção da Revista Militar.