O Colégio Militar na Toponímia Portuguesa
Esta obra transcende, em muito, a expectativa criada pelo título com que nos é apresentada.
De facto, ao longo dos textos por que se desdobra revela-se-nos como um hino ao valor, enquanto experiência existencial.
Em dois Séculos, somos confrontados com testemunhos de servir que, no seu voluntarismo consciente e interventor, ao serviço do sentido do dever e da causa comum que é a Pátria, espelham um modelo de formação que lhes foi comum.
O ambiente, onde todos aqueles 89 vultos sublimados, foram acrescentando os necessários saberes, praticando o consciente sentido da responsabilidade, cultivando o bom senso, reforçando a auto-confiança esclarecida e aprendendo a saborear o gosto pela dádiva na vivência em camaradagem, no exercício da cidadania e no amor pela liberdade e pela Pátria, foi o Colégio Militar - um cadinho de tradições, onde, em nome da honra e do dever, se cultivam práticas de desenvolvimento de capacidades, exercitando a mente e o corpo, controlando e compreendendo as limitações sentidas e respeitando e potenciando as qualidades descobertas.
A excelência e o carácter nacional desta Instituição, cujas origens remontam ao fulgor dos ideários nascentes, na Europa, na transição do Século XVIII para o Século XIX e que acaba por, nos seus primórdios, a partir de 1803, ser acarinhada, estruturada e dirigida pela personalidade notável que foi o Marechal António Teixeira Rebelo, muito justamente titulado como seu insigne fundador, são realçados, de forma muito ajustada e incisiva, como é seu timbre, pelo General António dos Santos Ramalho Eanes no prefácio que precede a introdução à Obra.
Ao autor da obra, o Coronel Tirocinado José Alberto da Costa Matos e, a todos quantos nela de alguma forma colaboraram, o muito apreço pelos sadios exemplos de “meninos da luz” com que, na excelente obra publicada, são desafiadas ou desassossegadas, mesmo, a nossa geração e a juventude que nos sucede.
À Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar o reconhecimento pela esclarecida perseverança com que enquadra a transmissão do testemunho colegial que, no ordenamento da multissecular tradição, se objectiva no saber e querer servir a afirmação de Portugal no Mundo.
Tenente-General João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes
Vogal Efectivo da Direcção da Revista Militar
O Exército Português e as Comemorações dos 200 anos da Guerra Peninsular
O Exército, tendo em conta a importância dos acontecimentos da Guerra Peninsular e consciente da necessidade de aprofundar o conhecimento dos mesmos, programou e desenvolveu, de sua iniciativa ou em parcerias, designadamente, com autarquias, universidades e escolas, actividades de âmbito histórico-cultural, como contributo para as respectivas comemorações.
A decisão de organizar uma obra, em quatro volumes, com o título O Exército Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular, constitui uma forma de reportar as diferentes modalidades de apoio ou participação, levadas a efeito. O I Volume (2007-2008) espelha e regista, para memória futura, os eventos correspondentes aos principais acontecimentos da I Invasão.
De Agosto de 2007 a Dezembro de 2008, o Exército participou em trinta e oito eventos, nos concelhos de Abrantes, Arruda dos Vinhos, Bragança, Caldas da Rainha, Coimbra, Constância, Évora, Figueira da Foz, Funchal, Lamego, Leiria, Lisboa, Lourinhã, Mafra, Mealhada, Montemor-o-Novo, Oeiras, Olhão, Porto, Proença-a-Nova, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Nova da Barquinha, na Academia Militar, nas Universidades de Coimbra, Católica e da Madeira, em escolas de diferentes graus de ensino, incluindo, o Colégio Militar e o Instituto de Odivelas e em unidades, estabelecimentos e órgãos militares.
Dos eventos, constaram cerimónias militares (com o empenhamento de unidades militares), sessões solenes, colóquios e conferências (com investigadores, historiadores e estudiosos, civis e militares), concertos por bandas militares, exposições temáticas (com o apoio do Arquivo Histórico Militar, dos Museus Militares, da Direcção de Infra-estruturas do Exército e do Instituto Geográfico do Exército).
Ainda neste âmbito, um pelotão do Regimento de Infantaria nº 14, de Viseu, representou o Exército na Cerimónia Militar Comemorativa da Guerra da Independência, em Madrid, ao lado de forças dos Exércitos de Espanha, de França, do Reino Unido e da Polónia.
A síntese destes acontecimentos, da responsabilidade do Coronel Luís Albuquerque e do Tenente-coronel José Paulo Berger, é antecipada de análises históricas correspondentes às temáticas mais importantes do período, para as quais foi fundamental a disponibilidade de especialistas, civis e militares:
- À Cronologia da 1ª Invasão, desenvolvida pelo Major-general António José Maia de Mascarenhas, engenheiro militar, segue-se uma perspectiva da Guerra global portuguesa, contextualizada pelo Tenente-coronel Nuno Lemos Pires, especialista em história militar;
- O Dr. Manuel Amaral, especialista em História do Exército Português, no período de 1793 a 1823, desenvolve o tema O Exército Português e o início da Guerra Peninsular, na perspectiva importância desta nos momentos decisivos do desembarque britânico e da actuação conjunta das forças aliadas;
- Os interesses britânicos na Madeira, pouco estudados na historiografia portuguesa, são apresentados pelo Prof. Doutor Paulo Miguel Rodrigues, da Universidade da Madeira, que destaca os interesses estratégicos na Ilha, há duzentos anos, no quadro da importância do Oceano Atlântico, como um importante espaço de desequilíbrio entre as grandes potências, no qual a Grã-Bretanha, em virtude dos seus interesses, se considerou detentora de hegemonia secular;
- O Tenente-coronel Abílio Lousada, professor do Instituto de Estudos Superiores Militares, aborda A Invasão de Junot e a resistência à ocupação (citamos) “Adaptando o conceito trinitário da guerra de Clausewitz, como uma história feita de (ir)racionalidade pura, paixão e ódio, probabilidades e acaso, que tem nas milícias populares e nas milícias regimentais os principais protagonistas”;
- Testemunhos franceses, da autoria do Prof. Doutor António Pires Ventura, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desperta-nos a curiosidade pelos depoimentos daqueles que integraram o exército napoleónico e que estiveram em Portugal durante as Invasões Francesas, homens que vieram até à Península Ibérica, no cumprimento dos desígnios de Napoleão, como agentes e instrumentos de um projecto hegemónico, fruto de um espírito genial, mas com uma ambição desmedida;
- Na perspectiva do Tenente-coronel Carlos Fonseca, Director do Arquivo Histórico Militar, As batalhas decisivas - as vitórias anglo-lusas, no combate da Roliça e na batalha do Vimeiro - como culminar da I Invasão, denunciaram o estado de debilidade a que chegou o exército de Junot e permitiram que Portugal continuasse a garantir o estatuto de nação independente;
- Na Rendição e retirada dos franceses: (Re)Construções britânicas e portuguesas, a Prof. Doutora Gabriela Ferreira Gandara Terenas, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, centrando-se nos momentos finais da I Invasão, nomeadamente os que se relacionam com a derrota e a retirada de Junot, analisa diferentes percepções e registos dos acontecimentos, comparando discursos narrativos de autores de nacionalidades diferentes e em épocas diversas.
Ao incentivar ou associar-se a cerimónias evocativas, através da sua Comissão Coordenadora para as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular, o Exército deixa nota dos eventos realizados, como preito de homenagem e respeito ao sentimento patriótico dos que, ao tempo, combateram, foram sacrificados ou deram a vida na defesa e salvaguarda da independência nacional.
A Revista Militar agradece a oferta desta publicação, uma co-edição do Exército e da Tribuna da História.
Major-General Adelino de Matos Coelho
Director-Gerente da Revista Militar
As Transmissões Militares da Guerra Peninsular ao 25 de Abril
Esta História da Arma de Transmissões foi escrita “a várias mãos” pela Comissão da História das Transmissões, constituída “ad hoc” em 2003, pela iniciativa do General Amadeu Garcia dos Santos.
Os elementos da Comissão, e outros militares da Arma, pesquisaram, recolheram e analisaram documentos, observaram testemunhos, depoimentos e materiais, de que resultaram o seu registo em base de dados e a obra, que se divulga e enaltece junto dos leitores da Revista Militar.
Os trabalhos da Comissão realizaram-se de acordo com as normas do Arquivo Histórico Militar, aspecto relevante que só foi possível com a colaboração, desde o início, do Tenente-Coronel de Artilharia, Aniceto Henrique Afonso, historiador, na altura Director do Arquivo.
No Prólogo a Comissão salienta como dever cívico a preservação da memória, apresentando-se, também, como protagonista da história militar de Abril: “(…). Guardou-se a distância que confere mais objectividade. E nessa espera fomo-nos pacificando e entendendo melhor. Participámos na Guerra Colonial e fomos capitães de Abril. E alguns foram-no também de Novembro. Com Abril fomos libertadores. Com Novembro fomos pacificadores. Somos todos camaradas de armas. Da Arma de Transmissões.” Antes, na sua Abertura, o coordenador dos trabalhos, TCor Aniceto Afonso, talvez pressentindo críticas por haver outros assuntos, outras experiências e outros saberes a merecer divulgação, salienta, referindo-se à disponibilidade que sentiu na Comissão. “(...). Também se propõe trazer outros participantes que renovem a equipa, lançar pontes para novas gerações, transmitir uma mensagem de ligação permanente entre velhos e novos. No fundo, estão prontos para valorizar a experiência e o saber, para participar na afirmação e prestígio da sua Arma, para continuar a servir, na medida das suas capacidades, o Exército e as Forças Armadas.”
A edição da obra esteve a cargo da Comissão Portuguesa de História Militar com apoio da Fundação Portugal Telecom, constando da seguinte organização: Agradecimentos. Abertura. Prólogo. As Transmissões Militares - Antecedentes Históricos; das Comunicações Medievais à Primeira Unidade de Transmissões de Campanha (1884), “Em 1884, Fontes Pereira de Melo, completou a execução do projecto que anunciara no ‘Relatório às Cortes’ de 1874. Com a reorganização do Exército chamada fontista, de 1884, foi criada a Companhia de Telegrafistas, integrada no Regimento de Engenharia, instalado no Quartel dos Quatro Caminhos (hoje ocupado pelo Regimento de Transmissões)”. Da Primeira Guerra Mundial à Entrada na NATO. Da Entrada na NATO à Guerra Colonial. Período da Guerra Colonial, 1961-1975; salientando-se, O Estado Português da Índia, Angola, Moçambique, Guiné e Timor. Vultos Relevantes; apresentando Augusto César Bom de Sousa, Tenente-General (1832-1905), oriundo da Arma de Infantaria, mas com grande parte da sua carreira dedicada às Transmissões; Manuel Afonso do Paço, Tenente-Coronel (1895-1968), curso de Administração Militar da Escola de Guerra, nessa especialidade prestou serviço no Batalhão de Telegrafistas onde se envolveu em trabalhos de vulto, e pioneiros, na área das Transmissões: Mário Pinto da Fonseca Leitão, Coronel de Engenharia (1912-2003), “A sua intervenção foi decisiva na expansão que o Serviço de Telecomunicações Militares veio a ter, a partir de 1960, na preparação para a guerra colonial através do planeamento, organização, aquisição do material e dotação das delegações do STM enviadas para as colónias.” As Transmissões Militares - Do 25 de Abril ao 25 de Novembro. As Transmissões Militares - No Período de 1976 a 2000; referindo-se, Reestruturação da Arma de Transmissões, Depósito Geral de Material de Transmissões (DGMT), Projecto, Desenvolvimento e Produção de Equipamentos, Serviço de Telecomunicações Militares (STM), Semanas da Arma de Transmissões, Academia Militar, O Jantar do Ceptro - Tradição Académica da Arma de Transmissões, Centro de Instrução de Guerra Electrónica, Batalhão de Transmissões de Campanha, Integração do Serviço de Informática do Exército, Escola Militar de Electromecânica, Regimento de Transmissões (Porto) - Escola Prática de Transmissões (Porto), Companhia de Transmissões da 1ª BMI, Conselho da Arma de Transmissões, Brigada de Telegrafistas, A 2ª Geração NATO, Estação Ibéria NATO, Cooperação (BTm4 - ONUMOZ, CTm5 - UNAVEM, MINURSO, cooperação com a Guiné-Bissau), Outras Operações, Museu das Transmissões. Directores, Comandantes e Chefes. Cronologia. Lista de siglas utilizadas e Bibliografia e Fontes.
O livro (302 páginas) por certo resultou de trabalho coerente, persistente e de reconhecido âmbito de ciência histórica da actualidade, constituindo-se excelente obra de estudo e consulta, proporcionadora de continuada investigação. As descrições que envolvem protagonistas ainda de excelente vigor intelectual e físico, nomeadamente Período da Guerra Colonial, do 25 de Abril ao 25 de Novembro e de 1976 a 2000, podem causar críticas ao relevarem ou esquecerem, acontecimentos e pessoas importantes ao mundo das Transmissões Militares Portuguesas, daqueles períodos, mas fica raro registo de pormenor que proporciona desafios a outros militares, que se revelem investigadores, como se diz na Abertura.
Ao General Garcia dos Santos, autor principal do Projecto e seu coordenador, a Empresa da Revista Militar agradece o exemplar da obra enviado e felicita o General e a Arma de Transmissões pela realização deste exemplar trabalho inovador e oportuno.
Coronel António de Oliveira Pena
Sócio Efectivo da Revista Militar