Nº 2500 - Maio de 2010
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Ideia Resumo do que foi o Corpo Militar Académico de Coimbra
Tenente-coronel
Armando Almiro Canêlhas
1ª Invasão Francesa em 1808
 
Tinha-se dado sem qualquer resistência a primeira invasão napoleónica de Portugal pelo exército de Observação da Gironda, comandado pelo general Junot. Mas motivado pela actuação despótica deste chefe militar e suas tropas, cedo começa a germinar um crescente sentimento de revolta, contra os ocupantes, e que em Espanha já havia sido efectuada pelos mesmos motivos, começando uma sublevação geral, em Maio de 1808.
 
No nosso País, começou no Porto, em 22 e 23 de Junho, feita por civis e militares, e pelas próprias tropas espanholas que tinham vindo com Junot, e que aliás não deixaram uma má memória de uma sua ocupação, antes pelo contrário. Seguiu-se Bragança, dirigida pelos generais Sepúlveda e Silveira, depois Chaves, Braga, Melgaço, Vila Pouca de Aguiar, alastrando rapidamente por todo o nosso Pais, desde Trás-os-Montes até aos Alentejos e Algarve, que recebem reforços dos espanhóis.
 
23 de Junho
 
Coimbra subleva-se a 23 de Junho, pela noite, com a chegada das notícias trazidas por alguns sublevados que vieram do Porto, e já com civis voluntários armados de Óis da Ribeira e Mealhada, onde já haviam travado um combate com um posto inimigo na Ponte Nova (perto de Coimbra) matando alguns franceses e aprisionando outros.
 
A população desta cidade, acorreu ao chamamento e ajudou a atacar o antigo Colégio de Dominicanos, na Rua da Sofia, aprisionando os militares franceses que lá estavam alojados, com todo o seu material e munições.
 
25 de Junho, 1808
 
Na natural exaltação e vontade de prosseguir a revolta, alguns sugeriam ir atacar o Forte da Figueira da Foz, visto haver rumores de que a esquadra inglesa estava próxima, e aprisionar toda a guarnição (cerca de 80 homens).
 
E nesse mesmo dia 25, o primeiro-sargento de artilharia da corte, e também estudante, Bernardim António Zagalo, partiu à noite com 40 homens, sendo 25 estudantes, chegando à Figueira da Foz, no dia 26, pelas sete horas da manhã, mas já acompanhado por cerca de 3.000 populares que se foram juntando armados com caçadeiras, forquilhas, foices e outras ferramentas aguçadas.
 
Interrompendo este relato do assalto no forte, vejamos o que se está a passar em Coimbra.
 
26 de Junho
 
Como havia tropas francesas para os lados da Beira Alta, consta que o general Loison estava em Viseu e vinha atacar esta cidade, toda a gente ficou a fazer a sua defesa, com barricadas, abatizes, fossos, distribuíram-se armas e munições, pedras, cal viva, barricas, e tudo o mais que servisse para deter o inimigo. Neste dia começa-se a fabricar pólvora no Laboratório de Química da Universidade, com salitre, enxofre e carvão vegetal, sob a direcção do lente Dr. José Bonifácio de Andrade e Silva. A fábrica de Manuel Guimarães iniciou a reparação das espingardas. Dois soldados que estavam convalescentes no Hospital fizeram cartuchos. Na tarde de 25, os boatos da chegada de Loison aumentaram e continuou a organização de uma pequena tropa sob o comando do lente de matemática e Tenente-coronel Dr. Tristão Álvares da Costa Silveira e com os estudantes reunidos na Feira do Bairro Alto, que foram instruídos e divididos em seis companhias de infantaria, uma companhia de artilharia e uma companhia de cavalaria.
 
Os lentes que não se alistaram nestas unidades, constituíram com toda a abnegação e humildade, uma pequena unidade com o efectivo de uma companhia, como se fossem simples soldados.
 
Muitos estudantes que estavam de férias acorreram voluntariamente a alistar­-se. E assim nasceu o Corpo Voluntário Académico de Coimbra.
 
Iriam logo a seguir usar os fardamentos pretos, forro azul claro, debruados a azul claro, gola carmesim e dourada, barretina com frontão como as tropas militares regulares, com pluma carmesim e cordões dourados.
 
27 de Junho
 
Houve a notícia que Loison não se dirigia a Coimbra, o que provocou um grande alívio na cidade.
 
28 de Junho
 
Regressa a Coimbra o Destacamento Académico que ocupa o forte da Figueira da Foz trazendo presos franceses, o comandante e as armas, e 5 peças de artilharia.
 
Voltando agora ao dia 25 vejamos com mais pormenor o que se passou para os lados da Figueira da Foz.
 
25 de Junho - partida à tarde do Destacamento Académico comandado pelo primeiro-sargento e estudante, António Inácio Caiola, mas o primeiro-sargento separou-se e foi com mais quatro cavaleiros, em reconhecimento, por Tentugal, Carapinheira até Montemor, onde houve reunião com o Corpo Voluntário Académico, seguindo então todos, de noite, para a Figueira da Foz, onde chegou às 7 horas da manhã de 26, com cerca de 3.000 homens que se lhes juntaram pelo caminho armados com tudo quanto podia servir de objectos ofensivos.
 
Dia 26 de Junho - Figueira da Foz
 
Entraram na cidade em 2 grupos, e dirigiram-se para o Forte de Santa Catarina. Todo o povo acorreu com entusiasmo a este lugar dirigindo-se para o forte, e o primeiro-sargento Zagalo, ao ver o perigo que se corria ao estar a tão pouca distância das muralhas, ordenou que recuassem e que se abrigassem. Os franceses efectivamente reagiram com dois tiros de canhão e com mosquetaria, mas sem danos, devido às competentes ordens de Zagalo. O comandante do forte era um tenente de engenharia português e dois tenentes (os restos do quase dissolvido Exército Português, ainda estavam sob as ordens de Junot) entrou em conversações, dizendo que tinha família em Peniche e se houvesse rendição haveria retaliações sobre os seus. Por fim negociou-se a rendição, mas porque os soldados franceses esconderam munições no seu equipamento, quebrou-se o contrato e toda a guarnição foi presa e levada para Coimbra.
 
Ainda 25 de Junho
 
Neste mesmo dia, em Coimbra, decidiu-se nova expedição de Académicos, para o sul, que saiu comandada pelo furriel estudante Vitorino Barros de Carvalhaes, em fins de Junho, e que depois de proclamarem a restauração em Coimbra, seguiram para Ega, Soure, Pombal, e depois Leiria onde entraram atacando a ponte desta cidade e pondo em debandada a guarnição francesa, dos quais se fizeram 4 prisioneiros.
 
1 de Julho
 
Quando estavam em Leiria, receberam o pedido de auxílio do povo da Nazareth e Pederneira contra abusos das tropas francesas e assim pelas 2 horas da tarde os académicos lá foram com mais 60 homens das ordenanças de Leiria e Pombal e mais 60 de Pataias, chegando às nove horas da noite a Nazareth onde havia dois fortes, um com o nome de S. Miguel, e outro com denominação de S. Gião e S. Martinho, que ficam próximos e tendo os dois cerca de 150 soldados. A guarnição deste último assim que teve a notícia da chegada dos estudantes, desertaram fugindo do forte e deixaram as peças mal encravadas e tendo enterrado dois barris de pólvora e munições. O Corpo Académico que já estava a cercar o forte de S. Miguel da Nazareth, ao saber disto destacou algum pessoal que acorreu ao forte de S. Gião e S. Martinho, e levou 2 peças abandonadas, que desencravaram, e as munições que vão utilizar no cerco ao forte de S. Miguel da Nazareth, começando logo a fazer fogo para arrasar as paredes.
 
Nesta ocasião espalha-se uma notícia que havia chegado a Óbidos, que ficava a poucas léguas, uma parte da guarnição francesa de Peniche, o que causou um certo embaraço, Assim, resolveu-se cortar imediatamente as duas pontes e apontar para a estrada uma das peças carregada de metralha, Fizeram-se também alguns tiros. Ao ouvirem tal ruído e tendo sido posto a correr entre os inimigos um boato que estava a convergir ao local um forte exército luso­-espanhol, o contingente francês do general Thomiêres recuou para Peniche, acabando esta ameaça. Então puderam os académicos levar novamente o canhão, para o cerco, pondo sentinelas de noite de 20 em 20 metros e acendendo fogueiras para iluminar o campo.
 
No dia seguinte, ainda de madrugada, os inimigos tentaram romper o cerco à baioneta calada, mas foram repelidos para dentro do forte a tiro de espingarda.
 
Ao amanhecer os sitiados dispararam dois tiros de canhão, mas sem consequências, a que os académicos responderam também com dois tiros de canhão, o primeiro arrombando a porta do forte e o segundo destruindo parte da abóbada de um aposento interior. Então o comandante Miron pediu negociações, que primeiramente falharam, mas continuando o fogo dos soldados, veio por fim a rendição que foi difícil para serem poupados à vingança da população. Na tarde do dia 5 de Julho, puseram-se a caminho de Leiria, os académicos e os 50 prisioneiros.
 
No caminho para esta cidade, soube-se que os franceses haviam retomado Leiria onde fizeram grande chacina.
 
7 de Julho
 
Havia pois que recuar até à Marinha Grande e depois, separados pelo Pinhal Real, regressam à Figueira da Foz tendo andado cerca de 13 léguas toda a noite, onde entraram em triunfo. Seguidamente marcharam para Coimbra onde entraram em triunfo.
 
8 de Julho
 
Organizou-se um cortejo pela seguinte ordem:
- Charanga da Universidade;
- Infantaria académica com os prisioneiros de barretina nas mãos e algemados com cordas 2 a 2, e mais o tenente Miron montado num burro;
- Um académico dos vencedores sentado num belo cavalo com a bandeira portuguesa. A bandeira francesa ia amarrada à cauda;
- A infantaria e cavalaria académica fecharam o cortejo que foi até ao pátio de universidade.
 
Novamente se entra em celebrações e festas, publicações de versos, etc., tudo para enaltecer a heroicidade dos estudantes.
 
 
17 de Julho
 
Saia de Coimbra um destacamento de 96 académicos comandados pelo Tenente-coronel Tristão Álvares da Costa Silveira em missão de reconhecimento. O destacamento chega a Condeixa onde pernoita.
 
18 de Julho
 
Segue para Soure e Pombal, chegando e esta vila cerca da meia-noite.
 
19 de Julho
 
Constou que em Casal dos Ovos estava um destacamento inimigo, o que levou os académicos a mandar um piquete com todos os cuidados até Leiria, que acharam abandonada pelo inimigo e onde fizeram alguns prisioneiros franceses, 5 que estavam no Hospital. Apresentaram-se nessa altura alguns desertores do exército francês, hanoverianos e alemães, que estavam já fartos de guerras. Constando que na Nazareth, havia alguns canhões que os franceses poderiam utilizar, para lá seguiram 2 estudantes com uma força de populares que os trouxeram para Leiria, recebendo os maiores elogios dos comandantes pois iriam servir para defesa da cidade.
 
5 de Agosto
 
O destacamento académico marchou de Pombal para Leiria. Chegado a Machados, tiveram noticias que os franceses avançavam de novo sobre Leiria, donde iam fugindo os habitantes mas, depois souberam que não era o inimigo mas sim a Guarda Real da Policia, vinda de Lisboa, que havia desertado do comando do general Junot. Em Leiria fizeram ainda serviço de guarnição e foi recebida a notícia do desembarque dos ingleses em Lavos (que se começara a efectuar a 30 de Julho).
 
Logo ai, resolveram dirigir-se pela estrada ao encontro do exército aliado.
 
Contactado o general Wellesley, este muito agradeceu e até deve ter achado graça à atitude desembaraçada e patriótica dos académicos e às suas informações, que aliás já conhecia, mas que muito apreciou, e o destacamento militar académico logo ingressou no exército anglo-luso, sob o comando do coronel Trant, logo foi aceite, passando a integrar a tropa regular.
 
Para Leiria marcharam então os estudantes à frente do exército britânico (agora já luso-britânico) e ali se juntaram mais outros 20 estudantes vindos de Coimbra. Também há relatos que, de Leiria um destacamento académico, já com a sua artilharia, e reforçado por alguns soldados regulares seguiu para a Batalha e destacou piquetes em Tomar, em reconhecimentos, estando em contacto e atacando as guardas da retaguarda do inimigo, tropas de Loison ou de Delaborde, fazendo-lhes 25 prisioneiros alguns dos quais italianos. Não há dúvidas que os estudantes se transformaram rapidamente em bons militares.
 
E esta tropa de académicos iria ajudar a cobrir o flanco direito (Oeste) do exército anglo-luso, na sua progressão para sul, pois havia 3 eixos de progressão: o leste, o central, e o oeste, desempenhando eficazmente a sua finalidade de força de cobertura, flanqueando com eficácia, como força de dissuasão nas batalhas da Roliça a 17 de Agosto, e Vimeiro a 21 de Agosto de 1808, nesta última ao lado da divisão Craufurd, e entrando finalmente com o exército aliado em Lisboa. Nestas alturas houve algumas pequenas alterações, no fardamento, passando-se a usar na barretina duas chapas de latão dourado, um como escudo oval português e outro com os dizeres de "Corpo Militar Académico". A gola e a pluma da barretina com a cor carmesim.
 
A actuação abnegada dos voluntários académicos, que recusaram qualquer ganho, teve muitas homenagens da parte do vice-reitor da Universidade, das entidades governamentais e do público com publicações de poesias épicas, saraus, teatros, atribuição de medalhas, etc., etc.. Não se pode esquecer que a sua acção da conquista do forte de S. Catarina na Figueira da Foz e de S. Miguel na Nazareth, e a limpeza das guarnições francesas nesta região facilitou imenso o desembarque dos ingleses. Finda esta intervenção militar, os académicos depositaram as espingardas, despiram as fardas, envergaram o traje de estudante, com as suas capas negras, e dedicaram-se de novo aos livros, até acontecer a 2ª Invasão Francesa, onde irão actuar mais bem organizados, armados e instruídos e consequentemente com maior eficácia.
 
 
 
 Segunda Invasão Francesa
 
Esta força voluntária de mestres e estudantes, teve um papel decisivo na defesa do Vouga e de toda a região da Bairrada até Coimbra, poupando os seus povos a um saque e carnificina inimagináveis.
 
Dia 30 de Março de 1809
 
As noticias da queda do Porto, do desastre da Ponte das Barcas, e da progressão de grandes contingentes do exército de Soult para o sul do Rio Douro, chegou a Coimbra na tarde de 30 de Março, aterrorizando, e com razão, as populações.
 
A cavalaria comandada pelo general Franceschi, já havia alcançado Oliveira de Azeméis enquanto a infantaria ocupava Ovar, Feira e Gaia.
 
O coronel Trant, que, apenas dois dias antes, havia sido nomeado por Beresford, governador de Coimbra, logo que ali soube da entrada de Soult no Porto, tomou algumas disposições para fortificar esta cidade e, decidindo organizar um pequeno destacamento para opor à marcha do inimigo, requisitou ao chefe do corpo académico 150 estudantes para o acompanharem. Foi em tão dolorosa situação, pois que o nosso exército naquela data, ainda se encontrava longe da eficiência desejada, que os bravos académicos pela segunda vez fazendo reviver o antigo heroísmo lusitano, para salvarem a honra e a dignidade nacional se ofereceram todos para marcharem ao encontro dos invasores.
 
Dia 31 de Março de 1809
 
Receberam cartuchame no pátio do Museu e armados com as armas do armazém de Samsão, partiram da Rua da Sofia, pelas 12 horas e 30 minutos, em direcção a Fornos, juntamente com o regimento de Viana e milícias de Coimbra.
 
Segundo Rocha Diniz, compareceram na manhã do dia 31, prontos, armados e municiados 206 estudantes de infantaria, alguns de cavalaria, talvez ainda 20, e 80 artilheiros.
 
Dia 7 de Abril
 
Por alturas de Palhaça tiveram boatos que os franceses já haviam passado o Vouga, saqueando e incendiando as povoações, o que levou os académicos a entrar em formação de combate, com os seus canhões em posição. Felizmente foi rebate falso.
 
Dia 8 de Abril
 
Chegada a Avelãs de Caminho.
 
Dia 10 de Abril
 
Chegada destas forças ao Sardão e Águeda onde se acantonaram.
 
Dia 11 de Abril
 
Chegada a Mouriscas e Marnel, na margem esquerda do Rio Vouga.
 
Dia 14 de Abril
 
Ida dos estudantes para levarem munições às ordenanças na Ponte do Almear.
 
Dia 19 de Abril
 
Em Segadães, distribuição de sentinelas pela margem esquerda do Rio Vouga que ficam de vigia dia e noite durante cerca de um mês.
 
De 24 de Abril a 2 de Maio
 
Diversas movimentações e vigilância, exploração e reconhecimento sobre as actividades do inimigo ao norte do Rio Vouga.
 
Dia 2 de Maio
 
Este corpo sempre comandado por Trant, ao ter conhecimento da chegada a Coimbra do exército anglo-luso, comandado pelo general Wellesley, passou o rio e constituiu uma "testa-de-ponte", fortemente apoiada pela artilharia e que iria permitir a passagem do rio facilmente ao exército anglo-luso.
 
Noite de 9 para 10 de Maio
 
O general Wellesley, sem qualquer dificuldade e mesmo de noite, atravessou o Rio Vouga para norte e lançou ofensiva contra as forças de Franceschi que são derrotadas em Albergaria-a-Nova, e recuaram para norte.
 
Dia 10 de Maio
 
O exército anglo-luso vence os franceses em Albergaria, com a artilharia académica à direita da linha de combate, onde os estudantes se bateram bem, aprisionando um canhão ao inimigo. O seu desembaraço e eficiência sobressaiam em relação às outras tropas.
Alguns dos estudantes passaram logo a constituir um notável grupo de caçadores..
 
Dia 11 de Maio
 
Combate de Grijó onde os académicos embora não tivessem entrado, ingressaram na divisão Paget, com 50 homens comandados por um capitão, a pedido do referido general.
 
Dia 12 de Maio de 1809
 
Passagem do exército anglo-luso, no Rio Douro, na batalha do Porto, onde a artilharia académica sempre esteve a proteger a travessia das tropas, com três peças assestadas na Serra do Pilar.
A seguir foram estes artilheiros os primeiros a entrar no Porto, e na perseguição aos franceses que abandonavam a cidade na sua trágica retirada para Espanha.
 
Depois desta campanha do Vouga, até ao Douro, e por se prever uma investida das tropas franceses entre Almeida e Sabugal, foi ordenado ao Corpo Académico que marchasse para Almeida, a maior praça-forte do centro-norte do Pais.
 
No dia 23, os estudantes receberam o itinerário de marcha e, a 27, partiram do Porto, passaram por Mesão Frio, neste dia, depois Lamego onde se acantonaram durante dois dias, depois Mondim, depois Trancoso, Pinhel, chegando a Almeida, a 5 de Agosto, onde foram alvo das mais elogiosas manifestações oficiais e populares.
 
A seguir estiveram em Leomil e Aldeia Nova, Mizuela e Sabugal. Em Penamacor os estudantes fizeram serviço de guarnição e como cessaram os motivos deste movimento militar, foi dada ordem de regressar a Coimbra.
 
Terminada esta campanha, cumulados de louvores e disputados pelos principais chefes portugueses e britânicos, regressaram a Coimbra, despiram as fardas, entregaram as armas e voltaram a pôr as suas capas e a pegar nos livros.
 
 
Terceira Invasão Francesa
 
Quando Massena entrou em Portugal com o seu exército de 65.000 homens, em Julho de 1810, a Universidade de Coimbra estava fechada, em férias. Assim, em 23 de Outubro de 1810 fez-se uma convocat6ria a todos os estudantes do Corpo Militar Académico, a fim de se organizar, armar e marchar para onde fosse necessária esta unidade.
 
Em 19 de Novembro era publicado novo edital convocando os alunos alistados, para a sua reunião, no Quartel dos Paulistas.
Neste tempo, o general Massena à frente do seu exército, viu-se obrigado a retirar, detido pelas formidáveis Linhas de Torres Vedras e suas guarnições, pelas disposições da defesa do exército anglo-luso e corpos de milícia portuguesa que, acampados entre as Linhas, estavam preparados para o combater.
 
Nesta sua terrível situação de carências de toda a ordem, quer militar, quer logística, quer de péssimas condições atmosféricas onde morriam de fome, frio e doença uma média de 500 soldados franceses por semana, o marechal Massena viu-se obrigado a retirar para norte seguido e acossado pelo exército anglo-luso que o atacava implacavelmente "sempre com as baionetas nos rins" no dizer das memórias de um soldado português da época.
 
Assim pressionado em combates de retaguarda, em Pombal, Redinha, Casal Novo, Foz de Arouce e Sabugal, acaba por sair finalmente de Portugal, a 3 de Abril de 1811, e depois de perder cerca de 34.000 homens. Na sua marcha de retirada ainda tentou passar por Coimbra mas a defesa montada pelo coronel Trant com o seu valorosíssimo Corpo de Militares Académicos e um ardil de empoladas informações, muito bem urdido pelo sargento Correia Leal (certamente um académico) que comandava a guarda da Ponte, desmotivou o emissário do general Montbrun, de mandar atacar a cidade, e o exército napoleónico seguiu para a Guarda. Irados, pela mortandade que as nossas milícias haviam feito sobre os franceses, cerca de quatro meses atrás, se tivessem entrado na cidade, qual não seria a retaliação com fuzilamentos e roubos sobre os desgraçados civis, e outro drama a acrescentar a esta sacrificada cidade?
 
Mais uma vez, os académicos militares prestaram um útil e glorioso serviço, que poupou casas e muitas vidas e desta vez a própria população de Coimbra.
 
 
*      Tenente-coronel de Artilharia na situação de Reforma. Cumpriu três comissões no Ultramar. Arquitecto. Foi professor convidado da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e realizou projectos no âmbito da construção hospitalar e hoteleira. É membro consultor do Museu de Marinha.

 

 
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2011-02-23
485-496
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REVISTA MILITAR @ 2024
by COM Armando Dias Correia