Nº 2503/2504 - Agosto/Setembro de 2010
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Os Portugueses no Mundo Cuanhama (kwanyama)
Professor
José Carlos de Oliveira
II - A Luta pelo Espaço Cuanhama
 
Ocupação Humanitária do Interland Kuanyama[1]
2ª figura da Quadratura
 
“Sendo intento meu falar da missão, afasto desde já o que de perto ou de longe se liga com a diplomacia, ou as guerras a não ser quando, por um motivo ou por outro, nestas últimas tivermos de intervir, para salvaguardar a honra das quinas, como adiante veremos.” [2]
 
 
O missionário Keiling, ao centro com missionários e seminaristas da Ganda
 
 
A fronteira do Sul de Angola está limitada pelo paralelo Ruacaná-Kuangar no Cubango; abrange o curso do rio Cunene até às cataratas do Ruacaná, corruptela do termo Coroca-Cá-ná (Rocha que não se pode atravessar) e da margem do Cunene até ao mar, confrontando com o sudoeste Africano.
 
Entre os rios Cunene e Cubango localiza-se a bacia do Cuvelai, o único rio da terra dos Kuanhama, com 2 300 kms até ao Evale. Muito haveria de relevante a assinalar, mas no tempo em que se iniciaram os factos que vamos relatar e justificar, ainda não estava definido o espaço geográfico que agora conhecemos por Angola (este conceito político tem cerca de 120 anos). Desses espaços, entre outros, o dos Ovimbundu, o reino do Kongo, o de Ngola e da “Nação Ovambo” (Kwanyama) - sairia a “Nova Angola”, consequência da Convenção de Berlim de 1885 e do Advento da Civilização Técnica e da Ciência Aplicada e da ‘Situação Colonial’[3], que viriam a culminar com a independência de Angola em 1975.
 
 
Graças aos registos legados por missionários, militares, administrativos e outros, somos agora capazes de recriar actos historicamente relevantes em que os agentes colonizadores estiveram envolvidos. Acrescente-se ainda que os acontecimentos foram relatados pelos actores In Illo tempore.
Diz-nos o autor de Quarenta anos de África na pagina 141:
 
O Povo kuanhama (aliás coanhama) e ainda Ovakwanyama, é uma aglomeração de gente de todas as terras, sobretudo dos “Vambukusso” que trouxeram o “kutuva” (espécie de copo de coiro) servindo de vestido de detrás. Por isso os kuanhama chamam Va Bangala a todos os pretos que vestem uma pele na retaguarda. O nome “Ovambo” vem da palavra “otchihambo”, pequeno saco que se leva no caminho, para transportar a comida ou outra coisa. Do Va-ambo fizeram Ovambo. Este povo caracteriza-se pelo seu porte: altos, bem formados, desembaraçados, pouco habituados a baixar os olhos, ladrões (leia-se cultura de rapina) é verdade, mas dizendo que “o kuanhama coisas pequenas não as rouba” altivos até nos vícios [4].
 
 
A Luta pela “Conquista do espaço Cuanhama”
 
Edificar as missões de Mupa e Omupanda foi obra de pioneiros. Quando dissertamos sobre esses pioneiros estamos a referir-nos aos netos dos pombeiros[5], a esses homens que a partir de finais do século quinze foram companheiros de venturas e desventuras, umas vezes parceiros, outras vezes concorrentes, e por último até inimigos, uma vez que assaltavam as caravanas uns dos outros. Os missionários também faziam parte destas aventuras. As correrias que faziam pelo mato fora para chegarem primeiro junto dos sobas do Cuanhama, (kuanhama ou kwanhama) são, à luz dos nossos dias, difíceis de descrever.
 
 
 
 
 
Fotografia de Veloso e Castro, 1905
 
 
O Padre Duparket, como descobridor do rio rio Cuvelai em 1879, era na altura superior da Prefeitura da Cimbebásia, colónia inglesa do Cabo e fundou uma missão católica no Kuanhama. A missão não teve êxito e terminou em 1884[6].
 
 
Reinava, nesse tempo no Cuanhama, Tsipandeka Ya Saningika (1862 a 1882) herdeirro de Sefini. Nessa época vinham ao Cuanhama inúmeros padres de diferentes procedências, dilatar a sua fé. No seu longo reinado de vinte anos intensificou-se a venda de armas de fogo vindas do Kuambi, fornecidas pelos ingleses que forneciam igualmente pólvora, chumbo e cavalos. Aos portugueses cabia o negócio da aguardente, muito bem recebida por Tsipandeka.
 
 
Por esta altura começaram os cuanhama a ser pressionados para se cobrirem com panos, as célebres Samakaka (termo atribuído aos panos azuis e vermelhos em honra do grande chefe Samakaka). Escusado será dizer que quem começou a usar a nova moda, em cerimónias com os brancos, foram os notáveis da tradição, os soba e os lenga. Estes não só eram os conselheiros do grande chefe como eram os seus “generais”.
 
 
De uma coisa deviam estar certos os europeus, os cuanhama iam passando, de geração em geração, os cuidados a ter com os brancos, vigiando-os nos seus negócios pela forma como se pretendiam impor. Tsipandeka tinha dado ordem aos seus lenga que vigiassem o seu herdeiro Nahamadi, não fosse ele ser subornado pelos europeus e comprasse armas para o destronar. Efectivamente o herdeiro era abastecido pelo companheiro de viagens do padre Duparket e isto acontecia porque os guardas que o vigiavam eram os primeiros a ser subornados[7]. De qualquer modo foi assimilando os conhecimentos adquiridos com os missionários ingleses por um lado e com os comerciantes portugueses pelo outro.
 
 
Durante o seu reinado de vinte anos travou cerca de vinte “guerras” (acções de rapina) contra tribos aparentadas. Nahamadi acabaria por subir ao trono em 1882 mas por muito pouco tempo, faleceria em 1885. Percebia que o seu povo muito tinha a ganhar se aceitasse a instrução dos missionários luteranos e com a intensificação das trocas com os portugueses. Chamava a si o domínio dos negócios da aguardente, dos panos, das armas finas e da pólvora, exercendo neste caso o monopólio do tráfico de mercadorias e do seu gado, por isso o assassinato de pretendentes ao trono era frequentíssimo.
 
 
Sucederia a Nahamadi, Weyulu ya Hedembi que continuaria a vigiar atentamente as incursões dos portugueses, muito desconfiado mandava-os espiar permanentemente impedindo a instalação de um forte militar, que até lhe poderia convir para o auxiliar nas “guerras” com os seus adversários mais poderosos. Nesta política destacavam-se Hamalwa e Nande, este irmão de Weyulu, já nossos conhecidos pelo artigo publicado na Revista Militar Nº 2448, de Janeiro de 2006.
 
 
 
 
 
O Padre Lecomte chegou a Angola em 5 de Abril de 1884 a bordo do vapor Índia acompanhado de 44 colonos da Madeira (18 homens, 8 mulheres e 18 crianças) para a colónia Agrícola da Humpata[8].
 
 
Porém, essas famílias apenas tinham direito a 1,5 hectare de terra e poucos mais privilégios, enquanto as famílias boers haviam recebido 200 hectares cada, além de outras regalias! Que tremenda injustiça! O esforço missionário era notório e pouco compreendido pelas autoridades administrativas locais. D. Sebastião Neto, ex-bispo de Angola e Congo era Patriarca de Lisboa e apoiava o padre Duparquet na limitação das missões portuguesas apenas até ao rio Cunene, embora integradas na Cimbebásia, cujos territórios se estendiam muito além desse limite e onde se deviam instalar as missões francesas, além dos espiritanos já alojados dentro de território angolano! Em breve se instalou (1884) a primeira missão espiritana de Cassinga e da Missão Católica da Ambuela pelo padre Duparquet em Caquele, próximo de Cassinga, região do minério de ferro e da exploração da cera, borracha, marfim e ouro. Coincidências!...Não tardou nova leva de emigrantes saídos do Funchal a 12 de Outubro no vapor “Índia” duma colónia de 222 madeirenses, destinados ao Lubango.
 
 
Deu-se por esse tempo um caso curioso. O padre José Maria Antunes pediu ao Soba da Huíla para mandar os filhos à missa. O soba mandou 50 homens que se portaram muito bem e o padre ficou bastante satisfeito, porém, de seguida, viu a sua residência cercada pelos mesmos “assistentes” que lhe exigiram o pagamento por terem estado na igreja, e o padre não teve outro remédio senão distribuir umas boas doses de cachaça e esquecer-se de tais “católicos”.
 
 
É aqui que começa a integração no teatro cuanhama do padre Lecomte intérprete da inserção das grandes estratégias das potências ocidentais para a zona, o que vai obrigar os chefes da nação cuanhama a redobrar a sua atenção através da arte diplomática dos seus lengas para que, com subtileza, pudessem continuar a exercer a sua secular autoridade, evitando especialmente compromissos dos quais se viessem a arrepender. Convenhamos que esta sabedoria viria a exigir grande eficácia diplomática uma vez que se confrontavam com agentes de eleição de sociedades muito complexas que tinham milhares de anos de experiência através dum impressionante conjunto de argumentos culturais, sociais, políticos e económicos transcritos dos princípios judaico-cristãos e grego romanos, como paradigma para a generalidade da humanidade. A estes argumentos acrescentaremos o saber adquirido com a ciência moderna Galileu 1564-1642, Descartes 1596-1650 e Newton 1642-1727, (entre outros) que trouxeram o progresso técnico e a explosão da industrialização.
 
 
 
 
Fotografia de Veloso e Castro, missão de Mussuco, 1905
 
 
Contra estes considerandos nada os cuanhama poderiam opor, senão resignar-se. Mas atenção, venderam muito cara essa submissão, como veremos. Aqueles tempos, eram tempos de chão sagrado, chão regado pelo sangue das linhagens e dos clãs habituados a permanentes confrontos por causa do gado e das mulheres. Era o tempo em que o padre Schaler sucedeu ao padre Lecomte. Por essa altura, a Cúria Romana dividia estrategicamente a imensa Prefeitura da Cimbalésia Superior confiando-a aos PP. do Espírito Santo[9].
 
 
Eram os tempos de Henrique de Paiva Couceiro como Governador-geral de Angola. Eram tempos das missões humanitárias e militares frequentemente ameaçadas pelas correrias dos cuanhama. Foi para esta Terra do Fim do Mundo que se deslocou em 1900 o Padre Lecomte a experimentar se podia ser reocupada. Lá deixou ficar o Padre Génié. Foram tempos de luta desigual entre Missões Católicas e Missões Protestantes Alemãs, cada uma delas apoiada pelas expedições militares dos respectivos países. Foi lá que o Padre Lecomte travou uma força militar alemã que avançara até à residência de Eyulu. Fazia o capitão alemão menção de içar ali a bandeira alemã. Foi impedido pelo padre Lecomte com argumentos que o convenceram a desistir da sua intenção de reivindicar para a Alemanha as terras dos cuanhama.
 
 
Por aqui se medirá a importância de Lecomte nas relações com a rainha Ddatioli e Eyulu. Este tipo de relações transportava consigo o veneno próprio dos conselheiros lenga uma vez que viam a sua relevância de “generais” francamente diminuída. Cabe aqui acrescentar uma informação: os lenga eram filhos dilectos das mais prestigiadas linhagens cuanhama, eram a Guarda Real, “cobriam e garantiam com o seu manto a segurança do monarca”. Entre eles havia quem “lesse os pensamentos dos estrangeiros traiçoeiros que pisavam o chão sagrado”. A sua força era de tal modo reconhecida que quem visitava o rei sabia o quão perigoso era cair na sua má graça. Eles, tal como os transmontanos (para lá do Marão mandam os que lá estão) sabiam e sabem, ardilosamente, apresentar-se submissos (quando o pau é desigual mais vale fugir do que ficar mal) para na primeira ocasião que se lhes apresentava vantajosa, saltavam sobre o inimigo e deixavam os restos para as hienas e chacais.
 
 
Em Junho de 1904, de desilusão em nova ilusão gerada por uma carta do governador que os intimava (lembremos aqui que os missionários eram a mais fina fonte de informações, uma força especial de comandos ao serviço da potência colonizadora) a prosseguirem com destino ao Cuanhama, vem uma carta dar o dito por não dito.
 
Há aqui uma ressalva de enorme importância: estava-se em “Terras do Fim do Mundo”. Conta-se até que, dezenas de anos mais tarde já com o país dos cuanhama pacificado, um chefe de posto (a autoridade representante do poder colonial no meio do mato (Interland) estando no seu posto há meses, sem qualquer contacto com os seus superiores, resolveu “fechar a porta” deixou ficar de vigia um cipaio, (auxiliar) e foi de férias ao continente, dizia-se também, que ninguém deu pela sua falta durante esse período, até que regressou tranquilamente ao seu posto.
 
 
 
 
Fotografia de Veloso e Castro, 1905
 
 
Este exemplo prova que os correios do sertão eram tão demorados na recepção de ordens administrativas, ou mesmo militares, ninguém dava pela falta de ninguém, “pas de nouvelles, bonnes nouveles”.
 
 
Não admira que, por volta do final do mês de Julho, o padre Lecomte recebesse novo telegrama com os seguintes dizeres: “que não voltasse ao kuanhama porque a expedição militar se ia desfazer e nessa circunstância não podiam proteger a missão nem assumiam as autoridades governamentais a responsabilidade do que viesse a acontecer. “Retirou-se do Humbe, declarando que ficava no Kuanhama entregue à Divina Providência. Voltando ao Kuanhama, trabalhou-se febrilmente para transferir a missão para a fronteira, a fim de ficarem menos expostos a qualquer ataque de gente mal intencionada”[10].
 
 
 
 
Cassinga, fotografia de Veloso e Castro, 1910
 
 
Bastou que falecesse, entretanto, Eyulu, amigo dos missionários, e logo todos se declararam imediatamente contra os brancos. Recorde-se ainda que assim que um monarca falecia, congregava-se uma enorme multidão em volta da embala (digamos a casa real do monarca) para saber o que diriam os conselheiros sobre o reinicio das hostilidades, neste caso contra os europeus, visando especialmente militares e missionários. Nessas reuniões ouviam-se quantos quisessem falar e imediatamente se ouvia o grito: “É urgente matá-los, pelo menos expulsá-los”. Afirmavam mesmo alguns que a causa da morte de Eyulu eram os padres. Não podemos esquecer que os lenga (os “generais”) perderiam grande parte do seu prestígio junto das suas linhagens e respectivos clãs se vissem diminuída a sua autoridade.
 
 
Nande, o novo monarca não se deixou influenciar e não consentiu que se fizesse o menor mal à missão, (sabia quanto a sua gente tinha sofrido) dizendo melhor, aos portugueses, governados no momento pelo capitão João de Almeida.
 
 
O apoio negociado por Nande a favor dos missionários, era muito perigoso, as tribos vizinhas ofereciam-lhe auxilio militar (em combatentes e armas com origem inglesa e alemã) contanto que anuísse em que os seus guerreiros destruíssem a missão. Entretanto continuavam as rapinas dos cuanhama em terras vizinhas que iam até Caconda e Sambo. Não havia qualquer segurança, as populações viviam sobressaltadas com as investidas. Em muitos povos haviam desaparecido (por causa do saque) os rebanhos e muita gente tinha seguido os guerreiros prisioneiros para serem vendidos como escravos, caso contrário eram abatidos no local.
 
 
 
 
O Contexto histórico-político e os problemas dos agentes missionários na zona cuanhama
 
 
A quadratura seguida como modelo neste estudo não surgiu de repente. Foi-se insinuando… Primeiro indefinida, e depois, pouco a pouco, foi tomando forma, tornando-se clara e definida.
 
 
Os cabouqueiros, foram os pombeiros, logo seguidos dos funantes e finalmente os comerciantes do mato formaram o 1º pilar da quadratura. Logo de seguida (já com Diogo Cão) tiveram os missionários religiosos ocasião de avançar pelo sertão. A par dos missionários e velando pela sua segurança seguiam os militares. Finalmente, o remate pertence naturalmente aos kuanhama. Foi pensando na forma de abordagem dos nossos navegadores face aos indígenas que recordei o princípio: negociar, conquistar e só depois civilizar. Assim, os especialistas em trocas eram os primeiros a entrar em acção, a fase seguinte, depois de décadas e décadas de troca de produtos, era preciso saber, geralmente pela força, quem mandava em quem, e, finalmente, civilizar (domínio precário). Foi contra esta gente que os cuanhama tiverem que se haver.
 
 
 
 
Capela no Cahuima, fotografia de Veloso e Castro, 1905
 
 
Começada em 1879 a Prefeitura da Cimbebásia, como então se chamou teve princípios extremamente penosos. De facto, as quatro primeiras missões houveram de ser abandonadas uma após outra. A primeira na data, situada na Damaralândia, apenas fundada, teve de sustentar luta aberta e encarniçada contra protestantes alemães, senhores da terra e estabelecidos na região desde 1820. “Os ministros influenciaram de tal maneira o soba e a sua gente que, em 1881, o pessoal da Missão católica foi expulso ‘manu militari’ da região” [11].
 
 
Só quem nunca foi à África é que não conhece o orgulho dum potentado negro. E para não abrir excepção à regra geral, proclamava Tchyihwaco à boca cheia, que se no Cubango havia brancos a ele o deviam e a ele pertenciam; dele eram os missionários, dele os comerciantes, dele os soldados e que, por isso, os podia expulsar, quando muito bem lhe aprouvesse.
 
 
 
 
Padre Misseno, da missão do Sambo, em viagem[12]
 
 
Nem sempre andam os governos bem aconselhados e erram às vezes desastradamente. Foi o que sucedeu nesta altura: das autoridades superiores viera ordem para se evacuar o forte Princesa Amélia e só conservar o do Dongo. Era um grave erro. Necessário porém, se tornava obedecer. O Comandante Francisco da Silva Marques entregou ao padre Lecomte a guarda da Bandeira, encarregando-o de fazer respeitar a autoridade portuguesa e prometendo-lhe apoio, no caso de vir a ser preciso…” [13] Eram tempos de grande convulsão política em Portugal, que não tardou a repercutir-se nas Terras do Fim do Mundo. As lutas nem sempre surdas entre militares e comerciantes por um lado, e missionários pelo outro, quase não conheceu limites. As cartas insultuosas não paravam de chegar às missões, o anticlericalismo estava deveras exacerbado.
 
 
Por outro lado “O Bié é um autêntico feudo de protestantismo, sobretudo americano: 6 missões com um numeroso pessoal - pelo menos cinquenta membros - com doutores, enfermeiros, hospitais e americanamente subsidiados. Contra uma tal avalanche de ministros e ministras, que podem dois Padres Católicos? A luta é desigual e, no entanto, continua” [14].
 
 
As coisas nunca foram fáceis para os missionários. O padre António da Silva Rêgo[15] que presidia aos destinos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas em Lisboa, nos anos cinquenta do século passado, foi figura de proa da Missão para o estudo da Missionologia Africana e a determinado momento do seu relatório sobre problemas da missionação escreveu: “A feitiçaria é um dos grandes flagelos da África. Pesa como séculos de escrúpulo e de superstição. Os brancos, longe de ajudarem sempre a combater esta doentia tendência da natureza humana, caem-lhe muitas vezes nas malhas. Recordam-se, talvez, das “mulheres de virtude”, das “curandeiras” da Europa…E quantos não recorrem também aos feiticeiros negros, julgando encontrar nos mesmos o remédio secreto para os seus padecimentos reais ou imaginários, físicos ou morais! Não reflectem esses brancos no escândalo que provocam entre os indígenas. Os missionários, aliás já considerados “feiticeiros dos brancos”, saem desprestigiados deste exame comparativo. É que se há brancos a recorrer aos feiticeiros negros, é porque os “feiticeiros brancos” são impotentes para debelar certos males. Não se nega o que há de positivo na instituição indígena, nem sequer o lugar que pode ocupar no desenvolvimento das sociedades…” [16]
 
 
Retenho na minha memória missionários que me marcaram a vida. Primeiro, começaremos por 1961, sempre em terras do Congo Português (não sabem alguns, como me sinto mal quando por causa de linhas idênticas a estas alguns sugerem que são palavras que evocam o espírito neocolonialista. Isso só pode ser por profunda e tendenciosa ignorância, porque se não for assim é maldade desenfreada).
 
 
 
 
1 - O Missionário Prosdócimo, 2 - o autor, 3 - sua mãe, Maquela do Zombo, 1961
 
 
Assim sendo e unicamente para dar ‘o seu a seu dono’ deixo aqui patentes as particularmente adversas circunstâncias em que o missionário Prosdócimo, católico capuchinho se viu envolvido. Italiano de nascença, pertencia este missionário à ordem dos Capuchinhos de Veneza e chegou a Maquela do Zombo em 1954. Segundo D. Manuel Nunes Gabriel (1978:486) “Conforme foram chegando novos reforços destes missionários, o prelado diocesano entregou-lhes diversas missões até ali servidas por sacerdotes seculares: S. Salvador do Congo (1952), Maquela do Zombo (1954)”. Logo após os primeiros ataques da UPA, por volta de Abril de 1961, algumas famílias portuguesas entregavam frequentemente ao padre Prosdócimo, quantidades apreciáveis de pão fresco, peixe fresco ou salgado, carne de vaca ou porco, rezes abatidas nos seus próprios estabelecimentos. Sabiam, conscientemente, estarem esses bens destinados aos refugiados Zombo sob o tecto da missão católica de Maquela do Zombo. Colocavam a seguinte questão: E se aqueles refugiados especialmente mulheres, jovens e crianças, que ali se abrigavam, estivessem em vez de refugiados, a espiar os movimentos dos comerciantes, militares, administrativos e dos próprios missionários, para comunicarem, de seguida, os dados observados a mais directos colaboradores das chefias regionais da UPA? Apesar da suspeita (muito plausível), ofereciam os alimentos, com o maior espírito de solidariedade para com aquele missionário que, com mãos calejadas de pedreiro, de tantos milhares de horas gastas a construir o edifício da missão católica, recebia de braços abertos os necessitados sem lhes perguntar de onde vinham. Ainda hoje, temos presente aquela imagem: homem grande, entroncado, do tipo ‘mais vale quebrar que torcer’. Desta massa, eram feitos os missionários António Barroso e George Grenfell, cada um aplicando a catequese cristã fundamentada na sua escola missionária.
 
 
Existe na língua Kongo um termo que significa vergonha (esta anda sempre colada à honra) NSONI, a que para melhor esclarecimento se junta o adjectivo ÚNKUA SONI que pode significar desonrar os nossos antepassados. Também em português se entende por sentimento que excita em nós a ideia ou o receio da desonra. Há quem não tenha pai nem mãe. Quero dizer com isto que o Missionário Prosdócimo, percebia muito bem o que era ter pai e mãe, eu também…
 
 
 
 
A Ocupação efectiva do Cuanhama,
"Sem Medo e Sem Censura"
3ª Figura
 
 
 
Terei errado, mas continuo convencido de que um chefe só merece esse nome quando mostra aos seus subordinados que tem autoridade para lhes impor os maiores sacrifícios, e essa autoridade provem principalmente do exemplo.[17]
António Júlio da Costa Pereira d'Eça
General
 
 
  
Passagem forçada de um carro Boer, fotografia de Veloso e Castro, 1910
 
 
Antes de mais, recordo que este tema já foi objecto de publicação no nº 2447, de Dezembro de 2005, na Revista Militar. Aqui, o propósito é dar mais uma contribuição ao assunto e enquadrá-lo num contexto mais alargado e complexo.
 
 
Se não estou em erro, corria o ano de 1988 quando a vila de Óbidos foi cenário para o filme cujo título era: Sans Peur et Sans Reproche. Não liguei importância ao facto. Mas registei (e sei porquê) na minha memória o título do filme. Agora, muito preocupado com a introdução sobre a componente militar, como pilar dos “Missionários de Sempre na Ocupação Efectiva de Angola”, sabia que viria a precisar de um fio condutor que me proporcionasse condições de trabalho.
 
 
Stone Terrail, Senhor de Bayard (1476-1524), foi o modelo. Reza a história que foi um herói durante o reinando de Luís XII e era dotado de uma ética impecável de guerreiro (traduzida aqui pela ideia de ser justo, no momento adequado) a que juntava um grande talento para comandar tropas. Inteligente, mas também muito cruel com o único propósito de derrotar o inimigo…
 
 
 
 
Algumas Datas e Factos relevantes
 
 
1909 - Constrói João de Almeida o forte do Cuangar, com visível desagrado dos alemães, que, por esta época, já tinham estabelecido missões religiosas em Namakunde, Matemba, Omuppanda e N´giva, todas em terras de kuamatos e cuanhamas. Forças alemãs tentaram ocupar a zona de 11 quilómetros do forte de Namakunde, pretendendo que os portugueses a reconhecessem como “zona neutra” O fim em vista, já muito explorado, era a região das cataratas do rio Cunene, no Ruacaná, para obtenção de energia eléctrica e irrigação da lagoa Etosha.
 
 
1912 - Por esta época aumentam as pretensões alemãs para enriquecimento do seu próprio império colonial. A grande Guerra veio evitar que tais pretensões tivessem seguimento.
 
 
1914 - 19 de Outubro - dá-se o nefasto acontecimento da entrada de uma coluna formada pelo Delegado do governo Alemão da Dâmara e administrador do posto de Outjô, Dr. Chultze Jena, dois oficiais, acompanhados por mais 11 homens armados em terras do Kuamato. O Alferes Sereno comandante do Posto convida o chefe alemão a acompanhá-lo ao Kuamato e justificar perante o comando a sua entrada no país. Dizia-se que a Alemanha não estava em guerra com Portugal. Subitamente, já em Naulila, os alemães montam rapidamente os cavalos e fazem menção de retroceder pelo mesmo caminho, apontando as armas aos portugueses. Sereno, desarmado, toma o passo ao cavalo e intimida Schultz a descer e a segui-lo. Este ameaça-o com uma arma. Os companheiros fogem. Ante o perigo que corria o oficial, os três únicos soldados do posto não hesitam e disparam sobre os alemães. Caem mortos o chefe alemão, Curt Karden, Losch e Roeder, Jensen é feito prisioneiro, ferido gravemente[18].
 
 
Este desfecho ocasionou uma série de incidentes. Tudo fruto da ambição alemã sobre a “colónia” portuguesa. No justo momento em que deflagrava a guerra, o Sul de Angola regurgitava de entidades alemãs, entre comerciantes, exploradores e missões protestantes. Os ingleses da União estavam em luta com os alemães da Damaralandia. Portugueses e Alemães olhavam-se com desconfiança. E foi por desconfiança que o chefe alemão quis retroceder e fugir à apresentação no kuamato. Em retaliação invadiram várias vezes o lado português, assaltaram postos e saquearam populações[19].
 
 
1915 - É enviada uma forte expedição militar comandada pelo general Pereira D’Eça em substituição do tenente-coronel Alves Roçadas. Os postos militares foram abandonados; Naulila, Cuangar e Cuito Cuanavale. Sofriam-se duras derrotas.
 
A 9 de Julho, o governo da União Sul Africana, procede à conquista do Sudoeste alemão. Após uma campanha militar as forças alemãs foram vencidas pelas forças sob o comando do general Botha.
 
 
 
 
Introdução
 
 
Reconheço ter algumas dificuldades para analisar os assuntos dos “Senhores das Batalhas”, não pretendo possuir conhecimentos detalhados sobre este assunto, por isso, aqui mais do que em qualquer das outras secções deste trabalho, estarei certamente mais sujeito a correcções. Assim, perde aqui alguma qualidade o presente artigo, apesar disso, escrevo, e escrevo porque vivi, dia a dia, dez anos de guerra colonial no núcleo geo-histórico da guerra iniciada em 1961 em Angola (1960/1970) com conhecimento profundo dos costumes dos kongo e das condições físicas do terreno. Durante o ano de 1961 (até finais de Dezembro) estive integrado na frente de combate na 5ª Companhia de Caçadores Indígenas. Em 1962 e parte de 1963 prestei serviço na 2ª Repartição de Informações do Quartel-General em Luanda uma vez que sabia ler, escrever e falar a língua Kikongo (língua veicular entre o Norte de Angola, o Baixo Congo e o Sul da República do Congo Brazzaville). A partir de 1963, passei à disponibilidade e regressei ao trabalho nas casas comerciais de meu pai que, entretanto, se tinha tornado fornecedor de viveres e combustíveis aos diversos batalhões que passaram por Cuimba e Maquela do Zombo, durante 9 anos, o facto de percorrer semanalmente com as nossas viaturas, muitas vezes sem apoio militar e nas mais inverosímeis condições o percurso, tendo que confiar exclusivamente nas informações dos nossos serventes que nos acompanhavam nas viaturas, que muito sinteticamente nos diziam simplesmente: hoje não é bom…)[20]. Paralelamente era comerciante exportador/importador de produtos coloniais, (por ex. peixe seco, feijão, cebolas) para o Congo ex-Belga. A partir de 1963 foi permitida a reabertura dos mercados internacionais fronteiriços, aí, preparávamos com os comerciantes congoleses as nossas transacções comerciais e as próximas viagens a Kinshasa, seguindo o corredor Maquela/Kinshasa.
 
 
 
 
Progressão em quadrado no Kuamato, fotografia Veloso e Castro, 1907
 
 
De lá para cá fiz duas viagens ao Norte de Angola. Uma em 1991, para a preparação da dissertação de mestrado O Comerciante do Mato, publicada pelo Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra em 2000. Outra, em 2005, ao distrito do Uije, para finalizar e actualizar os dados fundamentais da vida dos Zombo como inveterados comerciantes internacionais e não só. Neste contexto penso que a síntese do currículo é pertinente e resulta a meu favor no que se refere ao desenvolvimento deste documento. Como se percebe já vêem de longe as aventuras e desventuras dos portugueses que por esse mundo fora padeceram.
 
 
Entretanto recordarei aqui, parte da panóplia de doenças a que logo após poucos dias da chegada aos portos de África estavam e estão sujeitos, não só os portugueses, mas todos os europeus que não tenham tido gerações com longa residência nestas paragens africanas. Com isto, não digo que não estejam sujeitos às mesmas doenças, mas o seu sistema imunitário estará mais preparado para resistir ao escorbuto, desinseria, malária, biliosa, broncopneumonia, furunculose, tuberculose, cólera, hepatites, tripanossomiase, febre tifóide etc.. Só quem padeceu de alguma destas doenças por aqueles lugares, sem o mínimo de recursos, sabe avaliar dos padecimentos a que se encontravam submetidos os europeus, daqui que seja difícil a sua estada prolongada naquelas paragens sem sofrerem as terríveis consequências das citadas doenças.
 
 
Os frequentíssimos casos fatídicos de malária arruinavam em poucos dias a saúde dos mais fortes. Os factores que contribuem para essas fragilidades dos europeus continuam a ser o clima, os insectos nativos, os parasitas, os animais e uma grande quantidade de outros factores, a morte espreitava a todo o momento, as longas e forçadas caminhadas a que eram submetidos quebrava-lhes qualquer possibilidade de responder aos ataques inimigos e estes exploravam exactamente esta situação.
 
 
 
 
A Ocupação efectiva do Cuanhama
 
 
Aproximadamente 45 anos separam o início do deflagrar da última guerra colonial angolana terminada em 1974 da guerra de doze anos que as tropas expedicionárias portuguesas, travaram, incluída a guerra iniciada contra os Kuamato e Cuanhama.
 
Como não podia deixar de ser, existem sempre vozes que resolvem, escrever sobre as campanhas militares portuguesas em África de forma que não abona os comandos das forças armadas de Portugal. Por ser português, sou suspeito. Por exemplo, René Pelíssier (investigador com obra excepcional sobre a colonização das diversas potências europeias e muito particularmente sobre as campanhas de Angola) escusava de utilizar adjectivos tão deprimentes quando se refere aos corpos expedicionários portugueses. Diga-se a propósito que mantive breve correspondência com o professor acima citado. Devo-lhe o favor de me ter orientado informalmente a minha tese de doutoramento, (mais uma vez a minha gratidão por tudo que me sugeriu). Não tenho por hábito cuspir no prato de sopa que me dão. Mas vamos à guerra Luso-Kuamata (1907) e passo a citar[21]:
 
“Há um facto que indica bem o valor «terapêutico» que os Portugueses iam atribuir à sua vitória em 1907: Pela primeira vez dois livros de reportagem, escritos por simples combatentes - e não já os habituais relatórios oficiais - iam tomar por assunto uma campanha em Angola, saindo a poucos meses dos factos, um em Lisboa[22] e outro em Luanda[23]. No inicio de 1907, os portugueses, continuavam a não ter confiança no seu exército. Em 1908 venceram provisoriamente o seu complexo do Ovambo. Quanto aos ovambos, a ocupação do cuamato ia desferir-lhes um golpe muito duro, cujos efeitos, só se desvaneceriam quando vissem que os portugueses, embora vencedores, não sabiam explorar o seu êxito”.
 
 
Forte D. Carlos I, Tembo Aluma, 1905, fotografia de Veloso e Castro
 
 
Por razões que têm alguma similitude, a guerra do Buta - guerra do trabalho compelido do envio de bakongos, para as fazendas de cacau em S.Tomé (1913-15) - Pelissier teceu considerações pouco justas. A este respeito respondeu-me alegando que as informações obtidas provinham de fontes de missionários baptistas ingleses sedeados, na época, no Norte de Angola…
 
 
 
 
Progressão em quadrado em terras Ovambo, 1907, fotografia de Veloso e Castro
 
 
Se não fosse o legado fotográfico de Veloso e Castro como poderiam os investigadores (aqueles que investigam com base na informação fotográfica) analisar 100 anos depois, o que então se passou? Seriam realmente suficientes os relatórios dos comandos operacionais matéria convincente para suporte da análise crítica dos documentos? Não. Porém, desde que a fotografia começou a fazer parte da tecnologia de ponta dos serviços de informação, será que se pode prescindir dela como fonte dos acontecimentos na frente de combate?
 
 
 
 
Progredindo em formação de quadrado, Fotografia de Veloso e Castro, 1910
 
 
A primeira vez que deparei com a fotografia acima, francamente não a entendi. Creio não estar confundido se aquele aglomerado de militares não esteja a progredir no terreno em formação de quadrado. Que diferença…Tal como aconteceu com a primeira fotografia sobre o “quadrado”, ao deparar com o instantâneo acima, já me não preocupei com forma como os homens estavam dispostos no terreno. Algo me chamou a atenção, o que tinham eles à volta da testa? Era uma tira de pano.
 
 
Os combates frequentemente chegavam a acontecer na luta de corpo a corpo entre beligerantes. Para se distinguirem rapidamente uns dos outros encontraram esta solução: colocar-lhes à volta da cabeça um sinal, a tira de pano branco. Curiosamente no Norte de Angola e aquando da revolta de 1913 a “tropa preta” portuguesa passou a usar também a tira… As hostes da UPA em 1961 adoptaram o mesmo sistema, para se distinguirem de Les Uns et les Autres. Existem fotografias que confirmam estes factos.
 
 
A grande dissemelhança entre a forma de progressão no terreno entre 1907 e 1961 terão sido poucas vezes confrontadas. Naqueles primeiros anos do reinício das revoltas (1961) as colunas de combate começaram por se movimentar em viaturas Jeep, Unimog (aranha), jeepões (jeeps de maior capacidade de carga) e viaturas pesadas Diamond. Estas últimas chegavam a gastar 100 litros (e mais) de gasolina aos 100 quilómetros (pelo menos assim constava do registo) …Logo a seguir a Junho de 1961 os primeiros batalhões, (entre eles estou a lembrar-me do 89 que estacionou em Maquela do Zombo e do 92 em Sanza Pombo), já então incluíam as novas viaturas Unimog e as Berliets, estas montadas no Tramagal. Nada disto é novidade para a esmagadora maioria dos combatentes ainda vivos, o que já pode ser diferente será o desconhecimento da forma como se deslocavam os expedicionários em Terras do Fim do Mundo.
 
 
 
 
Fotografia, muito conhecida, de Veloso e Castro
 
 
Os europeus, homens e mulheres e crianças que enfrentaram condições profundamente adversas para a sua instalação, eram gente violentamente obrigada a uma coragem que hoje temos dificuldade em imaginar. Será da opinião de alguns que as guerras sustentadas no final da época colonial foram também difíceis, responderei simplesmente: não olvidem que, no início do século XX, não existiam as infra-estruturas de aquartelamentos (construídos à pressa a partir dos finais da década de 50…) quanto fará a logística por detrás dos helicópteros para evacuar feridos; as enfermarias e o raio-X; a penicilina; os quininos e até a motorizada quanto mais o próprio automóvel. Se alguma vez transportavam uma peça de artilharia, na melhor das hipóteses, contavam para tal com uma mula para arrastar a peça de artilharia. Pouco depois, talvez se preparassem para bivacar (isto é, montar as tendas e permanecerem os dias que fosse necessário no local) e depois de recuperadas as forças seguirem até à zona da instalação da capitania-mor.
 
 
 
 
Esparsos das Campanhas do Kuamato e Cuanhama
 
 
Os factos históricos relatados têm suporte bibliográfico conhecido e fazem parte da base de dados do autor. As tremendas dificuldades por que passaram os comandantes das campanhas de África são hoje, quase incompreensíveis, a não ser pelos que então as viveram ou, atrevo-me a dizer, por aqueles que se dedicaram e ainda dedicam aos altos estudos militares. Senão vejamos o que nos relata o general Pereira D’Eça, sobre as vicissitudes do então tenente-coronel Alves Roçadas:
 
Alves Roçadas um dos reais valores e uma das grandes glórias da nossa acção colonial, fora obrigado a uma guerra, numa situação falsíssima. Constantemente recomendado para que não atacasse os alemães, via-se por eles atacado. Fez o que as circunstâncias lhe permitiam e mais o impossível. E tão reles tem sido a política portuguesa, que nem a publicação do seu relatório lhe permitiram”[24].
 
 
Não temeu Pereira d’Eça apontar o dedo aos responsáveis acrescentando o seguinte: O que os políticos viram em toda a nossa acção na guerra foi uma maneira de comprometer os aliados, sobretudo a Inglaterra, para nos deixarem o que tínhamos, quando a vitória viesse. É tão discutível esta visão, que nem serve para justificar um sacrifício”[25].
 
 
 
 
Preparativos para o Contacto da “Última Batalha”
 
 
Como se pode depreender dos escritos legados por Pereira d’Eça, que estudou com muito pormenor a situação da província de Angola, em especial as situações que se viviam então nas regiões do Norte, Lunda e Cuanhama houve o maior cuidado nas acções bélicas desenvolvidas e a desenvolver. Ouviu certamente, como aliás lhe competia, os oficiais mais chegados ao Estado-Maior nas lutas da fronteira Sul de Angola. Já em Luanda, pôde ouvir os relatos do Secretário-Geral de Angola e dos governadores das zonas críticas.[26] Viria a confirmar o que os oficiais do Estado-Maior do Exercito em campanha que lhe comunicaram: “o gentio era muito aguerrido e numeroso no Kuanhama, tinham o moral muito levantado pela retirada das nossas forças após os acontecimentos de Naullila, tinham sido em grande parte instruídos pelos alemães, dando-se ainda o facto de à frente da coligação das diversas tribos se encontrarem os Kuanhama, cujo estado de civilização já era, segundo todas as fontes de informação, muito apreciável”[27].
 
 
Mais grave ainda era que o remuniciamento do seu novo armamento se fazia com a maior facilidade, utilizando as mulheres e as crianças, como aliás aconteceu de 1961 a 1974.
 
 
Estavam na sua terra, sabiam utilizar optimamente os abrigos oferecidos pelos numerosos morros de salalé, e pelas árvores baixas os “mutiatis”. Aqueles três dias de Agosto de 1915 foram o inferno, a coligação kuamato/cuanhama chefiada por Nandume, produto das escolas missionárias alemãs, hostil a tudo quanto fosse católico e, portanto a tudo o que fosse português. Era um homem dos seus vinte anos, que vestia à europeia, que a conquista do poder absoluto fizera um sádico”[28], não permitia qualquer descanso aos expedicionários, conseguia aproximar-se muito do quadrado, varrendo-o em todas as direcções causando, em pouco tempo, numerosas baixas em especial visando os oficiais mais graduados, os homens, brancos e negros iam morrendo, debaixo do fogo certeiro, à fome e à sede e os carros de mantimentos ficavam sem o gado atrelado certeiramente abatido,
 
 
Os lengas, muito treinados pelos alemães, nas lutas contra os portugueses sabiam que se lhes matassem os solípedes as tropas ficariam a pé. Naqueles dias inutilizaram 482 solípedes[29]. Pereira D`Eça usou de todo o seu saber de estratega, controlou e defendeu com unhas e dentes as cacimbas, cerceou, portanto, a água ao inimigo. O controle dessa água foi um grande alívio, apesar de, infelizmente não ter podido proteger o gado, só já restavam 4 cavalos…
 
 
Por volta da 07h30 da manhã seguinte, todos os homens perceberam pela força do ataque, estarem a ser flagelados de todos os lados por intenso fogo certeiro. As metralhadoras não tinham descanso… A força do inimigo era avaliada em sessenta mil homens e adivinhava-se a estratégia e presença de Mandume pela forma como usava a sua reconhecida técnica de grande guerreiro, atacava violentamente de início “para conseguir resposta constante até ao esgotamento das munições. Em seguida, com o abrandamento do ataque, alvejava os pontos baixos com grande precisão para enervar o quadrado e, por fim, provocar-lhe o aniquilamento das forças e rendição da luta”[30].
 
 
 
 
Forte Roçadas no Alto Encombe[31]
 
 
Perante o drama da catástrofe eminente, percebendo como as suas tropas estavam exauridas, Pereira D’Eça tem um rasgo próprio dos grandes operacionais: uma acção rápida seria a solução. À ordem do general, soldados e marinheiros, de peito aberto, avançaram em direcção às cacimbas novas. Os cuanhama, rastejando, abrigados pelos “mutiatis” ficaram espantados mas reagiram e abateram alguns oficiais. Os expedicionários não diminuíram o seu ataque. Mandume começou a perceber que não conseguiria deter os portugueses e recua para Ngiva com os seus melhores lengas e dá ordem para incendiar a Embala. Correu direito a Lhole, a dez quilómetros de Namakunde, situada na zona considerada neutra pelos alemães e ingleses. Faltavam-lhe já as munições e os víveres. Os soldados portugueses também não estavam em melhores condições, já só se alimentavam com pequenos pedaços de pão.
 
 
Kalola o lenga em quem Mandume mais confiava, tenta uma derradeira arrancada para travar Pereira d’Eça a caminho de Ngiva. “A gente de Kalola, irresoluta desiste da sua chefia e corre a alistar-se na coluna portuguesa. O general percebe o esquema há muito usado pelo inimigo, repudia a gente que, presumivelmente, traia os seus próprios chefes. O seu fim era a forca, no célebre imbondeiro que ainda hoje se vê, “enorme e ameaçador”[32].
 
Começava o princípio do fim de Mandume. A ocupação efectiva da colonização portuguesa era já uma realidade tanto no Norte como no Leste e no Sul, que viria a durar cinquenta e quatro anos, afinal tão pouco tempo…
 
 
O responsável pela política inglesa nesta zona de África era S. Prichardt (oficial Encarregado dos Negócios Indígenas do Protectorado do Sudoeste Africano) tinha sobre a administração colonial portuguesa uma apreciação muito pouco favorável e a prova foi a forma como procedeu oferecendo-se como medianeiro entre Pereira d’Eça e Mandume, com a finalidade de criar um notável ascendente no líder cuanhama, tendo-se dirigido nos termos seguintes (tradução do Inglês) ao general português:
 
 
 
ENTRA FIGURA
 
A resposta de Pereira d’Eça não se fez esperar:
 
 
ENTRA FIGURA
 
 
 
 
Esse Desconhecido Carregador de Caravanas
 
 
Recordarei aqui o que escrevi na dissertação de mestrado “O Comerciante do Mato” sobre essa figura, sem a qual, os companheiros de Diogo Cão, os missionários, os negociadores de escravos, de cera, de diamantes, de ouro, e especialmente as forças expedicionárias da ocupação efectiva de Angola, não poderiam levar a bom porto de destino as suas mercadorias, fossem elas quais fossem.
 
 
 
Dambu Amburi, fotografia de Veloso e Castro, 1909
 
 
Refiro-me aos carregadores, eram reunidos em caravanas para assim poderem atravessar o sertão com mais confiança e sem o risco de serem assaltados e roubados pelos homens de guerra de etnias não submetidas ao governo português, cujas terras tinham de atravessar. Transportavam consigo uma esteira, ou um cobertor que o chefe de caravana lhes fornecia, a que por vezes juntavam também uma pele de cabra, a servir-lhes de cama estendida no chão em qualquer parte onde acampavam; uma panela de barro para fazerem o infundi (massa de farinha de mandioca ou de milho) e uma cabaça para a água eram os utensílios indispensáveis para seguirem viagem. As caravanas aproveitavam a manhã para iniciarem a marcha descansando ao pino do sol e reiniciando mais pela tarde.
 
 
As caravanas das expedições militares eram compostas por mais de mil carregadores, chegavam a atingir os três mil. Os chefes de caravana sabiam que o inimigo dificilmente tentaria atacar uma caravana tão numerosa e, por outro lado, se houvesse casos de deserção ou doença entre os carregadores, facilmente, se redistribuiria a carga.
 
 
A viagem era sempre muito penosa. A condição física dos carregadores, a fome, as chuvas tropicais e as doenças grassavam, ao longo das semanas entre os componentes das caravanas, não escolhendo a condição de ser carregador ou chefe de caravana; transpunham rios a vau, de muito difícil acesso, subidas e descidas onde os mais fracos sucumbiam, sendo deixados, por vezes, moribundos. Não raro, a escassez de alimentos a isso obrigava. A caravana era completada por exploradores, os célebres pisteiros. Conheciam na perfeição, todos os traços “ocultos” dos caminhos. Dos seus conhecimentos dependia uma grande parte do êxito (compreenda-se o maior rendimento com o menor custo) das caravanas. Foi assim por exemplo na conquista do Oeste, pela mesma altura, nos Estados Unidos da América. Com uma enorme diferença: a razia das diferentes etnias de Índios.
 
 
Os primeiros militares que formaram os corpos expedicionários no Kuamato em 1906 sob o comando do então major Alves Roçadas, tiveram guias excepcionais como Calipalula[33], conhecedor profundo da região. Orientava Roçadas não só em momentos próprios de paragem da coluna como conhecia as veias de água mais próximas, aconselhando permanentemente o comandante sobre os movimentos do inimigo. Naquele tempo, estes factores eram incontornáveis para o necessário descanso de uma pequena unidade militar, que quase sempre só parava já exaurida.
 
 
Demoravam em marcha forçada (sem impedimentos de qualquer ordem como por exemplo ataques inimigos ou chuvadas torrenciais), entre quatro a cinco dias, para perfazer entre 50 a 70 quilómetros, com a agravante de terem de levar todo o material às costas. Cabe aqui referir o papel dos carregadores.
 
 
 
 
Fotografia do álbum de Cunha Morais, 1908
 
 
Não eram escolhidos ao acaso. Os portugueses já deambulavam por aquelas paragens há quatro séculos, internando-se cada vez mais pelo perigosíssimo trilho das caravanas comerciais de longo curso, sabiam quais eram os mais resistentes carregadores e a que etnia pertenciam. Deles muito dependia a progressão no terreno de toda a coluna. Na prática, basicamente não se mudou de transporte de energia animal; homens, mulas, bois e até camelos, para os camiões com capacidade para duas toneladas de carga, importados e adaptados, tendo em atenção a época das chuvas com incontornáveis lamaçais, como a estrutura das pontes operacionais.
 
 
Os carregadores continuaram a ser, durante ainda cerca de duas décadas absolutamente indispensáveis. Pereira d,Eça bem pode avaliar o seu préstimo depois da inovação do serviço de transporte por camiões “A causa do corte de comunicações foi uma única. Os camiões terem, quase na totalidade, condutores civis, que depois de assistirem aos combates dos dias 17 e 18 de Agosto, ficaram aterrados, e logo se viram atacados, não pensaram senão em fugir[34]. Portanto apesar da concorrência dos camiões, continuaram, prestavam grande e eficaz serviço, eram recrutados pelos seus próprios chefes de aldeia, que aproveitavam compelir os homens válidos do povoado, para, não raro, lhes ficarem com as mulheres e o gado. Curiosamente, os novos carregadores solteiros eram estimulados pelo salário a obter e com ele garantiam o dinheiro suficiente para o lobolo (preço da noiva) que de outra maneira não conseguiriam nunca. O peso dos volumes transportados estavam relacionados primordialmente com as etapas a vencer, a forma do terreno, a presença de forças inimigas e a época seca ou das chuvas. Este assunto dá-me oportunidade de recordar um episódio vivido pelo general Pereira d’Eça[35].
 
 
 
 
Ponte sobre o rio Cunene, 1902, Veloso e Castro
 
 
 
A Campanha dos “Pneus e das Câmaras de Ar”
 
 
Nesta situação parece-me mais interessante transcrever as palavras do General Pereira D’Eça do que cair na tentação de poder desvirtuar o sentido que está inscrito no espírito do tempo. Por outro lado também me parece saudável não cair em exageros.
 
 
“Eram quinze horas, e imediatamente vim para terra telegrafar ao chefe do estado maior de etapes, dizendo terem aparecido os pneus e as câmaras, que eu julgava, muito naturalmente estivessem juntas dos pneus. Em pouco tempo tive a desilusão, pois indo novamente a bordo, soube que naquele porão só vinham os pneus, ninguém a bordo se lembrando onde teriam sido carregados os caixotes com as câmaras, o que não deve, de resto, causar estranheza; caixotes havia muitos a bordo e rolos só tinham sido embarcados os dos pneumáticos. Enquanto eu, já aborrecido com toda esta demora, debalde apressava a descarga, até aparecerem as câmaras de ar, choviam sobre a minha secretária os telegramas da Chiumba, (chefe do estado maior de etapas) e do Lubango (oficinas de camiões e director dos transportes) dando pressa à remessa dos pneus e câmaras; creio que foi nessa ocasião que, já irritado, respondi ao chefe do estado maior de étapes que não era com tantos telegramas que as câmaras haviam de aparecer, e que eu bem sabia o que estava a fazer em Mossâmedes. Para não fatigar mais o espírito de Vª. Exª. com detalhes desta verdadeira campanha das câmaras de ar, direi apenas que estas ao cabo de oito dias, depois de terem sido descarregados trinta e seis mil volumes é que apareceram no fundo de um porão, à proa do Peninsular”.
 
 
Infelizmente este tipo de peripécias estão sempre acontecer no teatro de guerra. Como se não bastasse, as câmaras de ar encontravam-se dentro do navio, no lugar menos previsível. Os caixotes em que vinham embaladas continham cerca de cem câmaras de ar cada um, o que impossibilitava na circunstância fazê-las seguir de imediato na primeira coluna. Só perante o absurdo se constatou que os carregadores só conseguiam utilmente transportar volumes com o máximo de 35 quilogramas, e mais, onde só coubessem cinco a seis câmaras de ar. E o absurdo do absurdo é que nos seguintes carregamentos de pneus e câmaras de ar com destino à campanha do Cuanhama aconteceu sempre o mesmo.
 
 
 
 
Alferes Noronha Montanha, montado em boi cavalo[36]
 
 
Voltando ao Cuanhama, não era raro o destemor de alguns oficiais dos Serviços de Informação do Exército que, disfarçados de funantes contactavam as populações hostis à subordinação estrangeira. Por exemplo, o capitão do Estado Maior, João de Almeida (considerado o herói dos Dembos) por ordem do Governador-Geral Eduardo Costa, procedeu assim, na região dos Dembos que nem sequer consentiam visitas de pretos estranhos[37].
 
 
Estas incursões só podiam ser levadas a bom porto se os serviços secretos estivessem devidamente preparados, e, efectivamente, não raras vezes assim aconteceu. Cabe aqui recordar que estas missões foram também protagonizadas por missionários leigos e não só.
 
 
Ocorre-me, salvo o abismo da comparação, recordar que António de Oliveira Salazar em 1962/63 estava, analogamente, como Presidente do Conselho, em perigosíssima situação. Quero eu dizer que o jogo diplomático, cuja análise ultrapassa o âmbito deste trabalho, deverá nortear o espírito dos leitores para compreensão das reacções de ambos os contendores, sendo certo que Mandume, o altivo, percebia bem que ao Norte tinha de se haver com os velhos portugueses e ao sul com os novos alemães. Mas, tal como afirmei (no artigo “Terras do fim do Mundo”) os seus antecessores acalentavam a esperança que os europeus viessem a brigar uns contra os outros…
 
 

* Doutorado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra. africaprint@sapo.pt.
 
[1] Era assim que se escrevia o termo Cuanhama, Interland leia-se esfera de influência.
[2] Keiling, Luiz Alfredo, obra citada, pag. 142.
[3] Oliveira, José Carlos, Os Zombo e o futuro (Nzil’a Bazombo) na Tradição, na Colónia e na Independência, pag. 239.
[4] Keiling, Luiz Alfredo, obra citada, pag. 142
[5] Oliveira, José Carlos O Comerciante do Mato, dissertação de Mestrado, Centro de Estudos Africanos, edição do Departamento de Antropologia de Coimbra, 2000, pag. 223.
[6] Lima, Maria Helena Figueiredo, Nação Ovambo, Editorial Aster, Lisboa 1977, pag. 37.
[7] Idem pag. 67.
[8] Correia, Roberto, Angola Datas e Factos, 3º Volume, 1837/1912, Coimbra, 1912, pag. 208.
[9] Keiling., Luiz Alfredo, obra citada pag. 147.
[10] Idem pag. 151.
[11] Keiling, Monsenhor Luiz Alfredo, obra citada pag. 36.
[12] Idem, pag. 102.
[13] Idem, pag. 36.
[14] Idem, pag. 28.
[15] Integrou a convite de Marcello Caetano o corpo docente da Escola Superior Colonial, hoje ISCP da Universidade Técnica de Lisboa, foi presidente ainda do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos (1955).
[16] Rêgo, António da Silva, Alguns Problemas Sociológico-Missionários da África Negra, Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1960, pag. 66.
[17] Pereira d’Eça, António Júlio da Costa Pereira, A Campanha do Sul de Angola, Lisboa, 1922, pag. 106.
[18] Soares, Brigadeiro A. Freitas, As Operações Militares no Sul de Angola em 1914-1915, Lisboa 1937, Agência Geral das Colónias, pag. 15.
[19] Lima, Maria Helena de Figueiredo, obra citada, pags. 47 a 53.
[20] Oliveira, José Carlos, Os Zombo e o Futuro (Nzil’a Bazombo) na Tradição na Colónia e na Independência. Tese de Doutoramento, Universidade Coimbra Dez.2008. Secção “Os Últimos Filhos do Império Colonial entre os Zombo”. Publicação da Revista Militar 2009.
[21] Pelissier, René, obra citada, 2º volume, pag. 206.
[22] Lima, David Martins, A Campanha dos Cuamatos contada por um Expedicionário, Lisboa, 1908.
[23] Castro, Veloso e, Obra citada, Luanda, 1908.
[24] Pereira d’Eça, António Augusto, A Campanha do Sul de Angola, Relatório, 1922, pag. 29.
[25] Idem, pag. 39.
[26] Idem pag. 63.
[27] Idem pag. 81.
[28] Pelissier, René, obra citada, pag. 228.
[29] Idem, pag. 53.
[30] Lima, Maria Helena Figueiredo, obra citada, pag. 53.
[31] Idem, fotografia entre as pags. 96, 97.
[32] Idem, Pag. 54.
[33] O guia excepcional com que contou Alves Roçadas especialmente por razões de segurança (onde e como bivacar) e o conhecimento da existência de mulolas (poços de água potável) para dar de beber aos homens e aos animais.
[34] Pereira D’Eça, obra citada, pag. 107.
[35] Idem, pag. 108.
[36] Acompanhado de intérprete, guia e carregadores, 1909: no ano de 1909 fez parte da coluna de ocupação do Baixo Cubango, no Distrito da Huíla.
[37] Magno, David Guerras Angolanas, Companhia Portuguesa Editora, Lda. Porto, 1934, pag. 37.
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José Carlos de Oliveira

Doutorado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra. africaprint@sapo.pt.

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