António de Oliveira Salazar - o outro retrato
Jaime Nogueira Pinto, numa edição Esfera dos Livros, dá-nos uma perspectiva muito pessoal da influência de Salazar na História de Portugal, a partir do 28 de Maio de 1926, tendo o cuidado de nos informar, previamente: “não morria de amores ou de entusiasmos com o «Presidente do Conselho»” e “só o vi uma vez, de perto, no dia em que ele morreu e fui até à residência de São Bento, num impulso de olhar a História, ou o fim da história, ao meu alcance.”
Após este preambular e não se vislumbrando a intenção de elaborar um documento biográfico, o autor, com uma redacção objectiva e muito cuidada, aborda muitos dos principais factos historiográficos que contribuem para a análise do percurso político de Salazar: as origens familiares, o tempo da República, a Revolução de 1926, o rigor do plano das finanças, as relações externas europeias, a Constituição de 1933, o apoio a Franco, a “neutralidade” na Segunda Guerra Mundial e a relação com a Inglaterra, a consolidação do “estado novo”, as diferentes tentativas conspiratórias contra a ditadura, a defesa dos territórios ultramarinos e a repressão dos opositores ao regime.
A partir dos factos correlacionados com a Segunda Guerra Mundial, Jaime Nogueira Pinto manifesta os seus pontos de vista sobre a descolonização e a democracia, resultantes do 25 de Abril de 1974, discorrendo sobre as fases marcelista e subsequentes, naturalmente, descontextualizadas do “tempo de Salazar”.
A Revista Militar agradece ao autor o volume que foi ofertado para a Biblioteca.
Major-general Adelino de Matos Coelho
Director-Gerente do Executivo da Direcção da Revista Militar
OLHARES SOBRE O MERCURIO PORTUGUEZ
Pelo Professor Doutor Eurico Gomes Dias
Foi dado à estampa no passado dia 13 de Julho a obra Olhares Sobre o Mercurio Portuguez, da autoria do Professor Doutor Eurico Gomes Dias. O local escolhido para o seu lançamento foi o Instituto de Defesa Nacional, uma instituição que se dedica fundamentalmente ao culto da cidadania numa perspectiva de Segurança e Defesa, cujo lema “Nos Caminhos da Nação” é um bom prenúncio para o sucesso da publicação.
Eurico Gomes Dias é um investigador, licenciado em Comunicação Social, mestre e doutor em História Medieval e do Renascimento, que nos tem prendado e enriquecido com obras de vulto como a que ora nos apresenta. O trabalho notável sobre a Gazeta, dita da Restauração, o primeiro periódico português, já nos tinha dado mostras da sua invulgar capacidade de trabalho, de rigor e de minúcia, em que se realça o seu duplo interesse pela história e pelo jornalismo.
Em “Olhares Sobre O Mercurio Portuguez [1663-1667]. Transcrição e Comentários” traz-nos, na opinião do General Gabriel do Espírito Santo, referido no seu Intróito, “[…] importante investigação, análise e interpretação, num trabalho da história para a História, que vem dar novos contributos para a historiografia nacional daquele período, cobrindo vertentes da historiografia militar, da imprensa e da vida portuguesa numa época importante para a nacionalidade e identidade nacional.”
O mérito do livro está no conteúdo e na forma como nos é apresentado, em que o autor tem a preocupação de nos transcrever na íntegra o Mercurio Portuguez, tal como foi publicado na altura, com caracteres aproximados e com a grafia vigente, mas dada a sua formação e competência apresenta-nos um «Estudo Crítico», em que nos resume todos os números deste periódico mensal, que se dedicava principalmente aos relatos de guerra. É assim apresentada, de forma eloquente, uma análise com pormenor, ainda que breve, recorrendo ao editorial mensal, nomeadamente entre Janeiro de 1663 e Julho de 1667. Como nos diz o autor é, “apresentada uma selecção de trechos noticiosos, escolhidos aleatoriamente, mas com a maior pertinência e atendendo a um certo «fio condutor» do noticiário deste periódico, estabelecendo o seu encadeamento informativo.” Os Índices Analítico e Toponímico que acompanham a obra editada pela prestigiada Imprensa Nacional-Casa da Moeda [INCM], “abrirão as portas para novas investigações, nomeadamente para investigações de cariz histórico e jornalístico”, como referiu o Professor Doutor Jorge Pedro Sousa aquando da apresentação da mesma.
Na opinião do autor, a que nos associamos, o Mercurio Portuguez foi um instrumento amplamente politizado e um excelente órgão de notícias. Mas seria, também, uma ferramenta de propaganda imprescindível à Casa de Bragança, pelo que se apresenta como uma fonte de informação histórica de elevada importância para esta época. Este periódico interveio decisivamente em defesa da nacionalidade portuguesa, sem deixar de recordar o esforço e o valor intemporal do Soldado português, o grande defensor da nossa independência.
Concluímos estas nossas breves palavras sobre esta obra notável, que vale a pena visitar, com um excerto da História da Imprensa Periódica Portuguesa, da autoria de José Tengarrinha: “Tendo cessado a publicação da Gazeta em Setembro de 1647, foram postas em circulação, até 1663, algumas folhas volantes com as notícias da guerra da independência. Surgiu então o Mercurio Portuguez, redigido até Dezembro de 1666 pelo notável escritor e diplomata António de Sousa de Macedo [...], que pela versatilidade da sua cultura e pelo seu estilo directo e conciso, apresentou uma verdadeira constituição de jornalista, [...]. A pureza do estilo jornalístico de Sousa Macedo está bem patente na sua própria declaração do número de Dezembro de 1666: “Simples e corrente foi o estilo de Mercurio, ajustando-se sempre com maior certeza que pôde alcançar, sem afectar locuções altas que desdissessem a sinceridade de uma pura narração.”
O seu assunto principal, como anunciava no título, eram «As novas da guerra entre Portugal e Castela», confessando o autor, no mesmo número de Dezembro de 1666, que, “conseguiu o intento que o incitou a escrever que foi tapar a boca aos castelhanos que vendo-nos mudos imprimiram silenciosamente relações fantásticas do que desejavam, fiados em que os estrangeiros lhes davam crédito, parecendo-lhes que em calarmos, consentíamos; e depois que Mercurio escreveu, não se atreveram a prosseguir.”
E assim se pode avaliar a força e o valor das palavras e da escrita desta obra!
A Revista Militar agradece a oferta desta publicação, em dois volumes, para a sua Biblioteca; felicita a INCM pela qualidade da mesma, assim como a iconografia utilizada, mormente as gravuras históricas; e felicita de forma efusiva o Autor pelo extraordinário trabalho que merece ser lido, porque não há nada melhor do que ler o que foi escrito para celebrarmos a obra e quem a escreveu.
Coronel José Custódio Madaleno Geraldo
Sócio Efectivo da Revista Militar