O esboço acima, parece-me bem elucidativo para localizar geograficamente, mais uma vez, os Cuanhama. Aos leitores menos avisados, chamarei à atenção que tal divisão das etnias ficou decidida aquando da conferência de Berlim de 1884/85. Contra aquilo que vulgarmente se diz, a divisão não foi assim tão prejudicial às etnias indígenas envolvidas, como se depreenderá pela leitura deste estudo e pela evolução dos acontecimentos históricos até à presente data…
Esta afirmação está não só justificada no artigo “Terras do Fim do Mundo”[2], como por referências ao assunto neste estudo em “O Mundo Cuanhama”, Generalidades. E mais, se consultarem, entre nós, estudos sobre a vida económica das gentes das nossas fronteiras com a vizinha Espanha, é fácil depararem com notas como a seguinte: “Sabe, no tempo em que mandávamos para lá o café e de lá trazíamos o bacalhau e os caramelos é que era tempo”… Estamos, está claro, a referir-nos ao contrabando de sobrevivência, (não ao mais sofisticado e de excelente margem de lucro) aquele que permitia e tornava a vida das famílias dura, mas atenuava a um só tempo a vida das gentes das aldeias por onde se fazia a emigração a salto.
O Povo de Mandume
Mesmo antes do advento dos Portugueses, surgiram tanto na África Ocidental como na Oriental, sub-grupos étnicos de índole guerreira que, directa ou indirectamente, provocaram a formação de unidades políticas mais complexas e duradouras, do que as tribos tradicionais, e não se estranhe que aqui se use o termo “tribo”, porque sabemos de “Nações” bem mais pequenas que certas tribos, e, além de mais pequenas, continuam a causar (ainda hoje) muito mais mortes do que as causadas pelas razias tribais.
Não ignoramos que as tribos em vez de terem sido ajudadas a abrir-se entre si, têm sido exploradas nas suas rivalidades para fins diplomáticos e sobretudo de exploração económica. Voltando às unidades políticas que os primeiros navegadores portugueses não hesitaram em classificar como “Reinos”, a maior capacidade unificadora dos seus chefes assumiu aspectos multifacetados. O território nacional aumentou consideravelmente em extensão, quer pelo recurso às frequentes “correrias” de especialistas na captura de gado e reféns para posterior negociação como na conquista ou submissão de tribos vizinhas quer pela lenta mas segura expansão demográfica interna.
O poder centralizado no rei foi reforçado por vários processos: o pagamento sobre a acumulação de excedentes por meio de tributos e oferendas e cobranças na passagem de pontes ou vaus de rios; o monopólio da extracção de minérios como por exemplo ferro, cobre ou estanho; a apropriação de espólios de guerra sobretudo mulheres, adolescentes e gado bovino; o aumento das vendas de marfim e outros despojos destinados à exportação; as manufacturas de produtos para o mercado interno e externo. Os artigos importados, tecidos, missangas, argolas de latão, etc. premiavam a lealdade, gratificavam os guerreiros e atraiam novos aderentes. A minoria dirigente tentou e não raro conseguiu manter a harmonia e a cooperação entre crescentes massas populacionais; tomar decisões sobre importantes movimentos migratórios; receber hóspedes, delegações, súbditos necessitados; organizar projectos como a construção de povoações fortificadas; proporcionar satisfatórias condições de trabalho aos artesãos, comerciantes, caçadores profissionais e outros especializados. Todavia este alargamento de escala raramente se processou em condições pacíficas, pelo contrário, deu origem a um cortejo interminável de conflitos bélicos: sucessões, segmentações, conquistas territoriais, controlo das rotas comerciais e das regiões de caça grossa, incursões de escravos destinados à exportação, etc[3].
Todos os anos as suas expedições bélicas a partir do mês de Maio prolongavam-se até Setembro inclusivamente altura em que começava a época das chuvas e as “chanas” se apresentavam inundadas. Por isso, Pereira D’Eça jogou o seu prestígio em neutralizar por completo os guerreiros do rei Mandume em meados de Agosto de 1915. Conhecia a dificuldade da empresa, sabia dos riscos face aos resultados das campanhas anteriores e ia-se preparando para enfrentar a psicologia dos Cuanhama. “A sua faina quotidiana ser única e exclusivamente o roubo de gado e aprisionamento de mulheres e crianças, de que depois faziam a venda como escravos em diversos pontos mais longínquos da província de Angola. Desta execranda raça formaram-se há tempos, bandos de trezentos e algumas vezes milhares de homens, verdadeiros salteadores…Todas as aldeias por onde passavam ficavam reduzidas a um monte de cinzas”[4].
Por esta época o Reino Cuanhama gozava do maior prestigio entre os povos vizinhos e os descendentes da rainha-mãe Nda Kioly, reuniam os capitães com melhor “folha de serviços prestados” a nobreza real disputava os mais destemidos, especialmente aqueles que já tivessem combatido os indesejáveis brancos. Na zona ecuménica (leia-se periferia territorial) viviam os Evale, os kuamato, chimba, cafima e bosquimanos (koisó) com quem circunstancialmente os cuanhama faziam aliança, mas note-se que em épocas de grandes secas, os cuanhama não tinham dúvidas em aprisionar gado, mulheres e crianças entre os seus habituais aliados. Por esta altura já o combate de Naulila estava longe, mas os kuamato e cuanhama traziam vivos na sua memória os acontecimentos que conjuntamente com a intensa propaganda desde longa data efectuada pelos alemães e com a retirada das nossas forças, teve como consequência natural a rebelião, formal ou latente, de todo o gentio além Cunene e da região do Huambo.
No Início do século vinte a rainha-mãe NdaKioli, estendia o seu manto sagrado pelos seus descendentes conferindo a cada um cargos à altura da sua dignidade. Teve quatro filhos, Eyulu, Auficu, Nande e Hamaloi. Por volta de 1885 o padre Lecomte tornou-se amigo de Auficu que era muito inteligente. Estes personagens estavam permanentemente em perigo de serem envenenados, tudo por causa da legitimidade da subida ao trono. Escusado será dizer que se para o novo rei os missionários portugueses não estivessem em boas graças (tudo dependia do valor atribuído pelo rei às ofertas recebidas) bem podiam começar a fazer a mala e partir dos arredores da residência do soberano. Felizmente, Eyulu tinha desde há muito consolidado as relações com os missionários católicos (leia-se o artigo “Terras do Fim do Mundo” e como Eyulu distribuiu os seus familiares mais proeminentes pelas missões alemãs, inglesas e portuguesas.
Embora o rei fosse absoluto, como acontecia com o rei do Kongo, dividia os distritos do seu reino pelos seus filhos e sobrinhos dando-lhes legitimidade para fazerem a guerra. Por este motivo cada distrito tinha os seus lenga (generais), que no caso de pedido de resgate de prisioneiros era com eles que as negociações se faziam.
O rei vivia só com o seu séquito “O soba apenas vivia com as suas mulheres, os seus escravos e os seus soldados. As famílias conservam-se à distância, ao abrigo dos caprichos do chefe e das depredações da sua guarda. Conquanto o paiz não tenha invasões a recear, os seus habitantes nunca estão sossegados, porque é à força que os chefes fazem a cobrança de impostos. Quando precisam de bois mandam fazer uma razia nos rebanhos e nunca se sabe em quem cairá a sorte”[6]. É neste clima de permanentes guerras então instrumentalizadas especialmente por alemães e ingleses que nasceu Mandume. Perguntar-se-á: O que esperar do jovem Mandume, uma vez eleito rei?
As Arvores Reverentes e o Culto dos Antepassados KI NSI
Este termo Ki Nsi aplicado no titulo, tem similitudes na língua kikongo e deve ser, na minha opinião, grafado de diversas formas, consoante o contexto em que for aplicado; porém, como já tive ocasião de o afirmar, importa que os motores de busca da internet o detectem, daí a referência de algumas formas: Nkixi, Inkisy, kinsi, ki nsi… (plural) Muquixi, mukixi, Munkisi …(singular). O prefixo Ki, neste caso, sugere falar, revelar, transmitir. Por sua vez os termo Nsi, ou simplesmente Xi, que dizer terra, no sentido de chão sagrado, daí que sejam os antepassados a revelar e por isso o Culto dos Antepassados. Esta simples alusão, não tem outra pretenção senão a ideia de partir do conceito de NSI.
Certamente se levantariam vozes, e com razão, se não tocasse, mesmo que ao de leve, neste primacial assunto. Direi então que a esmagadora maioria já chorou algum ente querido falecido que, por uma razão ou por outra, (vá lá saber-se porquê), recordou, ou recordará em determinado momento. Essa recordação é uma homenagem ao morto. Estamos perante o culto dos mortos. Por outro lado, quando na escola nos recordam “notáveis” do nosso país (a pátria dos nossos pais) falecidos há muito tempo atrás, apelam os professores, os avós, os párocos etc, à necessidade de não os deixarmos cair no esquecimento, trata-se do culto dos antepassados. É nesse sentido que relatarei dois episódios que testemunhei.
Tu não ouves?
No tempo em que eu tinha quinze anos, (no Norte de Angola) andava sempre por perto de mim um servente que se chamava Domingos. Numa dessas ocasiões, (neste caso à noite), quando na povoação esperávamos por meu pai, frequentemente dizia-me: "vem lá um carro". Eu não ouvia nada. Passados mais ou menos cinco minutos, eu começava a ouvir o ruído duma viatura. Pouco depois ele dizia: é o patrão que vem lá. A princípio eu não entendia, depois perguntava-lhe: como sabes? Ele, muito tranquilamente dizia: sinto no coração. Hoje, sei muito bem o que ele queria dizer. Seja como for, a mentalidade dos sentimentos (a pré lógica) sabe das coisas do coração. São assuntos que não necessitam da lógica…
O Meu Amigo Kasengo
Um dia, o admirável caçador Kasengo, Bakongo de gema, filho da nação Kongo falou-me dos Mbulu, dos Bakulo, que para os Kimbundo representam os Ndongo…, ou melhor, os seus antepassados.
Normalmente saíamos para a caça depois de jantar, por volta das oito da noite. Não nos afastávamos de casa mais de 4 ou 5 quilómetros às vezes nem tanto, dois ou três quilómetros bastavam para o Kasengo abater duas ou três peças de caça, sabia que eu ainda não estava preparado para enfrentar caça grossa, por exemplo pacaças (búfalos). Por isso, nesses dias em que eu o acompanhava, dedicava-se a caçar antílopes.
Certo dia, já mato adentro, ouvi um som meu conhecido. Tratava-se do uivo de um chacal, que em kikongo, (língua kongo) se chama Mbulu. O Kasengo parou imediatamente, e de uma forma reverente, segredou-me ao ouvido: “vamos embora, é um mais velho que me está a dizer que a caça, por hoje acabou”. No dia seguinte, à tarde, pedi-lhe que me falasse dos Mbulu.
“Bem, os Mbulu são os nossos “mais velhos” (os nossos antepassados). Quando eles caçam, temos que nos retirar, somos os seus legítimos descendentes, por isso lhes devemos respeito. Nós, os caçadores, somos os filhos mais dilectos dessa importante linhagem, dessa ancestralidade. Sentimos, pensamos e agimos, em função do que nos transmitem os “mais velhos”, não questionamos as suas sentenças, porque eles são os nossos sábios”.
Hoje sei que o Kasengo se referia não só aos Mbulu mas também aos Ndongo (filósofos adivinhos) e ao mesmo tempo pescadores/marinheiros das margens e da foz do grande rio Kuanza. Neste caso, referia-se ele ao vizinho reino dos Kimbundo, de que faziam parte os Ngola, de onde deriva hoje o termo Angola. É dentro deste espírito do culto dos antepassados que os povos Bantú em geral, pautam as suas vidas e plantam árvores reverentes que representam o sagrado.
Há alguns anos atrás, em publicação do Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra, escrevi assim[8]:
Quando as crises se agudizam e as angústias e medos se instalam nas sociedades, tornando-se insuportáveis, os homens são com frequência “tocados” por certas árvores que lhes transmitem, (dependendo da sua postura perante a vida) alegria ou tristeza. Isto significa que a divindade tem formas e momentos próprios para se manifestar e as árvores seculares representam um dos pilares para essa comunicação. Em muitas civilizações, a árvore, talvez devido à sua longevidade (algumas com mais de dois mil anos) aparecem como árvores da vida. É evidente que não se trata das árvores dos nossos quintais, mas de árvores apresentadas como símbolos da vida. Nunca uma árvore foi adorada somente em si mesma, mas sempre por algo que, através dela, se "revelava", pelo que ela implicava e significava, figurando o símbolo de uma essência do Ser que a ultrapassa e que pode vir, por essa razão a ser objecto de culto, simbolizando a característica cíclica da morte e regeneração, através da sua raiz, do tronco e das suas folhas; era e continua a ser um dos temas simbólicos mais espalhados. A literatura que lhe tem sido dedicada ao longo dos séculos constitui prova irrefutável. O próprio Cosmos é visto sob a forma duma árvore gigante em perpétua regeneração[9].
A árvore sob a qual Buda, durante a noite, recebeu a revelação, representava a “árvore da vida” era uma incendeira, (ficus religiosa)[10]; as suas raízes eram Brama, o seu tronco Xiva e os ramos Visnu, sinais esses que fazem dela uma representação clássica de “eixo do mundo”[11].
A Mulemba é conhecida em termos científicos por Ficus Psilopoga e as suas qualidades farmacêuticas foram há muito anotadas pelos ocidentais. Os pigmeus e os bakongo, como habitantes da região conhecem as diferentes formas de utilizar os frutos bem como as folhas e as raízes; estas são utilizadas no tratamento de febres e diarreias, sendo consideradas muito eficazes quando cozidas e aplicadas em banhos.
Encontram-se, diversas variantes disseminadas pelos territórios do Kongo e Angola. Mulembas já muito velhas, quase sem vida, apenas com alguns rebentos de folhas verdes. Assinalam para a posteridade os locais onde há muito tempo atrás existiu uma senzala (povoação), sabendo-se por vezes, as razões do abandono. Hoje essas Mulembas constituem parte integrante das matas (florestas) do clã que aí habitou. A continuada presença das famílias e dos animais domésticos que os acompanham no mesmo local deposita nas terras, ricos elementos orgânicos (urina, fezes, restos de comida e outros detritos). Estas terras, uma vez abandonadas, explodem de vida vegetal e as árvores plantadas são, em muito pouco tempo envolvidas tornando-se densos matagais. Por isso as mulembas também demarcam fisicamente a posse das terras, (para além de rios e acidentes de terreno) protegendo-as de intrusos que queiram assenhorar-se dos cobiçados terrenos que medeiam entre a savana e as matas. A qualidade dos terrenos pode ser confirmada porque os animais que habitam estas zonas têm uma especial preferência pela orla da floresta, ela permite-lhes a abundância dum excelente pasto e no caso de ameaça física, a segurança do internamento na mata faz-se em segundos.
Neste momento já se compreende porque é que cada linhagem é materializada por uma floresta. Este conceito de floresta tem a sua origem num primeiro núcleo residencial. Na África Negra não se admite, e particularmente após a morte do chefe da aldeia, que a linhagem continue a residir no mesmo local, resultando daí o abandono da povoação para local previamente estabelecido pelo conjunto dos anciãos que preside aos destinos da povoação, iniciando-se a inauguração da nova aldeia com a plantação duma Mulemba sagrada no centro da povoação.
No que se refere aos cuanhama, creio que o célebre multisecular imbondeiro de Ngiva, representa a justiça dos reis dos cuanhama. Creio, novamente que o general Pereira D’Eça ao mandar enforcar os traidores, pretos e brancos estava a dar um tremendo aviso aos cuanhama, mas estes tinham outra forma de pensar, de viver o mundo, quando nas suas práticas mágico-religiosas imploravam aos seus antepassados o auxílio para que lhes indicassem o caminho, sacrificando os seus carneiros ao mesmo tempo que os seus instrumentos musicais criavam a emoção necessária para que se concretizasse a possessão que entre os povos do mundo cuanhama ainda é conhecido pelos “mais velhos” pelo “verbo sinónimo Tumbika, empregado tanto na voz activa como na passiva. Significa: fazer a cerimónia gentílica aos espíritos; ao lado do sentido profano: aparecer, mostrar-se (M. Bonnefoux). H. Tönjes registou este significado para o cuanhama: Iniciar alguém na arte de curandeiro adivinho [13].
Para este importante assunto da vida de todos os povos Bantú e não só, remeto os interessados para o nº 2488 da Revista Militar[14], lá poderão encontrar mais pormenores sobre o assunto. O que não tenho dúvidas é do profundo conhecimento que os missionários católicos (e não só) tinham e têm de tão complexo assunto, e mais, não tenho relutância em crer que bastantes vezes sonegavam informações que seriam prestimosas aos comandos militares portugueses…
Escusado será dizer que este problema veio a ter enormes repercussões aquando do início da guerra colonial em 1961 tanto nos espíritos que “orientavam” a UPA, como a UNITA em Angola, e em Moçambique os “premonitores” dos espíritos Vandaw e Van Gúni, existem especialistas da matéria em Portugal. Permitam-me recordar uma notável dissertação orientada pelo professor do ISCPU João Baptista Pereira Neto, profundo conhecedor da matéria e intitulada “Feiticismo” o autor a certa altura afirma[15]:
“Quando no capítulo I nos referimos ao culto do feiticismo tivemos o ensejo de fazer referência a uma forma deste culto praticada entre os luenas de Angola, que consistia precisamente no chamamento do espírito do feitiço através do “ngoma” (pequeno tambor). E dissemos então que a vinda do espírito do feitiço provocava a histeria geral e colectiva dos presentes. Segundo relatos que na altura colhemos, o processo é mais ou menos este: O feiticeiro senta-se apoiado em parte, nas suas pernas (o que corresponde a estar de joelhos apoiado nas pernas) e em parte na extremidade posterior da caixa do pequeno tambor. Apertando entre si as pernas mantém seguro o tambor. Atrás dele, agrupam-se ao acaso os assistentes e participantes, numa posição semelhante à do feiticeiro mas sobretudo de pé. O Feiticeiro inicia então o toque do tambor. Começa de uma maneira suave e vai aumentando gradualmente o toque rítmico do tambor até atingir o mesmo ponto de colapso físico e emocional. O estado de grande excitação e histeria transmite-se depois aos presentes. O ponto do colapso físico e emocional corresponde à possessão.
Atrás dele, agrupam-se ao acaso os assistentes e participantes, numa posição semelhante à do feiticeiro mas sobretudo de pé, inicia então o toque do tambor.
Começa de uma maneira suave e vai aumentando gradualmente o toque rítmico do tambor até atingir o mesmo ponto de colapso físico e emocional. O estado de grande excitação e histeria transmite-se depois aos presentes. O ponto do colapso físico e emocional corresponde às possessão do espírito do feitiço por parte do feiticeiro, quer, por sua vez, procura transmiti-lo aos presentes. Em linhas gerais é nisto que consiste o chamamento «mahamba»”.
Como foi referido no artigo Terras do Fim do Mundo, publicado pela Revista Militar[16], Kalipalula orientou magistralmente o comando do então Tenente-coronel Alves Roçadas para que este conseguisse derrotar os kuamato. Uma vez eleito como maior soba, matou-se…
Muito mais haveria a desenvolver e esclarecer, o tema é interessante, mas permitam que fique por aqui.
O Rei Mandume
“Vou terminar, como é de justiça, fazendo também o elogio do adversário, cuja bravura foi inexcedível. Atacar três dias seguidos um destacamento constituído por duas baterias de artilharia de campanha, quatro baterias de metralhadoras, dois batalhões de infantaria, estando estas forças em quadrado e aproximando-se delas com uma insistência que, no último combate, que durou dez horas, a uma distância que chegou a ser de cinquenta metros, revela um moral e uma instrução de tiro e de aproveitamento de abrigos que fariam honra às melhores tropas brancas. Esse adversário teve quem o armasse e instruísse, bem o sei, mas só com uma tempera verdadeiramente guerreira, entregue a si próprio, se manteria com se manteve até à Mongua, onde a nossa ofensiva quase que só se pôde efectuar no campo estratégico, pertencendo ao inimigo a do campo táctico. E ainda depois de batido terrivelmente no combate do dia vinte de Agosto teve o moral preciso para encobrir a sua derrota, evitando as apresentações e só revelando o seu verdadeiro estado quando nos viu depois avançar sobre N’Giva.”
Este jovem destinado a ser rei foi cuidadosamente treinado para o mando militar pelos poderosos comandos alemães (religiosos e militares) sedeados na Damaralândia, o então Sudoeste Alemão de 1884 a 1915, a partir desta data a Republica da África do Sul integrou o território até 1990, altura em que emergiu o estado republicano da Namíbia.
Ainda hoje os cuanhama e povos vizinhos têm muita dificuldade em estarem divididos pela força das armas da Europa. A Nação Ovambo, quer ser o que foi: um grande reino, orgulhoso dos seus maiores e o último foi Mandume[17].
Desde muito jovem foi certamente iniciado pelos mais experimentados lengas nos primeiros passos para reconhecer os elementares sinais da cultura guerreira que lhe viria, mais tarde, a conferir legitimidade de liderança em futuras guerras pela hegemonia do poder centralizador cuanhama, existe até um provérbio entre eles, aliás também kongo, que diz o seguinte:
“O homem deve ser considerado criança por todos antes de atingir o patamar da vida adulta. Deve permanecer subalterno antes de aceder ao poder, deve ser iniciado antes de poder governar.”
O comandante de guerra “lenga” (também os havia conselheiros políticos) começava por ser, antes do mais, um Nsongila Nzila o que mostra o caminho (no dizer dos kikongo) e que, por norma, não se descuida pisando as peugadas já lidas (não vá ter que as reler, buscando pormenores que lhe tivessem passado despercebidos), faz a sua leitura de lado, um ou dois passos atrás dos sinais a ler, utilizando, por vezes, uma pequena haste. Aplica ancestrais conhecimentos como sejam o impregnar a roupa que leva vestida com o odor de um animal previamente escolhido, elimina assim o seu próprio odor, não perturba a vida da floresta, e mais, não assusta os pássaros. Caminho em que de repente se não escuta o chilreio da passarada, levava o “lenga” a rodear-se de redobrados cuidados.
Com este saber, não interfere no ambiente como estranho, tudo se passa como se ele lá não estivesse. Alguns, os escolhidos pelo rei, não usavam sequer cães, atitude muito estranha se levarmos em linha de conta que o negro da África dos Matos adora estes animais, e tem razões para isso. Não há senzala onde não se oiçam pelo menos uma boa dúzia de cães. Nestas circunstâncias, o cão frequentemente deixa de ser alimentado pelo seu dono, tem que se governar. E governa-se como pode: caçando. Têm os seus terrenos favoráveis e desfavoráveis, têm o seu retiro numa mata própria porque nem todas as presas preferem os mesmos terrenos. Às vezes, no meio da mata o caçador pára, perscruta e sobe ao cimo duma árvore. Bastava-lhe simplesmente olhar o “mutiate” (a pequena moita). Se observasse uma pequena ondulação entre os arbustos, seria sinal de que algo de estranho ali se movia. Tanto o na altura tenente Veloso e Castro como o general Pereira Eça sublinharam a importância dos morros de “salalé” como os “mutiati” referindo-os como excelentes disfarces de ataque dos cuanhama e kuamato. Mais tarde, de 1961 a 1963, apliquei estes conhecimentos que de muito me serviram...
Como se pode observar na fotografia anterior, por detrás do grupo está um morro enorme de “salalé”. Foram os maiores disfarces de dissimulação dos kuamatos e cuanhamas, para além da sua impressionante capacidade de mobilidade em absoluto silêncio até ao momento do ataque. Os lenga sabiam muito bem que os portugueses, pouco a pouco, iriam morrendo à sede, bem como os animais. Viam os carros de mantimentos tombarem inúteis devido à morte dos animais. Os portugueses faziam um esforço inaudito para levarem de vencida as etapas que os seus comandantes tinham projectado. Chegaram a Mongua, ponto crucial da ocupação do cuanhama, mas os lengas e os seus guerreiros já os esperavam de atalaia sempre protegidos pelos morros de “salalé” e “mutiatis”. A defesa das cacimbas (poços de água) durou três dias. Os comandantes das tropas expedicionárias eram superiormente visados por caçadores cuanhamas, os animais caiam sem que houvesse tempo de criar barreiras para os abrigar.
Não vou tecer qualquer tipo de considerações, basta-me uma simples frase para dizer tudo: os cuanhamas ao avançarem, não pisavam o terreno com os pés, liam-no. A fotografia seguinte é bem elucidativa…
Não existe a menor intenção de minimizar o valor dos militares portugueses, conheço bem o conceito de Pátria e Bandeira de Alexandre Herculano, mas não posso deixar de referir o que escrevi na Revista Militar acerca do drama das nossas campanhas missionárias em África e que vale a pena recordar[18]: “Sempre que duas sociedades entram em contacto, existe certamente, de ambas as partes um aperfeiçoamento de que ambas virão a comungar. Todavia o nosso caso tem a ver com sociedades detentoras de níveis tecnológicos distintos.
Quem ganhasse a Definitiva Posse da Água Ganhava a Guerra
Pereira D´Eça estava absolutamente consciente da situação aflitiva da falta de água, os cuanhamas ainda mais. Quem se apoderasse das Mulolas (poços de água) sairia vencedor. As mulheres cuanhamas ajudavam freneticamente, mesmo em fúria, os seus homens municiando-os com constantes idas e voltas aos Ehumbo e este aspecto da batalha desorientava as tropas da expedição portuguesa que, em desespero de causa, famintas e extenuadas terão ouvido a ordem de carregar do comandante: “Se querem matar a sede, então avancem para as cacimbas.” Soldados e marinheiros embrenham-se pelo mato em direcção às cacimbas novas, perseguidos de perto pelo tiroteio dos inimigos que, rastejando, pelos “mutiatis” atingiam as tropas.
Os cuanhamas surpresos com o ataque, apesar de circunstancialmente disporem de superioridade em homens e armamento, obedeceram à ordem final de Mandume de incendiarem a Embala e partirem para o Ihole a dez quilómetros de Namakunde, na zona considerada neutra. A 5 de Setembro a expedição de Pereira D’Eça avistava os restos da “Embala” ainda a arder, bem como o que sobrou da missão alemã que havia educado Mandume, que usufruía das maiores honrarias e conforto, porque o destinavam a seu vassalo instalando-o no trono do cuanhamas.
Não se pense que os ingleses procederam de forma diferente, lembremo-nos das cartas trocadas entre o residente inglês S. Prichardt e Pereira D’Eça e aforma como este respondeu ao responsável inglês, fazendo sentir que a guerra não era entre duas tribos, mas sim entre uma potência colonizadora e um chefe tribal.
O fim do império cuanhama adivinhava-se, a história de um povo orgulhoso do seu espaço territorial, das suas vitórias guerreiras tinham como finalidade especialmente o saque de gado e mulheres, conforme os ditames ancestrais via o seu povo iniciar a partir daí a evoluir para a cooperação com os brancos vencedores.
Não se pense que Mandume e os seus fieis lengas, uma vez em território dominado pelos ingleses desistiram logo da luta travada com os portugueses, esperou que os ingleses (tal como tinha acontecido com os alemães) o ajudassem a reconquistar o poder, porém, Prichardt foi informando, passo a passo Mandume que o general Pereira D’Eça tinha um grande e apetrechado exército instalado em todo o território sob o seu domínio, seria portanto inconcebível qualquer tentativa de resistência. Os responsáveis ingleses prometeram-lhe um lugar de oficial superior nas terras onde tinha muitos milhares de cuanhamas à sua disposição. Tal como Kalipalula, e outros familiares seus, optou pelo suicídio, assim reza a história do altivo povo cuanhama.
Considerações finais
Em torno do Velho Sekulo e do Velho do Restelo
Antes do mais, o Velho Sêkulo (usualmente escreve-se Sékulo) já era velho, como Sêkulo, à data da recolha das informações tinha cerca de 100 anos de idade, assim ele seria “O MAIS VELHO”. Convém, mais uma vez, entrar num pormenor linguístico: O prefixo Sê quer dizer “pai”, Kulo, com tradução à letra, quer dizer “pernas”, ora como a nossa base de sustentação física são as pernas, chega-se por aí ao significado de “representante do culto dos antepassados”.
De “grosso modo”, o Velho do Restelo é uma figura nossa conhecida da magistral obra de Luís Vaz de Camões, “Os Lusíadas”. Numa primeira leitura, o velho pressagia negativamente a epopeia dos Descobrimentos; porém, numa analise mais aprofundada, há quem sugira, que o Velho do Restelo como um “velho lobo do mar” avisava os homens do seu país para as amargas desventuras da decisão de partirem, mar a dentro ao encontro do desconhecido. Teriam outra saída?
Feita a introdução e baseado nos meus conhecimentos sobre os Kongo, especialmente do sub-grupo Bazombo de onde ressalta a figura de Simão Toco, (líder religioso do Norte de Angola e responsável pela doutrina que levou ao 15 de Março de 1961) posso, com relativa segurança, andar em torno da figura do Sêkulo Hinauñe. A referência à sua idade aproximada é-nos dada por Maria Helena Figueiredo Lima[20]. “O processo de cálculo da idade é o mesmo dos anteriores. Hinsuñe tem actualmente três mulheres, das oito que já possuiu. Três filhas e cinco filhos, inúmeros netos e bisnetos. Grande proprietário de gado, com milhares de cabeças, ao contrário de Muakina, Mutamu e os demais informadores da mesma idade, vestia à moda tradicional do seu tempo - a resumida tanga, embora em sinal de evolução tenha substituído a pele pelo tecido de riscado.”
Segundo a autora, a grande contribuição do Sêkulo recaiu sobre religião e espiritismo, “sendo pouco aberto a confidências quanto aos costumes ancestrais. Escondia-se por trás de uma aparência de ignorância que não condizia com o seu porte majestoso e a sua opinião de sêkulo.”[21]
Esta forma de estar na vida é muito peculiar na filosofia tradicional bantú. Os pedagogos do povo continuam a saber muito bem que a sua dignidade, o tal porte majestoso, se expressa por parecer que fixam o horizonte, mas o que fazem é treinar permanentemente, na presença de estranhos, como lhes soa o sentido do que está a ser dito. E mais, tendo já passado a arrogante fase adulta, sabem revelar a necessária simpatia para com aqueles que não pertencem à “casa”.
O sêkulo Hinãun assistiu em Agosto de 1975 à fuga de mais de dois mil portugueses civis, que viajavam em algumas centenas de carros e camiões, protegidos por mercenários e vigiados por aviões pelos caminhos dos Ovambo de Angola e da Namíbia, rumo à África do Sul. Recordou os seus tempos de “lenga” de Mandume.
Os factos eram em muito semelhantes aos sucessivamente vividos por si algumas décadas atrás. Assistiu à derrota dos portugueses em Naulila contra os alemães...Lembrava-se muito bem da apressada saída dos quartéis Ovambo ordenada por Alves Roçadas. Tinha os militares portugueses como extraordinários na ofensiva e nos cercos mas completamente desequilibrados nas retiradas…[22]. Lembrava-se como os alemães tiveram que pagar ao seu rei para atravessarem o território Ovambo a fim de irem dar combate aos portugueses. Sob o seu olhar viu os portugueses a evacuarem os fortes do Kuamato. Em dois dias todo o Ovambo ficou entregue a si próprio. Infelizmente para os povos da região veio a grande seca de 1911/1916, falecendo então a terça parte da população. O Governador-geral Norton de Matos avaliou em 250.000 o número de mortos na bacia do Cunene e na bacia do Cubango, o desastre ecológico inferiorizou drasticamente a capacidade de resistência e liderança dos guerreiros Kuamatos, Cuanhamas e Evales, facilitando a tarefa da ocupação e pacificação das Terras do Fim do Mundo pela administração portuguesa. Os que restaram só viviam para sobreviver, estavam física e moralmente exauridos. Os espíritos eram permanentemente consultados.
O mais grave é que os adivinhos, curandeiros e, especialmente os sacerdotes tradicionais ovambo, não agoiravam um futuro risonho para a sua gente que ia perdendo os princípios da moral tradicional bantú. Roubavam o gado e as mulheres aos próprios vizinhos para se conservarem vivos e deixarem descendência. A miséria física não deixava espaço para se concentrarem a fim de invocarem os espíritos dos seus antepassados e com eles raziarem os portugueses…
Por quanto tempo durará a paz, quando será que o Oráculo Ovambo dará o Sinal para o recomeço da guerra?
Bibliografia
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* Doutorado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra. africaprint@sapo.pt.
Doutorado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra. africaprint@sapo.pt.