A Europa Napoleónica e Portugal
Messianismo Revolucionário, Política, Guerra e Opinião Pública
Professor José Miguel Sardica
Tribuna da História, Setembro de 2011
A Revolução Francesa, o triunfo e ascensão de Napoleão, a descomunal tarefa de terminar a Revolução e pacificar a Europa, o Império e os nacionalismos dos povos, as três invasões sofridas por Portugal e suas consequências, o fim do Imperador e o Congresso de Viena, eis os grandes tópicos abordados pelo professor Sardica. Obra que, para além do texto repleto de referências bibliográficas em rodapé, apresenta em anexo uma exaustiva cronologia e uma completa bibliografia composta por fontes gerais, imprensa escrita, estudos e memórias oitocentistas e mais de uma centena de obras de história política, militar e diplomática, história da imprensa e história das ideias.
Havendo subestimado os nacionalismos europeus e em particular o dos povos ibéricos Napoleão intenta impor o Bloqueio Continental, em Portugal e em Espanha, sem o conseguir. Já no exílio, em Santa Helena, reconheceu que a guerra da Península o arruinara, complicando-lhe os planos, tendo constituído uma preciosa Escola para os militares ingleses, sendo a primeira das calamidades que teve de enfrentar, antes do total fracasso da campanha da Rússia e dos desaires nas batalhas de Leipzig e Waterloo.
Os anos de luta na Península, de 1807 a 1814, fizeram fracassar a sua ambicionada construção de uns “Estados Unidos da Europa”, com identidades, valores e liderança francesa.
Como reconheceu um dos generais de Massena, a campanha de Portugal teve um interesse superior a tudo o mais, pois este era o único campo de batalha em que os franceses se confrontavam directamente com os ingleses. Singular é a circunstância da Guerra Peninsular ter tido uma dimensão internacional, com a presença de forças militares de várias potências Europeias, conjugada com a dinâmica destrutiva das campanhas, particularmente em número de baixas militares e civis. Em Portugal estima-se que tenha levado a um recuo demográfico da população entre 6 a 9%.
Por outro lado, a passagem dos Franceses por Portugal constituiu uma ruptura na nossa sociedade, autêntico fim de ciclo histórico, com a introdução da modernidade no Portugal contemporâneo. Napoleão, embora perdendo militarmente, revolucionou o país, como revolucionou a Europa e provocou a ascensão do Liberalismo em Portugal.
A obra apresentada pelo professor Sardica, apresenta-se composta por seis Capítulos, com as seguintes preocupações:
No Capítulo 1º dedica-se a analisar a dinâmica política e militar da Revolução Francesa iniciada em 1789, até à chegada ao poder de Napoleão em 1799, seguindo até ao fim do Império até 1814/1815.
O Capítulo 2º centra-se em Portugal e nos tempos difíceis que a nossa diplomacia teve que enfrentar nos fins do século XVIII, tentando conseguir o impossível equilíbrio nas relações com franceses e ingleses. Trata ainda da partida da família real para o Brasil e da entrada de Junot em Lisboa.
A entrada do marechal Soult no norte do país e a sua tentativa frustrada de alcançar Lisboa, constitui estudo do Capítulo 3º.
O 4º Capítulo analisa a questão central da relação entre a aventura napoleónica e a opinião pública, da luta entre as novas ideias francófonas e da reacção dos conservadores, entre colaboracionismo e resistência ao francesismo, durante a primeira e segunda invasão. As tentativas de Junot e Soult de conquistarem “hearts & minds”, de serem recebidos como libertadores e não invasores.
A mais destrutiva de todas as invasões, a 3ª e última, é tratada no Capítulo 5º. Aborda a marcha de Massena, de Ciudad Rodrigo e Almeida, até ao Buçaco e às Linhas de Torres e a devastação do território pela estratégia anglo-lusa de “terra queimada”.
No 6º e último, o professor Sardica analisa o impacto das invasões francesas na construção da modernidade oitocentista portuguesa e o cortejo das dramáticas consequências. A Corte no Brasil, a orfandade da metrópole, a ruína económica, a perda da independência, a ocupação inglesa, a revolução de 1820, a independência do Brasil, a guerra civil e as fragilidades da nova ordem liberal.
Fica pois esta obra à disposição dos estudiosos e investigadores num momento em que recordamos a calamidade que foram as invasões, duzentos anos após a retirada de Portugal, de Massena e do seu Exército, completados em 2011. Criteriosamente apresentada, num volume de 398 páginas, de excelente encadernação e aspecto gráfico, capa a cores com a reprodução de uma alegoria a óleo de Domingos Sequeira, constitui um contributo precioso para a história contemporânea e em particular e para a história política, militar, diplomática, da imprensa e das ideias.
A Revista Militar agradece a oferta da obra “A Europa Napoleónica e Portugal” e felicita o professor José Miguel Sardica pelo seu trabalho.
Major-general Manuel de Campos Almeida
Vogal da Direcção da Revista Militar
Olhares Europeus sobre Angola.
Ocupação do território, operações militares, conhecimentos dos povos, projetos de modernização (1883-1918)
João Freire
Após a Conferência de Berlim e até ao final da Primeira Guerra Mundial, num período atribulado e intenso na relação Europa-África, jogou-se ao longo de mais de três décadas, a partilha do continente Africano entre as potências europeias, onde a presença portuguesa em Angola simbolizou a prespetiva de um poder que marcou indelevelmente a História de Portugal e de Angola. Na obra em epígrafe, de João Freire, editado pelas Edições Culturais da Marinha, ao longo do período observado (1883-1918), o autor compila metodologicamente, analisa e introduz notas correlativas relativamente ao contexto histórico em análise. Neste âmbito, a abordagem científica, muito completa e acompanhada de vasta documentação, surge como um testemunho fundamental para quem estuda estas temáticas, possibilitando ao leitor uma prespetiva abrangente sobre a estratégia de ocupação do território, as operações militares desenvolvidas, o conhecimento sobre os povos e uma análise sobre a política de desenvolvimento implementada por Portugal para Angola neste período.
Em face da obra ora apresentada, a Comissão Cultural da Marinha e o autor estão de parabéns, na certeza que deram mais um prestimoso contributo para o conhecimento científico da história moderna de Portugal e de Angola. Realce ainda para a vasta bibliogafia e conteúdos inéditos apresentados, que anotados e relacionados metodologicamente, são um referência obrigatória para a melhor percebermos e compreendermos os “Olhares Europeus sobre Angola”.
A Revista Militar felicita o autor e a editora pela consistência científica e oportunidade da publicação, certo que será uma referência para os estudiosos, e agradece o volume oferecido pelo autor.
Major Luís Manuel Brás Bernardino
Sócio Efectivo da Revista Militar