As Comemorações do Dia do Exército
Um dos pilares estruturantes da Instituição Militar é o fortalecimento permanente do moral daqueles que a Servem, que se materializa no culto dos seus mortos e heróis e no permanente esforço, através de ritos e comemoração de efemérides, para ir recordando os valores, princípios e regras que a regem, mostrando à Nação a sua prontidão para as missões que pode ser chamada a cumprir. As comemorações dos dias das Forças Armadas e dos seus ramos, fortalecidas com o novo regime constitucional da Nação, vieram reforçar essas preocupações, levando as cerimónias para diferentes partes do território nacional, onde mostram aos portugueses como estão, o que fazem e como se preparam. Também com um objectivo claro, quando o serviço militar se baseia no voluntariado, para atrair jovens para um serviço à Pátria que exige sacrifícios e é incómodo.
O Exército, ramo das Forças Armadas cuja história se confunde com a da Nação, cujo dispositivo lhe permitiu estar presente durante séculos em todas as partes do espaço nacional e a quem o serviço militar da conscrição lhe concedeu um estatuto especial de ligação à população, comemorou nos passados dias 21, 22 e 23 de Outubro o seu Dia na cidade de Bragança. Lembrando o seu Patrono, D. Afonso Henriques e a data da conquista de Lisboa.
A cidade recebeu o Exército com regozijo. Como local de fronteira, afastado dos centros de decisão e com gentes tradicionalmente habituadas a serem chamadas à defesa da Pátria, desde os tempos do alardo da Vilariça, na crise de 1385, passando pelo Terço de Bragança na Restauração ou nas várias campanhas do Império, os bragançanos mantêm a saudade da sua tropa. Daquela que vivia no Castelo ou no Trinta, alimentava famílias com as sobras do rancho ou instruía uma população que desejava aprender. Foi essa saudade que permitiu ver olhos com lágrimas, quando as tropas, magníficas na sua postura e ao compasso da Banda do Exército, desfilaram numa avenida da cidade modernizada em que uma autarquia empenhada e esclarecida a transformou.
Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional presidiu às cerimónias tendo a seu lado o Comandante do Exército, Sua Excelência o Chefe do Estado-Maior do Exército. Ambos proferiram discursos de circunstância e a sua análise merece-nos algumas observações. O Ministro da Defesa Nacional, na sua responsabilidade política e em tempos de tremendas restrições orçamentais que caíram sobre o Estado, apela para a contenção, o sacrifício e a compreensão. O Comandante do Exército responde com as suas responsabilidades de comando. Onde exigências próprias de manutenção de uma hierarquia estruturante e que se rege por princípios estatutários expressos na primeira página da Carta Patente de Oficiais ou do Diploma de Encarte de Sargentos, de uma disciplina onde impera o princípio da obediência e de responsabilidades próprias de ensino e de instrução, de apoio de saúde e de garantia de segurança quando emprega os seus meios, não admitem interpretações dúbias.
Naturalmente que a situação da Nação exige realismo nas medidas a tomar, que não podem ir atrás dos comentários do enxame de comentadores que nos intoxica diariamente. Não queiramos entrar na lógica das decisões políticas mas procuremos manter os argumentos da nossa gramática militar, que se rege por Honra, Pátria e Dever.
* Presidente da Direcção da Revista Militar.