Nº 2527/2528 - Agosto/Setembro de 2012
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
IN MEMORIAM - Vice-almirante Henrique Afonso da Silva Horta
 
Vice-almirante Henrique Afonso da Silva Horta*
 
 
O Vice-almirante Henrique Afonso da Silva Horta nasceu em Lisboa, a 21 de setembro de 1920, e faleceu, também em Lisboa, a 29 de Janeiro de 2012. Era Sócio Efetivo da Revista Militar, desde 26 de Novembro de 1969.
 
Boa parte da sua infância e juventude foi passada em Lourenço Marques, Moçambique, tendo regressado a Lisboa para completar os estudos secundários no liceu Pedro Nunes. Como era prática naqueles tempos, «assentou praça no Exército como soldado cadete», em 31 de julho de 1940. Foi transferido para o serviço da Armada, para a Escola Naval, a 16 de setembro do mesmo ano. Pertenceu, assim, ao curso D. João IV sendo camarada de outros nomes bem conhecidos como Rogério Silva de Oliveira, Joaquim Soeiro de Brito e Eduardo Serra Brandão.
 
Foi promovido a guarda-marinha, a 16 de setembro de 1943, e iniciou um período de embarque nos contratorpedeiros Douro, Tejo e Vouga, nos avisos Bartolomeu Dias, João de Lisboa e Afonso de Albuquerque e na canhoneira Zaire.
 
Já segundo-tenente, a 17 de abril de 1945, assumiu o comando do navio patrulha Santa Maria, que exerceu até 14 de outubro do ano seguinte. No período compreendido entre 1 de novembro de 1946 e 14 de março de 1950, foi oficial de guarnição da antiga Sagres, primeiro como «encarregado da pilotagem» e, posteriormente, como oficial imediato.
 
Seguiu depois para a Guiné, onde exerceu os cargos de Capitão dos Portos e Chefe dos Serviços da Marinha. Embora tenha sido promovido a primeiro-tenente, a 31 de março de 1953, permaneceu naquelas funções até 5 de junho de 1955, acumulando ainda, durante cerca de dois anos, a presidência da Câmara Municipal de Bissau.
 
Regressou da Guiné para, no dia 12 de setembro de 1955, assumir o cargo de oficial imediato do aviso Gonçalves Zarco, que exerceu até 7 de maio de 1957. Depois disso, foi oficial imediato do contratorpedeiro Douro, entre julho de 1957 e março do ano seguinte.
 
Depois de concluir o curso de Controlo Naval da Navegação, a 14 de março de 1958, regressou à antiga Sagres para desempenhar as funções de oficial imediato, onde lhe coube a importante tarefa de coordenar a participação na regata Brest/Las Palmas, que a barca logrou vencer. Em acumulação, desempenhou, até 29 de outubro de 1960, os cargos de diretor de instrução da Escola de Marinharia e de secretário escolar do Grupo n.º 1 de Escolas da Armada. Foi promovido a capitão-tenente, a 24 de maio de 1959, e frequentou o Curso Geral Naval de Guerra (CGNG) 1960-1961, tendo sido o primeiro classificado, distinguido com o prémio Almirante Botelho de Sousa.
 
No dia 26 de junho de 1961, assumiu o comando da antiga Sagres, que oficialmente exerceu até 31 de janeiro de 1962. Em regime de acumulação, entre 1 de novembro de 1961 e 8 de fevereiro de 1962, chefiou a Missão de Recepção do NE “Guanabara”. Depois de ter sido o último comandante da antiga Sagres, a 8 de fevereiro de 1962 o Capitão-tenente Silva Horta tornava-se o primeiro comandante do atual NRP Sagres. Sob seu comando, que cessou a 29 de setembro de 1965, o navio-escola Sagres realizou um total de 14 viagens, efetuou 6928 horas de navegação, percorreu 40 606 milhas e embarcou quatro cursos da Escola Naval.
 
A 2 de novembro de 1965, assumia as funções de adjunto para as informações do Comando-Chefe das Forças Armadas de Angola, onde se manteve, até 28 de outubro de 1968, tendo ainda frequentado o curso de Operações Anfíbias na Escuela de Guerra Naval, em Madrid.
 
A promoção a capitão-de-fragata ocorreu em 26 de maio de 1966. No ano seguinte, a 11 de Dezembro de 1967, foi colocado no Estado-Maior da Armada (EMA), onde esteve até 2 de Setembro de 1971, primeiro na 1.ª Divisão e, posteriormente, na 2.ª Divisão, onde foi chefe do Serviço de Informações Militares (SIM). Neste período, assumiu funções docentes em quatro instituições: Instituto Superior Naval de Guerra, Instituto de Altos Estudos Militares, Escola de Estudos Superiores da Força Aérea e Escola Náutica. Entre 1968 e 1970, por três vezes foi Capitão de Bandeira do paquete Vera Cruz.
 
Neste período, a 26 de novembro de 1969, foi admitido como sócio efetivo da Revista Militar.
 
Em 1970, representou a Marinha na Exposição Mundial de Osaka, no Japão. No ano seguinte, frequentou o curso de Tática Naval para Comandantes e Imediatos dos Escoltadores Oceânicos e Navios Patrulhas e o MaritimeTactical Course, na HMS Dryad, em Southwich, Inglaterra.
 
No dia 31 de março de 1972, assumiu o comando da fragata Comandante Sacadura Cabral, que exerceu até 8 de agosto de 1973.
 
Concluído o quarto e último comando no mar, entre 21 de setembro de 1973 e 8 de junho de 1974, assumiu o cargo de Chefe do Estado-Maior do Comando Naval do Continente. Deixou estas funções para assumir o cargo de Governador de Cabo Verde, que exerceu entre 6 de agosto e 21 de setembro de 1974. Após nova passagem pelo Estado-Maior da Armada, desempenhou ainda os seguintes cargos: Comandante da Base Naval de Lisboa, Subdiretor e Diretor do Museu de Marinha.
 
Promovido a comodoro, em 8 de março de 1976, foi Superintendente dos Serviços de Pessoal da Armada, entre 10 de março e 16 de setembro desse ano, quando ascendeu ao posto de contra-almirante. Neste período publicou na Revista Militar o artigo «Militares e Política». Quatro dias depois, assumia o cargo Vice-chefe do Estado-Maior da Armada (Vice-CEMA), que desempenhou durante cerca de dois anos, até 25 de setembro de 1978, altura em que foi promovido a vice-almirante. Foi o primeiro vice-almirante a exercer as funções de Vice-CEMA, num período crucial para o futuro da Marinha.
 
Em Julho de 1976, ainda antes de serem fixados os quadros do Instituto de Defesa Nacional, foi-lhe confiada a preparação e apresentação das conferências ministradas aos cursos de instituições congéneres estrangeiras que se deslocavam a Lisboa.
 
A 11 de setembro de 1978, tomou posse como Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores, que exerceu até 28 de abril de 1981. Nestas funções teve assento em cinco governos, além de ter sido nomeado para presidir à Comissão Consultiva para os Assuntos das Regiões Autónomas.
 
Transitou para a situação de reserva, a 21 de setembro de 1979 e, a convite do Presidente da República, General Ramalho Eanes, foi Chefe da Casa Militar da Presidência, entre 28 de abril de 1981 e 10 de março de 1986. Neste período, em 1982, escreveu na Revista Militar o artigo «A Campanha das Falklands».
 
Depois de deixar a Presidência da República, foi Presidente da Comissão Nacional Contra a Poluição no Mar, entre abril de 1986 e outubro de 1990. Neste cargo foi eleito Vice-presidente das Comissões Internacionais de Paris e de Londres, sendo a última de âmbito mundial.
Passou à reforma a 21 de setembro de 1990 com 50 anos de serviço efetivo.
 
A sua obra escrita, de mais de uma centena de artigos, está presente nos Anais do Clube Militar Naval, na Revista Militar, na revista Defesa Nacional, na revista Panorama e na revista Olissipo. Em 1988, foi escolhido para membro efetivo da Academia de Marinha.
 
Ao longo da sua carreira foi reconhecido com um número muito significativo de condecorações, que atestam a extensão do seu trabalho:
- Cruz de 1.ª Classe da Ordem do Mérito Naval (Espanha - 1949);
- Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (1952);
- Oficial da Ordem Militar de Avis (1954);
- Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português no Estado da Índia 1955/57 (1958);
- Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1961);
- Comendador da Ordem Militar de Avis (1961);
- Medalha de Mérito Militar de 2.ª classe (1961);
- Oficial da Ordem do Mérito Naval (Brasil - 1962);
- Medalha de prata da Ordem do Mérito Santos Dumont (Brasil - 1964);
- Cavaleiro da Ordem de Mérito Aeronáutico (Brasil - 1964);
- Medalha de Mérito Tamandaré (Brasil - 1965);
- Medalha Militar de Serviços Distintos de Prata (1965);
- Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas - Norte de Angola 1965-67 (1967);
- Medalha Militar de Serviços Distintos de Ouro com Palma (1967);
- Medalha Militar da Classe de Comportamento Exemplar (1972);
- Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas - Ultramar 1972-73 (1973);
- Medalha de Mérito Militar de 1.ª classe (1978);
- Comendador da Ordem da Legião de Honra (França - 1982);
- Grã-Cruz da Ordem de Santo Olavo (Noruega - 1982);
- Grã-Cruz da Ordem da Bandeira (Hungria - 1982);
- Grã-Cruz da Ordem do Mérito (Itália - 1982);
- Medalha Naval de Vasco da Gama (1983);
- Grã-Cruz da Ordem do Mérito Melitensi (Malta - 1983);
- Grã-Cruz da Ordem da Bandeira (Jugoslávia - 1983);
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1983);
- Grã-Cruz da Ordem da Fénix (Grécia - 1983);
- Ordem do Falcão (Islândia - 1983);
- Comendador da Ordem do Mérito (Congo - 1984);
- Grau da 1.ª Classe da Ordem de Mérito (Egipto - 1984);
- Grã-Cruz da Ordem de Leopoldo II (Bélgica - 1985);
- Grã-Cruz das Ordens do Mérito (Áustria - 1985);
- Grã-Cruz da Ordem de Adolfs de Haussau (Luxemburgo - 1985);
- Grã-Cruz da Ordem de Denebrog (Dinamarca - 1985);
- Grande Oficialato da Royal Victorian Order (Reino Unido - 1986);
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Aviz (1986);
- Medalha Comemorativa do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique (1988);
- Grã-Cruz da Ordem do Mérito (Congo - 1988);
- Grã-Cruz da Ordem Nacional (Zaire - 1989);
- Medalha da Cruz Naval 1.ª Classe (1990).
 
Nesta oportunidade, a Direção da Revista Militar reitera à família enlutada do seu Ilustre Sócio a expressão do seu grande pesar.
 
 
Capitão-de-fragata Armando José Dias Correia
Sócio efetivo e membro da Direção da Revista Militar
 
 

*          Este resumo da vida e obra do vice-almirante Silva Horta foi desenvolvido com a colaboração do Capitão-de-fragata António Manuel Gonçalves, que tem o crédito de toda a pesquisa.

Comodoro
Armando José Dias Correia
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