Nº 2521/2522 - Fevereiro/Março de 2012
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
IN MEMORIAM - Major-general PilAv José Duarte Krus Abecasis
 
Major-general PilAv José Duarte Krus Abecasis
 
 
Faleceu em Lisboa, no passado dia 29 de Dezembro, com 92 anos de idade, o Senhor Major-general Piloto-Aviador José Duarte Krus Abecasis, Sócio Efectivo da Revista desde 1964.
 
Em Assembleia-Geral da Revista de 6 de Janeiro de 2012, os Sócios expressaram um voto de pesar e prestaram homenagem à sua memória, guardando um minuto de silêncio na abertura dos trabalhos.
 
A colaboração prestada à Revista, a vivacidade que colocava nos seus artigos na defesa dos elevados valores da Pátria, e da Instituição Militar, mereceu sempre um grande respeito dos seus consócios. Os seus artigos mais recentes “Um Aeroporto Categoria IIIA” (2005) onde discutia um tema actual, o aeroporto da Ota, “O Drama Espiritual das Forças Armadas” (2007) que tratava da questão dos valores e da situação militar, e “Dois Relatos de Guerra” (2008) que tratava de uma experiência pessoal em operações na Guiné, são exemplos da sua estatura humana, e da frontalidade que o caracterizou durante toda a sua vida.
 
O Major-general Abecasis entrou para o primeiro curso da Arma de Aeronáutica em 1939, tendo frequentado os dois anos preparatórios na Escola Politécnica e o estágio de pilotagem na Escola de Aviação em Sintra para obtenção de “brevet”. Como jovem alferes piloto participou na fase de prontidão da aviação de caça em 1943/44 na Base Aérea da Ota e na Base Aérea de Tancos. Em 1946 foi colocado nos Açores para exercer funções de controlo de tráfego aéreo, depois como navegador; nesta qualidade integrou o grupo de oficiais e sargentos que se deslocou aos Estados Unidos para a qualificação em B-17 e que voou a seguir estes aviões, assim como os Skymaster, para a Base das Lajes. Em 1948 foi qualificado como comandante de bordo de B-17 exercendo missões de transporte, de reconhecimento meteorológico e de busca e salvamento. Nos finais de 1949 regressou à Base Aérea nº 3 em Tancos para retomar as suas actividades como piloto de caça, agora como comandante de Esquadrilha. Voltou aos Estados Unidos para frequência de um curso de instrutor de voo por instrumentos, com a duração de cerca de três meses.
 
Em 1952 assumiu o comando da Esquadrilha de Transportes Aéreos Militares equipada com aviões Skymaster que haviam sido recebidos em 1947. Em 1955 voltou à Base Aérea da Ota para comandar uma Esquadra de Caça de F-84, depois de ter efectuado o curso de voo por instrumentos em T-33 na Alemanha, para ganhar qualificação em aviões de reacção; posteriormente assumiu as funções de Comandante do Grupo Operacional na mesma base aérea.
 
Nos princípios de 1957 passou a integrar as tripulações dos Transportes Aéreos da India Portuguesa, onde se manteve como comandante de bordo até finais de 1958. Participou na operação Himba, como comandante de um avião C-47 Dakota. Voltou à aviação de caça como Comandante do Grupo Operacional da Base Aérea de Monte Real, voando em F-86F, por alguns meses, findos os quais passou a exercer o comando do 2º Agrupamento de Transportes Aéreos baseado no Montijo.
 
Em Janeiro de 1963 foi colocado em Angola como Superintendente das Formações Aéreas Voluntárias, já era então Coronel; em Junho do mesmo ano já se encontrava de regresso à Metrópole, para as funções de Chefe de Estado-Maior da 1ª Região Aérea. Em Outubro foi nomeado Comandante da Base Aérea nº 5 em Monte Real, onde se requalificou como piloto de T-33 e de F-86F e onde permaneceu até Outubro de 1964, data em que foi nomeado para o Curso de Altos Comandos.
 
Em Junho de 1965 é nomeado Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, em acumulação com o Comando da Base Aérea nº 12, e em Janeiro de 1967 regressa à Metrópole para comandar a Base Aérea nº 6 no Montijo. Exerceu este comando até Julho do mesmo ano, escassos seis meses, tendo a seguir assumido as funções de Segundo Comandante da 1ª Região Aérea, primeiro interinamente e depois efectivo, já promovido a brigadeiro, em Outubro de 1968; ascendeu a Comandante no ano de 1969. Pouco tempo permaneceu nesta função tendo vindo a ser designado Director do Serviço de Instrução em Outubro desse ano.
 
Tomou posse como Segundo-Comandante da 3ª Região Aérea em Julho de 1970, tendo ficado baseado em Lourenço Marques, ao contrário das suas expectativas, pois sempre julgou ir dedicar-se à função operacional em Nampula.
 
Em Maio de 1971, requer submissão a uma Junta de Saúde para passagem à situação de reserva, o que viria a ter lugar imediatamente a seguir, com 52 anos de idade.
 
Como civil, voltou a Moçambique como consultor da Aviação Civil, e mais tarde a Angola onde trabalhou numa empresa privada até 1973.
 
O Major-general Abecasis teve desde sempre uma grande paixão pelo voo, tendo feito questão de se qualificar em todas as aeronaves das bases aéreas sob seu comando, acumulando cerca de dez mil horas de voo. Era um piloto ousado, que se procurava testar a si próprio em situações difíceis que muitas vezes ele próprio suscitava, interessando-lhe, no entanto, muito mais o cumprimento de missões operacionais do que apenas o gosto de voar. Procurava suprir as limitações do meio aéreo, naquela altura, criando situações de risco que sempre controlou, em particular no voo em condições meteorológicas adversas e de noite.
 
Defendia intransigentemente o princípio da hierarquia na Instituição Militar, e os valores da ética militar. Contudo, foi colocado em muitas situações difíceis quanto à aplicação desse princípio, o que o levou a reagir com todas as suas forças, sempre no quadro dos valores que defendia. Considerava que a carreira militar na Força Aérea deveria privilegiar a componente operacional, e nessa medida se julgava superior aos seus camaradas que não tinham cumprido com esse requisito, e que entretanto tinham subido na hierarquia.
 
Era profundamente católico e de convicções fortes, fazendo uma interpretação rígida das situações em que viveu. Por todas estas razões sentiu-se desiludido e frustrado com o que então se passava em termos militares e na sociedade, o que o levou a escrever vários artigos onde procurava denunciar estas situações que ele considerava anormais.
 
Acompanhou a evolução destas situações até ao fim dos seus dias, sempre numa perspectiva crítica e construtiva, e marcava a sua presença em actos simbólicos que ele considerava marcantes para os valores que defendia.
 
Tenente-general PilAv António de Jesus Bispo
Vice-Presidente da Assembleia-Geral da Revista Militar
Tenente-general PilAv
António de Jesus Bispo
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by CMG Armando Dias Correia