Nº 2530 - Novembro de 2012
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Os Mosteiros Cistercienses na Região das Beiras,

Um percurso entre a Arquitetura e a História

Ana Maria Tavares Martins

Quartzo Editora, Março de 2012

 

Portugal foi construído a partir do século XII, em boa medida, ao compasso da expansão dos Cistercienses e das ordens Militares e Hospitalárias, que se foram implantando num território conquistado passo a passo.

Graças ao trabalho e às inquietações da Professora Doutora Ana Maria Tavares, relativamente ao passado e ao estado atual de conservação dos imóveis cistercienses, surgiu uma obra que nos permite conhecer a Arquitetura e a História dos mosteiros levantados na Região das Beiras.

A Ordem de Cister, sob a influência de Bernardo de Claraval (1090-1153), converteu-se na Ordem religiosa mais poderosa da Europa. Em Portugal, os monges de Cister começaram por habitar a Região da Beira (Dioceses de Lamego, Viseu e Guarda), principiando por S. João de Tarouca (1143) e seguindo-se a Abadia Velha, S. Cristóvão de Lafões, Santa Maria de Aguiar, Santa Maria de Maceira Dão, Santa Maria de Salzedas, São Pedro das Águias-Velho. S. Pedro das Águias-Novo e Nossa Senhora da Assunção de Tabosa. Destes, o mais importante era o mosteiro de S. João de Tarouca, mas que mais tarde foi ultrapassado, já fora da região da Beira, pela magnificência do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, iniciado em 1178.

Para além da parte espiritual, os cistercienses trouxeram também para Portugal novas formas de trabalhar a terra, revolucionando a agricultura, quer no desbravamento de novos espaços, quer na introdução de engenhosos sistemas hidráulicos para a irrigação dos terrenos.

A vida nos mosteiros de Cister era de austeridade, oração e trabalho (Ora et Labora), sendo o silêncio absoluto e cultivando-se o domínio do espírito sobre o corpo. Uns trabalhavam nas obras de construção dos edifícios monásticos, outros como copistas e desenhadores na transcrição dos livros sagrados e outros na coordenação dos trabalhos agrícolas e pastoris.

Os mosteiros eram construídos de forma a terem, de portas adentro, tudo o necessário, ou seja, água, moinho, horta e oficinas. Comprova-se a preferência pelos vales, próximos de cursos de água, isolados do bulício dos centros urbanos, com abastança de matérias-primas essenciais para a construção e de terras de cultivo.

A arquitetura cisterciense caracteriza-se pela clareza, simplicidade e precisão, tendo sido privilegiado o estilo românico, num primeiro momento e em seguida o gótico, como acontece em Alcobaça. A simplicidade era, de resto, o ideal da Ordem, estando patente não só na arquitetura, mas também no modo de vida, no trabalho, nas vestes e na liturgia.

O claustro era o epicentro do espaço monástico, rodeado pela Igreja, sacristia, sala do capítulo, salas de trabalho, cozinha, refeitório, dormitório, celeiro, etc.

Os mosteiros de Cister foram sendo objeto de recuperações e reabilitações, ao longo dos séculos. Após a extinção das Ordens Religiosas, por Decreto de 28 de Maio de 1834, sofreram inúmeras transformações, desenvolvidas pelos organismos públicos a que ficaram agregados e pelos privados que os adquiriram em hasta pública.

Criteriosamente apresentada, num pequeno volume de 87 páginas, repleto de mapas, desenhos, fotografias e plantas, de bom aspecto gráfico e agradável leitura, fica esta obra à disposição dos leitores interessados, constituindo um valioso contributo para o roteiro histórico, geográfico e arquitetónico do cisterciense português.

A Revista Militar agradece a oferta da obra “Os Mosteiros Cistercienses na Região das Beiras, um percurso entre a Arquitetura e a História” e felicita a Professora Doutora Ana Maria Tavares Martins pela sua obra.

Vogal da Direcção da Revista Militar

Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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